A MORAL NÃO É A ÉTICA DOS EVANGELHOS
O Gênesis do ministério de Jesus é tomar as “talhas que os judeus usavam para as purificações” e enchê-las de vinho!
E mais: é inegável que Jesus estivesse também dizendo que Nele, Deus estava casando agora apenas com quem queria talhas religiosas com vinho novo, na pior das hipóteses; ; e, na melhor delas, o que se deveria fazer, era deixar de lado o vinho velho e seu odre roto e pingantemente misturado ao próprio vinho, pois, nesse estágio, já não se sabe mais o que é odre e nem tampouco o que é vinho! O que se deve fazer é começar outra vez à partir de contêineres que se deixem curtir no vinho novo, que de acordo com o apóstolo João, não é novo, mas aquele que desde o princípio tivemos!
Sim, para Ele, aquele odre-vinho-vinho-odre—o da religião das talhas de pedra usadas para as purificações—era já um vinagre, que servia apenas para ser bebido por aqueles que de tão acostumados que estão aos gostos ruins, já não sabem a diferença entre o gosto-gostoso e o gosto-viciado. É para o de-Lei-te de seus viciados consumidores que o vinho-odre-odre-vinho serve ainda como diversão, sendo que o juízo ao próximo é o espetáculo!
Os discípulos de Jesus, todavia, não devem perder tempo com essas questões, e, por isto, precisam partir resolutamente para buscar odres mais adequados à sempre auto-renovação desse Vinho Novo. Afinal, ninguém que tenha se viciado no vinagre dirá que o vinho novo é excelente.
Ora, a Teologia Moral de Causa e Efeito é a fabrica de Odres com Grife e também a marmorearia onde são esculpidas as talhas de pedra usadas para as purificações!
O problema é que em Jesus não dá para se fazer mais nenhum tipo de aproveitamento dessa Industria Religiosa e de suas Grifes e Selos Autorizadas. E a razão é simples: ela está para o Evangelho de Jesus assim como um perverso e desumano traficante de cocaína e heroína está para o bom samaritano—digo: mal comparando, e, apenas, no plano das relatividades humanas, pois, espiritualmente, o meu exemplo é muito menos grave que o contraste espiritual que tento expressar!
Dali, infelizmente, nada se aproveitava, pois eles pensavam que fora dali nada mais tinha valor.
A prova dessa impossibilidade de reutilização daquele sistema de pensamento e suas construções, alcança seu ápice quando Jesus diz que aquele Templo seria derrubado e que dele não ficaria pedra sobre pedra.
No entanto, para que não sejamos exaustivos demais na demonstração, quero apenas que você compare os valores anti-téticos dos ensinos de Jesus em relação aos da Teologia Moral de Causa e Efeito, vigentíssima em Seus dias, e, infelizmente, no nosso tempo também!
E para isto, não precisamos ir além do Sermão do Monte, ou do Abismo, como eu explico que ele pode se tornar em O Enigma da Graça!
A Teologia Moral de Causa e Efeito não pode praticar o sermão do monte porque ele inverte complemente os princípios de causalidades por ela ensinados. Jesus subverte radical e rupturalmente, de uma vez e para sempre, com essa lógica predatória.
Para Jesus os heróis da Graça eram os anti-heróis da religiosidade que o circundava e dos valores por ela ensinados.
Para a Teologia Moral de Causa e Efeito, TMCE— como daqui para frente chamaremos esse derivado natural da Teologia da Terra, filha religiosa do Sacrifício Competitivo de Caim —, o humilde de espírito era o lixo da espiritualidade; os que choravam eram vistos como culpados-infelizes; os mansos eram percebidos como desinteressados pelo zelo que disputava o espaço no chão da Terra; os que tem fome e sede de justiça eram interpretados como seres equivocados em suas ignorâncias radicais, pois, a única justiça que os mestres da TMCE conheciam era aquela que eles mesmos decidiam.
Já os misericordiosos eram os que tinham algo a esconder, daí se protegerem sendo bons com o próximo; os limpos de coração eram eles mesmos— os membros daquela confraria de amigos de Jó, é claro! afinal, não enxergavam seus próprios corações, pois só viam para fora de si mesmos, e, também, não esqueçamos: lavavam as mãos antes de comer!
Os pacificadores eram, em geral, considerados amigos de hereges; os perseguidos por causa da justiça, eram comum-mente aqueles acerca de quem eles patrocinavam o cartaz Wanted Dead or Alive! De preferência, bem dead !
E os injuriados e perseguidos figuravam, sobretudo, como foi no caso dos profetas, em sua lista de Most Wanted ! Esses, afinal, os Profetas, eram sempre a sua pior desGraça, eram os mais terríveis subversivos!
O seu “sal” não era para a Terra, era apenas uma produção egoísta e independente fadada a se petrificar em seus sa-Lei-ros inúteis. Afinal, não se viam no papel de dar gosto à vida, mas, ao contrário, o de roubar-lhe todo o sabor!
Luz do Mundo? Como? Eles não reconheciam nenhum outro mundo que não fosse o deles!
Quanto a Jesus ter vindo para cumprir a Lei, eles se perguntavam: Que Lei? Afinal, Jesus era o des-cumprimento de suas “Leis” a fim de poder ser o único cumpridor da Lei da Graça em nosso lugar, para, então, dizer: “Está Consumado”.
Até mesmo o des-cumprimento da Lei pelos homens—todo aquele que…—, Jesus trata com relatividade quanto a seus efeitos. Ensina-la erradamente, faz alguém ser pequeno; ensina-la corretamente e vive-la, torna alguém grande no reino dos céus. Assim Ele está dizendo que não se deveria jamais ensina-la de modo adaptado e nem tampouco cumpri-la de modo farisaico ou religioso, pois, para Ele, a justiça excede as exterioridades na direção de dentro, pois, nasce no coração.
O que segue é uma des-construção total de todas as “interpretações” da Lei, especialmente as explicitamente defendidas pelos discípulos da teologia dos amigos de Jó, os escribas e fariseus dos dias de Jesus e seus confrades em nossos dias!
“Não matarás”—era o que estava escrito. Homicídio, todavia, é algo que sempre começa, lentamente, nos ambientes de causa e efeito das normas adoecidas do coração, e tem uma progressão que vai da ira sem motivo às tentativas de des-construir o ser do próximo. Por isto, Ele ensina que todo homicida existencial precisar se livrar dos desejos de morte durante o caminho, do contrário, duas coisas lhe acontecerão: ele nunca mais terá nenhuma razão para falar com Deus ou tentar cultua-Lo e, também, esse homem se tornará vítima de seu próprio ódio e se alimentará de suas próprias carnes, por muito tempo—pelo menos enquanto o tempo for tempo!
O adultério, para Ele, acontecia na cama—ou em qualquer outro lugar—apenas depois de ter sido praticado muito tempo antes no coração.
Portanto, os maiores adúlteros podem nunca ter praticado um ato sequer de adultério. É quando o fazer é um detalhe se comparado ao permanente estado de ser dos que nunca cometeram historicamente o delito, mas que vivem em permanente estado de imersão interior nos abismos e dinâmicas permanentes do adultério fantasioso.
O interessante é que entre o tema do Adultério e o do Divórcio, Jesus introduz a questão das perdas circunstanciais ou até mesmo de natureza disciplinar-existencial, que eram nada se comparadas aos ganhos que certos “cortes e amputações” produzem para o bem do ser.
E Sua preocupação maior quando fala do divórcio, não é com o divórcio-em-si, mas com suas vítimas. Naquele caso, era sempre a mulher.
E por quê? Porque naqueles dias ela era o objeto descartável em questão, fruto da dureza de coração de todos nós e todas as sociedades. Ele trabalha contra expor alguém a tornar-se “algo” apenas porque “sem motivo” sua pessoa foi descartada. A denuncia, portanto, recai sobre aquele que “expõe” o outro a ser aquilo que este não deseja ser. E depois, o descartador, ainda faz pior: estigmatiza o “outro” pelo que ele mesmo decidiu: des-carta-lo! Assim, Jesus se insurge contra a estigmatização das desgraças causadas pela infelicidade humana. O que era uma total violação dos ensinos da TMCE!
Juramentos e promessas são por Ele totalmente rejeitados. Primeiro porque ninguém pode bancar nada em espaço ou dimensão alguma da vida.
Depois, porque a única dimensão que vale diante de Deus é a do Hoje.
Portanto, o que Ele espera é que as respostas do ser não sejam piedosas, necessariamente, mas, ao contrário, realidades verdadeiras, como “sim, significando sim” e “não, equivalendo a não”. Para Ele o “maligno” morava na fantasia que falsificava a realidade.
“Olho por olho, dente por dente”—era e ainda é a Lei áurea da TMCE.
Jesus, porém, a relativiza para sempre, mostrando sua des-construção como negação de seus princípios de causa e efeito. Afinal, o que Ele recomenda é o oposto daquilo quem em qualquer Moral social, é chamado de Direito. Ser Seu discípulo não implica em que se obedeça tais Leis de causa e efeito, podemos apanhar, ser obrigados, ser até mesmo altruisticamente abusados. Estamos livres para tal. Ou seja: Jesus recomenda que não obedeçamos as Leis de causa e efeito a fim de podermos ser Seus discípulos. E isto inclui os inimigos, que são os que mais poder tem de nos desviar do curso da Graça e nos fazer cair nas guerras patrocinadas pela TMCE. O que eles esperam é uma reação de causa e efeito. O que Jesus propõe é um efeito (misericórdia) sem causa equivalente!
E, assim, Jesus prossegue des-construindo a Teologia Moral de Causa e Efeito.
“Guardai-vos de exercer a vossa justiça diante dos homens, com o fim de serdes vistos por eles; doutra sorte, não tereis galardão junto ao vosso Pai que está nos céus”.
Ora, esta declaração de Jesus nos des-monta de tudo o que a TMCE ensina como verdade, justiça e piedade.
“Perdoa as nossas dívidas assim como nós perdoamos aos nossos devedores”—é o golpe de misericórdia que Ele dá na estrutura de pensamento desse engano humano.
E pior: as causas de vida e morte na Terra são aquelas cujos efeitos são invertidos nos céus. O dinheiro incluído no pacote das inversões de valores.
E avisa sobre a não causalidade entre o comportamento e a verdade do ser, pois, a “luz que há em ti”, segundo Ele, podem se tornar nossas trevas.
Então, Jesus dá um Xeque-mate! Tem-se que fazer uma opção sobre quem é o nosso Senhor. E, sendo Ele o Senhor, o que sobra é “aborrecer-se” e “desprezar” o antigo senhor, e que agora tem que ser coisa de nosso perdoado passado.
Quando Ele fala das ansiedades da vida e nos recomenda descansar na Graça Providencial de Deus, o que Ele também está fazendo é afirmar que as “Leis de causa e efeito” estão relativizados pela Graça da Providência.
O grito que se faz ouvir em objeção ao juízo contra o próximo, é curto e decisivo. Juízo tem, quem se enxerga. Juízo tem, quem não julga. E juízo tem, quem sabe que por melhor que se veja a si mesmo, jamais se verá completamente. Por isto, é melhor não julgar a alma do próximo nunca. E a razão é simples: as medidas de nosso próprio juízo estão estabelecidas pelos nossos próprios critérios no julgamento que exercemos contra o próximo!
E mais: Ele recomenda que não se use nunca as pérolas da verdade de nosso ser para alimentar quem só gosta de babugem e depois se volta contra nós. A percepção da verdade não a banaliza e nem se faz suicida por ela!
Ao recomendar a oração, Jesus estabelece a quebra dos princípios de causa e efeito. A oração é a devoção que em si quebra as Leis do carma. A oração anula a Teologia Moral de Causa e Efeito, pois, dela, até o pecador sai justificado.
Neste ponto Ele diz que a Lei e os Profetas não eram inimigos entre si. Ao contrário, os Profetas haviam sido os melhores interpretes da Lei. Ou seja: antes do Verbo haver se encarnado, foi nos Profetas que a Lei encontrou sua interpretação e seu melhor cumprimento existencial.
Jesus, porém, nos diz:
“Tudo quanto, pois, quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles; porque esta é a lei e os profetas”.
O “resumo” que Jesus faz de todo o seu ensino é horroroso para o coração honesto. Primeiro, porque ninguém, de fato, indo dos abismos da alma à prática cotidiana, consegue encarnar o tempo todo essa verdade.
Ao contrário: nós vivemos a maior parte do tempo de modo oposto, pois, uma das coisas que a Queda gerou em nós foi um terrível poder de auto-engano e auto-anestesiamento.
A segunda razão pela qual o “resumo” de Jesus é contra nós tem a ver com sua propositividade. Jesus propõe que tomemos a iniciativa sempre— sem amargura, sem troca e sem negociação—e tratemos o próximo, seja ele quem for, do modo como gostaríamos de ser tratados se estivéssemos no lugar dele. E aqui não importa em que lugar o outro está, pois, há única pergunta a fazer é: “E se eu estivesse nesta situação, como gostaria de ser tratado?” Ou ainda uma única confissão de fé a ser declarada sempre: “Sistematicamente farei pelos outros aquilo que desejo que os outros façam também por mim o tempo todo”.
Sem falar que quando alguém não se trata bem costuma piorar no tratamento com o próximo. Aqui todos nós temos que humildemente assumir nosso déficit de bondade e nossa profunda capacidade de nos anestesiarmos na vida. A prova disto é que o mundo é como é—e, pior ainda: a “igreja” é como é!
Então, Ele entra no Caminho Estreito e adverte contra o Caminho Largo. Ora, como nos enganamos! Pensamos sempre que o Caminho Estreito é o dos Fariseus e que o Caminho Largo e o dos Publicanos e Pecadores. O Caminho Estreito conduz a Vida, Ele diz.
Então, é fácil saber do que é que Ele está falando. Jesus só recomenda como Caminho aquilo Ele viveu, e como amigos de caminhada, gente como aquela com a qual Ele conviveu.
Como podemos então pensar de modo inverso?
É que somos discípulos da TMCE e não o sabemos. O Caminho Estreito, na Terra, para Jesus, era justamente aquilo que os fariseus chamavam de Caminho Largo. E o que Jesus chamava de Caminho Largo era aquilo que os fariseus chamavam de Caminho Estreito.
O Caminho é Jesus, e o jeito de ser, é também o Dele!
Chega então a vez dos “falsos profetas que se apresentam disfarçados de ovelhas, mas por dentro são lobos roubadores”. E que ironia. Jesus diz que se deve observar causa e feito apenas nas produções do ser.
Isto porque, na utilização do Nome de Jesus com fins lucrativos e roubadores— ou mesmo pela simples e mera auto-sedução narcisista que o poder de encantar e seduzir com o sobrenatural faz nascer como doença em muitos— não há uma relação de causa e efeito entre o ser-devorador (os lobos) e os milagres que acontecem do lado de fora quando o lobo fala usando o nome de Jesus.
Não há nada no mundo espiritual que negue mais as relações de causa e efeito que essa inversão. A Graça de Deus é livre para des-conhecer o suposto “cordeiro-lobista” e levar a Graça do Cordeiro a quem quiser e como bem desejar.
Todavia, que ninguém faça disso a evidência de sua salvação. A salvação é conhecer e ser conhecidos por Deus, em Jesus. E mais: é produzir o fruto que dessa verdade de ser nasce agora naturalmente de modo sobrenatural.
A conclusão Dele nos põe diante da necessidade de escolhermos de duas alternativas, Um Fundamento para a nossa vida. Ou o alicerce de Rocha ou o alicerce das regiões arenosas. A emoção cristã, em geral, quando lê isto aqui é também pervertida. Pensamos na Rocha com categorias farisaicas, com suas manifestações de rigidez, e, sobretudo, de imutabilidade-morta, sem vida e, portanto, estática!
Assim, lemos a des-construção da Teologia Moral de Causa e Efeito feita por Jesus, no Sermão do Monte para, então, no final, voltarmos às emoções patrocinadas pelas Tábuas da Lei de Pedra.
Então, transformamos o Sermão do Monte em Lei, e, por essa razão, ele, no mesmo instante, se torna o Sermão do Abismo, pois, como Lei ele apenas nos enferma ainda mais profundamente por dentro, mas não nos resolve como pessoas, nem dentro e nem fora—pois em ambas as “locações” o Sermão do Monte se mostra inviável: dentro, porque sabemos o quão anti-natural ele é para a nossa própria natureza atual, caída; e fora, porque nossas existências, desde o intimo até ao comportamento, inviabilizam sua pratica, isto se não estivermos falando de amestramento na conduta, mas da honestidade de quem quer ser conforme sabe que deveria ser, e não é!
E a maioria de nós existe nesse limbo entre o véu e a revelação, entre as Pedras das Leis e a Graça de Pedra. Mas poucos sabem da Graça da Rocha e da Rocha da Graça.
E por quê?
Porque nós não cremos, de fato, que Jesus é a Pedra Angular—não o Jesus de nossas invenções, mas o do Evangelho—e nem tampouco cremos que é em Sua Graça que temos a Rocha da Nossa Salvação!
A Rocha é essa Palavra da Graça, que quebra os carmas, destroi os destinos, arrasa as certezas, desmonta os esquemas, a fim de que aquele que se gloria, glorie-se no Senhor. De outra sorte, onde estaria nossa confiança? Na fé no Deus de toda Graça ou na nossa capacidade de sermos o alicerce de nós mesmos?
A Graça é onde o poder se aperfeiçoa na fraqueza, daí ser o estarmos fundados nessa Rocha o que nos faz, mesmo em fraqueza, vencermos as ondas, os ventos e os açoites das tempestades , e, não tendo do que gloriar, pomo-nos em pé e dizemos:
Jesus, obrigado por teres feito o Caminho Largo o Suficiente para eu passar! E obrigado, porque na minha fraqueza teu poder se aperfeiçoou e, assim, tendo provado de todos os tempos, épocas e estações da vida, aqui estou para dizer, mais uma vez: ‘Para quem irei? Só Tu tens as Palavras da Vida Eterna!
A Rocha é a Graça e a Graça é a Rocha. E a Palavra é a Vida que se vive buscando em fé alcançar e conquistar aquilo que já nos alcançou, embora nós ainda não a tenhamos plenamente conquistado!
E quem é Esse que deve ser Aquele que é o nosso Caminho? E que Caminho é esse? e que Rocha é essa?
Jesus é Caminho, Sua Palavra-Encarnada é a Rocha, e Sua Graça é a Lei do caminhar!
Jesus é aquele que quando se vê no Pai recebendo um filho—qualquer filho—de volta, de antemão avisa: “Não esperem de mim nada menos que uma festa regada ao melhor vinho, pois os pecados já foram lavados com o melhor Sangue!”.
Nesse Caminho com Ele, que é um tabernáculo em movimento, tem de tudo: demônios de todos os tipos, tempestades, perplexidades, interesses escusos, certezas satânicas, exageros desnecessários, zelos homicidas, familiares em pânico, medo de trair, frágeis certezas de jamais trair, traição explicita e implícita, negação e morte !
Mas, para além disso tudo, vê-se que no Caminho com Ele, os ventos cessam, as ondas se abrandam, as Leis fixas do universo são relativizadas, os demônios sabem quem Ele é e quem somos Nele; e, assustados reconhecemos Quem Ele É!
Nesse Caminho as maiores demonstrações de fé vêm de fora da religião, e, também ouve-se a ameaça freqüente que Ele faz para que não se julgue segundo a aparência, mas conforme a reta justiça, pois, não raramente, o que é elevado entre os homens é abominação diante de Deus. Por essa razão, tanto “malandros arrependidos” quanto “réus confessos” podem encontrar seu repouso.
E, para além de tudo isto, a gente vê a morte sendo morta definitivamente na Ressurreição. Todavia, nele também se aprende que se o Verbo entrou no mundo pelas entranhas de uma virgem, Ele, no entanto, saiu da morte ante o olhar de uma mulher, ex-possessa-prostituta!
Assim, a Encarnação des-instala a Moral e a Ressurreição põe o ser-moral no papel de ouvinte provocado, pois, tem que crer no testemunho da Graça nos lábios de quem não gostaria que tivesse sido escolhida, se acontecesse no dia de Hoje—não para dar testemunho do fato da Ressurreição!
Do ponto de vista de uma moral-marketeira-publicitária Madalena seria uma testemunha que não seria selecionada, afinal, ela não tinha nenhuma credibilidade.
Nesse Caminho ninguém é perfeito, mas é da boca de crianças de peito e de pecadores quebrantados onde Ele enxerga louvor.
Sim, nesse Caminho você aprende o que é não estar nem varrido nem ornamentado, porém, sabendo que se a festa já começa com o melhor vinho, que esperar então? Algo menos que a Ressurreição?
Nesse Caminho a gente aprende que Ele nos conhece pelo nome, mesmo no dia seguinte àquele no qual o tenhamos negado—então, choramos amarga e docemente!
A Graça é a Lei do Caminho!
E, logo se percebe, porque Ele mostra, que o Caminho é Ele mesmo, é ser dele e ser conhecido por Ele, e que isto nos tira todo medo, e nos conduz à Verdade, e que é somente nela que se pode experimentar a Vida.
Então você olha e o vê em você!
Você já não vive?
Não! Ele vive em você!
E quem tentará tomar para si esse ser-tabernaculo que se move pelo e no Caminho?
Quem?
Não esqueça, o Mais Valente, é o que faz Mais Valer!
No Caminho, Ele nos garante sempre! Pois é também apenas no Caminho que somos salvos de nos tornarmos parte de uma geração perversa e que espreita como ave de rapina a alma de seu próximo!
No Caminho, “o diabo”, está amarrado e suas possessões na casa do coração são saqueadas pelo Mais Valente! E “ele” está “amarrado” porque o “escrito de dívidas que havia contra nós e que constava de ordenanças” foi irreversivelmente “rasgado e encravado na Cruz”.
Nós, por isto, estamos para sempre livres!
E quando se fala assim, se diz que a salvação humana só acontece num embate de Deus contra Deus, onde o próprio Deus seja o Réu-Justo, sendo julgado pelo Justo-Juiz, o qual, sendo também o Advogado do réu-réu— o homem—, possa oferecer o Réu-Justo como substituto em lugar do réu-réu. Assim é que o Réu-Justo—aquele que recebe o castigo da mais absoluta justiça divina contra o réu-réu—pode ser, Ele mesmo, também, o Advogado do réu-réu.
E, em toda a História só há um lugar onde Deus enfrenta Deus, num combate onde Deus ganha e Deus perde; onde o réu é condenado e absolvido; onde Aquele que é o Justo é feito o Injusto; o que não teve pecado, é feito pecado em favor do homem e de Deus!
Somente na Cruz de Cristo Deus-enfrenta-Deus, e Deus se aniquila e se supera a um só tempo . Na Cruz, Deus vence a Si mesmo e Sua Misericórdia prevalece sobre o Seu próprio juízo; sendo Suas palavras finais a respeito desse Combate, as seguintes: “Está consumado!”
Ou seja: “Esta luta acabou”. Mas para os “amigos de Jó” a luta continua e a alma tem que sofrer todos os dias a dor de acusações que só a tornam menos alma e mais feia!
Nós, todavia, não negociaremos, nem por um momento, a libertação que o Evangelho de Cristo nós trouxe de uma vez e para sempre da Teologia Moral de Causa e Efeito!
Foi para esses—os discípulos da TMCE—a quem Paulo disse: “Quanto ao mais, ninguém me moleste, pois eu trago no corpo as marcas de Jesus”.
“Sem fé é impossível agradar a Deus”. E sem Deus-contra-Deus é impossível haver uma fé que justifique o homem diante de Deus e que traga a justiça de Deus para a consciência humana. E essa certeza não vem com explicações racionais. Ela é filha de uma inerente e incompartilhável certeza de harmonia com Deus, mesmo no caos! E é filha da presença da Cruz sobre nós!
Aos amigos de Jó, o Evangelho diz que o Senhor Jesus contou uma parábola:
Propôs também esta parábola a alguns que confiavam em si mesmos, por se considerarem justos, e desprezavam os outros:
Dois homens subiram ao templo com o propósito de orar: um, fariseu, e o outro, publicando.
O fariseu, posto em pé, orava de si para si mesmo, desta forma: Ó Deus, Graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros, nem ainda como este publicano; jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de tudo quanto ganho.
O publicano, estando em pé, longe, não ousava nem ainda levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó Deus, sê propício a mim, pecador!
Digo-vos que este desceu justificado para sua casa, e não aquele; porque todo o que se exalta será humilhado; mas o que se humilha será exaltado.
?
Somente “os amigos de Jó” podem ler o Evangelho de Jesus e continuar pensando como os fariseus. A Ética do Amor—que é a única ética do Evangelho— nega todos os pressupostos da Teologia Moral de Causa e Efeito.
A Graça inverte os pólos da Ética, que, em Cristo, se vincula não à Moral, mas à obediência amorosa a Deus; e se expressa como resposta da consciência do amor à inconsciência do próximo, mesmo que seja o inimigo!
E só assim se pode estar livre para agir desse modo, porque quem vive na Graça também já não tem mais nada a provar. Afinal, ou é ou não é! e também não depende nem de quem quer nem de quem corre, mas de usar Deus de misericórdia para com esse ser humano! para conosco! os que nos entregarmos em fé!
Conforme o apostolo João, a si mesmo se purifica, no amor, todo aquele que tem em Jesus sua esperança. Dessa forma, o Evangelho insiste em que se ande no Caminho da Vida, cuja Porta é Estreita—embora esteja aberta a todos—e que nos põe sobe a Lei do Amor.
Sim! o Evangelho insiste em que a Lei do Amor é o melhor de todos os fundamentos para a vida!
E isto, para agora usarmos outra imagem, nos faz ramos da Videira Verdadeira, tornando-nos, assim, pela prática da palavra-amor, Seus ramos-discípulos.
E dessa Videira são cortados apenas os ramos que se auto-excluem pela presunção de pensarem que o ramos pode dar fruto de si mesmo.
À esses, a Videira diz: “Sem mim nada podeis fazer!!!”
Assim, somos chamados a mamar o amor de Deus e a crescermos Nele na frutificação do amor e da misericórdia praticada uns aos outros.
Isto fará com que o mundo nos odeie!
Afinal, o mundo, incluindo sobretudo a moral religiosa, é feito de todos os ramos que auto-engaram-se crendo que o ramo pode produzir fruto de si mesmo!
O mundo são todos os ramos que não vivem da seiva da Videira, por isto secam e são lançados ao fogo.
Todo aquele que não depende da seiva da Graça que da Videira Verdadeira procede—não importa quem ele seja—, jamais produzira o fruto que permanece, pois, este, é o fruto do amor e da vida que brota do casamento do ramos com a Videira-Jesus!
Esses não são nunca amigos de Jó, pois, na Graça, foram feitos amigos de Jesus, pois, à esses, Ele disse tudo o que tinha ouvido de Seu Pai-Agricultor:
“Quem me ama, guarda os meus mandamentos; assim como eu amo o Pai e guardo os Seus mandamentos. E os mandamentos, são um: que vos amais uns aos outros, assim como eu vos amei.”
Caio