MILAD…THIAGO…DÚVIDAS…

—–Original Message—– From: Thiago Lara Vasques [mailto:[email protected]] Sent: terça-feira, 11 de novembro de 2003 16:43 To: [email protected] Subject: MILAD…Thiago…Dúvidas… Oi Pastor Caio? Estás na benção da fé, na graça encarnada, né? Aqui é o Thiago, filho do Wesley e Marlene, seus “conhecidos” de estrada. Aquele que abraçou o Caio, filho do seu Caio e a Dona Lacy, aqui em Goiânia, se lembra? Como é bom rever a pessoa e não o título, desfrutar do ser e não da imagem. Aquele abraço naquele dia foi graça transferida. Sabe, pastor, tem sido muito jóia ser apascentado virtualmente pelo senhor nesses dias. Seus escritos “dí-vida” tem me consolado, edificado e exortado. Minha alma hoje flui em descanso. Ah….. Às vezes me da vontade de voltar no tempo, na época do ônibus do Milad, das viagens pelo Brasil à fora, sabendo que éramos mais próximos, e recorrer a autofagia da amizade, da troca sem compromisso, do crescimento mútuo. Ah! pensando bem, não teria como, aquele Thiago tinha somente 7 anos; o de hoje tem 22. Será que o Caio estaria ficando velho? Não, a velhice do corpo não justifica a velhice do ser. Tenho certeza que você “Caio-iu” da velharia, do antiquário da religião e rejuvenesceu na novidade da “real-idade”. Gostaria muito de ir para o encontro da irmandade, mas “tô” sem grana. Pastor, será que poderia me esclarecer uma dúvida? Ainda não vi um esclarecimento desse tipo no site. Mas primeiramente gostaria de citar algumas das suas próprias palavras. “Gente boa quase sempre busca o bem. Nem sempre consegue todo o bem que busca. Mas continua buscando. Saber o que é bom e não buscar alcançar, faz mal. Assim, a gente só se enriquece em todo o bem quando busca de coração o que é bom. Daí para frente tudo coopera para o bem daqueles que amam a Deus.” “A gratuidade da Graça deve gerar responsabilidade e compromisso.” “A Graça genuína não se justifica por obras, mas mediante a fé; porém, produz obras assim como a vida produz vida.” Minha dúvida tem como base Jeremias 22:13 que discorre sobre o fato de desfrutarmos do trabalho dos outros sem lhes oferecer paga, salário. Você, pastor, mais do que ninguém, deve lidar com esse tipo de questão por causa dos seus livros; mas é que isso remete para muitas perguntas do tipo: Quando pego algo emprestado, não estou desfrutando do trabalho da outra pessoa sem lhe dar a paga? principalmente no caso de cd’s e livros? E as bibliotecas? video-locadoras? No caso das músicas em mp3, que são “baixadas” sem permissão do autor? Como fica? Os Windows da vida e demais programas de computador… Como deveria proceder se no computador da minha casa o Windows foi comprado por R$10,00? Teria que me abster do uso do computador? Teria que me desfazer das mp3 baixadas via internet? Me fiz compreender? Sei que não serei justificado por isso, mas exclusivamente pela fé. Como faço para obedecer um princípio espiritual que envolve o mercado? como fazer para obedecer na Graça? Você é muito querido! Tenho orgulho de ter um irmão como você. Deus te abençoe! Como diz o bom goiano: “dez-tantão”… Thiago Lara Vasques. ******************************************** Resposta: Thiago, querido: beijocas em você e nos seus pais! Ouvi seus pais pela primeira vez em 1979, na Primeira Igreja Presbiteriana de Goiânia. O pastor lá, naquele tempo, era o Rev. Evandro, e eu viera de Manaus para pregar lá. O Rev. Antonio Elias já me havia falado da belíssima voz dos dois. Aliás, foi a esposa dele, D. Maria José, quem me disse: “Soa como se fosse um dueto com o Ney Matogrosso”. Quando os ouvi, me encantei; não só com as vozes, mas com eles. E sempre foi assim! Hoje você está aí, homem, crescendo na Graça, fazendo perguntas, chegando a conclusões! Velhice? Olhe, eu nunca vou ficar velho! Ficarei, se Deus permitir, apenas idoso. De fato, eu gostaria de me tornar um velhete bem espertete, como meu bi-vô Araujinho. Mas não sei se chego lá… Provavelmente não. Afinal, ele viveu 104 anos e morreu como índio: simplesmente disse: “Tá bom!”—e recolheu-se ao leito, com todos os dentes na boca e força no corpo, e ficou queitinho um mês, sem comer e sem beber, até que partiu… Eu não conto com essa energia toda! Ele carregava fardos de Pirarucu de 100 quilos aos oitenta anos de idade. Punha-os nos ombros e subia as barrancas do Rio Purus, onde ele tinha seu Seringal. A vida dele foi muito mais calma que a minha. Sou filho de meu pai. Filho de dores e emoções; de amores e paixões; de entregas e de perdas; de riscos e de ganhos; de lutas, de abatimentos, de soerguimentos, de tristeza e alegria—de vida, muita vida, mas talvez não tão longa na Terra. Já vivi mais que meu bi-vô. Por isso creio que não viverei tanto tempo quanto ele viveu. Mas pode ser que Deus me faça uma surpresa se eu andar distraído… Sobre as questões dos direitos autorais e das explorações do trabalho alheio, tenho a dizer o seguinte: 1. O texto se refere à apropriação direta, injusta, deliberada, próxima e roubadora do trabalho alheio prestado a nós. Deus abomina isso. A Bíblia está cheia de denuncias do tipo. 2. Quanto às demais questões, o que tenho a dizer é que todos nós vivemos num sistema-integrado-de-iniquidades. Isso mesmo. O mundo, como sistema, jaz no maligno. Daí Jesus pedir ao Pai que não nos tirasse do mundo, mas que nos livrasse do mal. Daí também Paulo dizer aos Coríntios que eles jamais teriam como evitar ter que lidar com o mundo das trocas e comércios como ambigüidade no cotidiano (I Co 5-6). Mas recomendava que se evitasse fazer negócios com “irmãos” que assim procedessem. 3. De fato, todos nós, por mais honestos que sejamos, comemos aquilo que não sabemos de onde veio e nem o que custou para aqueles que estavam na ponta original da produção daquele bem. E num mundo globalizado fica cada vez mais difícil para alguém poder dizer que seu dinheiro ou bens são de fonte limpa. Tudo passa por alguma forma de corrupção e exploração até chegar às nossas mãos. O interessante é que Jesus sabia disso—é claro!—, e nunca ficou grilado com a história. Chegou mesmo a dizer que deveríamos fazer amigos e dar o melhor uso possível aos tesouros de origem iníqua; afinal, o próprio conceito de dinheiro já é “iniqüidade”. 4. O dinheiro é iníquo porque ele é um estelionato contra Deus e a Terra. Ao Senhor pertence a Terra e tudo o que nela se contém; o mundo e os que nele habitam. Portanto, quando determinamos que algo é nosso; e mais que isso, quando nos vemos no direito de termos muito mais que precisamos, estamos usurpando algo que não é nosso. O dinheiro é a simbolização legal do estelionato humano contra o dono de todas as coisas, e que as criou para que todos tivessem acesso a elas. 5. Ora, saber disso não deve nos fazer mergulhar numa seita separatista. O mundo é caído. A história é caída. E dos males, ainda o melhor é pagar imposto a César. 6. Sobre as “apropriações e piratarias” de direito autoral, de fato, de um modo ou de outro, somos todos uns piratas! O cantor ou escritor que reclama que seus direitos ficam minguados em razão das cópias ilícitas feitas pelo “mercado paralelo”, não consegue rejeitar uma cópia de um outro produto que não lhe seja diretamente afeto. Pimenta nos olhos dos outros quase não arde. Mas arde muito nos nossos olhos. 7. Eu, honestamente, sempre que um amigo me diz: “Olha, tenho um programa novo pra instalar no seu notebook”—nunca digo de volta: “No meu? Jamais! Este notebook nunca rodou programa pirateado e imundo!” 8. Assim, meu querido, gostaria muito que as editoras evangélicas tivessem me pagado direitos autorais com o profissionalismo das editoras seculares. No mundo evangélico, no auge da inflação, havia editoras que faziam acertos anuais, sem correção monetária. Ou seja: rodavam com seu dinheiro o ano todo, e, ao final, pagavam uma merreca não corrigida. 9. No mais, minha vontade de que a Palavra que Deus me deu para pregar se ESPALHE sempre foi tão grande, que se alguém me dissesse: “Olhe, eu vou sustentar você e sua família, mas todos os seus direitos autorais estarão para sempre cancelados, pois vamos doar todas as coisas que você escrever ou produzir”—Saiba, para mim seria o melhor dos mundos! 10. De fato, eu praticamente não me servi dos milhões de livros que vendi e nem dos milhares e milhares de vídeos, k7, e outras mídias que veicularam meu material. O que eu recebia ficava na Vinde, e era reinvestido em evangelização, treinamento e ministério como um todo. Seria maravilhoso, pelo menos para mim, se a mentalidade fosse essa: você ter o suficiente para viver calma, tranqüila e dignamente, enquanto toda a sua produção se multiplicasse indefinidamente para abençoar vidas em toda parte. De certa forma, essa tem sido minha alegria aqui na Internet. A quantidade de material que escrevi nos últimos oito meses—desde que o site começou—, já é mais que muitos livros. Milhões de páginas têm sido lidas aqui, de graça, e eu fico super feliz. Aliás, esse pedido de que surjam Mantenedores para este site parte dessa pressuposição. Eu não tenho nada. Não tenho casa própria, nem dinheiro guardado, nem salário. Mas tenho que sobreviver. Além disso, quero ampliar este ministério, e meu sonho é alcançar todo o planeta Terra com esta mensagem. Se tiver recurso para não fazer outra coisa a não ser produzir conteúdo, inclusive em áudio e vídeo, eu não faria mais nada nesta vida a não ser produzir tais coisas, que saem de mim sem tirar vida, mas, ao contrário, dando-me vida. Meu sonho hoje é poder traduzir este site para o inglês—cada coisa que aqui escrevo—, e disponibilizá-lo ao mundo. Sei que aquilo que aqui está sendo tratado e apresentado fará diferença no mundo inteiro. Ora, estou dizendo isto a você apenas porque sei que você vive nessa navalha fina—entre a necessidade de sobrevivência e o desejo de distribuir ao máximo a mensagem na qual você crê. Foi e é assim com seus pais; é também assim com você! Minha oração nesses dias é para que muitos cristãos ganhem essa consciência boa e limpa, e nos ajudem a tornar tudo isso possível para a glória de nosso Deus e Pai. Deus é estranho. O Bill Gates tem a grana. Mas o softer mais importante do universo é esse que roda de Graça, e que tem tanta dificuldade de se fazer perceber. Espero que minha resposta tenha atendido a algumas de suas questões. Receba meu beijão, e todo o meu carinho por vocês e seus pais. Ande no caminho deles! Eles têm andado num bom caminho! Nele, Caio