QUANDO AS PROFECIAS FAZEM MAL E ATÉ MATAM

—–Original Message—–
From: GANHEI E PERDI MINHA FILHA POR CAUSA DE PROFECIAS
Sent: quarta-feira, 17 de dezembro de 2003 12:02
To: [email protected]
Subject: LAURINHA MORREU…

Mensagem:

Querido Pastor Caio:

Meu maior desejo era ser mãe, embora a medicina afirmasse que isso seria impossível.


Não menstruava e a cada dia esse desejo foi diminuindo…

Já estava conformada.


Um dia, visitando uma igreja evangélica, o preletor “profetizou” dizendo que Deus me daria uma filha.


Contou minha vida toda em questão de segundos, apesar da vergonha de ver minha vida exposta, a alegria superou…


Saí flutuando, e com a certeza de que Jesus se preocupava comigo.


Resumindo: engravidei e minha filha nasceu linda e saudável.


Um dia estava na casa de um Bispo daqui de minha cidade, e uma das convidadas daquela reunião, olhando para minha filha disse:


“Quem é a mãe dessa menina?”


Eu me identifiquei, e ela continuou…


“Deus levará sua filha, ela não é desse mundo”.


Eu fiquei indignada. Falei que meu Deus não era sádico, argumentei e falei da bondade Dele, e afirmei que meu Deus era diferente do dela.


O clima ficou ruim, constrangedor….


Fui pra casa revoltada. Contei pra todos o ocorrido, e redobrei a atenção a minha Laurinha.


Falei pra babá tomar todos cuidados necessários; a proibi de sair com meus irmãos, os tios. Falei com a diretora da escola pra tomar cuidado quando ela estivesse no parquinho; falei com a professora do ballet, da natação…


E toda noite, ao dormir, orava com imposições de mãos pedindo a Deus pra livrar minha filha.


No dia 04/06/03 fui ao shopping pra ela escolher o presente do dia das crianças.
Subitamente ela começou a sentir calafrios, febre.


Corri pro melhor hospital da cidade e chegando lá ela começou a vomitar…colocaram-na no soro; e no dia seguinte ela morreu.


Estou em depressão profunda. Minha dor oscila tremendamente forte a insuportável.


As pessoas, querendo me confortar, só falam do Grande Dia da Partida.
Acontece que eu não queria que Laura partisse, por mais que me digam das delícias do céu.


Ela era o centro em torno do qual aconteciam meus gestos e sentimentos.
Agora que gestos fazer?


Me recuso a aceitar o nunca mais.


Gostaria de um comentário seu. Abraços.

Lian

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Resposta:

 


Minha amada irmã: Que o amor de Deus abrace a sua alma!

Li sua carta com coração de pai. Tenho quatro filhos, e uma neta. E, por mais que me esforce, ainda assim minha viagem solidária esbarra no fato de que tenho quatro filhos e uma neta.

Você tinha apenas a Laurinha.

E, não apenas em razão do modo tão incomum como ela veio, mas imagino a sua dor pelo modo como você disse que organizou a sua existência em torno dela.

Não há o que dizer!

O que poderia eu lhe falar?

Meu Deus! Posso apenas chorar com você, e ficar em silêncio ante a sua dor!

Explicações? Não, minha amada, não as tenho para dar!

Posso apenas lamentar o modo como tudo aconteceu, desde o início.

E nesses comentários não há juízos—Deus me livre! Há apenas considerações acerca do modo como tudo isso foi conduzido.

Todavia, o que vou dizer, entenda, tem apenas a ver com meu modo humano e limitado de enxergar as coisas. Além disso, falarei tão-somente como um ser humano que teria tratado tudo de um modo completamente diferente.

Eis minhas considerações:

1. Eu creio que o Espírito de Deus não tira a roupa das pessoas em público. O anjo Gabriel não visitou Maria numa praça pública, e nem a Isabel numa ala feminina de nenhuma sinagoga judaica. Ana, mulher de Elcana, e mãe de Samuel, também estava sozinha no Tabernáculo. Quando olho para o modo de Jesus tratar as coisas, também não o vejo fazendo esses “shows de profecia” pública. Ao contrário, Ele pediu muitas vezes que não o “expusessem à publicidade”, e algumas vezes curou e solicitou que ninguém ficasse sabendo. Ora, o fato de “sua vida ter sido toda exposta” já no nascedouro da “profecia”, me deixou extremamente constrangido, antes mesmo de saber qual seria o desfecho da situação.


2. Creio em profecia, mas não creio na maioria das profecias que ouço. Aprendi nesses trinta anos de ministério a fazer diferença entre as coisas. Deus é discreto. “Pelo mar foi o Seu caminho, porém não se acham os Seus vestígios”, nos diz o salmo 77. O que percebo é que há muita “profecia” que não passa de pré-faccia; há também aquelas que são apenas “exercícios estatísticos” que o matemático Oswald de Souza poderia também fazer. Alem disso, há também muita “paranormalidade que é entendida como profecia” no meio cristão.

3. Deixe-me começar do fim. Quando eu disse que há muita paranormalidade que é confundida com profecia, eu estou me referindo ao seguinte fato científico: o cérebro é uma máquina, com todos os requintes de um instrumento de processamento e emissão de mensagens. Conheço inúmeras pessoas que têm o poder de ler tais emissões energéticas, assim como qualquer decodificador lê sinais eletro-eletrônicos. Daí, quando isto acontece, haver o “descobrimento” do que está oculto na mente, mas nem sempre a palavra que se segue faz-se acompanhar da Palavra de Deus. Há pessoas que são capazes de dizer o que você tem escondido—e sabem isto não porque receberam uma “revelação de Deus”, mas apenas porque são dotadas da possibilidade de lerem, até inconscientemente, as emissões que procedem da mente-cérebro dos outros. E quando o ambiente é o da crença, então tudo vira “coisa de Deus”. E já vi inúmeras tragédias acontecerem em razão disso. Eu mesmo, no âmbito de minha família, já vi um ente querido ser extremamente prejudicado por uma “profecia” dessas, que nada mais era que um “dom paranormal” de um irmão bem intencionado. Eu teria dezenas de histórias para contar.

4. No caso dos exercícios estatísticos, eu diria que a maioria das profecias se derivam daí. São aquelas generalidades que são usadas a fim de se estimular os incautos. Vê-se uma mala pronta para viagem…Um varão chegando para uma menina solteira…Um chamado ministerial para um garoto que não sai da igreja…Um grande futuro para alguém que fala bem…Muita tristeza para a pessoa mais amargurada do ambiente…etc. 

5. No caso da pré-faccia, refiro-me ao seguinte:

5.1. Entrega-se uma “profecia” a alguém e se diz o que vai acontecer. E a mente se encarrega de fazer acontecer, para o bem e para o mal.

5.2. Muitas “pré-faccias” são sugestões, e há aqueles que ficam sugestionados pelo que ouvem. É a tal da “profecia-auto-realizada”. Dá-se um “script” e a pessoa viva para realizar aquilo, consciente ou inconscientemente. Pessoalmente eu creio que o que aconteceu a você e à Laurinha passa por aí.

5.3. Como a Laurinha foi “gestada” numa profecia, a sua mente de mãe estava mais que “sugestionada” a levar qualquer profecia que disse respeito a ela muito mais a sério—a coisa tomou os contornos da maldição inevitável.

5.4. O chocante disso tudo é que a “profetisa” deu-se ao trabalho de dizer a você que a Laurinha morreria. Sinceramente, minha irmã, não consigo ver Deus agindo assim com nenhuma mãe. A nossa ignorância do futuro é pura Graça de Deus. Portanto, Deus me perdoe se eu estiver enganado, o que vejo é uma “pré-faccia”; ou seja: uma sugestão que gerou um espírito de medo, e que deflagrou um processo de morte.


5.5. O medo mata. Mata mesmo. Ninguém brinque com isso. Há pessoas que literalmente morrem de medo. Assim como há pessoas que matam com o medo.

5.6. O que você acha que acontece na Macumba ou nos cultos de maldição e ameaça?

5.7. Já vi pessoas viverem para realizar item por item de “pré-faccias” que lhes foram sugeridas; e, realizam-nas até ao fim. E pior: Deus não tem nada a ver com isto.

5.8. Se eu fosse “impressionável” já teria morrido umas cem vezes; e já teria perdido todos os meus filhos. Afinal, nunca me faltaram algumas profetadas desse tipo. Mas se eu fosse impressionável, minha própria mente amedrontada já teria realizado o cumprimento de algumas dessas falas da morte.


6. De fato, o que eu penso é que a Laurinha morreu de medo. Não importa qual tenha sido a causa da morte que se apresentou como diagnóstico observável, pois, de fato, foi a corrosão do medo aquilo que predispôs a bichinha a esse final.

7. Fiquei imaginando seu nervosismo materno, mais que natural, e ainda exacerbado pelas circunstâncias “proféticas” do nascimento dela. Todas aquelas providências e cuidados, toda aquela aflição, toda aquela vigilância contra a morte, todas aquelas tentativas de lutar contra o que era dado como “destino”. Deve ter sido um inferno.


8. Ora, se foi um inferno para você, por mais que você tenha tentando proteger a Laurinha da morte, no entanto, dificilmente conseguiria protegê-la do medo de morrer. Esses temores maternos, mesmo quando não confessados para a “pessoazinha” em questão, vazam como mensagens subliminares, e invadem o inconsciente. A Laurinha, por mais poupada que tenha sido por você, recebeu esses temores de todos os modos possíveis e imagináveis.


9. O que é alarmante é que a mente sabe matar o corpo. Doenças psicossomáticas são a prova inconteste de que isso acontece, gerando câncer ou qualquer outra doença, e também acontece deflagrando outros processos, igualmente mortais.

10. Sinceramente, não creio que Deus mandou dizer que levaria a sua filha. Ele não age assim. Ele estava em Cristo. Logo, Ele se parece com Jesus. Você pode ver Jesus chamando uma mãe e entregando a ela essa “palavra profética”? Posso ver um bruxo fazendo isso, não um profeta de Deus que esteja cheio de Graça. Aliás, mesmo que tal “revelação” tivesse vindo de Deus, ainda assim, um verdadeiro profeta não trataria a coisa assim: “Quem é a mãe dessa menina? … Deus levará sua filha, ela não é desse mundo”. Pelo amor de Deus! Assim? Pra mim não dá. Sinceramente, meu Deus não é frio, e jamais trataria uma mãe com essa “tranqüilidade”.

Concluindo, mesmo sabendo que agora isso é apenas uma consideração, digo que creio que a Laurinha morreu de medo.

Estou dizendo isso porque não posso deixar de me indignar com tanta profecia irresponsável. Infelizmente há até quem diga: “Viu? Não creu, mas Deus cumpriu a Sua Palavra”. Tais “profetas”, muitas vezes, sentem-se até bem quando “suas palavras não caem por terra…”

Só mesmo juntando esses caras pelo cabelo e levando todos eles ao ribeiro de Quizon, como fez Elias.

Fico delirante de raiva. Dói-me ver como a vida humana é tratada no meio evangélico do mesmo modo como é tratada na umbanda, na macumba ou na quimbanda.

Me dá nojo!

Sei que você escreveu buscando uma palavra amiga e não ouvir minha indignação com esses irresponsáveis.

A Bíblia diz que a boca —as palavras, a língua— carrega o poder da morte.

Tem gente que pensa que isso é coisa boba. Mas não é. Palavras podem matar!

Agora, minha amada, deixando de lado minhas considerações —se é que isto é possível—, gostaria de falar de você.

Sei que você não está em condições de ouvir e ler nada. Mas fica aqui meu desejo de lhe dizer apenas o seguinte: A Laurinha pode ter sido vítima do medo e da irresponsabilidade, mas não foi vítima de Deus.

Há cerca de 26 anos perdi um irmão, meu único irmão. Deram a trágica notícia a minha mãe de modo extremamente desastrado.

Ela subiu as escadas da casa perguntando: “Por que, Senhor?”

Abriu a Bíblia a esmo e leu: “Porque o justo é levado antes que venha o mal, e entra na paz”.

Neste sentido, minha amada irmã, eu já orei muito, e ainda oro, pedindo a Deus que leve todos os meus filhos—até de uma vez só—, mas que os livre do mal.

A morte já não mata mais. Ela separa a gente uns dos outros, porém, perdeu seu poder de fazer mal.

O mal já não está na morte. O mal está na existência, naquilo que a gente chama de vida.

Sei que apesar de toda falta de sabedoria e de graça nessa história toda, ainda assim, Deus estava livrando a Laurinha do mal.

E mais: talvez o que de pior pudesse acontecer à Laurinha fosse o excesso de seu amor materno. Você disse: “Ela era o centro em torno do qual aconteciam meus gestos e sentimentos”.

Sei que agora, para você, tudo é sem sentido. Há, todavia, uma coisa que faz mais mal que morrer. Sabe o que é? É ser o centro em torno do qual acontecem os gestos e sentimentos dos outros.

Minha querida, nada estraga tanto a alma de alguém quanto essa concentração de expectativas totais!

Sobre o Dia da Grande Partida, diga aos amados que se candidatem à corrida. Veja quem quer chegar primeiro lá.

O grande perigo agora é você mergulhar no cinismo e na descrença. Cuidado!

A Laurinha veio a esse mundo para lhe fazer bem, não para lhe tirar a fé.

Minha sugestão é que você procure uma igreja que não seja uma “indústria de profetas”. Conheço a sua igreja e esse “bispo” que está aí; e, honestamente, na minha opinião, ele é um trapalhão, sem recato, irresponsável, oportunista, e que conversa com Deus no telefone celular, e trata o anjo Gabriel pelo apelido de “Gabi” — sem falar que já pediu ao anjo Gabriel para não ligar para ele no celular na hora do culto.

Num lugar desses, me perdoe, não dá para esperar que coisas sadias aconteçam.

Conte meu carinho e minhas orações!

Me escreva contando os desdobramentos dessa trágica história.

Mas saiba: Deus vai mudar tudo isto, e lhe dará razão para viver!


Nele, que consola a todos os que choram,


Caio

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—–Original Message—–
From: MÃE CONSOLADA
Sent: terça-feira, 23 de dezembro de 2003 02:20
To: [email protected]
Subject: O calor da solidariedade ameniza o frio da dor

Mensagem:

Querido Caio:

O calor da solidariedade ameniza o frio da dor!

As abordagens da sua mensagem me trouxeram novas perspectivas contribuindo para nortear uma compreensão de que estou certa, mas que só se desnudará por completo nos céus.

Às vezes queremos dar sentido a uma argumentação descabida, talvez pela falta de maturidade; ou aceitar como profética uma ação gélida, servida com o cálice amargo da insensibilidade; e que é negar a mais bela faceta da personalidade de Deus – o amor.

Meu irmão de sangue teve uma atitude semelhante à de sua mãe. Quando saiu do hospital, e minha filha ainda estava lá, as palavras que estrondaram nos ouvidos dele foram: “Nenhum homem há que tenha domínio sobre o espírito, para reter o espírito; nem tem poder sobre o dia da morte; nem há armas nesta peleja.”

Por mais dolorosa que seja a admissão do dia da separação, ficou tentando me convencer que a hora dela foi chegada, como a hora de Jesus (Mateus 26:45).

Divergimos no comentário feito a respeito de excesso de amor materno. Não creio que meu amou vitimou minha filha como que a sufocasse.

O centro de atenção é capaz de propiciar os mais belos atos de afetos.

Se não estivéssemos no centro do amor de Deus, Ele não nos daria seu filho único para nos redimir.

O primeiro momento é de desespero e contrariedade; os sucedâneos me conduzem ao convencimento que tudo aconteceu “antes do mal”, e sua Carta contribuiu para acalmar meu coração inquieto.

Os que, andando em caminhos pedregosos, encontram alguém que lhes dê a mão, podem vencer.

Gostaria de agradecer com uma palavra só:

Seria preciso ter me tornado sábia, tão sábia que soubesse qual é a última palavra, aquela que permanece solitária depois que todas as outras se calaram.

Agradeço-lhe por ter partilhado da minha dor.

Seu comentário me ajudou muito. Não me senti só.

Compreenderam minha tristeza.

Obrigada querido Pastor Caio, que as bênçãos do Senhor continuem te perseguindo.

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Resposta:


 
Querida amiga no Senhor: Bem-aventurada seja a sua alma!


Seu amor de mãe não fez mal à sua filha.

Nenhuma mãe ficaria tranqüila diante de tamanha ostensividade profética.

Depois de ter sido um pai amante dos filhos por mais de 25 anos, hoje, dadas certas circunstâncias, estou aprendendo a mais dura de todas lições de amor paterno até hoje aprendida por mim: amar contra o instinto paterno!

Oh! Coisa difícil!

Meus filhos são hoje adultos.

Há um jeito de manifestar paternidade em cada fase da vida.

Com Deus é assim também.

A leitura da Bíblia nos mostra um Deus que cuida dos homens como que de crianças, mas vai dando a eles cada vez mais liberdade, e responsabilidade, a fim de se tornarem adultos.

A própria vida cristã é assim: há coisas que aconteciam de cuidados de Deus na nossa infância espiritual, e que vão sendo substituídas por Ele; por outras formas de amor, isso para que a gente cresça.

Sei que com o coração “bem-aventurado” que você tem haverá ainda coisas lindas de Deus na sua vida.

E lembre-se: Mais numerosos são os filhos da estéril do que a daquela que pode dar à luz — Palavra do Senhor!

Receba meu carinho, e meus votos de um Feliz e Consolador Natal!


Nele, em cujos braços nossos filhos estão — vivos ou mortos, pois para Ele todos vivem,


Caio