Pai já está em casa

Houve uma antecipação na intervenção médica. Estava marcada para hoje pela manhã, mas os stants farmacológicos chegaram ontem, e os médicos decidiram colocá-los ontem mesmo. O problema já não é o infarto, mas o quadro geral: rins muito enfraquecidos, e um processo esclerótico significativamente grave nas artérias do coração de meu velho pai. Agora os cuidados precisam ser de ordem sistêmica. A idade é a doença. Papai viveu muitas vidas e todas elas foram muito intensas. Vidas do coração, mas do que de qualquer outra dimensão. O humor dele é inalterável. Hoje de manhã levou uma queda no hospital. A enfermeira o fez tomar um “banho geral” para poder receber alta. Ele não queria. Com o defeito físico que ele tem, essas coisas ele só faz bem com a presença de minha mãe. Ele estava em casa, preparando a chegada dele. Puseram-no numa cadeira lisa sob o chuveiro. Ele foi se mover e caiu com cadeira e tudo… O senhor está bem?—indagou a enfermeira com ela ainda no chão. Pronto pra outra queda, só que não precisava ter levado está!—disse ele caído e rindo no chão molhado, com o chuveiro derramando água em abundância sobre ele. Já havia até enfermeira e médicos pedindo oração a ele. Hoje, num dos procedimentos de curativo, tiveram que apertar muito um dos braços dele. Meu filho, você conhece seu pai. Não reclamo de dor. Mas tava doendo demais. Perguntei ao médico se as pessoas reclamavam daquele tipo de ação. Ele me disse que elas gritam. Fiquei pensando: dá vontade de gritar mesmo, mas só estou velho, não frouxo!—contou-me rindo discretamente. Desculpem, falo dele sem o pudor que um filho deveria ter. Mas é que pra mim ele não é apenas “meu pai”. Ele foi e é o homem e o cristão que mais respeitei e respeito na vida. Perto dele, todo mundo que eu conheço ainda anda de chupeta, suspensório e calça curta. Se ele tivesse nascido há dois mil anos e tivesse sido chamado por Jesus, seu nome poderia até ser Caio, mas ele seria uma boa mistura de João e Paulo. Recebam meu beijo, e meu pedido de que continuem a orar por ele. Pessoalmente, mesmo sabendo que ele já andou pelo Paraíso e ouviu palavra irreferíveis, gostaria muito que ele ficasse um pouco mais. Puro egoísmo… É que eu preciso muito dele! Caio