BANGU I DA LEI: VERTIGENS DA LIBERDADE
—–Original Message—–
From: VERTIGENS DA LIBERDADE
Sent: segunda-feira, 19 de julho de 2004 17:12
To: [email protected]
Subject: Andar na graça “dá frio na barriga”?
Querido Caio,
Desde quando eu e minha esposa nos convertemos, acompanhamos o seu ministério, sempre aprendemos muito com voçê seja através dos seus livros, da sua vida e principalmente da graça que Deus sempre revelou através da sua vida, até nos momentos mais difíceis.Cremos que a realidade que se desenha é a de uma volta generalizada ao Verdadeiro Evangelho de Jesus, não sabemos como e nem quando, pois, há no meio da “igreja” muitos corações sedentos da verdade que liberta.
Temos visto que outras vozes tem se levantado contra o que tem sido proposto para as pessoas, que diga-se de passagem acho que enojaria até os Fariseus, contemporâneos de Jesus.
Eu e minha esposa temos buscado entrar na prática dessa graça libertadora e salvadora, por isso eu pergunto é normal sentir como que um “frio na barriga”, mas ao mesmo tempo perceber que o mais correto?
Não sei se algum dia terá como você responder este e-mail, mas de qualquer forma que Deus continue derramando mais e mais dessa Graça sobre a sua vida.
Um abraço fraterno de João e Carmiranda.
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Resposta:
Meus queridos amigos João e Carmiranda: Graça e Paz conforme o Evangelho!
Sim, dá um “frio na barriga”. Liberdade dá vertigem.
Quando eu ia muito a Bangu I—até duas vezes por semana durante dois anos e meio—ficava imaginando como seria quando aqueles apenados saíssem daquele bunkres fechados e sem sol.
Dois anos depois o Secretário de Justiça me pediu uma lista de 12 dos mais bem comportados presos, a fim de que fossem transferidos para um presídio mais aberto, com sol e atividade no pátio.
Indiquei os nomes. Eles foram transferidos. Uma semana depois fui visitá-los no novo presídio. O “Japonês”, à época um dos dirigentes mais respeitados do chamado Comando Vermelho—e que fora posto na minha lista por já estar em Bangu I há muitos anos—me disse que a coisa mais difícil estava sendo lidar com o espaço. Ele sentia vertigens, desejo de pular, de cair, se segurava nas paredes para não se sentir engolido pelo céu, como se fosse subir…
Naquele dia entendi o que a liberdade causa, não apenas sensorialmente, mas, sobretudo, psicologicamente.
Quando a pessoa sai do “Bangu I da Lei”, do moralismo, das listas ascéticas de não toques, não proves, não sintas e não gostes…e mergulha na consciência de ser em Deus e conforme a Graça, é inevitável se sentir como quem saiu de uma cadeia.
De fato Paulo disse que a Lei é para criminosos e transgressores. E por isto é assim que a alma se sente sob o jugo da Lei. A pessoa sente-se culpada e aprisionada. E quando a libertação chega, a pessoa fica se agarrando às paredes, com medo do espaço e da amplidão.
Todos dizem que gostam de liberdade. Mas de fato pouca gente tem coragem para vivê-la. A maioria gosta de “falar no assunto”, mas quando recebe a chance de viver livre e de modo responsável e adulto na fé, sofre as vertigens da liberdade, e muitos retrocedem.
É a vertigem dos Gálatas!
Não será o caso de vocês, e nem de muitos que agora estão crendo no Evangelho de Jesus, e não mais na fabricação dele, conforme a “igreja”.
Fiquem firmes na fé, e não se intimidem. Logo vocês estarão tão calmos e seguros, que pensarão: “Como foi possível viver aprisionado tanto tempo?”
Sua carta me deu muita alegria e estímulo no Senhor.
Recebam meu beijo amigo e carinhoso.
Nele, Que nos segura na jornada da liberdade no Caminho,
Caio