Casei errado, o que faço?
—–Original Message—–
From: Fernando
Sent: segunda-feira, 11 de agosto de 2003
To: [email protected]
Subject: Casei errado!
Mensagem:
Querido amigo e pastor Caio Fábio:
Sou casado há quatro anos, tenho um filho de um ano e meio; e estou junto com minha mulher num total de sete anos.
Estamos vivemos muito ruim em nosso casamento; temos tido um relacionamento bastante cansativo e enjoativo…
Eu realmente estou cansado dela e vice versa…
Não tenho sentimento de amor por ela e vice versa…
Não agüento mais alguns defeitos dela que nunca mudaram ao longo dos anos.
O pior de tudo é que quando nos casamos eu sabia que poderia vir a passar por isso no rumo de um casamento com ela…
Sei que tomei uma decisão errada ao casar com ela…
Eu não a amava, mas mesmo assim casei…
Hoje sei que apenas colho aquilo que plantei: o fruto de uma escolha errada…
Mas me questiono bastante a respeito disso. Será que tenho que pagar esse preço pelo resto da vida?
Tenho que ficar casado com ela pelo resto da vida?
Veja só, não estou tomando como base para minha vida o fato que aconteceu na sua.
E nem o julgo pelo fato de você ter se separado de sua esposa. Acho que você é um homem de muita coragem…e sei que DEUS conhece seu coração; e que não te vê como alguns homens tentam te ver.
Gosto muito de você e gostaria de que você me ajudasse nesse problema com sua experiência.
Por favor me esclareça mais a respeito disso, pois não agüento mais essa vida…
Eu não a traio com “outras”, nem nada do tipo; apenas não tenho mais prazer na vida ao lado dela.
Por favor, meu amigo, você sabe exatamente o que estou passando.
Me ajude.
Graça e Paz de Jesus.
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Meu amado irmão:
Graças a Deus você não está olhando para mim como álibi para você mesmo, porque eu não sou álibi para ninguém.
Cada um tem que levar responsavelmente o seu próprio fardo. Posso apenas ajudá-lo a levar o seu. Mas é seu fardo!
E você está certo. No texto de Gálatas 6 onde se fala de levar os fardos uns dos outros, também se diz que cada um levará o seu próprio fardo; e a seqüência é: “aquilo que o homem semear, isso também ceifará”.
Portanto, a punição do erro, é o erro em si!
O castigo da má semente é ela própria, nos frutos que dá!
Ora, saber disso e continuar assim mesmo, não é vida!
Se vocês não se amam e nunca se amaram, e casaram assim mesmo, o que posso eu dizer, se não que persistir no erro é burrice? e que gerará angustias, amarguras e sentimentos ainda piores?
Deus não é dono de Cartório e nem está no negócio da sacramentalização daquilo que não se fez, por si mesmo, algo sagrado no coração.
O sagrado só existe no chão da realidade verdadeira e da verdade que se manifesta como realidade.
Portanto, o caminho do sagrado vai de dentro para fora, e só então vem de fora para dentro.
O que existe fora não autentica como bom aquilo que não existe dentro. Mas o que existe dentro, autentica como sagrado o que existe fora.
Esse é o significado de realidade verdadeira, e de verdade que se manifesta como realidade!
Assim, lhe digo: nenhum casamento sem amor e verdade existe aos olhos de Deus!
Existe apenas como Sociedade LTDA aos olhos dos homens.
Todavia, com o passar do tempo, a tendência é que acabe virando numa S.A. Aí entram novos “acionistas” e novos “sócios” no negócio. E depois muitos dizem que não sabem “por quê”?
Que mintam para si mesmos, mas não para mim!
Se as coisas são como você está dizendo, não há o que dizer quanto ao vínculo. Afinal, ele não existe.
O que existe, e não é falso, é o filho que vocês geraram. Esse sim, precisa ser tratado como um ser indivorciável; e abençoado será o pai ou a mãe que não fugirem jamais dessa consciência e dessa responsabilidade!
No mais, fique sabendo que qualquer divórcio é uma desgraça, mesmo quando não se ama o cônjuge em questão, ou quando a vida com ele (a) é uma “coisa enjoativa”, como você disse. E é isto que se precisa saber antes de qualquer coisa.
No meio Evangélico casa-se a fim de resolver o problema do “desejo sexual” e acaba-se criando um bicho muito pior: um casamento enjoativo e nauseante!
Só um idiota pode pensar que Deus prefere saber por onde anda um órgão sexual, antes que querer que a gente saiba por onde anda o coração!
Luto contra todos os divórcios que possam ser evitados. Mas, para tanto, tem que haver amor. Sem amor não tem assunto. Não há nem mesmo pelo que se possa pretender lutar.
Pessoalmente, não tenho nada a dizer.
Cada caso é, literalmente, um caso. Portanto, como já disse, não sou exemplo a ser seguido, e muito menos um conselheiro que carrega um discernimento infalível.
Deus me livre!
Há, todavia, uma coisa que sei mesmo que a distancia: sem amor, nada nos aproveitará; nem mesmo o dar o corpo para ser queimado na fornalha de um casamento angustiantemente infeliz!
Digo isto porque não faço parte do “negócio matrimonial” das empresas humanas de abertura de Firma Conjugal LTDA, mas cujos sócios se detestam.
Ir para um casamento, sem amor, é menos inteligente do que investimento na bolsa quando não se conhece a solidez das “ações” que se está comprando.
Mas lembre: o que aqui digo só tem algum valor se o que você me diz é de fato verdadeiro, e não apenas a “saída” dissimulada de um homem que “cansou” de sua mulher, por qualquer motivo, como os fariseus cansavam das suas nos dias de Jesus.
Cansar, de vez em quando, todo mundo cansa…
Então, se é assim, que cada um dê uma “arejada” na alma. Mas, nesse caso, a recomendação jamais seria o divorcio.
Não havendo amor, entretanto, que posso eu dizer a você?
Todavia, não faça nada sem esgotar as verdades de seu próprio coração.
Pessoalmente, fiquei duas décadas buscando em mim mesmo recursos para viver o que em mim só era vida em razão dos filhos. Mas quando eles cresceram, não consegui encontrar em nada—e muito menos na suposta “grandeza” de meu ministério—, uma única razão que me justificasse a permanência naquilo que eu não chamava de verdadeiro.
É só o que posso dizer a você, e o digo com temor, tremor e respeito.
A decisão é sua. A responsabilidade com as conseqüências também são suas e de mais ninguém; e com as conseqüências virão as seqüências, e essas também são inteiramente suas nas variadas gestões que se tem de fazer, e não são fáceis.
Receba meu abraço e minhas orações.
E que Deus ilumine a vocês!
Nele,
Caio