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From: MENINA ANJO
Sent: terça-feira, 29 de junho de 2004 17:06
Subject: GOSTO DE SEXO, E DE SWING. O QUE DEUS DIZ?
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Irei responder suas perguntas no curso da sua carta. Mas ao final eu volto lhe dizendo o que penso de um modo mais amplo.
Caio
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Querido pastor Caio,
Há algum tempo venho querendo te escrever e, se possível, tirar algumas dúvidas contigo. Sou uma menina de 25 anos. Fui criada na igreja, escola dominical, acampamentos de adolescentes, essas coisas. Toda a minha família é evangélica. Tive minhas experiências com Deus, e tenho toda a consciência de que a Graça dEle é melhor do que a própria vida. Bom, o meu problema, e o maior deles, é ser viciada em sexo. E de todo o tipo (pelo menos dos considerados “normais”). Recentemente, descobri o sexo com casais e os clubes de swing, e adorei. Não tenho vontade de parar. Mas tem horas que eu me pergunto: “Cara, estou servindo de joguete para essas pessoas??? Ou será que são elas que estão servindo de joguetes para a minha satisfação sexual, que nem plena é???”
Resposta: Vocês são apenas fetiches uns dos outros. E são joguetes uns dos outros. E o mal que você está fazendo a você mesma, eles também estão fazendo a si próprios.
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O que sei, de fato, é que na hora é tudo muito bom. Mas, depois, fica uma coisa estranha dentro de mim. Fica um nada. Já sentiu um nada latejando dentro de você? Antes tivesse alguma coisa… Mas é um nada??? Um buraco negro e cósmico? Nem sei explicar o que sinto.
Resposta: Sim, já senti esse “nada”. Conheço a promiscuidade. Fui um adolescente e jovem muito promíscuo. E conheço esse sentir… E o problema é que ele é insuportável. Depois de um tempo ninguém o suporta sem se drogar e ir se destruindo todo. Vira pasta, ou sopa. A pessoa é comida por dentro. A alma perde a solução que lhe é própria.
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Eu não tenho parceiros fixos. Gosto de homens e mulheres – juntos, ou separados. Em função disso, já recebi tantas “profecias” que nem dá pra imaginar! Dentre as pouquíssimas pessoas com as quais conversei sobre o assunto, duas “revelaram” que eu iria para o inferno, sendo que me deram prazo de morte – segundo o “conhecimento” delas, vou morrer em quatro meses, se não me “consertar e parar de brincar com Deus. Isto porque dizem que “Ele tem uma obra muito grande na minha vida e tem pressa de me usar”. Escuto isso desde menina. O que seria essa “obra” específica de Deus? Será que isso existe?
Resposta: Quando alguém pára o tipo de comportamento que você tem tido, e o faz por medo do inferno ou porque Deus “tem um plano maravilhoso”, quase nunca o resultado é bom e sadio. Normalmente o que acontece é que o medo faz supressão do comportamento, mas não elimina a causa da compulsão, pelo contrário, apenas a exacerba, fazendo com que o segundo estado seja pior do que o primeiro. Já a “parada” em respeito ao “plano maravilhoso”, em geral põe a pessoa num processo psicológico de barganha com Deus e com a alma. Nesse caso, a pessoa acaba virando uma testemunheira de seu próprio caso, e sai por aí “vendendo a sua história de promiscuidade” como conversão, sem saber que tanto alimenta as fantasias dos outros-os que taradamente ouvem-, como também cria em si mesma uma outra forma de sentir prazer no sexo, e que vem da dimensão “oral” da vinculação com ele. E quando eu disse “oral”, estava sendo irônico, pois não se trata da “fase oral” da sexualidade-ligada ao ato de mamar-, mas sim estou falando da substituição do ato sexual pela verbalização dele como “testemunho”. Com relação a sexo promiscuo há dois prazeres: um é fazer, o outro é contar. Assim, quem pára…mas fica falando no assunto…na forma de testemunho…ainda está no vício…visto que já não faz, mas vive de dizer que fez e do prazer de contar. E, assim, tudo continua a ser apenas doença travestida de testemunho. Deus tem vida para você, e isso basta. E se o chamado à vida não lhe for suficiente e nem motivador, que outra proposta poderá lhe fazer bem? Você precisa ser curada disto por amor à vida, não a um suposto plano utilitário de sua existência. Ou será que a vida não basta?
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Pastor, desde que conheci a Graça do meu Jesus, em todas as minhas atitudes para com o meu próximo, o que eu faço é tentar apresentá-la a quem está em minha vida, sejam amigos, familiares ou parceiros sexuais. Inclusive àquelas pessoas com quem eu me deito, mesmo com um nível ínfimo de intimidade… Parece paradoxal esse tipo de “evangelismo”, mas, se há a oportunidade, por que não falar sobre o meu Jesus? Estaria fazendo algo contraditório se, depois de uma transa, em uma oportunidade, por menor que fosse, falasse acerca da graça e da salvação que Ele nos oferece?
Resposta: Minha querida, esse “evangelismo” é tão coerente quanto assaltar, e depois pregar; roubar, e depois falar de solidariedade; enganar, e depois falar em verdade; estuprar, e depois falar de livre arbítrio!
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Fico em dúvida também sobre contra quem exatamente estou pecando. Já sei que peco contra o meu próprio corpo quando me deito e troco fluidos com pessoas das quais muitas vezes nem sei o nome; mas, eu estaria pecando contra o meu próximo, se o desejo é mútuo e quase incontrolável? Existe essa responsabilidade sobre mim?
Resposta: Uma orgia, uma suruba, ou o swing, são formas de praticar uma enfermidade de modo coletivo. Daí não haver nem intimidade e nem amor. Conforme Paulo diz em Romanos cap. 1-praticas às quais ele fazia referência no texto-, “tais pessoas são entregues a um estado mental reprovável, daí o cometerem torpezas entre si”…e é por esta razão que elas se corrompem, posto que não apenas trocam fluídos, mas energias psíquicas e espirituais. A promiscuidade significa a ingestão de um coquetel de veneno psicológico e espiritual.
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Uma amiga minha, muito conhecida no meio evangélico, me disse que o Espírito Santo saiu de mim e que só vai voltar quando eu me tornar uma pessoa “santa”. Mas, sinceramente, tenho um outro conceito de santidade, que não se resume apenas a comportamentos sexuais, linguagem torpe…etc. E é justamente esse outro conceito de santidade que busco seguir: ser verdadeira com Deus, me rasgar pra Ele, dizer “SENHOR EU NÃO QUERO, MAS EU FAÇO. QUERO FAZER O BEM, MAS ACABO FAZENDO O MAL!” Só que na hora em que tudo está rolando eu nem penso nisso. Não sinto culpa nem medo; apenas a libido fazendo chacoalhar todo o meu corpo. Mas, depois, quando a festa acaba, vem esse “nada”. E aí é ele que me domina. Minha cabeça vai ficando confusa, e até o meu corpo adoeceu. Fui a dois médicos por causa de duas questões diferentes, e ambos disseram que o meu emocional está me criando uma série de problemas de saúde.
Resposta: Ninguém tem o poder de dizer de quem o Espírito se ausentou. Pode-se apenas dizer que “as obras da carne” estão mantendo você em escravidão. Leia aqui no site o texto “a Graça e a cura das taras humanas” e você entenderá o que quero dizer por “obras da carne”, e acerca de seus agentes de pulsão interior.
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Eu sei que não devo, mas sempre cedo… e isso ainda está fazendo surgir um processo esquisito em mim: não consigo me apaixonar, nem por homens nem por mulheres. Tenho alguns envolvimentos, que não chegam a ser paixões, muito menos amores. Mas fico sempre no raso. E o que é mais estranho de tudo isso é que eu tenho muita vontade de me casar, de dividir a minha vida com alguém legal, de ter família, filhos, continuação de mim mesma. Mas, para uma pessoa que tem vivido uma vida tão promíscua, ainda existe essa possibilidade?
Resposta: Sim, você ainda pode ser curada, mas você tem que querer mesmo. Sem o desejo pessoal de que haja cura, cura não haverá. Mas muitas vezes a pessoa tem que ir ao fundo do abismo para buscar uma saída… Espero que você não tenha que fazer essa viagem.
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Eu acho que não conseguiria me manter fiel a algum namorado, a não ser que eu o amasse demais, e que ele me amasse da mesma forma também.
Resposta: Aqui está a sua confissão de insegurança essencial. Você precisa ser amada mais…para que você possa crer em alguma entrega. Sua insegurança gera a mais profunda desconfiança. E quem parte desconfiado jamais terá como amar. Amor não nasce sem alguma confiança, em algum momento. Você não consegue confiar na possibilidade de que você seja capaz de receber amor de ninguém, e isto porque você não se vê confiando o suficiente para amar alguém. Você está sendo medida pela mesma medida com a qual você mede. Esse é o juízo do juízo. E tenho uma coisa a dizer: Você faz swing, mas é moralista. Observe as suas próprias palavras quando você fala “dos outros”. Há muito juízo. Daí seu tormento ser tão grande. Quem não quer se enxergar, sempre enxerga mais “os outros”…mas neles se vê refletido, e odeia o que vê. Tais pessoas tendem a não ter consciência própria, tendendo a existirem entre os papeis morais, para fora, e a promiscuidade moralista, para dentro. Daí serem tão capazes de passar de um ambiente para o outro, visto que elas se orientam pelos “outros”. É uma espécie de Sindrome de Legião. É a possessão do Super-Ego, só que esquizofrenizado no comportamento, como acontece sempre. Somente a consciência própria pode salvar o ser essencialmente inseguro de mergulhar na diluição da Legião dos Outros.
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Deus interfere nisso, pastor? Ele guia uma pessoa até a outra, fazendo com que os caminhos dessas se encontrem? Fui ensinada a crer que sim, mas isso nunca foi bem assimilado na minha cabeça. Então, se Deus escolheu o meu marido, nesse ponto Ele anulou o meu livre arbítrio, que me foi dado desde o dia em que nasci??? Estou vendo tantos casamentos fracassados por aí, casamentos “profetizados” e abençoados por todos, mas que na verdade acabam, sinceramente, como um sepulcro caiado.
Resposta: Minha querida, Deus interfere em tudo que a gente reconhecer como doença e buscar cura. Todavia, Deus não faz ninguém se apaixonar por ninguém. Ele apenas cura o interior dando ao indivíduo o “potencial de vir a gostar de alguém”, mas Ele mesmo não é Cupido, Ele é o Deus dos deuses, não uma divindade grega. No entanto, para que você ame a ponto de não trair, você precisará, antes, estar curada dessa multifocalidade de seus desejos e emoções. É aí que mora a doença de sua alma.
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Pastor, quanto a essa questão do swing, da troca de casais no sexo, o que está havendo com essas pessoas? Isso demonstra que elas realmente não se amam ou o swing seria apenas um fetiche, uma fantasia sexual, e que pode fazer parte da cabeça de qualquer pessoa?
Resposta: Basta olhar para você mesma e você as entenderá. Ou você pensa que elas sofrem de algo diferente? As causas psicológicas podem ser distintas, mas o resultado interior é o mesmo. As mesmas pessoas que gargalham no swing são também as que experimentam o mesmo “nada” que você. E voltam à pratica exatamente pela mesma razão que você volta. Portanto, se enxergue e você também os enxergará.
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Gostaria muito que o senhor pudesse me responder.
Muito obrigada pela atenção e um beijo.
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Resposta:
Minha querida filha: Que a solução de seu ser não se dilua!
Você falou apenas dos sintomas, não das causas. Vício sexual é sintoma, não causa. As causas, em geral, são de natureza psicológica, e quase sempre têm a ver com insegurança. Portanto, seria essencial ouvir acerca de sua criação, histórico familiar, o modo como seus pais expressaram a sexualidade deles para com os filhos, e também como o tema sexual foi tratado em família.
Além disso, é igualmente essencial saber quando o “coceira” começou; ou seja: que idade você tinha, e como foi que aconteceu. Ora, quando você me responder essas questões, eu poderei ser mais claro e preciso com você no que diz respeito a se buscar a cura. Até lá posso falar apenas dos efeitos desastrosos desse comportamento, e de suas seqüelas terríveis para a alma, para não falar de qualquer outra área da sua existência.
É minha convicção que a promiscuidade é pecado, sobretudo, porque ela dissolve o ser da pior maneira possível. Ninguém que viva como você está vivendo passa intacto pelo processo.
A dissolução é aquilo que tira a solução interior da alma, fazendo com que o indivíduo se torne uma “pasta”, não mais um ser com forma interior. A continuidade nessa pratica vai diluir a sua alma. E não é preciso ser profeta para dizer isto.
Esse “nada” que você está sentindo corresponde a essa falta de “solução”, de conteúdo sólido para o ser, e expressa o caminho existencial de uma alma viciada no gozo de um momento.
Quem privilegia apenas momentos acabará sem vida como algo contínuo. Além disso, essa sua queixa de que não consegue amar ou se apaixonar, também tem seu nascedouro aí, nesses estado de coisas. O que complica ainda mais a situação é o fato de você ser mulher. Eu creio que Deus colocou na mulher um foco especial no amor.
Daí estar dito que o “desejo da mulher” ser “para o seu marido”.
A mulher, portanto, naturalmente, é focada num único objeto de desejo, e que sempre corresponde ao objeto do amor.
Quando, porém, a mulher se vicia em sexo com a mesma avidez do vício sexual de um homem, então, seu estado interior se agrava muito mais, visto que o homem entra e sai de tais processos com grandes diluições interiores, mas ainda muitos menos estilhaçado que uma mulher. Isto porque na mulher a ruptura com o padrão psicológico é muito mais profundo quando está implicada a entrega ao sexo sem carinho e amor. Homens viram pasta. Mulheres viram sopa.
Não brinque com isto. Já vi desastres acontecerem em razão de pessoas haverem pensado que poderiam fazer gestão disto em suas almas. Simplesmente chega a hora em que a coisa toda explode, e as conseqüências podem ser terríveis. Uma prostituta sofre infinitamente menos que uma mulher viciada em promiscuidade.
A prostituta está “trabalhando”, e não gosta de sexo; em geral, não com quem paga para ter sexo com ela. Até a prostituta quer ter o privilégio de “dar”, não de vender, ou de fazer por fazer. Ela apenas se deixa usar de modo “isento”. Mas alguém como você está muito mais ligada ao sexo do que uma prostituta.
Sexo, para você, é heroína, é droga. E o modo como você o pratica equivale a “tomar na veia”.
Ou seja: os resultados jamais serão vida, mas morte.
Espero que você me escreva contando as coisas da base…da essência do problema. Portanto, leia o que eu disse no início da carta—e durante a sua carta—, e me escreva contando tudo. Se você desejar, sem dúvida que lhe haverá ajuda. Mas você tem que querer. Se não desejar, não escreva. Mas quando escrever, o faça porque você quer ajuda de verdade. Um beijo carinhoso e minhas orações por você!
Nele, em Quem se pode encontrar libertação,
Caio
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From: VICIADA EM SEXO E SWING. O QUE DEUS DIZ? (I e II)
Sent: domingo, 18 de julho de 2004 17:57
Subject: VICIADA EM SEXO E SWING. O QUE DEUS DIZ? (I e II)
Pastor Caio,
Assim que recebi sua resposta quis escrever de volta imediatamente, mas não tive a oportunidade. Nem imaginei que me responderia tão rápido; afinal, sei que você tem muitas cartas para responder, que talvez tenham chegado bem antes da minha. Fiquei pensando em tudo que você escreveu. E, desde então, comecei a perceber que a minha alma se encontra num processo terrível de adoecimento. Ela está mesmo virando sopa, e daquelas bem ralas. Mas o que eu mais temo com isso é não somente a minha própria doença, mas, através dela, adoecer as pessoas com quem convivo.
Nem sei te explicar como tudo isso começou. Mas vou tentar.
O casamento dos meus pais foi muito mal sucedido. Meu pai era um cara muito ausente. Uma ótima pessoa, mas um péssimo marido e um pai sem a menor psicologia.
Claro que tudo isso se explica pela história dele; esse tipo de coisa é como uma bola de neve. Eu era criança quando ele morreu.
Eu e meus quatro irmãos ficamos rolando nas mãos de babás e parentes durante um bom tempo, pois, também a minha mãe precisou ficar hospitalizada devido a um problema de saúde.
Mas a minha mãe sempre conversou comigo sobre sexo, amor, namoro, gravidez… sempre comprou muita literatura a respeito, e sempre tirava as minhas dúvidas. Ela teve muito namorados, mas eu não gostava deles, e com isso as minhas referências masculinas foram se tornando cada vez mais fracas, até chegar ao esmorecimento.
Ela sempre me deu muita liberdade, até demais; e hoje ela mesma reconhece que deveria ter me dado mais limites, e, como eu nunca tive medo de nada… enfiei a cara em tudo que é experiência sexual.
Minha mãe sempre foi ótima, mas sempre se deu muito mal nos relacionamentos conjugais dela.
Com isso, eu sempre dizia que não seria igual a ela, e confundi os conceitos de submissão e respeito.
O pavor de ser como ela me fez seguir um caminho contrário, o da extrema rebeldia. E eu sempre disse pra ela: “eu nunca vou ser uma mulher como você”.
Eu sempre fui uma criança meio esquisita, no sentido de não ser como as outras. Não me interessava pelas coisas que as crianças se interessam. Era uma menininha muito inteligente, perspicaz e sensível demais. Me enfiava nos livros, e bem pequena ainda comecei a inventar as minhas próprias histórias.
Acho que na verdade eu queria que a minha realidade fosse diferente.
No começo da adolescência, comecei a conhecer os meninos. Ficava com todos eles. E, como todo mundo dizia que eu era “piranhinha”, acabei mesmo me tornando uma. Eu tinha aí uns doze anos.
Depois, comecei a emagrecer horrivelmente, isso na adolescência. Minha auto-estima ficou no pé. Era amiga de todo mundo, mas o mundo masculino ficou completamente distante de mim. Ou eu dele.
Via todas as minha amigas namorando, felizes, e eu, sempre na minha. Não era feia, mas meu corpo me incomodava. E isso na adolescência é uma questão muito séria… embora bonitinha e muito extrovertida, não conseguia namorar, e na única vez que eu me apaixonei por um menino, aos 13 anos, me dei muito mal. Fui me declarar pra ele… e ele me disse que estava apaixonado pela minha prima! Eu chorei durante meses e meses… e isso pirou a minha condição pois, se eu já era magra e não comia quase nada, imagina depois disso.
Empurrei minha sexualidade pra dentro, tratei de estudar e de tirar boas notas, e também comecei a me sentir responsável pelas almas a minha volta. Com isso, me tornei uma pregadora mirim da Palavra. Movi campanhas, reuniões, e muita gente veio conhecer a graça de Deus através disso.
Fiz isso com todo o meu coração, pastor, e com verdadeiro amor a Deus, mas é óbvio que usei como álibi, ainda que inconscientemente, por não saber lidar com a sexualidade. Acredito que comecei a emagrecer e a “enfeiar” por algum trauma; afinal, desde a pré-adolescência eu ficava com todos os meninos que apareciam na minha frente.
E, como todos diziam, “a filha de dona fulana é a maior piranhinha”, acho que eu quis me desfazer desse rótulo e com isso suprimi minha sexualidade durante um bom período da minha vida.
Com o tempo, já adulta, comecei a ganhar corpo, e, de repente, a ser muito desejada, tanto por homens quanto por mulheres. Engraçado que até então eu nunca havia pensado na possibilidade de me relacionar com mulheres. Um dia, aconteceu. E desde então, não parei mais.
E assim, ficando com mulheres e homens, foi que comecei a transar com casais. É como eu te falei: na hora é legal, mas, depois, nem deprimida eu fico: não sinto, não choro, não lamento.
E essa indiferença é o que realmente me preocupa.
Não freqüento mais os clubes de swing, perdi a vontade. Mas ainda gosto de transar com casais conhecidos.
Tem horas que questiono se esse tipo de prática pode abalar o casamento deles; e aí, sim, me sinto culpada.
Li em uma das suas respostas, que as únicas pessoas que você conhece e que vão para o inferno, são as que lançam outros no inferno.
Fico me perguntando se não me encaixo nessa primeira condição. E essa possibilidade me faz sentir muito mal.
Honestamente, não sei o que acontece comigo.
Já me perguntei inúmeras vezes se sou ninfomaníaca. Mas acho que sei me controlar. Eu apenas não gosto de me controlar. Mas eu tenho que aprender! Não é possível alguém viver assim!
O que acontece, é que não encontro sentido na vida. Daí, qualquer coisa é lucro, qualquer diversãozinha preenche momentaneamente essa cratera que se formou em mim. Tenho medo de nunca mais amar alguém na vida.
Não quero me tornar uma sopa rala, e com isso jogar fora todos os meus sonhos.
Agora, eu tenho um namorado, mas ele não sabe de nada disso. Nem posso contar, pois morro de medo da reação dele. Quando começamos a namorar, eu estava bem envolvida, mas não apaixonada. Pastor, eu realmente quero e preciso parar esse comportamento, mas nem sei como.
Acho que estou doente da alma.
Eu nem posso conversar sobre isso com ninguém. As pessoas nunca estão preparadas para “escândalos”.
Como sei que você não se escandaliza com nada, eu escrevi, na esperança de receber alguma resposta madura e desdemonizada, porque eu sei que o que de menos tem nessa historia é armação do diabo, mas sim as minhas próprias doenças manifestas em desejos profundos e avassaladores.
Obrigada pela atenção, pela gentileza e pelo carinho.
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Resposta:
Minha querida irmã e amiga no Caminho: Graça, Paz e Perseverança!
Como você já deve ter notado eu gosto muito das coisas da alma, e, por conseguinte, gosto de muitas das abordagens psicológicas que podem ser feitas na intenção de ajudar alguém a ficar livre de pesos e distúrbios que acometem a alma humana. No entanto, quanto mais vejo e estudo, mas percebo que as “leis de interpretação” psicológica só se tornam úteis quando um comportamento se torna disfuncional. Antes disso, nunca.
Ou seja: se alguém chega e conta um comportamento disfuncional e o calça como uma história como a sua, psicologicamente o comportamento está “explicado”. No entanto, não se explica porque existindo no mesmo caldo cultural e psicológico apenas você, entre os irmãos, foi vitimada pela disfunção familiar.
Bem, alguém diria que é porque, entre todos de sua casa, era a mais frágil ou suscetível.
Eu, todavia, penso:
“Nesse caso, a suscetibilidade é tão forte, que acaba sendo maior que a cultura disfuncional da família, pois, do contrário, todos em sua casa teriam que carregar alguma outra importante seqüela”.
Ora, estou dizendo isto apenas para lhe falar que a psicologia, no seu caso, pode apenas ser um “álibi em-si”, e que muito mais justifica que explica o comportamento, no seu caso.
Ou seja: lendo a sua carta vi que você mesma se serve da explicação psicológica a fim de “entender” o seu caminho.
Sua história, do ponto de vista psicológico, está bem “arrumada” em sua cabeça. Portanto, está tão bem “compreendida”, que a psicologia já nem ajuda mais… Sinceramente, mais do que na família, para mim, sua fragilidade vem da “igreja”.
Pelo visto você foi muito envolvida na igreja durante a adolescência, e deve ter sido muito traumatizada sexualmente pelo ensino autoritativo da figura masculina do “igrejo”. Interessante: igreja deveria ser mãe, mas no meio cristão evangélico, a igreja é igrejo, um ente masculino e cheio de autoridade e desejos reprimidos.
Ou seja: o que a sua mãe abria, mas o “igrejo” fechava.
E como a “igreja” tem um papel autoritativo em sua alma—e lhe faltava uma referencia deste tipo—,então, a tensão entre a liberdade da mãe e o limite da igreja, fez uma síntese aflita em sua alma: você não tem vontade de “se segurar” em relação a nenhuma pulsão (liberdade?), e não faz nada do que faz sem a culpa da igreja (limite?).
Assim são a mãe e a sua igreja para você. Sua mãe é a anti-referência de mulher—”eu nunca serei uma mulher como você”—, e sua “igreja” é sua “consciência”, especialmente porque, como disse na outra carta, você parece entregar esse papel de consciência pessoal para “outros”; ou seja: você parece não ter consciência própria, mas apenas a toma por empréstimo dos outros como um espécie de super-super-ego.
Então, tudo o que você faz fica assim: entre a explicação psicológica que se atrela à sua família e o esmagamento que você importou da “consciência da igreja”, e que atormenta a sua própria alma.
O que vejo em você é uma menina inteligente e interessante, e que achou uma boa explicação para liberar seus instintos, e que os sofre em razão de fazê-lo como transgressão contra a sua “consciência importada”.
Sobre em sua adolescência você ter pregado e feito muitas coisas em nome de Jesus, lhe digo que isto faz parte desse mesmo padrão psicológico. Se você for ver, mais ou menos 90% das pessoas que “testemunham” na igreja, ou que se tornam seus pregadores espetaculares, carregam uma história no saco muito parecida com a sua. E a maioria já havia convivido com a “igreja”.
Ou seja: estamos falando de “doença de igreja”.
Aliás, essa é uma “classificação” a ser buscada.
Explicando:
Uma menina sem pai, e que tem uma mãe legal e amiga, e irmãos normais apesar de tudo, e que cresce na igreja—depreendi isto pelo modo normal com o qual você definiu sua presença na igreja desde sempre—, e que existe entre dois mundos: um aberto e outro muito fechado, e que sofre a “liberdade” como compulsão na mesma medida em que experimenta a “autoridade” como repressão. A liberdade é a sua mãe. A autoridade é a “igreja”.
E no meio está você, sentindo as repressão da igreja como compulsão, e a liberdade de sua mãe como culpa que alimenta mais profundamente a própria compulsão.
Assim, quanto mais culpa de super-egos adotados, mais compulsão; e quanto mais compulsão, mais culpa…e isso não tem fim. Ou melhor: tem fim. Mas esse fim não é o fim, é apenas uma defesa, posto que ninguém consegue viver culpado o tempo todo, daí, muitas vezes, a culpa ir se tornando um desespero frio e indiferente, mas nem por isto menos incomodo e desagregador.
Prova disso é que apesar da “frieza” que você disse estar acontecendo com você, assim mesmo você está me escrevendo.
A maior prova dessa culpa é o fato de você ter si colocado no inferno por conta própria, e isto em razão de você poder estar fazendo mal aos casais com os quais você fez ou faz swing.
Ora, cada um ali é adulto, e que cada um responda por si mesmo.
Afinal, se fosse assim, todos estaríamos muito mal, visto que existir no mundo já é um atestado de cumplicidade com todos os males da Terra.
Todos comemos e bebemos o pão e a água de todos. E todos nós fazemos parte do mesmo sistema de morte e retro-alimentação de doenças humanas.
Portanto, minha querida, pode se descandidatar ao inferno porque você não é filha dele e nem está indo para lá. Verei você “de branco” andando com os filhos da perseverança e tendo acesso à Árvore da Vida, cujas folhas são para a cura dos povos.
Portanto, não estamos falando da eternidade, mas do tempo; não estamos falando do além, mas da vida na Terra. Afinal, é na Terra que a gente pode conhecer a “vida abundante” que Jesus prometeu em meio aos lobos, mercenários, ladrões, e perigos (João 10).
O Evangelho é para Hoje, não para a eternidade. Lá em não precisarei de Evangelho, visto que lá eu já serei um herdeiro da promessa do Evangelho.
Daí o Evangelho ser para Hoje, e apenas para Hoje.
Há algumas coisas que desejo lhe dizer:
1. Você não precisa de um psicólogo, você precisa é ouvir a Palavra de modo saudável e libertador. Ou seja: se você morasse aqui no Rio—eu não sei onde você reside—, eu lhe sugeriria que freqüentasse UM GRUPO DO CAMINHO. Sei que você, em seis meses, estaria com sua cabeça tranqüila e organizada nessa área. Somente a consciência do Evangelho gera liberdade sem dissolução.
2. Você não é lésbica, ou gay, ou bi-sexual. Você é apenas uma menina que está aí “pro que der e vier”. Só isto. Portanto, havendo ‘calma como cura’, e ‘paz como saúde’, você encontrará o seu caminho sem dificuldade. Quando sua mãe e a igreja estiverem reconciliadas em você, tudo isto vai acalmar…e você ficará tranqüila como um rio, e terá paz.
3. Não fique contando a sua história para ninguém, muito menos para o seu namorado. E quando as coisas se acalmarem—e elas irão se acalmar—, também não dê testemunho desse fato. Viva a paz e a libertação para você mesma. Jesus não precisa dessa “publicidade”. Aliás, Ele não precisa de nenhuma forma de publicidade. Quem é, é!
4. Comece a exercer controle sobre você mesma. E não escolha o ‘lado errado’ para controlar (coar o mosquito e engolir o camelo). Nesse caso, seja normal e fique à vontade para namorar, mas se controle quanto à dissolução. Ou seja: no swing e na promiscuidade você perde a solução, já no namoro bom e sadio você pode ir ganhando sua própria solução de volta.
5. No momento não se preocupe com amor e paixão. São questões para depois. Hoje nós ainda estamos lidando com a reorganização de sua alma. Depois a gente trata desses outros luxos da alma.
Pense no que lhe disse. E mais: não ore sobre o tema. Apenas ame a Deus com gratidão, e pare de orar como quem se condena. Ore em paz.
Veja:
Eu sou mal, e você confia em mim e no meu entendimento. Ora, se é assim, confie Naquele que é Bom, e que ama você, e conhece a sua alma e não a despreza.
A questão de Deus nada tem a ver com pintos e genitálias. Ele deseja é que tenhamos paz e vida. As demais coisas são acidentes do percurso, e podem acontecer com qualquer pessoa.
Um pequeno desvio na percepção ou nos sentimentos, e muita coisa pode mudar no comportamento.
Deus, todavia, não é impressionável e nem escandalizável.
Portanto, confie Nele! Agora chegou a hora de você parar de ficar debatendo seu problema e partir pras cabeças.
Sim, chegou a hora de você buscar ter sua própria consciência, e de fazê-lo sem medo, e sempre visando o que é bom para a vida.
Continue me escrevendo. E se você vier até aqui, visite-me.
Nele, que nunca despreza a alma de ninguém,
Caio
Copacabana
29 de junho de 2004 17:06
Três meses e dois dias após a partida de meu filho Lukas para a casa do Pai.