ADULTÉRIO, DIVÓRCIO E NOVO CASAMENTO…

   

—–Original Message—–

From: Gerson

To: [email protected]

Sent: terça-feira, 19 de agosto de 2003 11:48

Subject: Divórcio e novo casamento!

 

 

 

Caro Caio Fábio,

 

Já tive a oportunidade de lhe enviar um e-mail falando o quanto tenho sido abençoado com a leitura de seu site.

 

Agora gostaria de compartilhar com você uma dúvida que tenho acerca do assunto divórcio e novo casamento – assunto, aliás, bastante recorrente entre as inúmeras mensagens que você recebe.

 

Sabe, Caio, qualquer leitor atento de suas respostas sabe que você realmente não tenciona oferecer às pessoas angustiadas qualquer receitinha de felicidade.

 

Cada um decide o que julgar melhor para si. E não tenho visto – e certamente não verei – você incentivando ninguém a se divorciar.

 

Por outro lado, Caio, algumas vezes você tem colocado o divórcio e um novo casamento como uma saída possível em alguns casos; naturalmente naqueles em que não há jeito de harmonizar a relação; naqueles casos em que não há amor e, portanto, não há casamento.

 

Espero não ter me equivocado nas leituras que fiz de suas respostas.

 

Sabe, Caio, também acredito que há casos em que só a separação pode trazer algum alívio, algum lampejo de esperança de felicidade, tranqüilidade, ou seja lá o que for.

 

Porém, fico preocupado ao ler na Bíblia, por exemplo, um texto como o de I Coríntios 7:10-11: “Aos casados, dou este mandamento, não eu, mas o Senhor: Que a esposa não se separe do seu marido. Mas, se o fizer, que permaneça sem se casar ou, então, reconcilie-se com seu marido. E o marido não se divorcie da sua mulher”.

 

Sei lá, Caio, fico me perguntando, afinal de contas, o que esse texto tem a ver com todas as histórias de casamentos fracassados que lhe chegam pelas cartas – ou com as tantas que eu mesmo conheço.

Quais são as implicações desse texto pra um cristão que está pensando em se divorciar?

 

Podemos concluir, à luz desse texto, que um cristão que se divorcia e se casa novamente está pecando contra um mandamento do Senhor, mesmo que finalmente encontre aquilo que chamamos de felicidade ao lado de outra pessoa?

 

Por que a Bíblia coloca a coisa de uma forma assim tão categórica?

 

Ou é a gente que não entende o que está escrito?

 

Bem, espero ter colocado com alguma clareza a minha dúvida e agradeço imensamente se você puder investir um pouco do seu precioso tempo compartilhando algo comigo.

 

Deus o abençoe.

 

Gerson


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Resposta:

 

 

 

Meu querido amigo e irmão: Paz e Bem!


 

Você está certo em tudo.

 

As pessoas me perguntam muito sobre isto, não é de hoje. Passei a minha vida toda de pastor respondendo a essas questões.

 

Quando era pastor da Igreja Presbiteriana Betânia, em Niterói, cheguei a escrever um “manual de alternativas bíblicas”; isto para facilitar a minha vida, visto que as questões sempre são essas.

 

Agora, depois que pessoalmente me divorciei, há pessoas achando que minha opinião sobre o tema sofreu alguma alteração.

 

Mas não mudei.

 

Digo hoje o que sempre disse.


Para simplificar, digo o seguinte:


A preocupação da Palavra — note, não falo de textos — é com a injustiça!

 

E é injustiça tudo aquilo que não é justo.

 

Ora, essa obviedade se aplicaria a tudo, menos ao casamento? Não creio!

 

Assim como não é justo se “divorciar por qualquer motivo” — conforme faziam muitos em Israel, inclusive nos dias de Jesus —, também não é justo carregar um casamento maligno e doente, apenas porque o(a) parceiro(a), não cria a “margem legal” para a separação, enquanto oprime o outro o dia todo.

 

Consciência é o que falta!

 

Quem tem consciência conhece os limites!

 

Quem não tem consciência vive da Lei, que foi dada para regulamentar a falta de consciência.

Jesus não “puxou” este assunto. E quando falou, foi dentro de um contexto: a briga judaica entre as teses dos rabinos Shamai e Hillel.

 

Quando encontrou a mulher que adulterara, mandou-a de volta à vida com a mensagem de que a vida não passava por aquele caminho que quase lhe gerara a morte.

 

Quando encontrou a Samaritana, que já havia tido cinco maridos oficiais, e agora estava tendo um “caso”, mandou chamar o marido. Foi ela quem puxou o assunto da legalidade do vínculo, tão acostumada que estava a ser culpada por tantos “casamentos”.

 

Paulo disse que cada um deve andar conforme foi chamado.

 

Ora, esse princípio se aplica a tudo.

 

Se você é um escravo, mas creu, ande em Cristo.

 

Se puder quebrar as correntes, quebre-as. Escravidão não é aquilo para o que fomos chamados.

 

Há casamentos que são usinas de aflições e doenças.

 

Qual é a vontade de Deus? Deixar que o menino fique no buraco porque a lei o determina – afinal, trata-se do “sábado do casamento”?

 

E o que você acha da mulher rixosa? Meu Deus! Quem puder ficar livre dela, que fique o quanto antes; ou então, que se console com uma goteira na cabeça, ou que faça amor com um espinheiro.

 

Aqui no site — acho que em Artigos — há um texto sobre divórcio que se baseia exclusivamente no contexto histórico da fala de Jesus em Mateus 5. Procure e leia, se é que você ainda não o fez.


Quanto ao mais, leia em Devocionais um texto intitulado “Da boca de taxista procede louvor”.

 

O tema é o mesmo: a necessidade de se ter Consciência.

 

E digo: sinto total paz pra dizer o que digo. Poderia ser levado deste assento de computador para a eternidade sem temor quanto ao que escrevo aqui, pra você e pra todos.

 

Mas repito:

 

Digno de honra é o casamento, e o leito sem mácula!

 

Afinal, Deus julgará os adúlteros.

 

Mas, não nos esqueçamos: o Deus que julgará os adúlteros é o Deus de Oséias; o mesmo que mandou que ele se casasse com uma adúltera contumaz.

 

O oposto também é verdadeiro. Ou seja: há muito adultério acontecendo em casamentos onde nunca houve um “caso de adultério”.

 

Adultério acontece no coração. E os adúlteros sabem que são adúlteros quando o são.

 

E digo mais: O adúltero não é um ser apaixonado.

 

O adúltero, para Deus, é um profissional da sedução, e que vive de arrancar o seu prazer da traição que pratica, sempre buscando perverter aquilo que Deus criou para ser santo: a intimidade de um homem e uma mulher.

Por isso é que muitos homens da Bíblia tiveram mais de uma esposa e não eram adúlteros.

Davi, por exemplo, se tornou um adúltero quando foi buscar, por pura cobiça e lascívia, a mulher do outro.
E mais: o fez como quem come uma fruta gostosa, pois não havia ali nem um sentimento, mas apenas poder em seu exercício de posse.

 

E lembre-se: Davi adulterou com Bate-seba e continuou com ela, fazendo-se marido dela.

 

E pior: Salomão foi quem deu seqüência messiânica ao prosseguimento da descendência de Davi, e ele próprio era filho da união que começou com um ato de adultério. Donde se depreende o quê?

 

Depreende-se que o Deus que perdoa pecados perdoa também o adultério. Mas isso nunca deve se instalar como uma certeza profissional na alma humana. Afinal, de Deus não se zomba! Ele conhece o coração!



 

 

Nele,

 

 

 

Caio

 

19 de agosto de 2003

 

Copacabana

 

RJ