QUERO DEUS, MAS ESTOU COM TRAUMA DE RELIGIÃO



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From: QUERO DEUS, MAS ESTOU COM TRAUMA DE RELIGIÃO

Sent: quarta-feira, 24 de março de 2004 16:26

To: [email protected]

Subject: NÃO QUERO MAIS CAIR NO ESQUEMA DA RELIGIÃO

 

Oi Caio!

 

Há 10 anos atrás eu tive uma experiência real com Deus na minha casa; sempre fui uma pessoa de buscar, de ler…

 

Fazia terapia psicanalítica, mas a espiritualidade sempre esteve presente na minha vida, me classificavam de esotérica.

 

Eu senti a voz do Senhor dentro de mim quando me aproximava para praticar outro ritual diário de acender velas, incensos e outras coisas… Mas Ele mesmo me disse que eu não precisava de nada daquilo para ser feliz, que aquilo não adiantava nada.

 

Desde disso parei com os rituais e senti paz. Pouco tempo depois, eu conheci “por acaso”um cara que era também um pastor evangelista q estava intermediando a venda de algo que eu queria negociar. Começamos a conversar; então ele me convidou para assistir á uma reunião em que ele pregava, e eu aceitei na hora!

 

Era um grupo bem pentecostal; eu não estava acostumada, mas estava com muita fé em Deus.

 

Meu marido (namorado na época)me achou louca e não queria participar das reuniões. Mesmo assim persisti; sabia que era a porta que Deus tinha aberto.

 

Eu e meu marido éramos muito viciados em drogas e álcool (ele bem mais que eu); e eu já estava cansada; pois o que para mim começou como “uma social” estava virando uma rotina torturante.

 

Continuei por mais um tempo indo nas reuniões e o pessoal do grupo do pastor ia orar lá em casa várias vezes. Nesse tempo eu fui convidada por uma colega de escritório para visitar uma outra igreja (falou o nome).

 

Consegui convencer meu marido para ir comigo. Gostamos e ficamos lá, sendo pastoreados por um querido e amado ungido do Senhor que tinha sido dependente químico e estava trabalhando no ministério de libertação da igreja.

 

Enfrentamos muitas lutas ,mas valeu a pena!

 

O Senhor visitou tremendamente a nossa vida , começou a nos restaurar e depois de um tempo, consegui o meu divórcio—de meu primeiro casamento—e pudemos, então, nos casar na igreja.

 

Tava tudo indo bem, estávamos crescendo, estudando a Palavra, quando… (falou o quê) as coisas se desistabilizaram na igreja em termos de liderança; os pastores brigando…divisões…acabamos indo com um pastor mais humano entre eles…para a outra igreja que nasceu da divisão.

 

Escorregamos, caímos de novo nas drogas; um acidente de carro quase nos matou…mas o nosso pastor, sempre nos amparou, dando amor, e nunca nos acusando de nada. Então continuamos com ele; crescemos muito; ele abriu a igreja num outro bairro e lá fomos nós.

 

Começamos a nos envolver mais no ministério; e o Senhor começou a abrir meus olhos para a religiosidade impregnada á nossa volta; queriam nos colocar numa fôrma !!!

 

Os crentes (que palavrinha feia!) se incomodavam muito com o fato de apesar de eu trabalhar na obra, no louvor, intercessão, eu ainda fumava cigarro.

 

Nunca escondi do meu pastor; aliás, de ninguém; e ele nunca me condenou por isto; nem me impediu de trabalhar na igreja, fosse no louvor,intercessão ou em qualquer coisa.

 

Depois de um tempo fomos parar num acampamento de carnaval da igreja X (falou o nome) para levar minhas filhas; já que naquele ano não iria ter retiro na nossa igreja para jovens.

 

Pedimos permissão ao nosso pastor, e ele concordou. Só que ao chegarmos lá tudo era tão bom que resolvemos nos hospedar numa pousada próxima, e acompanhávamos as ministrações á noite.

 

Esse evento marcou as nossas vidas a tal ponto…as Palavras foram tão impactantes… que ao voltarmos pro Rio nos sentimos como um peixe fora d’água; ou pelo menos naquele aquário de nossa “igreja” já não dava para ficar.

 

Depois de 2 meses de oração, jejuns e aconselhamentos, resolvemos sair de fato, e entramos oficialmente na Igreja X.

 

Tudo eram flores. Muitos eventos, ministrações, viagens, estudos, nada de farisaísmo; pelo contrário, lá eles combatem a religiosidade diariamente.

 

AMO esse ministério!AMEI e AMO a igreja X!

 

Assim que eu entrei pra lá, parei de fumar! A pouca vontade que eu ainda tinha, foi indo embora cada vez mais.

 

Só que lá entramos no ativismo. Nos apaixonamos pela visão, nos envolvemos em vários ministérios …inclusive nos tornamos líderes de um grupo de ajuda aos usuários e dependentes químicos; enfrentávamos lutas, mas estávamos felizes. Íamos todos os dias a igreja; ativismo, ativismo…mas amávamos.

 

Éramos ministrados e ministrávamos, tudo muito intenso e profundo.

 

Um certo dia tivemos conhecimento de certos problemas envolvendo cheques, aluguéis, etc…mas não queríamos acreditar que pudesse ser verdade. Mas era. Soubemos e vimos muita coisa, e começamos a nos questionar…

 

Até que sofremos com a falta de posicionamento, coisas sérias… Então resolvemos sair.

 

Sofremos muito em todos os sentidos…estávamos sem chão.

 

Aprendi uma coisa: Quando você precisa se defender e se convencer pra não pirar de vez, fica mais fácil você enxergar só os defeitos …é uma forma de se justificar.

 

Desde então, apesar e por causa da crise, começamos a procurar uma igreja…

 

E como é difícil encontrar uma que não seja religiosa, farisaica; como é difícil encontrar amor!

 

Até que fomos na Igreja XY e ficamos.

 

Estamos lá há uns meses. Estamos freqüentando uma célula, estamos nos envolvendo aos poucos.

 

As meninas gostam do ambiente, do grupo de jovens e dos eventos. Lógico que aonde existirem humanos vão existir defeitos, eu sei.

 

Tem muitas coisas das quais eu gosto lá:o ministério feminino é valorizado, reconhecido e respeitado; o aspecto emocional do ser humano é considerado, não apenas o espiritual; e a família é priorizada.

 

Como estou lá há pouco tempo, ainda não tenho mais dados concretos, mas, me sinto bem.

 

Neste tempo em que saímos da Igreja X e procurávamos outra igreja, sofremos uma crise geral. Nós fomos ensinados e discipulados na Igreja X onde nos ensinaram que não tem problema nenhum fazer tatuagens, piercings, capoeira, ouvir música secular… e passamos isto para as meninas.

 

Muitas vezes ficamos em dúvida, e para não sermos permissivos, caímos no radicalismo.

 

Lá na Igreja nova, a XY, o sistema é de células, modelo G12. Tudo isto me parece muito bom, mas vejo alguns, principalmente jovens, ainda com resquícios de religiosidade, e como sempre tive e tenho você como referencial de sabedoria, sensatez e também sei que é sincero, resolvi pedir sua opinião.

 

Você conhece a XY? O que tem a me dizer de tudo que acabei de lhe contar? E sobre capoeira? Minha filha tá querendo fazer.

 

Aguardo sua resposta e já lhe agradeço.

 

Com carinho e fé,

____________________________________________________________

 

 

Resposta:

 

 

Minha querida amiga: Paz e Sabedoria!

 

 

Tudo aquilo em que existe barganha com Deus, é religião!

 

A gente pensa que religião é forma e rito. Mas não é. Pode ser, mas não necessariamente.

 

De fato, religião é conteúdo, não forma; embora toda religião se assuma como tal, o caminho seja de forma e fôrma.

 

Por exemplo, em toda a sua história de fé, a religião sempre esteve presente como religião. Mesmo na igreja acerca da qual você disse “EU AMO”—a igreja X—, o que não há lá é o legalismo das formas—de fato, em relação à forma, lá não há religião—; porém, há outras coisas: correntes, campanhas, mês do jejum, oferta da prosperidade, palavras mágicas, e muita falta de amor e misericórdia. Ali ama-se os que amam e obedecem a eles; e ama-se o diferente que pode ser arrebanhado; mas os demais irmãos são tratados com perversidade, tirania, domínio, arrogância e sem nenhuma misericórdia.

 

Digo isto porque conheço até as verruguinhas da intimidade daquela comunidade; desde antes deles serem quem se tornaram.

 

Se sua busca é um lugar cristão sem os pesos da religião, e sem barganhas com Deus, você deverá procurar não por formas, mas por atitudes e conteúdos da Graça. Onde a Graça entrou de verdade, não pode mais haver religião; mesmo que haja ritos.

 

Carisma sem caráter gera o tipo de “igreja” acerca da qual você disse “EU AMO”. Foi por essa razão que você teve que depois dizer: “QUE PENA QUE O DINHEIRO É DE FATO MANIPULADO LÁ DO JEITO QUE ELES QUEREM”.

 

Caráter sem Carisma gera aquele tipo de “igreja” onde tudo é certinho, porém a Lei esmaga os homens sem misericórdia. Não há roubo; mas também não há graça e misericórdia.

 

Para não falar do Café com Graça—onde não há religião mesmo—quero dar um testemunho de convívio paradoxal.

 

Como você sabe, eu também sou membro da Catedral Presbiteriana do Rio, e prego lá toda semana.

 

Ora, quem olha de fora, vê religião nas formas do lugar e do culto. Entretanto, aquele é um lugar sem barganhas com Deus. Ou seja: a cara é religiosa, mas o espírito não é; pois que o que define religião é o conteúdo; visto que a fé não tem nada a oferecer, senão a ela própria, e na Graça de Deus.

 

A religião, todavia, pode se disfarçar de Gospel, de Progressista, de Carismática Liberada, de qualquer coisa…porém, se houver alguma coisa tipo: “Faça isto e Deus fará por você”—e se a proposta envolver uma mecânica humana, ou se apelar para o dinheiro como prova da fé, já é religião.

 

Portanto, religião não é uma forma, é um espírito, e que se faz presente em todos os lugares onde a Graça de Jesus não reina soberana.

 

Assim, pode não haver legalismo de usos e costumes, mas se houver maldição hereditária, se houver quebra de maldições, se houver culto da prosperidade, se houver qualquer graça-de-hora-marcada; saiba, pode-se estar dançando, porém é religião.

 

O Caminho de Jesus não é religião, pois subverte o conceito tanto na forma como no conteúdo.

 

Em Jesus a forma é a vida. E o conteúdo é Verdade que é Jesus; e, Nele, a religião acaba como pretensão, visto que Ele é o mediador da Graça, e por Ele ninguém consegue nada de Deus via troca ou barganha, mas apenas mediante a fé. E mais: Nele ninguém “segue” para obter favores. O Favor é tê-Lo conhecido. O mais…Ele fará.

 

É assim a Vida Verdadeira no Caminho!

 

O que as pessoas não vêem é que onde há sistema, aí há religião…

 

É quase impossível evitar a religião. O que a gente pode fazer é não permitir que seu espírito no possua; pois, quando isto acontece, a gente vai virando estátua de sal.

 

Portanto, freqüente o lugar onde você tem ido; porém o faça de olhos bem abertos; e só digo isto a você porque creio no Espírito; pois se eu fosse olhar apenas para os líderes desse movimento—e que eu conheço desde o tempo em que ainda usavam calça curta—, eu diria que em pouco tempo você também terá seus sustos, especialmente se você chegar perto da liderança maior.

 

Enquanto isto, caminho com a consciência cativa do Evangelho. Não procure problemas e nem erros; se eles estiverem presentes, eles acharão você. Todavia, se está fazendo bem a seus filhos, fique; apenas explique a eles a diferença, a fim de que eles nem se contaminem e nem levem sustos.

 

Quanto às demais coisas, como capoeira, etc…tenho apenas a dizer que só não entro na capoeira hoje porque gosto mesmo é do Jui Jitsu; mas acho a capoeira uma dança linda, um balé africano maravilhoso, que deixou de ser luta, e passou a ser arte apenas.

 

Minha neta faz capoeira desde os dois anos de idade. Ela adora…e eu amo cantar: “Paranauê…Paranauê…Paraná…” enquanto ela dança pro vô.

 

Quanto ao mais, Aquele que guardou vocês até aqui, Ele mesmo vai mostrar o caminho no Caminho.

 

Nele,

 

 

Caio