Pastor, meu amor caiu doente!
Primeira Carta:
Mensagem:
Querido Pastor Caio Fábio…
Escrevi para o senhor, mas obtive uma única resposta quando o senhor pediu para que eu informasse quantos filhos tinha e os seus nomes.
Pastor, você é a janela da minha alma através dos textos que escrevo porque posso ser completamente verdadeiro e mostrar o meu lado mais fraco.
Eu não preciso ser o economista renomado, não preciso ser o dirigente do culto empresarial, não preciso ser pai, nem esposo, nem namorado.
Eu posso ser pobre, carente de um contato íntimo com Deus. Aqui eu posso ser eu mesmo.
Li, no seu site, a historia da mulher e do doutor…
Triste história de amor muito parecida com a minha.
O cristianismo e o conhecimento das Escrituras tem me feito sofrer.
Se eu fosse ímpio estaria sofrendo unicamente pela falta dos meus filhos…
Deixei minha casa e sei que errei fazendo isso…mas os consertos já ficaram no ontem.
Tenho procurado, fervorosamente, sentir aquela paz que um dia tive e que hoje me abandonou por completo.
Caio, a dor da solidão realmente não passa.
Não consigo ficar sem meus filhos…
Ontem estive na casa de minha “namorada”.
Assumi o relacionamento com ela publicamente.
Tenho procurado estar sempre na presença de Deus durante o tempo que permaneço com ela. Mas ontem não teve como. Eu estava sentado na sala, perto de uma lareira. Tinha levado o violão…mas nem o tirei do carro. Foi me dando uma vontade de chorar, uma dor no peito, uma angústia sem precedentes. Levantei e falei com ela que queria ir embora. Fui para o carro e chorei por longo tempo.
Eu realmente a amo do fundo do meu coração…
Seus cabelos são longos, cor de caramelo.
Seu sorriso é acolhedor e o coração é como poucos que conheci.
A fé que ela tem é muito maior do que a minha, a faz forte em momentos de extrema pressão.
Seus dedos são gordinhos e as unhas, sempre muito bem aparadas, dão a ela um tom de clara meninice.
Sempre que estou triste ela tem procurado fazer com que eu repouse em seus ombros, fazendo-me rir de coisas pequenas.
Seu discurso é baseado em Cantares de Salomão, que a meu ver, é o amor que todo homem ou mulher procuram.
Sempre que saímos…ela procura colocar sandálias de salto bem alto para podermos ficar no mesmo nível, para que nossos rostos estejam num mesmo plano. Pouquíssimas vezes eu a vi tristonha ou chorosa.
Ontem, no carro, ela chorou muito também pelo medo da perda ou do distanciamento.
Ela, com certeza, seria a mulher da minha vida se eu não tivesse me casado antes. O casamento marca a vida de uma pessoa para todo sempre e não tem como negar. O meu amor caiu doente por causa desta consciência. O brilho deu lugar para a dor e a saudade.
Ela faz questão de que todas as pessoas possam perceber que nascemos um para o outro. Ela ora por mim todos os dias e, mesmo estando juntos, me abençoa a todo o momento.
Não deveria ser assim porque ela, com certeza, não é e não será uma aventura cor de rosa. É a pessoa que eu escolhi, que me apaixonei profundamente.
Ontem fui numa igreja longe…e o Pastor pregou sobre como o homem deve se apossar da benção de ser o cabeça do casal. Não suportei as palavras e fui embora antes do término da reunião. Estava me sentindo culpado.
Minha ex-esposa me ligou agora a pouco dizendo que as crianças estão com problemas. Brigando, meio que perdidos…e ela não tem tido forças para segurar a “barra”.
Não sei o que fazer…
Esta noite tive uma insônia daquelas.
Quase não dormi e, a falta do sono, ficou perceptível no meu semblante.
A minha sorte é que posso falar com a secretária que estou fazendo um trabalho confidencial e não quero ser interrompido. Desta maneira, ninguém entra na minha sala e todos os telefonemas são monitorados. Tenho então possibilidade de ficar só comigo mesmo.
Na minha gaveta tenho diversas fotos.
Fotos de momentos em que a felicidade estava estampada no meu rosto.
Puxa vida, porque agora tudo ficou diferente?
À noite quero ter uma conversa com a “namorada”. Ainda não sei o que falar porque espero de Deus uma luz. Ela ligou, também há pouco, me dizendo que não quer que eu fale nada, que somente fique abraçado com ela sentindo o calor do amor e as batidas do coração.
Hoje eu consigo entender a dor dos suicidas.
Começo a entender as suas angústias e tento não chamá-los mais de covardes.
Não que eu pense em suicidar, isto não povoa a minha mente…mas gostaria que Deus me levasse para junto dele. Lá, tenho certeza absoluta, não existe dor.
Ore por esse irmãozinho que necessita, ta?
Seja sempre uma bênção na vida das pessoas que cruzam o seu caminho!
Esperando nele.
Abraços.
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Segunda Carta:
Mensagem:
Prezado Pastor Caio…
Quero, neste e-mail tentar resgatar um pouco do que ainda tenho de melhor. Preciso de ajuda porque senão vou enlouquecer. Preciso de muita ajuda.
Pastor, como o senhor já sabe amo imensamente outra mulher, que não é minha esposa.
Sei que recebes uma quantidade enorme de e-mails neste sentido. Tenho certeza disto, mas o meu caso é muito diferente.
Não quero mais viver…
Ontem tive um domingo, na parte da tarde, muito bom.
Saí com a “namorada” e fomos tirar umas fotos. É um lugar aqui…reservado aos românticos. É um mirante onde podemos avistar toda a cidade.
Tiramos, aproximadamente, umas vinte fotos.
Minha namorada se produziu, realçou os seus lindos olhos verdes com um brilho facial que tornava seu rosto mais dócil. Vestiu uma blusa branca que tanto gosto e amarrou um lenço azul nos cabelos para que os mesmos não voassem devido ao vento.
Rimos, nos abraçamos, comemos pipoca e castanha de caju.
Ela estava com um perfume ou fragrância de maracujá, acho que um óleo de banho da Ekos.
Ficamos até o por do sol.
O findar da tarde é apaixonante e o local é a inspiração do nome da cidade. Eu olhei o seu rosto e pude observar algumas espinhas provenientes da sua pouca idade.
Temos uma diferença de 16 anos.
Vi suas mechas alouradas, a textura das suas mãos, a maciez da sua pele e os seus dentes tão alvos e claros.
Ela tem jeito de olhar diferente de qualquer pessoa que conheci. Quando está falando ou sonhando, seus olhos ficam irrequietos procurando um ponto fixo para exemplificar ou ancorar as suas idéias.
Fiz alguns carinhos em seu rosto demonstrando o amor que tenho por aquela mulher…
Ela é um pouco mais baixa do que eu e sempre recosta a cabeça no meu ombro quando estamos abraçados. Nestes últimos dois dias fiz questão de colocar o meu rosto junto ao dela, diversas vezes, para sentir o seu hálito, o cheiro do seu aroma.
Sabe Pastor, é um amor puro e incondicional. Daqueles que a gente só sente uma vez só…
Eu, igual a todos os românticos de uma geração que não existe mais, sofro por amor.
Sofro porque é um amor proibido, fora dos padrões da normalidade e que todo mundo condena. Sofro porque não temos amigos, não temos o “background” familiar que tanto preciso e necessito.
Fomos ao shopping e comprei um sobretudo…ela queria mandar fazer as alianças. Chegamos a experimentar diversos modelos, mas não tive coragem de fazê-las.
A aliança ficou linda em suas mãos. Suas unhas, bem curtinhas, e a cor da sua pele, muito branca, realçaram a beleza e o brilhantismo do ouro.
Eu percebi que sempre quis ter uma mulher igual a ela. Eu a amo e não sei como fazer para abandoná-la.
Sexta feita passada saímos com um amigo da igreja.
Muito amigo…porque temos coisas em comum. Eu apresentei a ele o evangelho nos meados dos anos 80. Apresentei a ele a sua esposa, fui padrinho de casamento e vice-versa. Tocávamos juntos na igreja e, durante longos anos, fomos parceiros em músicas que até hoje são cantadas pelo povo daqui.
Fomos a um bar e conversamos até meia noite. Ele disse, no momento em que “ela” foi ao banheiro, que estava tudo errado, que ela era muito nova… etc e tal.
Falou de adultério, me chamou de crápula, etc e tal…
Depois ficou falando sobre o seu casamento (ele se casou no mesmo ano que eu), do amor que ele tinha pela esposa, única mulher da vida, mãe dos filhos e como o relacionamento dos dois é saudável.
Criou-se um clima pouco amigável porque a conversa me deprimiu um pouco. Eu me senti meio que impotente por não ter conseguido sustentar o meu casamento. “Ela”, em contrapartida, procurou justificar em Deus as desuniões e os novos relacionamentos.
Ficou um clima desagradável e olha que é o primeiro amigo com quem eu me permiti sair. Deixou de ser amigo desde sexta…
Fomos para um hotel e dormimos até por volta das nove horas. Quando levantei, ela já tinha arrumado o café, estávamos nos preparando para ir embora… e aí começa o vazio e a dor no estômago…
Aquela aflição da perda.
Eu morro de medo das perdas, principalmente depois da morte de minha mãe há poucos meses atrás.
Há tempos eu não sentia a sensação da solidão por completo.
É triste viu!
Triste demais da conta!
Sábado na hora do almoço, em minha casa—com a ex-mulher e os filhos— a sensação foi um misto de felicidade, de tristeza, de dor, de traição com a “namorada”, e de pena da minha ex-esposa. Ela se arrumou toda, fez o cabelo, passou batom, acho até que comprou roupas novas. A mesa estava posta e, como sempre fazíamos, ela pediu que eu orasse em agradecimento pelo alimento.
Eu fiz uma oração curta…
Os meninos oraram pedindo que Deus resolvesse os meus problemas porque eu estava muito triste. Todos os três. Minha ex-esposa também pediu que o nosso amor e casamento tivessem uma restauração.
Eu não consegui comer…
Fui para o meu quarto e chorei amargamente…
Minha ex-esposa deitou do meu lado e me abraçou perguntando o que estava acontecendo com a gente.
Fiquei em casa até o final da tarde de sábado, ou melhor, até o início da noite.
Eu decidi questionar Deus e fui a uma igreja para procurar uma válvula de escape.
Estou desesperado por esta situação.
Ver meus filhos tristes por eu estar triste foi como uma apunhalada nas costas…
Cheguei no local de reunião e o Pastor leu Mateus 11:28.
Eu queria morrer porque não tem nada que faça esta dor que está no meu peito passar.
Eu quero morrer porque não compensa viver assim…
Estou sofrendo demais…
Muito mais do que qualquer homem pecador possa suportar e não sinto o refrigério na alma. Minha alma está adoecida e carente do amor de Deus, do perdão.
Minha ex-esposa é uma pessoa altiva. É uma mulher alta que lembra bem aquela modelo Gisele B. É uma mulher de grande atrativos físicos. Filha de alemães, nascida em berço de ouro, era cortejada por todos os jovens da igreja nos tempos de juventude. Tem traços fortes, tanto de personalidade quando dos anos que deixaram suas marcas. Sorri pouco, mas sempre tem na boca um versículo apropriado para qualquer situação. Soube criar, nas minhas ausências, todos os filhos dentro do evangelho. Ela é exemplo a ser seguido. Na lida doméstica, sempre foi uma mulher submissa sem ser subserviente. Ela sabe se produzir e sabe vestir-se bem. Tem uma voz pausada num tom baixo, não suave, mas baixo. Participa ativamente dos trabalhos da igreja.
Ontem seus olhos estavam com olheiras debaixo da maquiagem. Estavam vermelhos e ficaram mais quando disse que não queria tocar piano nem violão.
Não era o momento…
Ela tem dedos finos como os meus e ainda usa aliança de casamento. Mudou o corte de cabelo e os tornou tão curtos que dá para se ver a nuca. Cortou as unhas e usou um colar que a dei no primeiro ano de casado.
Com o passar dos anos sempre permanecíamos silêncio quando estávamos sozinhos.
Ela percebia que nosso casamento não ia bem e restringia-se às orações e aos jejuns.
Usou de alguns artifícios de mulher para tentar reconquistar-me. Permitiu-se tentar o jogo de sedução para apimentar a relação…mas já não existia o amor dos amantes.
Já não mais havia o amor Eros.
Eu já não observava mais suas formas e, independente da idade, sei que ela ainda é objeto de olhares masculinos com muita evidência. Beleza física por beleza física ela tem mais atrativos do que minha “namorada”. Muitos mais… Seus lábios são finos e o olhar, sempre penetrante, faz o meu peito doer por uma coisa que nem sei se sou realmente culpado…
Detenho por ela um carinho ímpar.
Eu gostaria de sentir por ela o que sinto pela outra. Dez por cento faria com que eu me dispusesse a tentar novamente… mas “amar sem ter amor é pior do que se enterrar vivo. É enganar a própria alma”.
Olhar meus filhos me fez lembrar de tempos bons. A filha mais velha tem o jeito da mãe: centrada, com personalidade forte e olhar penetrante. O menino, sempre muito bonito, esboça um corpo que retrata bem a geração saúde. A caçulinha, minha doce flor, meus cachinhos dourados, minha florzinha de abacate, com o seu doce beijo me torna criança de novo e faz meus dias ficarem com mais brilho.
Está era a minha família, meus filhos, minha mulher ou ex-mulher, sei lá.
A dor continua e não sai da barriga nem do peito. É a angustia que me sufoca. Agora eu consigo entender a dor dos suicidas e os motivos que levam o homem a permanecer no limite da razão e da esquizofrenia, da moralidade e da loucura, do momento em que tem que dizer basta.
Estar sozinho, rodeado de pessoas é pior do que morrer por falta de ar.
Isto!
Tem faltado ar para eu respirar.
Onde está Deus nisto tudo?
Observando?
Permitindo que eu, como filho, passe por este longo calvário que eu mesmo construí?
E é este Deus que tenho procurado e não tem me respondido…a quem recorro para alívio, um alívio que não vem…viu Pastor?
Eu não sei o que tem me levado a escrever para você. O que tem me impulsionado a me despir-se desta maneira. Estou doente da alma, do coração. Estou a ponto de explodir sem ver uma saída no final do túnel. Qual é o motivo ou o propósito que o Criador tem nisto tudo? Eu não sei responder, não consigo encontrar respostas.
Você, que já passou por isto deve entender exatamente o que tenho passado, por outro prisma, mas consegue captar tudo. Você é um homem a quem eu confio, prudente e profeta de Deus, não é imbecil como tantos pastores que procurei.
Eu queria poder cantar aquele corinho e acreditar em sua letra…
“Jesus Cristo mudou meu viver…
Jesus Cristo mudou meu viver…
Ele é a luz que ilumina o meu ser
Sim Jesus Cristo mudou…
Meu viver…
Diferente hoje é o meu coração…”
Se lembra?
Onde está isto tudo?
Porque pensamentos ruins, muito ruins, que não quero escrever andam povoando minha mente e coração. Eu não consigo entender.
Desculpe amigo por torná-lo a extensão do meu eu interior, do meu lado limpo da página.
Você é dez por estar sempre aí.
Fica na sua paz…
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Resposta às Duas Cartas:
Meu amado amigo: infelizmente não tenho muito o que dizer…e se tivesse, não diria. Tenho muito a orar e a crer que tudo isto cooperará para o bem de todos os que sinceramente amam a Deus!
Disso eu sei…isto eu vivi…e é desta fé que viverei!
O seu problema é culpa!
Culpa de não amar com amor de homem aquela que lhe deu filhos.
Culpa por não dar à mulher que deseja continuar a tê-lo como marido, o mínimo que ela pede. É a culpa de quem se sente incapaz de dar até as migalhas!
Culpa por não ter bancado seu amor como pai acima de sua falta de amor como marido. Culpa por não ter ficado ao lado da mulher que seus amados filhos amam como mãe.
Culpa de ter deixado uma mulher por uma outra bem mais jovem.
Culpa por não usufruir o amor de sua esposa, que a seus olhos, é superior em beleza, profundidade e experiência, à própria mulher por quem você veio a se apaixonar.
Culpa pela mulher que você ama com Eros…por não ter deixado de amar a mãe de seus filhos com amor fraterno.
Culpa de não se permitir felicidade com a mulher de seus amores pelas lembranças doloridas de seus outros amores: paternal (filhos) e fraternal (ex-esposa).
Culpa pela própria alegria…pois a cada batida dela em seu coração sua alma sente que está traindo a dor de seus filhos e ex-esposa.
Culpa por não ter se apaixonado pelo amor obvio—o de sua ex-esposa—e não conseguir deixar de amar o amor absurdo, de sua paixão.
Culpa por saber que o melhor cenário de sua felicidade como homem implicará num esfacelamento de seus vínculos mais preciosos…e com as pessoas que você mais ama.
Culpa de estar deprimido…quando deveria estar feliz e de estar feliz quando deveria estar deprimido.
Culpa por achar que todos os males que poderão vir a acometer a qualquer daqueles aos quais você ama…se acontecerem…seja em razão de sua atual de-cisão.
Culpa pela impossibilidade de dizer para a sua esposa: Meu amor…eu amo você com um amor diferente. Não sei ficar longe de vocês…mas não sei ficar perto…longe morro de saudades…perto sucumbo à culpa. Sofro de amores!
Culpa de ser tão ambíguo…de desejar a quem não desejaria desejar e de não desejar a quem você gostaria e precisaria desejar.
Culpa de que sua escolha jamais compense diante das perdas que certamente se instalarão: ninguém se divorcia e fica tudo igual…o melhor cenário (não sem uma horrível estação de dor—como você que não é cínico já percebeu!)…é que com o tempo tudo fique bom e gracioso…mas saiba: jamais será igual!
Se você deseja que fique igual…não se separe.
Se ser igual como “conjunto” é melhor que não ser igual—de você para a mãe de seus filhos—então, fique em casa.
Mas lembre, sua declaração acerca do poder que “esse amor proibido, anormal” tem sobre você, pode estar falando não de amor, mas é o amor dando nome uma outra pulsão…mais básica e mais instintual.
Louvo a Deus pela sua depressão.
Para mim seria muito estranho se um homem como você passasse por isto sem dor e sem luto.
O que você tem que decidir é se fica com o igual…que tem tantas coisas preciosas e boas…ou se parte para o diferente…não pela diferença, mas pelo amor, se for verdadeiro, e não apenas um abscesso de desejos!
Em qualquer dos casos…você ainda vai sofrer muito.
Divorcio fácil só para fariseus…como era nos dias de Jesus!
(Leia em De Outros…um artigo sobre divorcio e novo casamento)
O que você também tem que decidir é se sentirá a culpa de amar ou amará sem culpa…definindo cada amor pela sua própria qualidade.
A culpa de não dar ao outro—que você também ama—a qualidade do amor que ela demanda…é esmagadora!
Divórcio deve ser sempre a última decisão…e apenas se o coração não encontrou, honestamente, dentro de si mesmo, a reciprocidade de sentimentos em relação a quem já está ao nosso lado.
Você mesmo sabe que a mãe de seus filhos não desejará que você fique só pelas crianças.
Ela quer você como ela quer você…e não como você pode ser dar…o que no nível conjugal, é tão pouco…ou nada…se seu coração não estiver com ela por inteiro.
Minha sugestão é que você peça um tempo para se arrumar…
Numa hora dessas a gente pode fazer coisas piores…apenas em razão da pressão da dignidade culposa e da bondade endividada—e, na maioria das vezes, as de-cisões que daí procedem podem gerar mais dor ainda…
Quanto a Deus…eu lhe digo…com toda certeza:
Ele ama vocês todos e sabe que o filho que você é…é apenas humano…e não um cínico sem coração.
Por último, aconteça o que acontecer há três coisas que você tem que fazer:
1. Deixar mais que claro para a mãe de seus filhos…por palavra e por obras…que na hipótese de se configurar definitivamente a separação conjugal isto nunca implicará na dissolvência de sua amizade e de seu compromisso para com a vida dela…para o resto da vida…obviamente na medida em que ela precisar e desejar.
2. Deixar claro para os seus filhos que eles não têm culpa por você não amar o obvio—a linda e maravilhosa mãe deles! E você deve buscar fazê-los sentir—por palavras e obras—que nada poderá separar vocês do amor de Deus e nem uns dos outros. Pode-se divorciar do vínculo conjugal, mas de filhos e daquela que os gerou, jamais haverá divorcio do vínculo de amor.
3. Não se case agora sob hipótese alguma. Poderão acontecer duas coisas: ou a moça será o centro de convergência de suas dores…e o amor dela cairá doente; ou pode ser que você descubra que a atual paixão tenha sido apenas um elemento “catalístico” a fim de gerar a inexcusabilidade inconsciente da razão da separação. E em ambos os casos vocês não conseguirão ficar juntos. Portanto, calma…ore e pense muito bem…nada de alianças apressadas!
Essa é a desgraça!
Há muitas formas de amar!
E nem sempre a semente que nasceu na gente dá o mesmo fruto de qualidade de amor daquele que nasceu no coração do outro que ama a gente também.
Assim, um sofre pelo amor que tem…mas que não é igual. Já o outro sofre o sentimento de desprezo por não ter sido capaz de produzir no outro um sentir equivalente.
Acalme o coração e não julgue que a vida acabou.
Nunca mais será igual. Mas dependendo de como você responda até mesmo à sua impotência de amor, pode ainda ser muito bom.
Se houver sinceridade e dignidade…tudo contribuirá para o bem.
E mais: quando o que acontece se baseia em verdade…depois de um tempo até “aquela” que agora se sente desprezada…acolherá a verdade como cura e libertação.
O caminho, todavia, queima a roupa da alma com as chamas das mais indizíveis agonias e deixa cicatrizes que nos lembrarão sempre que o Hoje um dia já foi Ontem—e ambos, são a mesma coisa.
Que Deus conduza você pelo caminho da Graça.
Deixe Deus conduzir todo o processo.
Se subires aos céus, lá Ele estará.
Se fizeres a cama no mais profundo abismo, lá Ele estará também.
No Senhor que nos ama,
Caio
Ps: particularmente, não sei explicar, mas creio que se você “der um tempo” provavelmente descubra que ainda ama a sua esposa. Se um dia houve…sempre poderá haver outra vez. Quando nunca houve…jamais haverá!