—–Original Message—–
From: G.
Sent: Agosto de 2003
To: [email protected]
Subject: Pedido de esclarecimento sobre sexo anal-IV.
Caro pastor Caio,
Quando lhe perguntei 4a.feira se o sr. havia recebido meu último e-mail; o sr. respondeu afirmativamente, dizendo que estava no site, em continuação ao anterior.
Chegando em casa, ao abrir o site vi que a resposta era ao meu e-mail anterior (o terceiro), cuja resposta eu já havia lido, e cujo conteúdo ainda não atendia à minhas dúvidas e às minhas perguntas.
Bem, agora vou prosseguir:
Sobre Romanos 1 de 18 a 32, não creio que Paulo se referisse somente aos pecados dos romanos em suas festas de orgias, bacanais e libertinagem.
Para mim essa carta, embora dirigida especialmente aos romanos, é universal.
Aí encontramos a condenação de Deus a todo esse comportamento, que tem existido em todas as nações e em praticamente todas as épocas da história.
Estou enganada?
Está escrito que o homem é condenado porque a verdade lhe foi dada e que por suas ações ele a rejeitou. (vv. 19-20 e vv.21-32)
E também não está “dito”?
Pastor, olha que maravilha, que beleza de texto:
“quando pois os gentios que não têm lei, procedem por natureza de conformidade com a lei, não tendo lei, servem eles de lei para si mesmos; estes mostram a norma da lei gravadas em seus corações, testemunhando-lhes também a consciência, e os seus pensamentos mutuamente acusando-se ou defendendo-se, no dia em que Deus, por meio de Jesus Cristo, julgar os segredos dos homens, de conformidade com o meu evangelho”. (Rom.2:14 a 16).
Agora, pastor, com relação às experiências de cada um, eu posso testemunhar de dois parentes muito próximos, já falecidos.
Um deles era bi-sexual e até casou-se e teve filhos. Tinha “colite”, que é uma séria inflamação no colo do reto, e sofria muitas dores, que muitas vezes não lhe permitiam trabalhar. Morreu com 37 anos.
O outro era homossexual e precisou fazer cirurgias no colo do reto.Vivia com dores e machucados precisando de tratamentos e de providências de higiene bem constrangedoras. Este morreu com Aids também muito jovem.
O que o sr. me diz se, numa relação sexual anal homem-mulher, acontecerem esses traumatismos na mulher?
Para mim, a prática do sexo anal com uma mulher é a mesma coisa que sodomia!
Se eu estiver errada, por favor me esclareça.
Um abraço
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Resposta:
Minha amada amiga e irmã: a senhora é muito amada!
Romanos é universal!
Toda e qualquer fala de Deus, é para todo homem sempre que o homem colidir com a Palavra.
Mesmo os textos culturalmente ultrapassados—quanto ao aplicativo imediato; como é caso do texto do véu em I Co 11—, continuam a ser princípios universais.
As pessoas não entendem o princípio, então, nem tampouco sua aplicabilidade, como texto, no contexto cultural ocidental. Afinal, ninguém anda mais de véu no ocidente; embora num país árabe, o princípio pudesse ser naturalmente aplicado, pois, entre eles as mulheres ainda usam véu, e pelas mesmas razões que usavam no passado.
Mas quem não entende o contexto de I Coríntios 11, considera o texto ultrapassado, e joga a bacia, a água, o véu e o menino pela janela—isso tudo junto com o princípio.
E por que a senhora perguntou sobre Romanos e eu venho com Coríntios?
Porque também é Palavra de Deus. E para que se a interprete corretamente, tem-se que entender o contexto; caso contrário, o texto, sem o contexto, nos deixaria ou diante do patético—sair por aí usando véu—; ou nos poria diante do total descaso sobre a possibilidade de que ali houvesse um contexto histórico, e que naquele contexto o texto cabia como uma luva, mas que houve mudanças culturais, sendo que há um principio ainda vigente.
Ou seja: I Coríntios 11 está descartado de qualquer ensino cristão contemporâneo—a menos que seja literalmente entendido e em algumas poucas igrejas as mulheres ainda coloquem o véu na hora do culto!
Ora, isto é assim apenas porque não se conhece o contexto.
Sem o contexto histórico a maior parte dos textos ficam soltos, no vazio.
Então, como ficam ali, suspensos, existindo como afirmação, porém sem uma prévia explicação de porque ele está ali; e passa a ser veladamente visto como algo ultrapassado—daí a senhora praticamente jamais ouvir pregações sobre a questão do véu em I Coríntios; é ou não é verdade?
A senhora escreveu:
“Sobre Romanos 1 de 18 a 32, não creio que Paulo se referisse somente aos pecados dos romanos em suas festas de orgias, bacanais e libertinagem. Para mim essa carta, embora dirigida especialmente aos romanos, é universal. Aí encontramos a condenação de Deus a todo esse comportamento, que tem existido em todas as nações e em praticamente todas as épocas da história”.
Concordo com a senhora em gênero, numero e grau com a senhora.
É claro que a Palavra não ficou presa ao contexto dos romanos; assim como I Co 11 não ficou morta com a mudança cultural havida no resto do planeta: o princípio está vivo, e sua aplicabilidade é a mesma, sempre e onde o contexto corresponder às intenções originais do texto!
Portanto, Romanos 1: 18-32 é para hoje, como para Hoje é toda a Palavra!
Então, como ficamos?
Bem, antes de dizer o que penso sobre o tópico em questão, desejo dizer o seguinte:
A epístola aos Romanos tem uma estrutura. Ela é uma construção crescente. Para mim é a mais estruturada de todas as cartas de Paulo.
Ora, essa “construção” começa com a descrição do estado de coisas que se instalara—e que se instala em qualquer sociedade humana onde a inversão dos valores e das percepções se estabeleçam com as mesmas categorias em que estavam estabelecidas no império romano!
A senhora quer uma prova disso?
Leia o próprio texto que a senhora transcreveu, tirado já de Romanos 2—portanto, na seqüência de Romanos 1.
“Quando pois os gentios que não têm lei, procedem por natureza de conformidade com a lei, não tendo lei, servem eles de lei para si mesmos; estes mostram a norma da lei gravadas em seus corações, testemunhando-lhes também a consciência, e os seus pensamentos mutuamente acusando-se ou defendendo-se, no dia em que Deus, por meio de Jesus Cristo, julgar os segredos dos homens, de conformidade com o meu evangelho”. (Rom.2:14 a 16).
Ora, o contexto do texto acima já não é mais o imediato anterior: o das orgias coletivas e do anestesiamento quase que total da consciência, descrito por Paulo em relação aos “romanos”, onde a disposição mental reprovável conduziu a consciência ao auto-anestisiamento; portanto, impossibilitando-a de se perceber conforme Romanos 2: 14-16.
Em Romanos 2: 14-16 os gentios têm sensibilidade, e podem interagir com a voz de Deus na consciência.
Não era mais o caso apresentado por Paulo quando da analise do “primeiro caso”.
De fato Paulo está “examinando casos”.
Começa com o caso da sociedade poderosa, dominante, narcisista, cultuadora dos prazeres, e entregue coletivamente à dissolução.
Seria essa uma situação “geral” nos dias de Paulo?
É claro que não!
Não era verdade geral para a percepção de mundo dele, e nem era tampouco universalmente verdadeira se comparada com os registros históricos do que acontecia na civilização humana enquanto Paulo escrevia aquilo.
O que estou dizendo?
Bem, Romanos 1: 18-32 caía como uma luva na sociedade dos romanos, mas era totalmente inaplicável aos índios americanos ou aos indígenas da Amazônia; que já existiam desde muito antes de Paulo escrever aquelas palavras.
Ou seja: Romanos 2: 12-16 é o que descreve muito bem a dignidade daquele tipo de gentio que não era parecido com o gentio dos bacanais de dissolvência do ser, conforme as praticas coletivas de grande parte da sociedade romana.
O mesmo se pode dizer de outras porções daquela descrição evolutiva.
Paulo estava trabalhando com um único critério: colocar a todos sob o pecado, a fim de afirmar a Graça todos.
Assim, ele começa com os romanos—era, afinal, para eles que estava escrevendo de modo imediato—; e continua falando de um outro tipo de comportamento humano—conforme a senhora mesma transcreveu no cap. dois da epístola—; e avança para incluir os judeus, cujo processo de anestesiamento do ser não era fruto de bacanais e orgias; mas sim de uma orgia de presunções religiosas, que fazia com que eles odiassem a idolatria, mas roubassem o ouro do ídolo, etc…
Toda a construção caminha para demonstrar que não há nenhum justo, nem um sequer…pois todos pecaram, e todos igualmente carecem da gloria de Deus.
Paulo, em outras palavras, nos diz:
Os Romanos se des-sensibilizaram porque obstacularam a verdade simples de Deus, preferindo a mentira; o que os levou ao estado de insensibilidade. Já os Judeus ficaram pedrados por outra via, porém, igualmente condenável, e capaz de produzir o mesmo resultado de des-sensibilização.
Já os “gentios longínquos” podem muitas vezes parecer bárbaros à distancia, porém, não sem culpa e não sem pecado, ainda assim têm uma relação de interatividade com suas próprias consciências, que não são interações comuns de encontrar entre os sofisticados romanos e nem entre os empertigados e auto-exaltados judeus.
E concluiu nos mandando preparar o coração para surpresas, no dia em que os segredos do coração forem abertos.
Ora, se Paulo estivesse colocando os gentios de Romanos 2 exatamente no mesmo nível de obviedade tanto dos romanos, quanto dos judeus—cujas expressões ele apresenta como gritantemente obvias—, ele não teria estabelecido a possibilidade da surpresa positiva.
Ou seja: com relação aos demais não deveria haver surpresas; as surpresas estariam vindo de onde nosso juízo já está preconceituosamente estabelecido—os pagãos que viviam sem lei.
Portanto, minha querida, Romanos é universal, tão universal quanto seus aplicativos sejam universalmente encontrados; podendo ser entre romanos-cariocas, ou romanos-evangélicos, ou romanos-indígenas, ou romanos-germânicos ou romanos-árabes.
Romano, aqui, é todo homem; embora nem todo homem seja um romano!
Cada um tem seu próprio aplicativo contemporâneo de romanos, conforme a condição de correspondência com o espírito do texto em que venham a encontrar-se.
Daí eu afirmar que o contexto de Romanos 1: 16-32 não ser descritivo de um vínculo conjugal entre um homem e uma mulher, mas sim a descrição de uma sociedade adoecida pelo entorpecimento da consciência coletiva.
Com relação ao tema tópico—a questão do sexo anal—, tenho a dizer, em acréscimo ao que já disse nos textos anteriores, que não repetirei o que já escrevi aqui sobre o assunto!
Quero apenas acrescentar o seguinte:
1. Quem tem suas certezas, não precisa ter dúvidas.
2. Quem não gosta, que não faça.
3. Quem faz, não o faça como regra de prática sexual; do contrário, terá problemas de ordem fisiológica.
4. Quem não faz sexo anal, mas faz em excesso até mesmo o sexo “normal”, ainda assim tem que se precaver; afinal, irritações, inflamações, e outras coisas, também podem atingir a genitália; obviamente se o excesso for absurdamente maior que o que pode ser designado como excesso na prática anal—onde o risco de inflamações é incomparavelmente maior.
5. Os casais que gostam da prática, não pleiteiam a liberdade como regra, mas tão somente como opção; e conforme um critério de auto-permissão eventual.
6. Quem pretende substituir a prática frontal—sexo normal—, pela prática anal, está se candidatando a ter as conseqüências físicas que a senhora mesma descreveu tão bem em sua carta, conforme os exemplos que deu. Sem falar que tal busca de “substituição” já denota certas disfunções psicológicas na sexualidade do casal.
7. O mesmo se pode dizer do sexo oral. A boca não foi prioritariamente feita para a prática do sexo oral; assim como também não foi feita prioritariamente para o beijo: foi feita para a ingestão de alimentos.
Pois bem, em resumo, não estou advogando nada.
Um homem maduro na Palavra de Deus não precisa discutir assuntos para ver até onde vai a minha própria liberdade em Cristo.
A fé que eu tenho, tenho-a para mim mesmo.
Além do mais, não estou trabalhando com as categorias do que é lícito ou não; mas do que convém ou não convém.
O que tenho respondido aqui é semelhante ao que fiz a vida toda.
Exemplo: Eu não era do PT. Os evangélicos quase todos—inclusive os que hoje estão bajulando o Lula—, diziam que o PT era do diabo e que o Lula era mensageiro de satanás, que trazia em si um espírito de guerrilha.
Levantei-me contra. Fui acusado de ter interesses pessoais, etc…
E fiz isto desde sempre!
Advogava em meu próprio favor?
É claro que não!
Eu não era petista. Mas achava que as “interpretações” eram falsas.
Aqui é a mesma coisa.
Não preciso advogar nada em causa própria.
Minha vida acontece no espaço confortável de minha própria consciência; e não me permito ser julgado por homem algum.
Advogo apenas a liberdade de que todo casal adulto, responsável e consciente do que deseja, e de como deseja, exerça tal liberdade na intimidade da própria conjugalidade sem culpa e sem censores.
De fato, o que estamos discutindo aqui não é sobre sexo oral, anal, ou qualquer outro tipo. Mas sim, estamos falando de que cada um cuide de si mesmo; e que não faça de seus gostos ou desgostos pessoais, regras para a vida de ninguém.
Espero ter me feito claro.
Receba meu beijo e meu carinho cheio de admiração pela senhora.
Um beijo,
Caio
PS: de minha parte creio já ter contribuido quanto ao tema. Portanto, não falarei mais sobre o assunto!