POR QUÊ TENHO QUE AGÜENTAR ESPANCAMENTO?
—–Original Message—– From: Machado na Mulher? To: [email protected] Subject: Apanhei muito… Mensagem: Querido Pastor Caio Fabio, Sei que este site esta explodindo de e-mails e acessos; sei que você tem recebido milhares de cartas; mas gostaria de compartilhar minha experiência, porque creio que muitas pessoas vivem este drama. Me casei há 24 anos atrás com alguém por quem me apaixonei Profundamente, mas que não percebi que era doente e abusivo. Desde o inicio minha vida se tornou um inferno pelos ciúmes, desconfiança, maus tratos com agressões físicas, emocionais e psicológicas. Meu marido não era crente, mas eu amava o Senhor, e sempre procurei servi-Lo com todas as minhas forças. Por anos acreditei que meu marido se convenceria da minha fidelidade e do meu amor. Por anos orei desesperadamente pela conversão e mudança dele. Mas ele nunca se convenceu nem do meu amor, nem do amor de Deus. Com o passar dos anos e da minha intensa busca por uma saída para o meu desespero, e após ler muitos livros como “Mulheres que amam demais”; comecei a entender um pouco da desgraça que era minha vida. Meu pai, apesar de crente, era também muito abusivo, e só não agredia minha mãe fisicamente, mas de resto, ele a ofendia incessantemente com acusações infundadas. Comecei a entender que só a separação (ou a ameaça concreta dela) poderia gerar alguma mudança em meu marido. Com eu era líder da Escola Dominical numa igreja tradicional, tomava muito cuidado com minhas decisões. Durante todos estes anos, procurei o aconselhamento de apenas dois pastores, porque eu morria de vergonha e constrangimento. Eles ficaram muito compadecidos, mas me disseram que a Bíblia era clara: separação só por adultério. Também me deixaram claro, que eu deveria ficar sozinha pelo resto da vida, se não quisesse viver “em adulterio”. Lideres e irmãos queridos me desafiavam com a seguinte pergunta: você não crê que Deus pode salvar e mudar seu marido? Então ore, confie e espere! Há 3 anos atrás mudei para outro país e então comecei a freqüentar um grupo onde uma psicóloga da minha igreja aconselhava pessoas com problemas como eu. Pela primeira vez ouvi explicações sobre o divórcio que faziam sentido e com bases contextuais (exatamente a mesma explicação que você deu sobre o assunto). Finalmente, apos 24 anos de sofrimento, tive coragem para me separar e estou me recuperando de anos de depressão, ataques de pânico, ansiedade e insônia. Mas tenho uma pergunta: porque os pastores e lideres não tratam do problema do abuso contra as mulheres e crianças nas igrejas ? Vejo que isto e extremamente comum e parece “fazer parte” do casamento nas famílias brasileiras. A sociedade não protege a mulher, vide o vexame e o risco que significam denunciar na policia um marido agressor no Brasil, mas a igreja também faz vistas grossas a isto? O que você diria sobre isto ? De resto, continue a fazer este trabalho lindo e que sei que está ajudando e inspirando a uma imensidão de pessoas. No amor de Jesus, ___________________________________________________________ Resposta: Minha querida amiga em Cristo: Graça e Paz! Sua carta é a mensagem. Ela é a sua vida. Quem poderá negar sua vida, seu amor, sua dor, sua quase-morte? Você fez o que tinha que fazer! Minha resposta aos pastores—de acordo com sua pergunta—vai não apenas para eles, mas para todos os “homens”. Sabe por que os pastores dizem o que dizem? Sabe por que aconselham uma mulher a ficar entrando no cacete a vida toda? Sabe por que só enxergam no adultério a razão para o divórcio? Sabe por que não consideram “abusos” coisa muito importante? A resposta é simples: Porque somos nós, os homens, que praticamos esses abusos! Queria ver se fosse diferente! Se as mulheres é que baixassem o cacete! Logo, logo, todo mundo iria entender de outro modo! E o que dizer das mulheres que dão o mesmo conselho a uma amiga, que os homens também dão? Bem, há duas opções: a) apanham também, e não têm coragem pra enfrentar, e, por isso, não querem apanhar sozinhas—então dizem para você ficar toda humilhada, roxa, deprimida, estuprada pelo marido, apenas por que esse é o caso delas. b) não apanham, e não sabem o inferno que é. Aprendi vivendo que as duas coisas que fazem mais mal no aconselhamento são as seguintes: 1. A felicidade dos que nunca sofreram. Esses são um inferno. Fazem da Graça que os poupou de dores uma regra para os infelizes. Seus filhos e netos ensinaram a eles o significado da misericórdia. 2. A infelicidade dos covardes. Esses não querem sofrer sozinhos. Então, buscam solidariedade não para sair da miséria, mas para viver nela. Quanto ao mais, Paulo não poderia ter sido mais claro: como sabes ó mulher se converterás o teu marido? Eles dizem: Espere, confie. Paulo diz: Você não sabe, por isso, se puder, fique livre da escravidão. Deus nos chamou para uma vida de paz. Vejo e ouço o suficiente para saber que os homens não agüentam nem mesmo a mínima frieza vinda de suas esposas; quanto mais espaçamento!? Se eu encontrar um “conselheiro” desses—não digo os compassivos, que dizem o que dizem ou porque não têm coragem de dizer a verdade; ou porque a ignoram—, a primeira coisa que farei é “dar um mata-leão” neles. Quero ver se sufocados, respirarão bem para dar o conselho? Quero ver se sob pancada eles mantêm a devoção? Pimenta nos olhos dos outros é refresco! Que bom que você está livre da tortura. Espero que ainda tenha calma para refazer a vida. Com Cristo nosso casamento indissolúvel. Nada no separará Dele! Um beijão, Caio Escrita em 2003