O CRISTÃO E AS ARTES MARCIAIS
—–Original Message—–
From: Zanbrão
Sent: quinta-feira, 8 de janeiro de 2004
To: [email protected]
Subject: O CRISTÃO E AS ARTES MARCIAIS
Mensagem:
Por que não podemos treinar artes marciais ?
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Meu amado amigo: Cinto, sandália, escudo, couraça, espada e capacete de Deus em sua vida!
Todas as coisas me são lícitas…devo ver se e quando me convêm. As artes marciais estão nessa categoria de coisas que me são lícitas, mas que precisam ser objeto de um pratica que edifique e seja conveniente ao bem da vida.
Paulo disse que as armas de nossa milícia não são carnais, mas poderosas em Deus. Ele fala de armas de ataque e de defesa. Diz que enfrentou, como homem, a feras na cidade de Éfeso. Teve que lutar e se defender. Ainda bem que ele sabia como.
O V.T. é um livro de guerra. Há de tudo lá. Desde exímios atiradores de pedra, com a funda; à guerreiros que rasgavam leões e ursos com as mãos.
Na hora de expulsar vendilhões do Templo Jesus usou um instrumento: um chicote com azorragues presos a ele.
Há tempo para todas as coisas nesta vida…e felizes são aqueles que sabem lidar com cada possibilidade de circunstancia que a vida truxer.
O Evangelho não nos chama para o enfrentamento físico com ninguém. Mas não nos desautoriza a defesa. Até mesmo para poder dar a “outra face” tem-se que fazê-lo não como um gesto de entrega covarde, mas como uma ação valente, guerreira e dês-amedrontada.
Eu cresci lutando. Desde menino que meu pai me colocou para combater, no enfrentamento físico os meus amigos sempre mais velhos e maiores do eu.
Papai ficava ao lado, me instruindo, enquanto eu apanhava todos os sábados de algum amigo mais velho do eu.
Isto começou quando eu tinha uns seis anos de idade.
Eu apanhava e ele me dizia, depois da luta, por quê eu havia apanhado e como deveria fazer para vencer.
Depois de uns dois meses eu já estava vencendo aquele amigo, sempre mais velho e maior do que eu.
Quando eu começava a vencer papai mudava o adversário. Pegava um “novo”. Então, iniciava-se o processo outra vez.
Quando eu cheguei mais ou menos aos 15 anos fui apresentado a um pessoal da academia Gracie, e depois à família.
Fiquei amigo deles—até hoje—, e passei a treinar com eles, e até mesmo a morar na academia de Copacabana, junto com o Reyson Gracie—naquele tempo o mais letal deles todos.
Parei de lutar depois que me converti e dei uma surra num karateca que me enchia a paciência, julgando que porque eu havia me convertido não me defenderia mais.
De fato, minha certeza de poder enfrentar a qualquer um—por maior que fosse o cara, se não soubesse Jui Jitsu como eu sabia, eu tinha certeza que se não batesse nele, no entanto, apanhar eu jamais apanharia—deu-me muita confiança para enfrentar provocações… E como eu havia brigado muito na rua entre 71 e 73, meu coração sabia o estrago que eu poderia fazer se perdesse a paciência. Então, dada a infantilidade da minha fé e às circunstâncias de muita briga que antecederam a minha conversão, eu decidi parar.
Parei, mas o Jui Jitsu nunca saiu de mim, e sempre me ajudou muito. Deu-me confiança num monte de áreas da vida, além de ser um instrumento maravilhoso de dês-assombração com “tamanhos”.
Quando meus filhos chegaram à adolescência, dois deles entraram na academia Gracie da Florida. Hoje eu estou me preparando para voltar ao Jui Jitsu. Semana passada encontrei o Reyson Gracie na praia e acertamos a minha volta aos tatames, tendo-o como meu personal. Coisa de “velho”. Ele já está com 56 e eu com 48 anos.
Então, respondendo a sua pergunta, eu diria o seguinte:
1.Treine, e fique bom no que você fizer.
2.Treine sem a intenção de usar o que você sabe contra ninguém.
3.Treine sabendo que não só fará bem ao seu corpo, mas também dará ordem, disciplina e criará um banco de soluções de conflito em você.
4.E se sua vontade é aprender defesa pessoal, minha sugestão é o Jui Jitsu, que é a melhor e mais eficaz luta que alguém pode praticar.
Como um confissão…devo dizer que não perco lutas do Pride e do Ultimate Fighiting. Acompanho nos detalhes, e continuo gostando imensamente de ver uma boa luta.
Portanto, meu amigo, a questão não são as artes marciais, mas a disposição interior de se servir daquilo para o próprio bem, e nunca utilizar essa arma para a mal; pois, sem dúvida, uma luta como o Jui Jitsu é uma arma…e que pode ser de defesa e de ataque…mas que em sendo praticada por uma pessoa lúcida, servirá apenas para a defesa, sem falar que tira o medo…e até cachorro sente quem tem medo e quem não tem medo.
É ótima a sensação de andar sempre sem medo. Tanto porque você confia e Deus e nos Seus anjos, como também por saber que você também tem a sua parte de contribuição a dar na solução de conflitos, se houver necessidade.
Como você viu, eu não estou tentando espiritualizar nada. Há tempo para tudo debaixo do céu. E eu sou grato a Deus por ter me deixado aprender uma arte marcial tão maravilhosa como o Jui Jitsu.
Receba meu carinho.
Nele, que nos ensina a andar sem medo,
Caio