—–Original Message—–
From: Estou viciado em pornografia virtual
Sent: sexta-feira, 3 de outubro de 2003
Subject: Viciado.
Olá Pastor, tudo bem?
Louvo a Deus por poder escrever ao senhor pela Internet. Jamais teria coragem de contar o que vou contar e nenhum dos meus pastores. Não entenderiam.
Tudo começou quando eu tinha 17 anos, trabalhava em um escritório, e como qualquer adolescente nascido na igreja, tinha muita curiosidade em saber sobre sexo e etc… Aí instalaram a internet no computador que nós usávamos…
Um belo dia, aproveitando o endereço escrito no navegador—que só depois descobri que para ele estar ali alguém também tinha acessado—eu entrei num site pornográfico. Não que eu culpe essa pessoa, cada um é livre para fazer ou não o que quer. Bem, eu acessei pela primeira vez uma página pornográfica (a Playboy), quando todos estavam almoçando.
O que aconteceu é que a partir daí isso virou rotina para mim. Nunca tive computador em casa, sempre acessei no serviço, pondo em risco meu emprego e meu testemunho de cristão. A acabei viciado nisso.
Hoje três anos depois, sou um viciado, como um alcoólatra, ou drogado. Isso me castiga, me entristece e me envergonha, pois o fato é que eu não posso mais me controlar. Sempre vou ao banheiro da empresa me masturbar depois que acesso. Se me pegam?!
Mas isso não é o pior. O pior é que eu sinto por dentro: minha alma morre toda vez que eu faço. Sempre peço perdão a Deus e acho que nunca mais farei de novo; e depois de algum tempo lá estou eu na frente do computador.
Já vi tudo, tudo e todos os tipos e estilos que existem de pornografia na internet. Não quero mais viver assim, sendo crente, e ainda escravo do pecado… Preciso de ajuda Pastor. O que é que faço?
Pelo amor de Deus não deixe de me responder. O senhor é a única pessoa com quem já falei sobre isso.
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Resposta:
Meu querido irmão: Liberdade e Libertação!
Li sua Carta com todo o carinho.
Imagino a agonia de alma pela qual você está passando. Se tudo começou aos 17 anos, imagino que você ainda seja bem novinho, com 20 anos, no máximo.
O que isto significa? Bem, aquilo que no passado se manifestava como desejo sexual na meninada e que era “aliviada” pela “polução noturna” ou pela via da “masturbação imaginativa” ou meramente pela “mecânica masturbadora”—a mera fricção—, nesta geração internetiana ganhou contornos psicologicamente mais profundos. Na net há de tudo e as ofertas podem ser terrivelmente adoecedoras. Há de bestialidade —gente com animal— a todas demais formas de oferta de imagem sexual objética. E como você é cristão a doença fica ainda maior.
Releia a sua carta. Veja algumas coisas que você mesmo escreveu. Eis algumas delas: *
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1. Como qualquer adolescente nascido na igreja, tinha muita curiosidade em saber sobre sexo e etc…
Resposta: Aí está parte do problema. Sexo e sexualidade são objeto de tabu na “igreja”, e o resultado é que acabasse criando meninos que sentem a pulsão sexual como culpa, e correm o risco de ficar ou assexuados ou tarados.
2. Pondo em risco meu emprego e meu testemunho de cristão.
Resposta: Veja como as “exterioridades” são importantes para você. Coisa de “crente”. O “emprego”—uma vitória do testemunho protestante—e o “testemunho cristão”—uma afirmação de supremacia comportamental sobre os “perdidos”.
3. Sou um viciado, como um alcoólatra, ou drogado. Isso me castiga, me entristece e me envergonha…
Resposta: Você está comendo o veneno do estereótipo que a própria “igreja” criou como julgamento para esses pobres infelizes que sofrem desses outros tipos de “dependência”. Portanto, quanto mais você julga para fora, mais potente será o veneno contra você mesmo.
4. Sempre peço perdão a Deus e acho que nunca mais farei de novo.
Resposta: Você tenta vencer isso na base da “promessa”, do “voto”, ou do “dessa vez é para sempre”. Até os Narcóticos Anônimos já aprenderam que o “para sempre” só faz enfraquecer a vontade. Lá é “só por hoje”. Não é à toa que na Palavra o Dia de Salvação não é o Para Sempre, mas o Dia Chamado Hoje.
5. Não quero mais viver assim, sendo crente, e ainda escravo do pecado…
Resposta: Sua neurose de “crente” —com todas as implicações que dela decorrem— aumenta ainda mais a sua responsabilidade de auto-cura e abisma você ainda mais na prática daquilo que você aborrece de um lado, e cobiça de outro.
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Se você fosse um moço não cristão, já teria se “cansado” da virtualidade e partido para a realidade, e sem sentimento de culpa. Ao contrário, com aquele sentimento de bicho que sonhou, correu atrás, pegou e comeu. Mas em se tratando de um cristão, tudo fica mais pesado, e, paradoxalmente, mais adoecido.
O que estou querendo dizer a você? Que você deve partir para as “vias de fato” e parar de ficar olhando na net e correndo para o banheiro para derramar a sua angústia como sêmen? Sinceramente, eu não dou esses conselhos!
Tenho, no entanto, a possibilidade de ajudar você a entender o “fenômeno” psicológico e sugerir a você algumas saídas.
Paulo diz que a Lei faz exacerbar o pecado latente, tornando-o patentemente incombatível. Nesse caso, algumas reações podem surgir:
1. O cara fica tão atormentado pelo “desejo”, que passa a odiar sentir o que sente, caminhando assim para um dos possíveis pólos da doença: a combatividade exterior, tornando-se um moralista, acusativo, san-tarado e consagrado a “Deus”.
2. Isto tudo sem saber que ele de fato está apenas exercendo sua pulsão sexual como pseudo-santidade. E o fim disso é o desenvolvimento de doenças psicológicas relacionadas à “interpretação negativa do próximo” e, com certeza, distúrbios de natureza sexual.
3. Geralmente essas pessoas tornam-se muito infelizes sexualmente no casamento, visto que o sexo para elas está associado a algo demoníaco e maligno, sempre. Então, mesmo quando recebem a “permissão” religiosa e cartorial para praticá-lo, ainda assim o farão como culpa.
4. A outra variável dessa doença é a remetencia do individuo para o pólo oposto: o cara, a fim de não ficar culpado por fazer o que faz— acha que se ficar “lutando” o tempo todo está “demonstrando” para Deus que não é cínico. Exatamente assim como você está agora—que não para de pensar no problema um único minuto.
5. E como você também relaciona isso a uma culpa horrível aos olhos de Deus, sente-se como uma encarnação maligna de tudo quanto seja diabólico aos olhos de Deus. Desse modo, quando mais você ora e se “consagra”, mais assombração aparece a você.
O que fazer então?
Bem, eu nunca vi nenhuma solução “mágica” ser sadia nessa área. Acho mais fácil orar e ver um câncer ser curado na hora do que ver um processo psico-espiritual ser permanentemente resolvido com uma única oração —ou, como em alguns lugares: com uma sessão de “descarrego”.
Há, sem dúvida, um descarrego a ser feito. Mas não é com pastores, arruda, sal grosso ou exorcismos.
Qual é o descarrego?
1. Você precisa entender que você é um ser normal, vivendo uma culpa anormal, em razão de você ter dado vazão à sua pulsão sexual de um modo errado, e com um entendimento mais errado ainda. Entender isso é fundamental; do contrário, você pode jogar pela janela a bacia, a água, o bebê, e tudo mais —apenas porque não teve calma para tirar a “barata” que havia caído ali. O resto é bom. A barata é que precisa ser “isolada” e devidamente retirada.
2. Radicalizar o “tratamento” pode ser traduzido na terrível fórmula: “Nada que um suicídio não resolva”. Claro. Se você der um tiro na cabeça nunca mais terá problemas com pornografia na Internet. E também nunca mais terá nenhum dos problemas da terra dos viventes. E não os terá porque não fará mais parte da presente ordem de coisas: foi…morreu…já era.
3. Intrigantemente essa segunda solução, não sendo entendida literalmente, é justamente a proposta bíblica de cura. Paulo disse que nós morremos com Cristo, ressuscitamos com Ele, e já estamos assentados nas regiões celestiais em Cristo. Ou seja: nossos problemas estão “resolvidos” diante de Deus porque aos olhos de Deus nós morremos com e em Cristo.
4. A Lei, que o exacerbador de todas as nossas neuroses, paranóias e doenças da alma, perdeu seu valor legal na Cruz de Cristo. Assim, quem crer pode descansar.
5. Estranhamente é justamente desse descanso e dessa falta de necessidade de “brigar” contra esse bicho, que nasce o poder pare vencê-lo. Ou seja: se você souber e crer que seu problema não é uma surpresa para Deus e que Deus não vai botar você no inferno por causa dele, estranhamente, se desativará o mecanismos que hoje, pela via da autojustificação, é o que de fato precipita você no abismo da culpa; a qual projeta você para algo ainda pior: o desespero do tarado, que é a energia pulsante de ter que fazer aquilo antes que aquilo consuma você.
Ora, o tarado pratica a sua tara somente para ficar “livre dela”, e toda vez que o faz, a energia interior cresce de modo cumulativo, e provocará uma erupção maior da próxima vez. Desse modo, o processo só piora e nunca cessa.
Recebo cartas aqui que tornam a sua uma brincadeira de criança. Esta semana, por exemplo, atendi uma menina de pouco mais de 25 anos que tem tara por bicho. Fica maluca para transar com animais. E é membro de igreja. E pior: quanto mais da “igreja” ela é, mais tarada ela fica.
Sugeri a ela que descanse na Cruz e no que Jesus já fez por ela. Sei que em um ou dois meses ela vai estar bem melhor. Até que tudo vai perdendo a força e acabará por morrer. E por que tenho essa certeza?
1. Primeiro, porque creio na Palavra. E sei que é isto que, por exemplo, Paulo ensina como teologia aplicável ao nível psicológico.
2. Porque vejo esse princípio funcionar toda hora. Quem lê este site não tem a menor idéia da “brabeira” que aqui não publico. Se o que publico já ofende conscienciazinhas pastorais, imagine se eu publicasse o que é pesado mesmo?
3. Nesses sete meses de existência do site eu poderia pedir a várias pessoas que me escreveram contando coisas “não-contáveis”, e que foram crescendo na libertação daqueles males —algumas já estão completamente tranqüilas e saradas— que testemunhassem para você. Infelizmente isto não é possível, pois jamais revelaria seus nomes. Todavia, se você puder crer que não estou inventando nenhuma historinha, e crer; você mesmo começará a descansar, e logo estará livre.
Você não me falou de nenhuma namorada! O que um garoto como você precisa é namorar! Os piores problemas reais de qualquer namoro ainda são infinitamente menores e menos adoecedores que os problemas virtuais de um garoto que está vivendo as angustias que você está vivendo.
A “virtualidade adoecida” só é curada por uma boa dose de “realidade”, seja ela de que tipo for.
Espero que você tenha me entendido. A Verdade Liberta, e a consciência dela, seja em que nível for, acende as luzes da alma, e ajuda a gente a caminhar sem medo. Tudo o que você não precisa agora é de medo. O medo do juízo de Deus é o maior fomentador de taras. Creia que está Pago por Jesus, e, estranhamente, não sobrará conta nenhuma para você tentar pagar; e essa libertação libertará você.
Com amor,
Caio
PS: Se você mora no Rio, apareça no Café. Tem muita gente lá que pode dar a você o testemunho de como tudo isto é realidade.