Pai de Santo Derruba Pastor? (II)
Aqui você lerá uma carta de um outrora “pai de santo”, mas que não entrou no mercado das conversões; ou seja: em tendo encontrado a Cristo, não ficou andando por aí dando “testemunho”.
Ele já chegou sabendo que isso sempre leva ao “vazio”, infla a alma e acaba mergulhando o sujeito no mercantilismo—sem falar que a alma se torna algo mecânico; algo desalmado!
O Alfredo foi batizado no Café com Graça.
Ele vem de mais de trinta anos no Candomblé e abraçou a fé no Senhor Jesus há dois anos.
O Alfredo é um estudioso dos fenômenos da alma. E entende que o tempo que passou no Candomblé hoje o ajuda a entender melhor muitas das manifestações do “meio evangélico”.
No tempo que era “pai de santo”, foi várias vezes procurado por “pastores” que queriam saber como “proceder” a fim de alcançar certos objetivos…; ou mesmo como usar o palavreado a fim de criar o “clima” de susto para os incautos e viciados nos medos…
O Alfredo se converteu ao Senhor Jesus, mas não consegue se sentir um “evangélico”.
Ele tem suas próprias opiniões, mas sempre se rende à verdade quando a ouve e é convencido acerca dela.
Eis aqui a carta que ele me mandou acerca da correspondência “Pai de Santo Derruba Pastor?”—onde troquei umas palavras com um irmão amado cujo nome só eu sei.
“Neto” foi um nome fantasioso que “dei a ele”.
Assim como o faço com praticamente todas as correspondências que possam conter elementos de pessoalidade que eu julgue que não devam ser aqui expostos.
E é por terem tal segurança que as pessoas escrevem com total liberdade!
Eis a carta do Alfredo ao “Pr. Neto”.
—–Original Message—–
From: Alfredo
Sent: domingo, 10 de agosto de 2003
To: Caio Fabio Araújo Filho
Subject: Pai de Santo Derruba Pastor?
“Enigmas da Graça” …
“Pai de Todos os Santos” convoca “pai de santo” para redimir “Neto Pastor”—diria eu.
“Que de bom pode vir de Nazaré?”—diriam muitos.
Segundo um mito, a redenção sempre vem de onde não se espera; e será sempre humilhante descobrir qual foi o caminho para essa redenção!
Caio, meu amigo de sempre, gostei muito da sua amorosa e sensata orientação ao seu amado amigo e pastor “Neto”.
Principalmente gostei muito de sua clareza na verdade: “De minha parte não fui vítima de nenhum diabo especial, mas dos meus desejos, cobiças, frustrações, e, de uma enorme vontade de ser homem…”
Já fui “pai de santo”.
Conheci Jesus.
Você me batizou.
Sou Filho do Santo Pai!
Hoje, já me considero “avô de santo” (rsrsrs).
Mas o tempo que passei lá—décadas—me é útil hoje, como cristão.
Tento passar alguns recados tirados do acervo mítico da alma; e o pessoal do Candomblé tem alma. Aquelas manifestações, antes de qualquer coisa, são expressões da alma, tanto quanto os mitos gregos…
Aprendi muito…
Hoje sei que os olhos da experiência são maiores que os da razão.
A carta do “Pastor Neto” é que me fez escrever isto…
Fico preocupado quando vejo uma alma adolescente a mercê de chavões, sem significado interior, e tomado ainda de projeções equivocadas, como a grande maioria no “meio” evangélico.
Se o que estou escrevendo não servir para reflexão, por favor, que joguem no lixo, e orem por mim!
Mas é assim que vejo!
O que os evangélicos parecem não entender é que nenhum homem é senhor da sua casa interior, especialmente quando está possuído pela soberba…
Nesse caso, em seu ser já existe um “usurpador”: o diabo como projeção de Lucifer.
É a tal “Síndrome de Lúcifer”.
E a formação de terapeuta e pastor não ajudam em nada quando o coração está tomado da certeza da soberba, e não da fé.
Fazendo como fez “Pr. Neto”, acaba-se sempre lutando com o “meio” que o cerca em vez de encarar o “inimigo” interno: a soberba.
Outra coisa comum a todos nós é exigir que a salvação venha do “meio em que se vive”. Isso é um ato suicida; é algo como tentar seduzir a nossa alma com projeções do ego “auto-salvo”.
“Enchi o peito de autoridade e expulsamos o demônio…”—confessou ele.
“Simples e corriqueiro para o nosso seguro e tão abençoado ministério”—declarou o pastor Neto.
O Altíssimo costuma dar uma “ajudazinha” nessas horas—um pequeno ajuste no curso do caminho—, só para contrabalançar, e colocar o “inflado” de volta ao chão, á realidade – nosso verdadeiro lar!
Pelo que percebi, o amado irmão, pastor e terapeuta—o Neto—, pensou, como muitos outros “abençoados”, que é um direito nacional seu “ser feliz”, no sentido de um direito estabelecido por um ego cheio de “razões eclesiásticas”.
Alguém, em são consciência, acredita que o Altíssimo deixaria essa passar…- e em nome Dele ?
Um espírito usando o “poder de Deus” na carne, será sempre vitimado pela soberba de sua própria carne.
Então a soberba quando relativizada pela incoerência, acaba virando seu próprio demônio.
É a tal da casa “varrida”, porém “vazia”…
Aquilo que sai no outro é justamente aquilo que volta para o “o ser vazio”; e volta com mais sete outros, e a pessoa mergulha na depressão…como aconteceu com o Neto.
A casa estava arrumada e varrida…
O problema do pastor não era o poder do “pai de santo”, mas sim que ele, o pastor, estava com a “casa varrida e arrumada”, mas vazia.
Estava cheio do ar da presunção…
A lição não vem do “pai de santo”, vem da qualidade espiritual do pastor, que estava vazio do Espírito e cheio da carne…
E a ironia foi que a “carne” era justamente a presunção de “poder espiritual”.
Ao “despachar” o seu inimigo interno na projeção do “pai de santo”, o pastor recebeu de volta “a si mesmo”; e toda a sua própria “falange” de desejos, culpas, medos e projeções.
Talvez alguém bem intencionado tenha dito ao “Pr. Neto” que sempre que
necessitasse de alimento, fosse á igreja de Deus, pois, ali, ele encontraria um banquete esperando por ele…
Só que não explicou direito pra ele o “endereço”…
Ele acha que esse lugar encontra-se “fora”, nas formas, meios e exterioridades convencionais…
Ele pensa que essa “igreja” está ao alcance da mão, que tem placa…
Ele pensa que ela é sofisticada e culta…
Não percebeu ainda que ela começa em própria alma; e que para ser a verdadeira igreja de Deus, ela tem que ser “donzela”, uma “virgem adornada”e considerada e tratada como tal; respeitada e sagrada !
Se assim não for, o castigo do erro, será o próprio erro!
Chamou-me a atenção que ele—o Pr. Neto—, falou que as “setas” (duas) construíam uma “forma de mulher desnuda”.
Era ela, a alma dele mesmo que queria se mostrar, não uma ou duas mulheres que desejavam tirar a roupa pra ele!
Só que ele achou que fossem as “outras duas mulheres” com quem ele se relacionou humanamente, e que não são sagradas…
Coitadas!
“Crente” nunca se enxerga.
A culpa é sempre de outro, e sempre vem de fora; ou vem do “pai de santo”, ou vem das duas “setas-mulheres-peladas”.
Ele chegou a pensar que “elas” fossem a “salvação” contra a sua própria infelicidade!
Tratando a alma com essa projeção errada, ela se transforma numa “bombogira”… – fazendo o Pr. Neto “cair”…
No início se tem uma sensação de entusiasmo…o que seria sublime se fosse
verdade…
Pior que não é !
É preciso ser muito sábio para saber se você está “pleno de Deus” ou inflado e “possuído” pela soberba, a projeção do próprio ego.
Gostaria de sugerir que o “Pr. Neto”, na sua “volta de retratações”, se retratasse também com o “pai de santo”, por ter atribuído a ele um mal que não veio dele, mas do próprio coração do “pastor e terapeuta”; então, inflado pelas certezas de um falso “poder”.
Afinal, o “pai de santo” precisa do Santo, tanto quanto o pastor.
E também o “pai de santo” tem que ser visto como um homem…
Quem expele um demônio e confunde o suposto “possesso” com o próprio demônio, está pecando.
Aprendi com você, Caio, que é melhor tratar o diabo como gente, do que tratar gente como se fosse o diabo.
Espero, de coração aberto, que todos me entendam!
Pra terminar, quero dizer: Deus vai me proteger enquanto eu andar des-traído!
Não há maior vigilância do que a Confiança!
Um beijão do amigo de sempre em Cristo.
Alfredo