ESTOU AMANDO A DOENÇA
—–Original Message—– From: ESTOU AMANDO A DOENÇA Sent: quinta-feira, 15 de julho de 2004 08:49 To: [email protected] Subject: Preciso de sua ajuda! Olá Rev. Caio! Nos últimos meses tenho lido diariamente seu site e como não poderia deixar de ser, tenho aprendido muita coisa. Gostaria inclusive de contar-lhe como tem sido minha vida e minha visão diante de Deus após as descobertas que fiz lendo o que você escreve, mas no momento não posso… hoje o assunto é outro. Sei que você tem estado muito “apertado” ultimamente para conseguir responder às inúmeras cartas que recebe, mas lhe juro, só escrevi porque estou realmente precisando muito de um auxílio. Vou tentar resumir. Conheci meu ex-namorado em setembro do ano passado numa igreja que comecei a freqüentar aqui em São Paulo (não sou daqui, sou do interior, e moro aqui há um ano). Como a igreja é pequena, foi fácil fazer amizade com todos eles, principalmente com ele que desde o princípio se mostrou muito simpático e prestativo comigo. Gostei dele logo de cara, e ele, com aquele jeito carinhoso e extrovertido, me conquistou rapidinho… No começo era só cortejo, nos falávamos sempre ao telefone, ele me dava carona e sempre rolava um papo de namoro, mas queríamos nos conhecer um pouco melhor antes de assumirmos qualquer responsabilidade. Isso durou mais ou menos dois meses, e de repente, da noite para o dia, ele mudou, parou de ligar, não dava mais carona, me evitava… se afastou de uma vez! Fiquei na minha, pensei que talvez ele tivesse pensado melhor e percebido que eu não era aquilo que ele queria. Fiquei triste, mas procurei entender. Depois de uns dois meses (só nos víamos na igreja e falávamos pouco um com o outro) ele voltou a demonstrar muito interesse, mas não foi algo que aconteceu aos poucos, foi tudo repentino… num dia não conversava direito e no outro já me enchia de elogios e declarações. Pediu desculpas por ter agido mal e me pediu em namoro. Eu aceitei na hora, já gostava muito dele, namoramos pouco mais de um mês. Tudo estava correndo muito bem, ele demonstrava cada dia mais estar apaixonado, ele era tudo que eu sempre sonhei pra mim… Porém, mais uma vez tudo mudou de repente… Ele que sempre fora carinhoso, agradável e demonstrava muito amor, chegou num sábado todo esquisito, frio, grosso, me tratando mal… E acabou tudo. Disse que havia se enganado, que eu não era o que ele queria. Fiquei arrasada, não conseguia entender como tudo pôde mudar assim de uma hora pra outra… mas eu não podia fazer nada a não ser aceitar o fato. Procurei os pastores pra conversar (um casal), pra pedir um auxílio e eles me disseram que se eu tivesse pedido conselho antes de começar a namorar teriam me aconselhado a não namorar com o “F”, pois já o conheciam há algum tempo e sabiam que ele era assim mesmo, volúvel, mudava sempre de idéia de repente (inclusive, teve uma outra moça que saiu da igreja por causa dele, parece que ele também a magoou muito). Ficamos terminados umas três semanas (e neste tempo eu não o procurei – fiquei sofrendo sozinha – eu sabia que com o tempo tudo passaria). Mas num domingo, depois do culto, ele veio chorando se aproximando de mim, pedindo perdão e dizendo que queria muito outra chance. É claro que eu não fiz jogo-duro, aquilo era tudo que eu mais queria. Tudo parecia perfeito, ele mandou flores, um cartão de pedido de perdão, deu presentes, me ligava a toda hora, viajamos juntos… ele veio com tudo. Ficava dizendo que me amava… E desta vez durou mais tempo, quase dois meses, eu já estava até acreditando que desta vez era pra valer… Mas mais uma vez eu levei um “choque”… desta vez ele se justificou dizendo que pensava que gostava de mim, mas que percebeu que não gostava… eu não consegui acreditar no que estava ouvindo… disparei a chorar, a lamentar…e ele ficou muito nervoso com minha reação, começou a me humilhar, a dizer que eu estava fazendo showzinho, meu Deus ele foi tão duro! Ah, infelizmente não dá pra descrever aqui como tudo aconteceu… fiquei transtornada, um dia depois liguei pra ele pedindo que ele fosse até a minha casa para conversarmos, mas ele se negou, eu insisti e ele disse não. Continuei insistindo (eu chorava muito ao telefone), mas ele foi irredutível, ele ficava repetindo: “Você quer que eu vá aí pra que? Pra dizer olhando na sua cara que eu não gosto de você? Isso eu posso fazer por telefone mesmo!” Ah, Caio! Ele falou tanta coisa horrível, até mesmo jogar na minha cara que eu era de nível social inferior ao dele… Ele se comportou como um insensível, ele sabia do meu amor… ele sabia que eu sofreria muito com essa atitude dele, principalmente porque ele estava demonstrando um grande amor por mim, até planos de casamento ele fazia… E o pior é que eu não consigo sentir raiva dele, seria melhor se eu tivesse com ódio dele… mas eu o amo! Não sei mais o que fazer, hoje completa um mês que tudo isso aconteceu, mas a dor está cada vez maior… Estou cansada de ouvir todos dizerem que isso vai passar, que o tempo vai apagar. Eu até acredito nisso, mas enquanto não passa, o que eu faço? E o pior é que desejo ardentemente que ele se arrependa e volte… Não consigo acreditar que ele não preste, na verdade, acho que isso é uma doença, pois parece impossível que uma mesma pessoa seja tão maravilhosa e tão má ao mesmo tempo… Parece que são duas pessoas diferentes…. Mas e se ele voltar? O que eu faço? Sei que se isso acontecesse hoje eu o aceitaria de braços abertos, mesmo sabendo dos riscos que corro… Por favor, me ajude, Caio! O que eu faço para aliviar esta dor? Não tenho nem com quem conversar, pois quando voltamos a namorar, houve oposição por parte dos pastores (que queriam me prevenir dele, e ele ficou muito chateado, e quis sair da igreja, e eu o acompanhei)… agora não tenho nem “cara” de voltar lá. Escreva pra mim por favor! Sei que você será sincero, e eu quero muito saber o que você pensa, mesmo que isso possa ser difícil pra mim, eu prometo seguir seu conselho. Muito obrigada, ____________________________________________________________ Resposta: Minha querida amiga: De muitas dores você está sendo poupada! Sendo sincero, é isto que tenho a lhe dizer. Sim, você está sendo poupada, mas ainda não entendeu. Meus anos de vida não são tantos, mas muita coisa já aconteceu neles, e de tudo o que observei, praticamente nunca vi um homem como esse que você descreveu conseguir viver feliz e bem com ninguém. As chances de mais dores e mais dores são imensas… Existe uma certa atratividade nas doenças psicológicas e nos rolos emocionais. Eles se deixam imantar de desafio, mistério, desejo de milagre, sonhos de cura, e uma vontade enorme de se redimir o objeto do amor só pra gente. Mas não é assim que funciona. Em geral a gente “compra uma dor de estimação” quando sucumbe às doenças de tais atrações. Namoro e casamento não são lugares para se buscar a cura de ninguém. Aqueles que namoram e casam pensando que mudarão os seus cônjuges, em geral, morrem de frustração. E saiba: casamento não é missão! A questão é que é justamente gente insegura como você que se deixa fascinar por esse tipo “volúvel aflito”. Essa aflição que tais personalidades carregam parecem se “auto-justificar” pela angustia e pela perturbação em-si, e há mulheres que têm terrível atração para esse papel de “mulher-mãe-redentora”. Posso lhe garantir que esta é uma receita certa para o sofrimento. Se você quer meu conselho, tenha-o com toda sinceridade: Pule fora disto. As dores nem começaram. Se você continuar, um dia saberá o significado de ter que arrancar um arpão da própria carne. Fique longe e grata. O que fazer para esquecer? Não, não esqueça. Ao contrário, lembre da fria da qual você está sendo tirada. Sim, lembre-se da fria e você esquecerá dele. Esse tipo de homem uma mulher só deve considerar aceitar depois que o cara já se quebrou todo, e já apanhou tanto, que já aprendeu. E eu lhe garanto: esse menino nem começou a “apanhar ainda”. Sim, ele ainda vai ter que levar muito solavanco da vida a fim de parar de brincar de conquistador aflito. E, por favor, não se ofereça para ser a cobaia dessa experiência. Além do mais, ele precisará, provavelmente, de muitas experiências até que caia em si. E Deus permita que um dia isto aconteça a ele. Pois para muitos jamais acontece. E pobres das mulheres de tais homens. Volte para a sua igreja, e parabenize os pastores em meu nome, posto que agiram certo: no início deixaram (afinal, você nada perguntou), uma vez informados, disseram o que sabiam, e uma vez dito, sustentaram o que disseram—e foi o seu “ex-problema” quem decidiu sair de lá, e só o fez porque não tem como contradizer os pastores. Muito menos agora, quando de vez confirmou os temores ou certezas dos pastores. Assim, minha querida, agradeça ao Pai o livramento, e não busque angustias para a sua vida. Basta a cada dia o seu próprio mal ou ocorrência. A gente não tem que buscar males para o dia, muito menos para o resto da vida. Nele, e com todo carinho, respeito e orações, Caio