Solte a Panela!

Certa vez, um urso faminto perambulava pela floresta em busca de alimento. A época era de escassez, porém seu faro aguçado sentiu o cheiro de comida e o conduziu a um acampamento de caçadores. Ao chegar lá, o urso, percebendo que o acampamento estava vazio, foi até a fogueira, ardendo em brasas, e dela tirou um panelão de comida. Quando a tina já estava fora da fogueira, o urso a abraçou com toda a sua força e enfiou a cabeça dentro dela, devorando tudo. Enquanto abraçava a panela, começou a perceber algo lhe atingindo. Na verdade, era o calor da tina… Ele estava sendo queimado nas patas, no peito e por onde a panela encostava. O urso nunca tinha experimentado aquela sensação e, interpretou a queimadura no seu corpo como uma coisa que lhe queria tirar a comida. Começou a urrar muito alto. E quanto mais alto rugia, mais apertava a panela quente contra o seu imenso corpo. Quanto mais a tina quente lhe queimava, mais ele apertava contra o seu corpo e mais alto rugia. Quando os caçadores chegaram ao acampamento, encontraram o urso encostado a uma árvore próxima a fogueira, segurando a tina de comida. O urso tinha tantas queimaduras que o fizeram grudar na panela e, seu imenso corpo, mesmo morto, ainda mantinha a expressão de estar rugindo. Quando terminei de ouvir essa história, percebi que, em nossa vida, por muitas vezes, abraçamos certas coisas que julgamos ser importantes. Algumas delas nos fazem gemer de dor, nos queimam por fora e por dentro; e, mesmo assim, ainda as julgamos importantes. Temos medo de abandoná-las e esse medo nos coloca em uma situação de sofrimento, de desespero. Apertamos essas coisas contra nossos corações e terminamos derrotados por algo que tanto protegemos, acreditamos e defendemos. Para que tudo dê certo em sua vida, é necessário reconhecer, em certos momentos, que nem sempre o que parece salvação vai lhe dar condições de prosseguir. Tenha a coragem e a visão que o urso não teve. Tire do seu caminho tudo aquilo que faz seu coração arder. Solte a panela! Clara Bela *************************************************** Minha querida Clara: Obrigado pela mensagem-parábola que enviou. Mas tenho uma coisa pessoal a dizer: Sem arder, não dá! Não se pode é abraçar o que arde sem ser vida. Nesse caso: solte a panela! Mas não apague o fogo! Apenas aprenda a lidar com o que é “quente”. Fogo pode fazer mal a quem fica assustado. Mas para aquele que o conhece, não existe mais a chance de viver sem ele. Ursos não sabem como lidar com o fogo. Têm mesmo é que soltar a panela! Mas a história humana é a história também do fogo! Que faríamos sem fogo? Como comeríamos cozido, assado, tostado, torrado, ou em banho-maria? Além disso há as outras formas de alimento que necessitam também de fogo! Como amaríamos sem ardor? Como nos encantaríamos sem as chamas do amor? Como poderíamos, até mesmo com Deus, andar pelo caminho, e não sentir arder o coração? Temos mesmo que largar as panelas que nos queimam e não nos alimentam. Temos sim que deixar de lado aquilo que está nos matando! Quem dera o urso soubesse largar a panela quente, e comer a comida gostosa! Quem sabe, separa uma coisa da outra. Quem não sabe, perde ambas. Você não acha melhor aprender com os homens, do que com os ursos? Mas se há “morte na panela”, largue mesmo! Um beijão, Caio