Psicóloga querendo muito mais…

—–Original Message—– From: Psicóloga querendo muito mais… Sent: quinta-feira, 28 de agosto de 2003 14:17 To: [email protected] Subject: Como ser um cristão na atualidade? Pr. Caio Fábio, Fiquei extremamente feliz com o seu site. Desde a minha adolescência tive bastante familiaridade com a sua produção literária, e a minha percepção ao seu respeito não foi maculada pelas adversidades que passou. Eu sei quem eu sou, e também conheço de perto a Graça, misericórdia e amor do nosso Pai. Durante muitos anos da minha vida conheci um Cristianismo retórico e sem implicações para a minha vida cotidiana (sou psicóloga e professora universitária). Em alguns momentos tinha a nítida impressão que Jesus não era consubstanciado em atitudes práticas e que transmitissem graça e amor as pessoas, nos contextos nos quais eu estava inserida. Este processo transformou-me em uma espécie de tecnóloga do evangelho: conhecia a Bíblia, mas pouco do Seu amor e misericórdia… Nos últimos anos da minha caminha, porém, tem sido descortinado um outro cenário: a percepção e a compreensão de um Deus que está ávido por se relacionar. No entanto, sinto que eu queria ser mais coerente, mais amorosa; transmiti-lo mais nas universidades nas quais ensino; no trabalho que realizo com minhas orientadas… Em muitos instantes, tenho um entendimento que não consigo conciliar os meus horários, os meus afazeres, as minhas atividades. Quero ser mais autêntica, sendo um canal para manifestação da Graça do Senhor. Como eu posso capturar mais de Deus e da sua misericórdia para a minha vida? Com amor, admiração e respeito em Cristo, ***************************** Resposta: Minha querida amiga: Paz sobre sua alma! A questão não é “capturar”. A questão é não atrapalhar a “captura”. Deus é quem nos captura. Nós é que resistimos, mesmo quando o desejamos. E fazemos isso escondidos atrás de um monte de folhas de figueiras, que, para muitos intelectuais cristãos, aparecem com a aparência de sabedoria, e que se expressa com bela linguagem, porém vazia de vida. Cristianismo retórico, bíblico, educado, politicamente correto, e falado com linguagem psicológica, é um dos melhores disfarces para a experiência da não-experiência com Deus. Vejo alguns cristãos falarem e escreverem o tempo todo sobre aquilo e Aquele que conhecem ainda só de ler, mas seus olhos e sentidos ainda não se apropriaram pela fé. O conhecimento de Deus vem da Confiança. Nenhuma intimidade com Deus virá sem ser pelo caminho da Confiança. Confiança Nele, e amor carinhoso e cheio de Graça para com o próximo, são os melhores caminhos para a prática da fé que faz diferença primeiro em nós; depois nos outros. Se estiver afetando a gente, afetará os outros… No Brasil nós temos alguns tipos de intelectuais evangélicos. Temos os da espiritualidade. São os do silencia meio monástico. Gente boa se você não precisar nunca deles! Temos os da Teologia Integral. Uns poucos integram. A maioria fala de integralidade da fé, mas ainda não conseguiu nem mesmo integrar as coisas mais básicas para si mesmos. Temos os abertos, e sofisticados. Mas são uma confraria bem fechada. Portanto, não são abertos. Apenas se sentem assim, pois acham-se mais abertos que os legalistas. Mas eles mesmos são legalistas, só que escondidos atrás do “aberto e sofisticado”. Temos os misericordiosos à distancia. São os que falam muito em amor, mas se você precisar deles, receberá apenas palavras de amor. Temos os da linha psicológica. A maioria está precisando urgentemente de tratamento. Temos os da linha sociológica. A maioria esqueceu a fé, e vive de estudar o fenômeno histórico enquanto produto da intervenção da fé no tecido social. Interessante, mas profundamente masturbante. Temos os atualizados. Sabem todos os últimos lançamentos. São seres enciclopédicos. Mas sofrem daquilo que eu chama de “mal da cultura inútil”. Temos os conservadores cultos. São os que estudam o passado apenas para garantir que não haja mudanças no presente. Enfim… Tudo isto não leva a lugar nenhum! Mas também temos alguns com intelecto, e, esses, por isso mesmo, não se sentem “intelectuais”, mas apenas gente que recebeu a Graça de discernir. Esses estão libertos de tudo mais, embora tornem-se cada dia mais cativos da liberdade para a qual Cristo os conquistou. Tenho muito mais comunhão com esse último reduzidíssimo grupo de irmãos! Espero que você liberte seu coração de toda essa “carga evangélica”, e que experimente a alegria de ser uma cristã, cheia da Graça de Deus, e que se dedica ao serviço da alma humana, como culto a Deus. Seu sacramento mais freqüente é a psique. Que coisa maravilha! Banqueteie-se nas festas da alma. Chore os lutos dos nunca funerais da alma. E simplesmente vá em fé, com o peito aberto, e muita misericórdia no coração. Ah! Não esqueça: faça tudo isso com alegria e liberdade! Nele, Caio