Quero ser parte de uma Reformar:Como participar de “dentro”?

—–Original Message—– From: Quero ser parte de uma Reformar Sent: segunda-feira, 13 de outubro de 2003 07:55 To: [email protected] Subject: Como participar de “dentro”? Mensagem: Amigo Pastor Caio: Penso que ser amigo também pode ser estar juntos, embora distante, e mesmo sem conhecer. Admiro sua vida e o estilo de “graça” que desfruta. Há muito que venho acompanhando o pastoreio de alguém que longe tem me ensinado. Pastor, tenho 25 anos, sou solteiro e seminarista. Atuo como professor de adultos e de obreiros, no exercício do diaconato, e também atuo como co-pastor. Deve ter percebido que sou de uma igreja pentecostal, e estudo na presbiteriana. Tenho vivido grandes conflitos, e o maior deles é assistir “Grandes Homens”, que têm o titulo de Pastor, fazendo tudo o que o “catolicismo medieval” fazia e que nós, “protestante”, naquela época condenamos. Pergunto: Como ser uma voz profética em meios a tantas opiniões? Como posso ser instrumento para participar da reforma dentro do próprio protestantismo, sem me identificar? Como professor de obreiros, posso influenciar para conduzir obreiros a pensar? Pastor, desejo muito essas respostas. Sei de suas grandes tarefas, mas sei que o senhor ama o que faz, assim como eu amo estudar. Pastor Caio, sei que a graça de Deus tocou a sua vida, não sei como foi tocado, mas sei o que é isso, no entanto oro para que a igreja de Cristo no século 21 seja tocada pela graça divina; quem sabe assim essa atual geração torna a ser uma igreja pensante. Beijos no coração, ************************* Resposta: Meu querido amigo: Paz! Obrigado pelo seu carinho e confiança. E é por ver que você deseja saber o que vejo como importante é que serei prático e bastante objetivo. De fato, não quero que você se assuste, mas que você se “mobilize”. Não tenho esperança numa igreja pensante. A “igreja pensante” também é presunçosa, apenas pratica uma outra forma de preconceito: o preconceito contra os incultos. O que nós todos precisamos saber é que Jesus não criou nem uma “igreja pensante”, nem uma “sentimental”, nem tampouco uma “executiva”, etc… A Igreja de Deus é apenas uma igreja de gente, de pessoas, como as pessoas são. Portanto, a grande Reforma, é um desconstrução de toda forma e de seus paradigmas. A Igreja de Deus que é coluna e baluarte da verdade é um ente em permanente processo de transformação, e que é aberta para o Espírito, sendo levada por Ele. O problema é que o Espírito sopra onde quer, não sabemos nem de onde vem e nem para onde vai. E quem deseja ser levado pelo Espírito? Nós queremos Forma, Reforma, Instituições, Certezas, Estabilidades, Corpo de Doutrinas, Seguranças… A chamada “igreja pensante” é a mesma “igreja”, só que se disfarça sob a “elegância no falar”. Mas é tão fechada e obturada quanto qualquer outra. Somente o amor abre o coração! Se na Igreja houver “bandeira” ela já não é plena! A Igreja de Deus é um Corpo Vivo e que se deixa levar pelo vento do Espírito, conforme o Testemunho da Palavra, e sempre de acordo com o Modelo Encarnado: Cristo Jesus, de quem procedem todas as fontes da Vida. Bem, você diz: Mas o que de prático há nessa sua resposta? Ora, ser igreja é andar não “como” Jesus—eu pelo menos já desisti de que eu tenha essa capacidade faz tempo—, mas sim andar “após Jesus”. O convite não é para termos a pretensão de repeti-lo, nem a vaidade de imitá-lo. Imitá-lo, quase sempre, significa, na prática, imatá-lo. Usamos o nome de Jesus para praticar nossas doenças. Somos chamados para seguí-Lo, assim como o fizeram aqueles homens simples da Galiléia, e que estavam longe de qualquer perfeição, mas que se deixaram advertir, exortar, amar, instruir, repreender—até com um “arreda Satanás”—;e, sobretudo, se deixaram “conhecer”, conhecendo a si mesmos, mediante a fraqueza, a busca desmascarada de poder, a confissão de que gostariam de ser maiores que os outros, as bravatas de fidelidades não bancadas, de negações experimentadas como dor, de galos que anunciam com seu canto a contradição, e cordas estendidas em Alcedema mostrando que os “discípulos” também se deixam comprar e vender. O convite de Jesus é para a estrada, para a vida, para o caminho, para a incerteza, para deixar pai e mãe, para perder, a fim de ganhar. O grande sacrifício de “tomar a Cruz” é “seguí-Lo”. Seguir após Ele é que é a Cruz. A gente prefere inventar uma “Cruz”, qualquer coisa, qualquer outra renuncia, à desistência da liberdade. O que não queremos mesmo são as surpresas de andar “após” Ele, e de termos que nos descobrir como meninos em permanente estado de crescimento. Essa Igreja de Deus tem os que pensam, os que sentem, os que socorrem, os que curam, os que olham com misericórdia, os que exercem paciência, os sábios, os incultos cheios de amor—que é a verdadeira sapiência, conforme o Evangelho. Então, respondendo a sua pergunta—ou a elas todas—digo apenas uma coisa: O que nós precisamos é deixar de blábláblá e simplesmente “seguí-Lo”. Isso significa ter a coragem de pegar o Evangelho e fazer apenas duas reflexões: 1. Eu não consigo encarnar isso tudo—por isso é que Ele é o Verbo Encarnado. Mas estou aqui para aprender e crescer, e é nesse caminho que vou andar sem medo; afinal, Ele pagou o Eterno Pedágio, de tal modo que a Porta está aberta e o próprio Caminho me chama a andar Nele. Então, eu vou. 2. Dois mil anos se passaram, muita coisa aconteceu, mas o único Evangelho é o de Jesus, e o maior progresso que a fé pode fazer é chegar à Cruz e à Ressurreição, e discernir os seus benefícios, como foi o caso do irmão Paulo, que chegou um pouco depois, mas viu mais que todos os outros. Ou seja: temos que acabar com essa história de que a História nos afastou no tempo e no espaço do Evangelho. O Evangelho está acontecendo Hoje! Paulo está comigo no caminho, junto com Pedro, Tiago, João, Mateus, Tomé, Bartolomeu, Felipe, e até Judas Iscariotes. Essa é a consciência revolucionária. Mas quem a deseja? E não temos que ter “voz profética”. Temos que ter vidas proféticas. Mas quem o deseja? Outro dia li uma frase engraçada, num texto que me foi mandado, onde o articulista dizia que seu modelo de “profeta” era Martin Luther King. E disse: “esse era o profeta que eu queria”. Fiquei achando engraçado por duas razões: 1. Martin Luther King teve “casos extraconjugais”, e o próprio articulista só gosta dele porque ele está bem morto, pois, se estivesse vivo, e ministrando ao lado da “igreja” dele, ele diria: “Esse cara não é profeta coisa nenhuma”. Digo isto porque conheço o articulista, senti na pele quais sãos suas graças proféticas e como são “seletivas” as suas escolhas. Ou seja: continuamos como os filhos dos fariseus: construindo monumentos para aqueles que nossos pais apedrejaram. E, assim, tentamos nos justificar, sendo que não temos coragem de enxergar a profecia bem adiante de nós. 2. Quem pode decidir que tipo de profeta gosta? Quem decide o profeta é Deus. E não há na Bíblia nenhum que se “pareça” com o outro. Aquela lista de Hebreus 11 nos mostra seres diametralmente opostos entre si, e que se unem apenas por uma coisa: creram no mesmo Deus; e, em sua geração, obedeceram a Deus conforme puderam—incluindo um monte de erros humanos e pessoais. E nem mesmo aqueles seres humanos gostariam de ter estado nos papeis que tiveram. Foram escolhidos e foram gemendo falar o que falaram, e sabiam que não estavam ali para fazer discursos, mas para viver com as conseqüências da mensagem. E nenhum deles achou agradável o papel que desempenhou. O que passar disso, como falei a pouco, é apenas blábláblá, e apenas atrasa o processo, e serve de eterno álibi para deixarmos tudo como está. Chega de “vozes proféticas” pronunciadas como discursos. Se alguém ainda quiser usar o termo “profético”, faça-o com a vida, não com um discursinho supostamente “revolucionário”. A “igreja pensante” faz discursos revolucionários, mas não vive nada da revolução que apregoa. Tudo não passa de “profecia virtual”. São apenas gritinhos delirantes, mas que jamais se transformam em coragem para botar a cara para fora e ir à luta em nome do Deus que lhes falou—se lhes falou. Quem ouviu a voz de Deus não tem que se preocupar em ter voz profética. Basta dizer o que ouviu e pedir Graça para agüentar o tranco com fé. Então, meu amado, aceite o “envio de Jesus”, e vá. Temos tudo: a Palavra, o Espírito, a Mandato, a Autoridade, os Dons segundo a Graça, e tudo o mais. Por que, então esperar? Aqui neste site há material para você se esbaldar na Graça e para viver inúmeras provocações na Graça de Deus. Mergulhe nele. Tenho a convicção de que há algo mais sério acontecendo aqui do que as pessoas já se deram conta. Ah! Ia esquecendo: sobre sua questão de que os protestantes estão fazendo pior do que os “católicos medievais” faziam—ensejando a Reforma—quero dizer o seguinte: o maior sinal disso é a gente saber o que a palavra diz e, ainda assim, ficar esperando que alguma instituição nos dê a ordem para dizer o que já está dito. Isto sim, é total medievalização do protestantismo, e pura capitulação ao espírito que a Reforma um dia desejou combater. A tentação para ser sumo-sacerdote é mais forte que a gente imagina! Espero que você tenha entendido minha resposta e, mais ainda, espero que ela lhe seja útil. Um grande beijo, Caio