SOU PSICÓLOGA E QUERO SABER MAIS SOBRE PECADO

—–Original Message—– From: SOU PSICÓLOGA E QUERO SABER MAIS SOBRE PECADO Sent: sexta-feira, 23 de janeiro de 2004 13:09 To: [email protected] Subject: Contato do Site : Confidencial Mensagem: Olá Pr. Caio, É um prazer imenso poder “falar” contigo. Te admiro muitíssimo, amo passear pelo teu site (o faço todos os dias), e ler especialmente os aconselhamentos e artigos que o vc escreve. É bom demais poder ter acesso a vc de alguma forma, esse site é excelente. Posso te dizer com toda certeza, que jamais conheci um cristão tão inteligente, claro, transparente no que diz e sem preconceito como você. E é exatamente isso que admiro, a tua capacidade de ser de Deus, sem ser “mascarado”, “santarrão” ou colocar “panos quentes” nas coisas. A capacidade que Deus te dá de compreender o comportamento humano é simplesmente o máximo. Sou psicóloga recém- formada, creio no Senhor Deus e congrego numa igreja há 10 anos. Nunca fui de fazer grandes loucuras, sempre fui uma pessoa bem tranqüila, e ultimamente, não sei se é pq a idade vem chegando, tenho procurado entender mais questões acerca do pecado e da graça. Vejo que vc fala muito sobre isso, já até iniciei a leitura de um artigo seu sobre graça e estou gostando muito, mas gostaria que você me falasse mais sobre pecado. O que é pecado? Como Deus vê o pecado? Como nós “míseros” pecadores devemos enxergar o pecado e lidar com ele? Como você pode ver, as dúvidas são muitas, e por diversas vezes tenho me sentido fraca, pequena e sem saber direito que rumo tomar. Tenho medo de decidir sobre coisas que me afastem de Deus e dos Seus planos p/ minha vida… Se vc puder me responder, pastor, faça isso. Vou ficar muito feliz!!! Um grande beijo, daqueles que temos vontade de dar nos grandes mestres. ____________________________________________________________ Resposta: Minha querida amiga em Cristo: Paz e Bem! Deixarei com você textos que estão aqui no site…sobre o tema. Apenas uns textos…pois aqui você os achará em abundância. Primeiro texto: Acerca do pecado: Quero alertar a igreja acerca de doutrinas que de tempos em tempos reaparecem entre os cristãos; são aquelas doutrinas que afirmam que o verdadeiro cristão nunca peca e se pecar é porque nunca nasceu de novo. Ora, tais doutrinas, além de não serem bíblicas, são também o que chamo de Mães da Hipocrisia. E por quê? Primeiro, porque em tais doutrinas tem-se um conceito muito limitado de pecado. Somente quem não conhece a santidade de Deus e a natureza humana é que pode afirmar tais doutrinas. Em tais perspectivas doutrinárias, se garante que o crente não peca porque para elas o conceito de pecado está limitado apenas à área do comportamento Moral sexual. Ora, em tais casos, se o irmão ou a irmã não adulteram e não se prostituem, então, não pecam! Todos nós sabemos que este era precisamente o princípio que governava a estreiteza do conceito de pecado dos fariseus. Jesus, no entanto, jamais acusou o “comportamento Moral” deles, mas o que eles tinham” “dentro de si”(Leia Mt. 23). De fato eu sofro quando vejo pessoas afirmarem que é possível a um crente viver sem pecar. Eu creio que a Bíblia ensina que possível viver sem a “cronificação” da prática do pecado. Isto porque do ponto de vista da palavra de Deus o conceito de pecado cobre um campo vastíssimo, e não apenas a área do comportamento Moral-sexual. Se não veja: a) Há o pecado onde se peca pôr omissão (Mt: 25: 41-46). E quem é que não deixa de fazer o bem? Você nunca deixa de fazer o bem? Pelo amor de Deus seja honesto! Leia Isaías 58.6-10 e me diga se você faz tudo aquilo que Deus diz que espera que você não deixe de fazer. b) Há o pecado onde se peca pôr motivação: Neste ponto aparecem todas aquelas coisas que “brotam de dentro do coração e contaminam o homem: maus desígnios (você nunca pensa mal de ninguém?), a prostituição (nunca passam pensamento impuro na sua mente? Ou será que nem de “brincadeira” você nunca sentiu “inveja” dos tempos bíblicos nos quais não era um problema “Moral” um homem ter mais de uma mulher?), os furtos (e aqui nós vamos do furto clássico até o furto de mensagens: eu falo de furtos como aqueles que até os melhores pastores praticam quando roubam sermão dos outros sem citar a fonte, quando pregam idéias de outros sem mencionar onde as ouviram e induzem o povo a pensar que eles “descobriram” tal coisa), os homicídios (que é o sentimento que alguns vão ter em relação a mim e a este livro, apenas porque estou tirando as roupas de suas hipocrisias em público; Mt. 5.21-26), os adultérios (que são antes de tudo motivacionais; Mt. 5.27-28), a avareza (que está presente no coração da maioria dos crentes de posses que eu conheço), as malícias (aqui então nem se fala), o dolo (ou segunda intenção nas ações), a lascívia (que é o apetite sexual pelo próximo, e que devaneia nessa “viagem mental), a blasfêmia (que começa no espírito de murmuração, passa pelas doutrinas erradas e pode chegar ao cúmulo de afrontar a Deus), a soberba (que é o que habita em maior ou menor grau todos os corações humanos, especialmente o dos lideres religiosos), a loucura (que aqui não é doença mental, mas a presunção de pensar de si além do que se deve). “Ora, todos estes males vêm de dentro e contaminam o homem”. É interessantíssimo que Jesus ponha todos os males dentro da mesma fonte (o coração), e aumente muito a extensão do pecado que nasce da motivação: vem de dentro e vai do desejo maligno à morte do próximo. Nesta lista temos as motivações sexualmente impuras bem como há pecados do pensamento, da língua, do mau uso do dinheiro, da “esperteza”, da inveja e outros males que só Deus conhece. Quem pode dizer diante de Deus que está “acima” destes dramas da carne, da alma e do espírito? c) Há os pecados que se peca pôr comissão: Ora, tais pecados são tão violentamente fortes e profundos que Isaías sabia que ninguém escapa deles: são os pecados que se peca pôr se fazer parte da engrenagem da injustiça no mundo: “Ai de mim! Estou perdido! porque sou homem de lábios impuros, habito no meio dum povo de impuros lábios, e os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos” (Is. 6.5) No entanto, a fim de que se saiba da existência de tal pecado, nossos olhos têm que ter visto o Santo. Aqueles que nunca ficaram cara a cara com a Santidade dAquele que é Santo, Santo, Santo, é que ousam pensar que não pecam também pôr comissão. É também pôr causa de tal percepção que Daniel e Neemias confessam os pecados deles e os do povo( Ne. 1.7; Dn. 9.5 ). Ora, neste sentido, a própria doutrina da chamada Quebra de Maldições, implica, como “princípio”, na idéia do pecado pôr comissão: o pecado de outros pode cair sobre os descendentes. Ou seja: muitas vezes os descendentes experimentam os “efeitos e conseqüências históricas” naturais dos erros de seus antepassados. Mas não há um carma inquebrável nisto. d) Há os pecados que se peca pôr ação: Aqui neste ponto a Bíblia é tão farta que eu me sinto no direito de não precisar justificar a minha afirmação. O que se precisa é apenas “esticar” a noção de tal pecado. Ora, no meio cristão têm-se relacionado tais pecados apenas à área sexual. E é pôr esta razão que nós temos empresários que não vão para a cama com suas secretárias mas que fazem da sonegação o grande negócio de suas empresas e que exploram os seus empregados sem nenhuma convicção de pecado. É também pela mesma razão que há lideres religiosos pregando que não pecam (porque nunca cometeram adultério na prática), enquanto “derrubam” um colega através de “manobras piedosas” cuja malícia, às vezes, não se encontra nem entre os políticos ateus. Aqui devemos incluir aquilo que a Bíblia chama de pecados da acepção de pessoas. E deste pecado nenhum de nós se livra. Quem de um modo ou de outro não faz acepção entre pessoa e pessoa, entre ser humano e ser humano, entre um grande líder e um outro que preside algo muito mais inexpressivo? ( Tg. 2.1-13). e)Há pecados que se peca com a língua: Quando se chega a esta dimensão do pecado aí então é que ninguém fica de pé. Eu jamais conheci uma única pessoa que não tenha pecado e que, eventualmente, não peque com a língua. É um “comentário piedoso” aqui, é uma “afirmação precipitada” ali; é um “juízo de valores” a respeito de alguém a quem não se conhece e a quem se atribui coisas que jamais passaram pela cabeça de tal pessoa, etc(Tg.3.1-12; 4.1-12). Literalmente, só um mentiroso inveterado tem a coragem de dizer que não peca eventualmente com a língua. f) Há o pecado essencial: Ora, é deste pecado que Paulo fala em Romanos 7.7-25. Eu sei que hoje em dia há muita gente tentando negar que tal pecado fosse algo presente na vida de Paulo. Eles dizem que Paulo se referia ali ao período anterior à sua conversão. No entanto, os que assim fazem, violentam todos os tempos verbais do texto: Paulo fala do passado do verso 7 ao 13. No verso 14 ele diz: “a Lei é boa, eu, todavia, sou carnal”. No verso 15 ele diz: “porque nem mesmo compreendo meu próprio modo de agir, pois não faço o que prefiro e, sim, o que detesto”. Nos versos 16 a 23 ele continua usando os verbos no presente. Surge então a chocantíssima exclamação do verso 24: “Desventurado homem que sou!” A conclusão é gloriosa: “Graças a Deus pôr Jesus Cristo”. Na seqüência, ele afirma que a Graça o salvou da condenação do pecado, deu a ele um novo pendor, mas não tirou dele as ambigüidades naturais de sua essência pecaminosa (7: 25; 8: 1-17), mas deu a ele recursos para subjugá-la no nível do “comportamento”, ainda que a luta “motivacional” continuasse”( 7:25); a qual, só será totalmente “retirada” de nós quando “este corpo mortal for absorvido pela vida”( I Co. 15.35-53). Ora, para todos aqueles que possam ter ainda alguma dúvida acerca da gravidade e da extensão da lista das coisas que Deus chama pecado deveria apenas ler Colossenses 3.5-9: “Fazei, pois, morrer a vossa natureza terrena: prostituição (pecado sexual), impureza (pecado sexual), paixão lascívia (pecado sexual-mental), desejo maligno (pecado motivacional), e a avareza, que é idolatria (atitude econômico-financeira; pecado social). “Agora, porém, igualmente, despojai-vos de tudo isto: ira( que na maioria das vezes dorme conosco), indignação ( que é o “rompante” de raiva que acontece demais na cozinha, no quarto, ou no trabalho), maldade (que é disposição de fazer algo que vai prejudicar alguém). maledicência (que é a maior desGraça da experiência humana e cristã), linguagem obscena do vosso falar (que é o uso impróprio da linguagem). Não mintais uns aos outros” (infelizmente, algo mais comum que a verdade no meio cristão). Tiago e João também são veementes com relação a todos os dois extremos da doutrina do pecado. Há os que dizem: “a nossa natureza é caída mesmo, logo não adianta fazer nada a respeito”. A esses eles dizem: “A fé sem obras é morta”(Tiago 2.17); ou: “Aquele que diz que permanece nele, deve também andar assim como ele andou”; ou: “todo aquele que permanece nele não vive pecando; todo aquele que vive pecando não o viu, nem o conheceu”; ou: “aquele que pratica o pecado procede do Diabo”(I João 2.3;3.8). Há outros que dizem: “já que eu sou nascido de novo, então isto significa que eu tenho poder para não pecar mais”. A esses Tiago e João dizem: “Pois, qualquer que guarda toda Lei, mais tropeça em um só ponto, se torna culpado de todos”(Tiago 2.10); ou: “Se dissermos que não temos pecado nenhum, a nós mesmos nos enganamos, e a verdade não está em nós”; ou ainda: “Se dissermos que não temos cometido pecado, fazemo-lo mentiroso e a sua palavra não está em nós”( I João 1.7-10). Ora, o equilíbrio bíblico é aquele que diz: “Eu sei que sou um pecador que foi redimido pelo sangue de Jesus, mas que precisa crucificar as concupiscência da carne todos os dias, pois a minha natureza é caída e rebelada contra a Lei de Deus. Pôr isto, eu preciso andar no Espírito e no amor a fim de que eu não alimente minha natureza caída, ainda que, eu mesmo saiba, que conquanto não viva mais na prática do pecado, eu não me livro de reconhecer todos os dias que eu sou pecador e que, por essa mesma razão, peco mesmo quando penso que não peco. No entanto, eu me escondo e me glorio na Cruz de Jesus: onde meu pecado foi pago e de onde eu recebo Graça para purificar meus pecados e receber perdão para as eventuais ou freqüentes contradições do meu ser. No entanto, eu sei que a Graça que me perdoa, é também a Graça que me transforma e santifica. Daí, eu querer e poder viver em santidade, ainda que eu seja um pecador”. Voltando ao assunto da hipocrisia tenho de dizer que os cristãos precisam, urgentemente, aprender que a maior mentira que se mente na vida não é aquela que se diz, é aquela com o qual se vive. Precisamos recuperar o senso de “intimidade” e de “interioridade” das verdades do evangelho. Temos de pedir a Deus que nos liberte das falsas e malignas noções de espiritualidade. É urgente reassumir nossa consciência da Queda, que afirma nossa impossibilidade inerente para a bondade absoluta e nos remete humildes e dependentes para a Graça de Deus. Caso contrário, corremos o risco de nos tornamos pessoas muito más. Aliás, a História está repleta de testemunhos dessa nossa capacidade de nos tornamos piores que os piores, e que vem justamente da nossa relação com o Sagrado. Nada é mais intenso que aquilo que é divino. Pôr esta razão, quando alguém mantém uma sadia relação com o Sagrado, então, tal pessoa torna-se santa e bonita, pois aprendeu a “descansar na Graça”. Por outro lado, quando a relação com o Sagrado acontece a partir de uma perspectiva de orgulho, auto-suficiência e hipocrisia, então nada faz adoecer mais que essa versão religiosa da maldade. Vai daí que Lúcifer tornou-se mau na exata proporção de sua anterior virtude. Assim, anti-teticamente, onde superabundou a Graça abundou o pecado! No entanto, nós temos afirmado tal princípio apenas na dimensão paulina: “onde abundou o pecado superabundou a Graça”. Todavia, Pedro coloca o mesmo principio a partir de uma referência histórica: “…tornou-se o seu último estado pior que o primeiro”; ou ainda: “…melhor lhes fora nunca tivessem conhecido o caminho da verdade, do que, após conhecê-lo volverem para trás”(II. Pe 2.20,21). O pior Diabo é aquele ao qual nós nos “acostumamos”. Isto porque quando alguém não sabe ou não crê que o Diabo existe, está menos exposto à total força do Diabo pelo simples fato de “sinceramente” não crer ou não admitir a existência dele. Há um grande poder espiritual na verdade, mesmo que aquele que a demonstre seja um ateu. Todavia, quando alguém sabe que o mal existe como mal-real e objetivo, mas a despeito disso, vive em cínica indiferença para com tal poder, essa pessoa não se torna apenas vulnerável ao mal, mas torna-se, ela mesma, parte da própria realidade do mal. E a razão é óbvia: ninguém é mais maligno do que aquele que consegue se tornar indiferente ao poder do mal, enquanto admite a sua existência. Gente assim vive uma espécie de “crente-descrença” no poder do mal. Ora, é simples inferir que é mais fácil achar gente assim domingo de manhã na igreja que num laboratório de ateus confessos. É mais fácil achar esses jovens cantando com as mãos levantadas num culto animado do que nas praças. Aqueles que estão vivendo sua alienação de Deus, muitas vezes fazem isso em absoluta ignorância. Mas muitos dos que lotam nossos templos cristãos e nossas reuniões, são do tipo de gente que consegue “levantar as mãos ao Senhor” e depois, mesmo contra a Palavra do Senhor que lhes conhecem, são capazes de cometer os atos mais absurdos e impensados com a maior frieza, sendo o pior de todos a sua incapacidade de se enxergarem enquanto julgam o próximo. Eu sei que, para muita gente, as afirmações que tenho feito até este ponto neste livro podem soar excessivamente fortes. No entanto, não tenho o menos temor de estar equivocado a esse respeito. Tenho a própria História Bíblica e a História da Igreja para confirmarem tais declarações. E, além disso, é só olhar em volta para se constatar que há uma grande abundância de testemunhos contemporâneos corroborando o que estou dizendo. Desde 1973 que venho andando com Jesus e fazendo todo o possível para, no dia-a-dia, não esquecer dessas verdades a respeito das quais eu acabei de escrever. Mas uma coisa tem me ajudado muito nesses anos. É a lembrança de que não tenho de ser para ninguém nada além daquilo que Deus sabe que eu sou. Isto me ajuda a não ter medo de ser gente. Todavia, esta mesma verdade me ajuda a ser aquilo que, na Graça de Deus, eu devo ser na minha progressão gradual na história. E quando me sinto tentado a pensar diferente, eu lembro que os felizes, do ponto de vista de Jesus, são os que têm coragem de chorar, os mansos, os que têm fome e sede de justiça; ou seja : os querem mais. Esses tais são os misericordiosos, os que se purificam na Graça de Deus, os que vivem para construir pontes entre os separados pelo ódio, e os que assumem a perseguição como o mais natural resultado da sua relação com Jesus. E quem é Jesus senão Aquele que pode viver tão diferentemente dos padrões vigentes, que pagou o preço de uma existência capaz de ser radicalmente relevante. Sim, Ele é Aquele que mostrava Seu brilho pessoal a poucos, na Transfiguração, mas que não teve vergonha de mostrar Sua dor e verdade humanas a todos, na Cruz! Quando no meio de toda as tentações que nos assolam formos tentados a deixar o compromisso com a justiça, caindo ou no Moralismo hipócrita ou na indiferença assassina, devemos ter em mente que para Jesus a única maneira de viver e encarnar a Sua justiça neste mundo é mediante a vivência radical do amor. Todos os outros dogmas estão abaixo do amor. Mais importante do que sacrifícios, cultos, Leis, morais, usos e costumes, é o amor, diz Mateus 23.1-23. Mais importante que o sábado e a tradição é o amor ao ser humano que está com fome e precisando “meter a mão” em espigas para se alimentar ( Mt. 12.1-8 ), ainda que isto implique, aos olhos dos homens, uma transgressão. O amor ao ser humano tem de estar acima do amor por coisas, diz Mateus 6:26. É mais decisivo do que o serviço do culto, diz Lucas 10:30-37: O sacerdote passa a não pára, o levita segue e não se importa, é o samaritano quem se agacha para socorrer com amor. A grande heresia é não amar e não manifestar o amor como vida e Graça para com o próximo! O amor é mais importante do que o sacrifício, do que a oferta: Mateus 5:23 e 24 diz que antes de se oferecer uma oferta tem-se que sair à procura de relações quebradas, para restaurá-las em amor. Sempre que Jesus fala do amor de Deus Ele também fala do amor ao próximo. Ele não esquizofreniza o amor. Não permite que seja possível amar a Deus, mas ser indiferente ao próximo; ou amar ao próximo dando a mão de Deus. São perspectivas interligadas e inseparáveis. Em Marcos 12.31-33 ou Mateus 22.36-39, Jesus afirma peremptoriamente essas duas categorias. É também com base no amor ao próximo que se estabelece pôr fim o critério ômega do juízo (Mt.25.31-46). Naquele “dia” não se perguntará quais eram as suas doutrinas, nem como era a sua forma de batismo, nem qual era a sua religião, nem quantos trabalhos cristãos você fez, nem se perguntará pela sua estatística de “quantos você converteu para Deus na Terra”. Perguntar-se-á se você viu Jesus pôr aí, com fome, maltratado, com sede, preso, doente, lá no “brejo da Cruz”. E as pessoas vão dizer.” Senhor, nós nunca te vimos assim!” E Ele vai dizer: “Sempre que vocês deixaram de atender a um ser humano nesse estado de degradação, de prisão, de dominação, de infelicidade, de angústia e de miséria, vocês deixarão de atender a mim.” É uma pena que Mateus 25 não seja levado a sério pôr nós. Não se esqueçam: é com base no amor ao próximo que se estabelecerá o critério final, o critério ômega do juízo“. Segundo texto: Acerca da culpa: Paulo diz que não há mais nenhuma condenação para aquele que está em Cristo Jesus, visto que o Espírito da Vida, em Cristo, nos livrou da lei do pecado e da morte. Não poderia haver Boa Nova melhor e mais libertadora do que esta. Mas se isto é verdade? e se diz exatamente o que diz? por que será, então, que não parece ser verdade como realidade existencial para os cristãos? Afinal, se isso é verdade, então, nós tínhamos que ser o povo mais pacificado e tranqüilo da terra. Sim! nós teríamos que ser o povo menos complicado e grilado do Planeta. Também teríamos que ser gente de identidade firme e livre da inveja, e sem amarras a neuroses e paranóias. Então, por que será que não é assim? Sinceramente? Bem, é que não cremos ainda. Quando a declaração de Paulo deixar de ser texto inspirado e passar a ser verdade apropriável pela fé—e assim pode ser apenas porque “Está Consumado”—, então surgirá um fator existencial essencial no ser: paz e certeza de total reconciliação com Deus—independentemente de qualquer cogitação de barganha a fazer com Deus. Ou seja: até no seu pior dia você não temerá acerca do que existe entre você e Deus. Esse é o caminho da Paz, e que nos conduz de paz em paz até a Paz Eterna. Como é bom andar nele! Terceiro texto: Acerca do medo: Você fica livre de toda a culpa apenas para descobrir que era o medo do castigo aquilo que suicidamente mais tentava a fazer você transgredir. Assim, sem culpa não há transgressão—e morre a pulsão do pecado em sua maior sedução: a morte como risco. Aquele que não teve pecado, Deus o fez pecado por nós… Comparável a essa frase em seu conteúdo esmagador somente uma outra: Ao Senhor agradou moê-lo, fazendo-o enfermar… Ambas referem-se ao Cordeiro de Deus, a Jesus, o Senhor. O que me choca é que está tudo feito e acabado, menos para quem diz “crer”. Os que “crêem” não sabem que ainda não crêem, ou não sabem no que crêem. Pois se o soubessem, saberiam que a Lei morreu em Cristo; que a força do pecado é a Lei, mas que com sua morte, ela, a Lei, já não tem poder sobre nós. Ora, essa morte da Lei matou a força do pecado, pois onde não há Lei, também não há transgressão. Assim, o que Jesus Pagou por nós, está Pago para sempre. Mas quem crê? Quarto texto: Acerca de nossa natureza e seu estado em Cristo: Então você pergunta: Se é assim, como então nós ainda pecamos? Ora, o pecado que eu peco é fruto de minha queda, mas já não carrega em si mesmo o poder de me matar, tanto quanto já não carrega mais o poder de me fazer “compulsivo”, pelo simples fato de que em minha consciência ele já não se faz acompanhar da condenação da morte. É o medo da morte e a certeza da condenação o poder que gera toda compulsão! O pecado faz mal ao meu ser, mas já não tem o poder de daná-lo, se se está confiante no poder e na consumação do que Jesus já fez por nós. Afinal, o pecado só existe em mim, mas já não existe como algo que pende como espada da morte sobre minha cabeça. Eu estou em Cristo! Já não há mais nenhuma condenação para os que estão em Cristo Jesus! Agora eu ouço: Filhinhos meus, não pequeis; se, todavia, alguém pecar, temos Advogado junto ao Pai; Jesus Cristo, o Justo; Ele é a propiciação pelos nossos pecados; e não somente pelos nossos próprios, mas inda pelos do mundo inteiro! O Deus que se fez carne também se fez pecado por nós! E certamente Ele não fez isto para que continuasse tudo igual. Tem que haver um fato-fator-real que decorra dessa ação. O fato real é um só: o pecado existe na vida de cada um de nós, mas já não existe como condenação. O fato do pecado em mim é inegável. Todavia, é também inegável que ele já não tem poder sobre mim. Como? Não tem poder? Como? Ele existe como produção de minha carne (corpo-totalidade-do-ser), pois faz parte de minha constituição caída. Hoje ele pertence à dimensão de minha animalidade não elevada em consciência, pois ainda está presa à minha condição de “egoísta-essencial”. No entanto, o pecado virou gripe: amolece, mas já não me mata. Então, eu constato o pecado em mim. Grito: “Desventurado sou!”. Mas meu grito já não ecoa para a eternidade, não ecoa nem mesmo no tempo, exceto em mim, que me entristeço comigo mesmo. Entretanto, ele já não passa daí. Pois a Lei do Espírito e da Vida em Cristo, me libertou da Lei do pecado e da morte! Agora, se creio no que “está feito”, vivo pelo que Ele fez por mim, não em razão do que eu, mesmo crendo, ainda faço contra mim. Aquele que não teve pecado Deus o fez pecado por nós, para que nós que pecamos já não sejamos pecado, mas sem pecado Nele, que nunca tendo pecado, foi feito pecado em meu lugar. A lógica é uma só: quem nunca foi…foi feito…para que quem é…possa já não ser, mesmo que ainda seja…pois mesmo sendo, só o é para si mesmo…mas não mais para Aquele que por nós se fez aquilo que Ele mesmo não era…para que nós que somos…já não o sejamos como quem em sendo morre do é. Quem eu sou já não me mata! Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo! Com efeito Deus condenou na carne o pecado! Com efeito a condenação do pecado aconteceu na Cruz! Com efeito, quem crê já está liberto; ainda que pratique a sua própria liberdade tomando consciência de que quem ele é, o é em Cristo; não em si-mesmo. Com o pecado morto, e com a Lei sepultada, o que sai da morte e da sepultura não é mais o que me mata, mas o que me salva. Cristo morreu pelas nossas transgressões e ressuscitou para a nossa justificação! Eu sei, no entanto, que é muito difícil crer na pregação. Isaías ainda pergunta: Quem creu na pregação? Ora, pouca gente crê! Quem dera essas multidões que confessam a Jesus como Senhor soubessem e cressem também; e quem dera que sobretudo cressem no que “os penosos trabalhos de sua alma” realizaram por todos nós! A promessa divina era que o Salvador veria os resultados dos “penosos trabalhos de sua alma e ficaria satisfeito; pois que como o Seu ‘conhecimento’ Ele justificaria a muitos”. Há um conhecimento a ser apreendido! Somos salvos pela fé. Mas há um “saber em fé” que é o “conhecimento” da justificação já realizada. É esse “conhecimento em fé” é aquilo que nos mergulha no descanso que declara: “o castigo que nos trás a paz estava sobre Ele, e pelas suas pisaduras nós fomos sarados”. Para mim já está pago! Não aceito nem mesmo os débitos que minha carne me apresenta para que eu os pague. Olho, constato, e declaro: “Todo escrito de dívidas foi encravado na Cruz”. Eu não creio em mim, mas Deus sabe que eu creio na pregação! Quinto texto: Acerca do perigo de odiar cronicamente: Odiar é muito difícil. Pessoalmente acho que é infinitamente mais fácil cometer uma violência, sair no tapa em razão de um destempero, ir à guerra e matar, do que odiar. A violência é uma loucura. O ódio é puro estado de loucura! Odiar demanda uma determinada “instalação” na alma que só pode acontecer como semente do mal. O ódio como estado do ser significa que o potencial do amor foi transmudado em seu oposto: o antagonismo total da possibilidade da Graça. Onde há ódio não há Graça e onde há Graça não há ódio! Até o ofensor que peca contra o irmão setenta vezes sete é um filho pródigo da Graça, pois, para que alguém se arrependa tantas vezes e peça perdão, tem que pelo menos ter acessos súbitos de percepção do outro ofendido—o que só é possível como Graça! Aquele que tem o dom desse perdão tão freqüente e que perdoa apesar de ser alvejado tão aleatoriamente, é, sem dúvida, filho da mais profunda Graça! O ódio, todavia, não conhece nem o perdão nem o arrependimento—mesmo que seja como surto. Saul, o perseguidor de Davi, tinha surtos de culpa, não de arrependimento. O publicano que subia ao templo diariamente para pedir perdão a Deus pelos seus pecados, tinha, no mínimo, surtos de auto-consciência, algo longe de ser almejado como estado para o ser—mas que mesmo assim ainda coloca o publicano num estado muito superior de alma em relação a Saul. O publicano tinha surtos de arrependimento. Saul apenas tinha surtos de culpa, e sentia raiva de se sentir culpado, daí odiar cada vez mais intensamente. Afinal, Davi se tornava o culpado de Saul sentir-se culpado de odiá-lo. Odiar é difícil porque o ódio precisa se instalar como uma espécie de Direito Adquirido contra o ser do outro. E a experiência desse estado implica em algo muito mais profundo do que cometer um pecado. Implica no verdadeiro estado de pecado. Só o ódio instala o estado de pecado no ser, assim como é no crescimento do amor que a Graça se enraíza como estado cada vez mais profundo do ser. Daí o apóstolo João dizer que aquele que odeia não conhecer a Deus e jamais te-Lo visto, pois Deus é amor. Aquele que odeia nunca conheceu o amor. A ira é um acesso. O prolongamento de seu estado dá lugar ao Diabo na medida em que afasta o ser de sua única proteção: o amor. Sem amor todos os flancos estão abertos para o que é mal. Mas com ódio o mal já tomou posição soberana na alma. Odiar é difícil também porque torna aquele que se faz capaz desse estado, o ser mais cativo de todos. Ninguém é livre para odiar. Quem odeia se torna escravo do ódio. Ora, o ódio tiraniza o ser contra si mesmo, em razão de que o entrega à sua obsessão destrutiva pelo próximo. Odiar é difícil sobretudo porque aquele que odeia des-existe. Desiste de ser e existe para o não ser, pois existe para não viver, visto que sem amor sobra-nos apenas des-existência. Ora, nesse estado há apenas a morte como cenário para a vida. E a morte nunca embelezou a vida e nem fez ninguém viver, e jamais o fará. Aquele que odeia a seu irmão trás em si a semente maldita. Assim como aquele que ama a seu irmão carrega no ser a divina semente. Eu creio no poder devastador do ódio. Há quem o busque e o pratique como Direito Ad-querido. Mas também sei que sua experiência instala o “softer” do inferno no “HD” do ser como aplicativo primordial. A máquina psíquica passa a não “rodar” sem esse tal programa. Roda até congelar a existência na des-existencia. Então vem a morte, não daquele a quem se pretende fazer o mal, mas daquele que o intenta. A prolongada intenção de fazer o mal pelo mal pode criar o pior de todos os estados na alma: o da soberania do ódio! Devo entretanto dizer que odiar é difícil apenas para aquele que vê o ódio como o pecado contra o ser. Quem se ama não consegue odiar, assim como também não consegue não amar de alguma forma o seu irmão—mesmo que seja como expressão da misericórdia que chega como um relâmpago iluminando a noite da vingança. O amor é o único Dogma Existencial estabelecido por Jesus. Daí, na mesma medida, o ódio ser a maior blasfêmia. O amor cobre multidão de pecados. O ódio tenta esconder-se des-cobrindo pecados existentes e até fabricados contra o próximo. Por isso aquele que ama vive com uma esperança redentora e aquele que odeia existe movido pelas pulsões da destruição. O ódio paralisa tudo: interrompe orações e nega a Deus, pois Deus é amor. E quem pode viver sem amor? Só conheci até hoje “existências” nesse estado, mas nunca vi vida em tais existências. Odiar é difícil porque remete a vida para a morte. E quem consegue viver se já está morto? Perdão aos que pensam diferente, mas para mim simplesmente não dá. Nele, que em Quem reside nossa Solução, Caio