ANGÚSTIAS PROTESTANTES
——- Mensagem Original ——– De: Protestante conflituado acerca das virtudes e pecados do ser Para: “[email protected]” Assunto: Dúvidas sobre auto-estima, modéstia, egocentrismo Olá Pastor: a paz de Cristo! Gostaria de ler do senhor algo sobre auto-estima e amor próprio. Acredito que desde a minha infância esse tenha sido um dos meus maiores problemas existenciais, em parte pela “criação protestante” com sua cultura de pseudo-negação das jactâncias enquanto se jactam de não se jactarem. Mas também sofre com dilemas sobre humildade e egocentrismo, dons inatos e dons espirituais; graça e esforço pessoal nas questões do cotidiano; modéstia verdadeira e falsa modéstia. Como se referir aos dons pessoais sem parecer e nem ser arrogante? Como lidar com prerrogativas pessoais em “superioridade” para algumas coisas e “inferioridades” para outras? Às vezes a elevada cultura e a academização nos deixa pessoas meio pesadas para o convívio tanto racional quanto emocional? Como a gente se limpa dessa vontade de ter respostas prontinhas e bem elaboradas para tudo, quando nem todo mundo, nem você mesmo, quer fazer um sermão sobre cada aspecto de uma conversa? Como colocamos controle na boca e na língua para calar opiniões? Muitas fezes teoLógicas demais e com pouca Sentimento…. Acredito que muitas de suas respostas nessas questões possam me ajudar. Um abraço, ***************************************** Resposta: Meu querido: muita Graça sobre você! Não darei 10 respostas, vendo questão por questão; do contrário, teria que escrever um livro só para você. Infelizmente, tanto não dá tempo, quanto também, aqui mesmo no site, se você “navegar”— navegar é preciso, viver também —, você encontrará as respostas que procura. Além disso, há livros meus que tratam do assunto, e mensagens em CD que falam sobre isto (escreva para a Editora Prologos e peça esses temas). O que tenho a dizer sobre tudo isto é muito simples: Só tem esses conflitos a pessoa que ainda não creu com a mente, com o coração e com os sentimentos naquilo que a Palavra de Deus revela como Palavra da Graça. Na Graça de Deus acabam esses conflitos. Veja: por que você acha que eu respondo coisas aqui com tanta “certeza” e disposto a dizer “eu sei”? Não seria uma jactância, uma total falta de modéstia, uma atitude de arrogância ante o meu próximo que não sabe? Não seria uma total falta de humildade dizer: Deixe que quanto a isto eu “assumo responsabilidade” pelo que estou dizendo? Bem, do ponto de vista do falso virtuosismo cristão não se pode falar assim. E por que? Porque quem fala assim, supostamente, está falando de si mesmo! Será que é assim? Ora, na maioria das vezes é assim mesmo! E por que? Porque a maioria fala de si mesmo, mesmo! E por que falam de si mesmos quando falam de seus dons e talentos, daquilo que sabem, do que pensam, etc…? Simplesmente porque sentem o que falam e afirmam como coisas que “nasceram neles”, como coisas que “pertencem” a eles! Todas as coisas, inclusive todas as falas e declarações e interpretações—incluindo as auto-interpretações de dons e talentos— são puras para os puros; mas para os impuros, até as “virtudes” os fazem pecar. O que estou dizendo é que sei que me comunico muito bem—dependendo da situação eu não escolheria ninguém no planeta Terra para expressar um pensamento em meu lugar, ou por mim—; sei que entendo aquilo acerca do que falo; e sei que há dons e talentos em minha vida em medida anormal. Também sei que tenho ótima memória, que sou criativo, que aprendo antes de terminar, que penso com mais velocidade que meu cérebro consegue acompanhar do ponto de vista neurológico, que sou bem dotado fisicamente—sempre tendo tido extrema facilidade para lidar com meu corpo: esportes, lutas, etc…—; e sei que nunca estive em nenhum lugar da terra sem ser logo percebido, mesmo onde ninguém me conhece como nada. Bem, agora você diz: Meu Deus! Esse cara é um doido! É um arrogante! Surtou legal! Está cheio de vento e jactância! Poderia ser. Mas não é! Essa é a sutileza! Tem gente que sabe o que é, mas nega, e o faz cheio de orgulho e jactâncias disfarçados. Há outros que falam o que falei e o fazem cheios de arrogância maligna e vaidosa. Há outros que não são nada disso, mas se tratam como se assim fossem, e demonstram esse auto-engano com “olhar altivo e presunçoso”, os quais Deus odeia, como dizem os salmos, os provérbios e toda a Bíblia. Leia o apóstolo Paulo. Meu Deus! Ele diz coisas que vistas sob outra perspectiva nos pareceriam abusos de confiança e profunda arrogância. E por que não são? Bem, é que ele diz: Minha suficiência vem do Senhor… Não temos nada que não tenhamos recebido… Não eu, mas a Graça de Deus comigo… Quanto Àquele que me chamou antes de eu nascer…A Graça em mim não foi vã…Cristo vive em mim…etc. Ou seja: quem sabe que é vaso de barro—e que é barro igual a todos os demais barros, e que até o barro foi feito pelo oleiro!—não tem porque se jactar do tesouro que nele habita. Tal pessoa sabe que tudo o que tem e é, não foi criação sua. Sabe que não há nada nela que não seja pura Graça; portanto, favor imerecido! Quem sabe de sua própria e irremediável condição de ser caído, sempre que encontre tesouros em si mesmo, curva os joelhos e louva o Criador, e doador de todas as coisas. Portanto, o problema nunca está em se admitir o que se tem e o que se é. O problema é sempre pensar que “nós nos tornamos” alguma coisa para além da origem de tudo; que é a Graça de nosso Deus. Pensar que nos tornamos alguma coisa de nós e por nós mesmos, mergulha o ser na Síndrome de Lúcifer. Mas Deus é glorificado quando um ser humano se levanta e declara que sabe o que tem e o que é, e afirma isso sincera e honestamente como dons da Graça. Nesse ponto, acaba também a questão acerca de dons especiais e dos talentos humanos. Não há diferença. Tudo vem de Deus. Tudo é Graça! Essa tentativa de separar dons de talentos já é arrogância cristã. Já é o cara dizendo: você nasceu com talentos; eu recebi dons. Você é filho da natureza. Eu sou filho de Deus! Bobagem. Quem criou a natureza o fez com Graça. Não há separação entre as graças. Quem inventou isso queria “poder”, e sofre da Síndrome de Sallieri contra Mozart, conforme o filme Amadeus. A humildade é saber que tudo o que se tem e se é, tem-se, e se o é, em Deus! Humildade é manter o coração aberto para crescer na Graça e saber que esse aprendizado não acaba nunca, e que todas as coisas vêm de Deus e são para o Seu louvor. Veja como a linha é fina e a diferença é sutil. Mas faz toda a diferença! Sobre o academicismo gerar seres chatos, é verdade. Todos os “ismos” criam chatos de galocha. Relaxe, meu irmão! Você não tem que provar nada. Você é, em Deus! Diversifique os seus interesses. Não viva só de livros e textos. É um porre. Fale como as pessoas falam. Seja quem você é. Seja próprio em tudo. Não imite ninguém. Nunca se sinta impelido a mostrar supremacia pessoal sobre ninguém. Fale com sabedoria e amor e você nunca será inconveniente. E, por último, saiba: mulher cansa logo de homem que só vive de recitar fórmulas certinhas; os amigos também! A arte de tudo é o improviso e a leveza. E, estranhamente, quanto mais na Graça você vive, mais leve e agradável você se torna. Mas, quando isso acontecer, não diga: Pôxa, eu sou o máximo! Apenas diga: Senhor, obrigado por estares me libertando para viver para além do mundo das comparações! Tudo que o que você fizer, faça para o Pai das Luzes, de quem vêm todos os dons perfeitos! Nele, Caio Inserido em: 15/03/2004