Esposa Infeliz!
—–Original Message—–
From: Esposa Infeliz
Sent: quinta-feira, 1o de agosto de 2003 To: [email protected]
Subject: High Importance
Mensagem:
A paz meu querido Pastor!
Obrigada por se importar em responder meu e-mail.
Você não pode imaginar como gosto de você…
Como sou feliz por poder corresponder-me com você…
Como sou feliz por saber que és um Homem de Deus…
Como sou feliz por você existir!
Sabe, precisava de alguém como você para poder desabafar, para poder contar os meus problemas.
É ruim demais não ter ninguém em quem confiar; às vezes sofremos muito por isso!
Pastor, sou casada há 17 anos e tenho uma filha de 13 anos.
Meu marido é Pastor de uma Igreja Histórica; depois de um grupo que saiu “renovado”.
Atualmente, ele não está dando tempo integral. Ele congrega em uma igreja como membro.
Não somos da mesma igreja.
Ele pastoreou uma igreja durante quatro anos.
Depois de um tempo ele achou que seu lugar não era mais ali, onde tínhamos estado, e decidiu ir para uma igreja com a qual não me identifico muito.
Ele foi com nossa filha. Mas ela fica mais tempo comigo, em minha igreja, do que com ele mesmo.
Meu maior problema?
Não amo meu marido; nunca o amei! Nunca senti,como você disse, aquele Uau!!!
Sofro muito com tudo isto.
Sou uma mulher de Deus.
Tenho buscado a unção de Deus em minha vida.
Tenho trabalhado na obra…
Mas me sinto muito mal com tudo isto, Pastor!
Conheci um outro Pastor.
Ele é muito espiritual, um homem de Deus!
Mas é casado, tem três filhos.
Infelizmente interessei-me por ele.
Confessei a ele tudo isto…
Nunca tivemos nada, nada mesmo Pastor.
Eu o respeito e ele a mim.
Só que ele também demonstrou um
Interesse; chegou até me perguntar por que casei com meu marido.
Por que casei?
Sou de uma família pobre, muito
Pobre; sempre tive que trabalhar muito, meu pai não ganhava nem para o básico, e bebia muito.
Minha mãe? Uma sofredora!
Sempre trabalhei, sempre ajudei em casa e já não suportava mais estar ali com meus pais.
Meu pai sempre foi um cara muito grosso: bebia e fazia aqueles escândalos que todos ouviam.
Até meus amigos eu evitava levar em casa por vergonha.
Sem contar que quando me converti, aos 19 anos—hoje estou com 38 anos—, apaixonei-me por um rapaz que estava praticamente noivo.
E eu a cada dia o amava mais…
Até que ele se casou e para mim foi uma decepção total.
Só que o casamento dele não deu muito certo, e ele começou a procurar-me.
Naquela época ele sempre aparecia no final do expediente, onde eu trabalhava, para poder conversar.
Já não agüentava mais aquilo, pois eu o amava muito ainda. Eu já tinha 23 anos.
Um belo dia não mais agüentei e nos
Beijamos; e me senti a pessoa mais feliz do mundo…
Mas eu estava errada: ele ainda era casado.
E, no entanto, eu já estava muito envolvida.
Nunca transamos, nunca fomos para cama, sequer ele passava a mão em meu corpo; ele me respeitava…
Mas eu não podia continuar naquela situação; precisava acabar com tudo aquilo.
Aí apareceu o meu marido, que já me
perseguia a mais ou menos uns 4 anos; ficava muito no meu pé querendo me namorar; sempre chorava quando conversávamos; e ele dizia o quanto me amava!
Eu odiava toda aquela situação.
Não conseguia sentir nada por ele.
Aí, Pastor, resolvi dar uma chance…
Começamos a namorar…
A situação estava critica, pois, ainda havia o outro rapaz.
Eu precisava acabar, romper de vez com o outro rapaz. E rompi.
Eu e meu marido, namoramos; ele me sufocava de tanto amor e paixão!
Contei-lhe meu envolvimento com o outro rapaz; contei-lhe tudo; e até hoje ele não pode sequer ver o outro por perto; não posso sequer dizer “oi”. Uns poucos meses de namoro e ele quis ficar noivo.
Eu disse “não”; ainda era cedo. Mas ao fim daquele ano ele comprou as alianças, e fez o pedido para o meu pai.
Nunca soube como sair daquela situação.
Sem amor, mas com coceira…
O problema maior foi coceira.
Pastor, é que eu deixava com que as carícias fossem ficando mais intimas; e acabamos transando pouco antes de nos casarmos.
Ele me disse: já vamos casar mesmo, por que não transamos?
Ele já tinha bastante experiência; já tinha tido outras; eu é que só tinha uns 24 anos.
Aconteceu e eu fiquei sem saída. Não queria mais ficar na minha casa, não gostava dele, mas de um outro; transei com ele porque estava carente; e, casei por todas essas razões.
Nunca havia deixado ninguém ir tão longe; nunca tive namoro tão avançado.
Sempre namorei com muito cuidado; se meu namorado me apertasse muito já achava que era motivo de terminar o namoro.
Com ele foi diferente.
Precisava casar. Tinha que casar. Eu havia me entregue a ele. Que situação!
Escrevo mais depois.
Um beijo.
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Resposta:
Você interrompeu subitamente.
Continue escrevendo.
Deus a abençoe!
Nele,
Caio
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Meu amado pastor,
Como é bom poder escrever para você.
Admiro e amo você.
Encontro Palavra no que você escreve.
Bem, não tenho muito para falar; no dia em que escrevi para você, estava muito chateada, aborrecida, pensando que o mundo fosse desabar sobre minha cabeça.
Infelizmente, não tenho sua coragem, e, muito menos a atitude que teve com relação ao Divórcio…
Só gostaria de ser feliz…de amar…de ser respeitada como mulher…
Sabe Pastor, vou lhe confessar uma coisa muito pessoal, muito mesmo…
Meu marido insiste em fazer sexo anal; já lhe demonstrei todo o meu repudio; não gosto; e não quero fazer.
Odeio quando ele vem com estas histórias… odeio mesmo.
Mesmo assim ele teima em insistir.
E há várias coisas Pastor, várias outras coisas…
Sei o quanto ele me ama, e o quanto lutou para conseguir me namorar; mas agora parece não valorizar muito tudo isto.
Pastor, não quero mais falar sobre isto, só queria mesmo desabafar; no dia em que lhe escrevi, estava muito mal.
Penso que preciso continuar orando, orando muito mais.
Se fosse lhe contar tudo, acho que não daria para escrever em apenas um dia.
Penso que pele fato de meu marido ser Pastor, deveria agir de forma bem
diferente; e isto não acontece.
Um grande abraço e obrigada por ser preocupar com pessoas tão problemáticas como eu.
Meu carinho por você se torna maior a cada dia.
Um grande beijo e um fortíssimo abraço.
Nos laços do Calvário que nos une…
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Resposta:
Minha querida amiga em Cristo,
Senti que algum fluxo se interrompeu em você.
Você vinha num ritmo e, subitamente, mudou.
Daqui de onde estou, neste lugar virtual, parece até que você levou um susto.
Começou falando que não amava o seu marido.
Falou de um outro pastor, por quem você estava meio apaixonada.
Ele perguntou a você por que você havia casado.
Você contou para ele o que certamente me contou aqui na carta.
Então, voltou a falar de seu casamento, e de como é difícil para você estar casada com quem não ama.
De repente interrompeu outra vez.
Eu pedi que você continuasse a narrativa; afinal, nós havíamos começado com um fato novo: você estava gostando, e, aparentemente, sendo correspondida por um pastor que também é casado.
Então veio o seu segundo, e sempre carinhoso e-mail. Mas nele você já estava em outra sintonia.
Chegou mesmo a me fazer crer que seu desejo—caso tivesse coragem—, seria divorciar-se.
Eu até mesmo servi de exemplo do que você não conseguiria realizar.
Então, outra vez, meio de súbito, veio a questão de seu marido desejar fazer sexo anal; e como isto deixa você irritada e zangada.
E você disse: E tem muito mais…
Então, você parou meio assustada outra vez.
Obviamente que só você e eu sabemos quem você é.
E tem mais: toda hora encontro alguém que, em razão de um momento, precisa de um desabafo, mas, então, por medo, susto, pânico, angustias, e outros sentimentos, pára a narrativa.
E como você representa uma quantidade expressiva de pessoas, e que me escrevem dizendo coisas semelhantes, decidi responder a sua Carta Incompleta, por julgar que é na falta de “complementação” que está o problema.
Você fez muita coisa até hoje em razão do desespero.
Sua alma é muito impulsiva.
Gente como você—e eu também, pois, de fato, minha maior descoberta na meia idade foi sobre minha própria impulsividade—, sofre muito!
A gente acaba fazendo com que coisas de um “momento”—e que não são apenas um momento—, se perpetuam; e, então, a soluçãozinha da hora, vira o fardo horrível que se tem que carregar.
Sinceramente, o que tenho a dizer a você é o seguinte:
1. Não baseie seu casamento em “Uau”! Isto é para quem quer, e acha que tem que ser assim. Mas não há paradigmas a serem estabelecidos. E nenhum Uau deve ser buscado. Se acontecer, aconteceu, mas nunca se deve procurá-lo. O coração é absolutamente singular; e ninguém tem que fazer do Uau dos outros, a sua própria necessidade.
2. Sei o que significa estar casado com as circunstancias. É horrível. Mas, não tenho nada a dizer sobre o assunto. As decisões que um dia tomei sobre a questão, foram minhas decisões; não são receitas de felicidade; tais coisas não existem.
3. Pelo que depreendi, você está um poço de carência. E, como você ainda está na “flor da idade”, digo a você que a tendência é aumentar. Por isso, é melhor você achar logo o lugar dessa “sombra”; se não, ela vai achar você.
4. Nossas irresoluções, ou a gente trata delas, ou elas tratam da gente. E o tratamento que a “sombra” nos dá é muito mais dolorido. É o inconsciente vindo acerta as contas. Dói mais que a dor.
5. Sobre o pastor casado, e por quem você se interessou, quero dizer o seguinte: Pule fora dessa enquanto dá; se ficar, você não tem idéia de como ainda sofrerá!
6. Quanto ao seu marido desejar fazer com você coisas que você não gosta, quero dizer o seguinte: uma mulher que não ama e nem gosta do marido, não gostará nunca de nada com ele. Homem que não gosta da esposa, quando se relaciona sexualmente, acaba desenvolvendo ejaculação precoce; apenas para acabar logo com a “intimidade”. Mulher, quando está na mesma situação, mergulha ou na total “passividade”, ou nas regras que diminuem o tamanho do corpo para o marido. Aí serve tudo, até a Bíblia.
7. Conheço mulheres que eram mal casadas e que usavam a Bíblia a fim de proibir tudo que dissesse respeito ao sexo. Depois que se separaram é que vieram a “entender melhor a Bíblia”. De fato, a gente lê a Bíblia conforme o que quer e o que não quer. Dificilmente a gente a lê com isenção; até contra nós mesmos.
8. Assim, depois que se casaram com quem de fato amavam, elas descobriram que todas as coisas são simples e normais quando se ama; pois aprenderam que o amor não violenta; e nem propõe o dissabor como prazer.
9. Todavia, o que seu marido quer, nenhuma mulher tem para dar. Tal coisa, quando acontece, tem que ser acompanhada de muito carinho, amor, confiança e conforto físico, psicológico e de consciência. Se não, faz mal.
10. Aliás, sem amor, tudo faz mal.
11. Casar errado é normal. Quem aos 24 anos sabe o que quer? A gente sempre casa meio no escuro. Quem casa amando tem um farol apontado para frente: não revela tudo, mas dá muita segurança; e é a única coisa que preserva um casal, casado de fato.
12. Sem amor a instituição do casamento pode perdurar até a morte; mas não há casamento; aí haverá apenas uma “sociedade conjugal”.
Quanto ao mais que você não disse, tenho a certeza do seguinte:
Você precisaria procurar alguém sério e de confiança. Um terapeuta. Alguém isento, e com quem você posso falar tudo.
Isto porque, infelizmente, os fatos são esmagadores. Suas opções são apenas três:
1. Ficar casada, e não pensar nunca mais em nenhum Uau! Pois, se ficar casada com quem você nunca amou, e, sonhando com a felicidade de um Uau; isso apenas levará você pra cama de alguém; e nada além disso; e com muito risco de tragédia adiante.
2. Você também pode decidir que o que você tem, é o que você tem; e buscar o melhor convívio possível com seu marido; mas sem ilusões.
3. Não tratando das coisas, seu caminho poderá ser o de uma velhice amargurada; ou, quem sabe, de carências infindas; sempre culpando o seu marido.
Por isso, seja qual for o desfecho, recomendo uma terapia.
Está tudo “incompleto”; tudo vai sendo deixado “inacabado”; e, quando é assim, quem se acaba somos nós!
Quanto a orar, ore mesmo!
Mas não ore pela sua carência.
Se você fizer isso, apenas ficará ainda mais carente.
Ore buscando pacificação para o seu coração.
Confiança, é a palavra.
Enquanto a gente não mergulha na confiança, tudo o que existe é carência.
Espero que o que disse lhe seja útil.
Um grande e carinhoso abraço,
Caio