EU BATIA NA MINHA MULHER…DEUS MUDOU ISSO
—–Original Message—– From: EU BATIA NA MINHA MULHER…DEUS MUDOU ISSO Sent: quarta-feira, 14 de janeiro de 2004 19:00 To: [email protected] Subject: APRENDI Mensagem: Amado Rev. Caio, paz sobre sua vida. Devo confessar que estou meio que viciado em seu site, pois leio seus artigos e as cartas todos os dias. Hoje, lendo sobre a “mãe que o filho tinha uma plantinha”, li seu desabafo sobre as questões do marido, dos maus tratos… e li também sua resposta, como sempre, muito sábia. Eu tenho um testemunho a dar sobre o tema. Sou casado já a quase 12 anos e durante muito tempo em meu casamento eu agredi a minha esposa. Cheguei a agredi-la durante a gravidez de nossa única filha. Durante todo esse tempo, eu tocava e pregava na igreja, e era visto pela maioria como um “grande homem de Deus”. Eu nunca escondi meus atos de ninguém. Quase morria quando isso acontecia, mas, logo o fazia de novo. Depois de muitas conversas com o meu pastor na época, acabei sendo excluído de minha igreja porque o assunto chegou à polícia, pois minha esposa já não agüentava mais toda aquela agressão e acabamos nos separando. Durante esse tempo de separação, comecei a refletir sobre meus atos e concluí que minha esposa e minha filha me faziam uma exagerada falta e então comecei uma espécie de ego-trip, uma viagem pra dentro de mim mesmo, pra tentar descobrir o porquê de tanta agressão, sendo que eu amava demais minha esposa. As conclusões que cheguei foram as seguintes: 1- Eu sou fruto de um relacionamento extra-conjugal de meu pai, sou seu único filho legítimo e ele criou um filho adotivo. Meu pai nunca me deu nenhum tipo de assistência e minha mãe nunca fez muita questão que isso acontecesse. 2- Eu nunca soube o que era ser pai e esposo, pois fui criado sem nenhuma referência masculina ao lado de minha mãe, a não ser seus amantes, quase todos casados, que ela levava para dentro de minha casa. 3- Para me sustentar minha mãe trabalhou como empregada doméstica durante quase toda a sua vida e, a raiva que ela passava durante o dia com os patrões e seus filhos ela descontava em mim. Eu apanhava muito por nada. Até por gostar muito de comer ovo. Pode? Até hoje, quando questiono sobre o porque de ter apanhado tanto, ela me diz que as surras que tomei foram poucas e que eu merecia mais. 4- Com a revolta que naturalmente cresceu dentro de mim, me envolvi com drogas e passei a ver as mulheres apenas como “depósitos de espermas”. Quando me casei, passei a ver minha esposa com olhos diferentes ela não era um depósito de esperma, eu a amava e amo muito ainda. Mas, a forma que eu aprendi de dar carinho foi totalmente distorcida. Quando eu queria carinho puro e simples sem pretensões sexuais e por força de suas ocupações ela não podia naquela hora, eu a agredia, pois achava que ela era minha propriedade. E, depois que eu dei o primeiro tapa foi um verdadeiro inferno, vários outros aconteceram e essa situação se arrastou por muitos anos até a separação, que já lhe contei. Hoje eu sei que diante do quadro de minha infância eu só poderia me tornar o que me tornei ou ser completamente diferente, o que tem acontecido hoje. Hoje as agressões cessaram, eu tenho procurado compensar tudo com muito carinho, mas sei também que as marcas ficaram não no corpo, mas na alma dela. Agora tenho que exercitar muito minha paciência para com minha esposa, pois sei que sou culpado, o único, por ela às vezes ficar indiferente comigo, mas creio que Deus tem tratado de sua feridas pois sinto que aos poucos tudo tem melhorado.O problema é que temos que ter muito cuidado com nossa filha, hoje com 10 anos, pois ela já tem demonstrado os sinais de que tudo aquilo a afetou e muito. Espero que esse meu depoimento sirva para alguma coisa, pois sei que existem muitos filhos que por causa de educação como a que eu tive, têm vivido casamentos totalmente estragados. Receba meu beijo. Nele, que muda o rumo da história e nos ajuda a nos conhecer. ___________________________________________________________ Resposta: Meu amado irmão: Paz, Verdade e Libertação sobre sua alma, hoje e sempre! Que bom que além de macho você também é homem. Somente homens são capazes da coragem que desmonta os machos. Também que bom que vocês se separaram…a fim de ter a chance de poderem ver “de fora” o que estava acontecendo “dentro”. Poucos têm coragem para isso. A maioria se aferra às suas falsas razões, ou então quer voltar apenas pela “força do hábito”, dos confortos, das comodidades, e da necessidade de exercer poder para compensar a frustração e a impotência. Sua “viagem” não é de todos. Quem bom que você discerniu as “pulsões”, e pode ficar livre das reações psico-animais. Nada do que você disse justifica nada—e que bom que você não usou de nenhuma linguagem justificatória—mas explica muita coisa. Esse é o princípio: tudo o que se manifesta, é luz. Enquanto as coisas ficam na “sombra”, elas crescem com a força dos demônios e dos fantasmas da alma. E sombras sempre se tornam “grandes projeções”, parecem monstros no ambiente escuro da caverna do Inconsciente. Agora, amigo, colinho e beijinho…e muito amor. Quanto à sua filha, é apenas uma questão de tempo e ela vai se pacificar na paz de vocês. Deixo com você uma meditação. Lc 19: 42 Jesus estava entrando em Jerusalém. Sabia o que lhe aguardava. E Cruz estava no porvir imediato, apesar de que Ele mesmo sabia que viera para aquele dia e aquela hora. “Vendo a cidade, chorou, e dizia: Ah! Se conheceras por ti mesma ainda hoje o que é devido à paz! Mas isto está agora oculto aos teus olhos”. Ele chora pela inevitabilidade do inevitável! A Cruz tinha que acontecer simplesmente porque já havia acontecido. O Cordeiro de Deus foi imolado antes da fundação do mundo. Porém, mesmo ante o inevitável, Jesus “suspira”. E é aí nesse “Ah!” de exclamação que Ele nos ensina o que vale para o que é evitável no cotidiano. 1. O inevitável é inevitável não como circunstância. Ninguém tem o poder de alterar certas circunstâncias, mas pode ter o poder de alterá-las como infiltração em seu próprio ser. “Ah! Se conheceras por ti mesma…” A Cruz poderia ser erguida, mas poderia ter sido erguida sem “anuência coletiva”. Alguns poderiam tê-la levantado, mas não com a anuência de toda a “cidade”. O problema não é quando vivemos na cidade. O problema é quando viramos a cidade, quando nos deixamos possuir pelo seu espírito. Ora, isto só é evitável quando não seguimos os “fluxos coletivos”. Daí o desejo irrealizado de Jesus ter sido carregado da nostalgia do “se conheceras por ti mesma”. Auto-consciência é o que nos salva de sermos correligionários dos fluxos inevitáveis. 2. O inevitável sempre passa pelo dia Chamado Hoje. Daí o inevitável ser sempre inevitável como “circunstância”, mas ser evitável como “escolha interior”. É o Hoje aquele “instante” que nos salva do “fluxo das multidões”. Hoje, às vezes, é o Dia de Todos. Mas, freqüentemente, é Dia de Salvação para quem enxerga, ainda que sozinho. 3. O inevitável só é evitável como compreensão do que é “devido à paz”. E o que é devido à paz? A frase, como está no texto em epígrafe, soa como uma “divida”. Todavia, seu sentido é outro! O que é devido à paz tem a ver com aquilo que se tem que entender a fim de evitar a guerra. Naquele caso—o do texto em questão—o que era devido à paz era o reconhecimento de que o Príncipe da Paz estava ali, naquele Dia e naquela Hora. Isto, todavia, estava “oculto” aos sentidos deles. Daí o Dia Mal ter que visitá-los. Assim aprende-se que aquilo que é devido à paz é sempre a compreensão da Presença de Deus, em qualquer hora do dia, especialmente no Dia Mal. A ênfase da passagem recai sobre o instante: “ainda hoje…está agora oculto aos teus olhos”. Uma cidade não enxerga. Pessoas enxergam. A única visão unânime que a Coletividade terá será aquela que “todo olho verá”, e que só acontecerá quando o “Filho do Homem vier em poder e grande glória”. Até lá só enxerga quem tem coragem de ver por si mesmo. Não é possível obrigar o que é devido à paz aos homens. Tal obrigação se transforma em guerra. O que é devido à paz tem que ser visto por mim, com meus olhos, e não com os olhos de outros. Aquilo que eu não vejo jamais será um valor em mim enquanto eu não vir por mim mesmo. E essa percepção é fruto da “revelação”. Do contrário, seguindo o fluxo das percepções majoritárias, ninguém chega a discernir o que é devido à paz. Paz é uma conquista de cada dia. Ela nunca se auto-entrega como “pacote” e nem de oferece para ser “possuída”. Paz é algo que só existe como uma compreensão que opta por ela instante a instante, dia a dia. E hoje? O que é devido à paz em sua vida? O choro de Jesus se renova: “Ah! Se tu conheceras por ti mesmo (a) o que é ainda hoje devido à paz”. O que me impressiona é esse “ainda hoje”! Sempre há um “ainda” em todas as vésperas! Daí Jesus poder chorar sem cinismo frente ao inevitável! Há um “ainda”! Afinal, quem sabe? Pode ser que alguém decida se auto-excluir dos fluxos da morte! Portanto, com extrema repetitividade, somos sempre remetidos outra vez para o “instante”, para a compreensão que tem que ser re-apropriada todos os dias. Ninguém é sábio para sempre! Sábios de sabedoria perene terão que aprender que sabedoria não é um “banco de dados”, mas uma banco de auto-exame, hoje, amanhã—que será hoje quando chegar— e sempre. Afinal, “o sempre” só existe como Hoje Consistente, e re-apropriado todos os dias. E quando o instante é discernido “Hoje”—neste momento chamado “Agora”—não há nele a maldição de que trata-se de algo inevitavelmente “oculto”. O oculto só existe como tal para quem não se entrega, em Deus, para as fragilizantes renovações de consciência em cada dia Chamado Hoje! Recebam o meu beijo, e minhas orações para que vocês não percam a chance da paz. Nele, que nos chama à paz, Caio