SUICÍDIO, O QUE A BÍBLIA DIZ?
—–Original Message—–
From: Edson
Sent: sexta-feira, 23 de julho de 2004 09:50
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Subject: SUICÍDIO, O QUE A BÍBLIA DIZ?
Amado Pr.Caio.
Todos os dias visito o seu site, já fui e sou muito abençoado através das reflexões, devocionais e pelas cartas, as quais, muitas vezes, parecem que foram escritas por mim, devido a semelhança nas duvidas, lutas, aflições e anseios. Mas devo lhe ser sincero que não concordo com tudo que leio, mas respeito, pois parte do ponto de vista de um homem que sabe do que está falando e de Quem está falando.
Dentre os assuntos que mais me intrigam,o mais importante é o que está relacionado ao suicídio, pois não consigo ver respaldo Bíblico para tal prática. Não questiono Salvação, pois Graças a Deus consegui compreender que esta pertence a Ele, e não podemos nem devemos determinar Salvação, apenas podemos auxiliar as pessoas a alcançá-la através da Fé em Jesus, o Cristo. Mas no meu pouco conhecimento da Bíblia só consegui ver dois casos de suicídio, e eles estão relacionados ao erro (ou acerto, Deus o sabe!), da traição, do pecado contínuo, e por fim pela falta de fé no perdão de Deus, que foi o caso de Saul e Judas Iscariotes, pelo últímo é que uso o parêntese.
Resumindo, será que o suicídio é uma saída de escape, ou será uma saída de condenação eterna?
Se somos templo do Espírito Santo, podemos praticar algo contra ele, ou contra tantos outros templos que vivem ao nosso redor?
Não tenho problema de assimilação com nenhum dos seus assuntos de homossexualismo, adultérios, vícios, sexualidade, “igreja”, pois vivi e sei realmente o que é, mas confesso que sobre suicídio fico sempre a questionar. Por esses motivos resolvi te mandar esta matéria da BBC, que achei chocante e espero que sirva para alguma coisa, e se um dia puder me responder ficarei feliz.
(Rom.14:22,23) Tens tu fé? Tem-na para ti mesmo diante de Deus. Bem-aventurado aquele que não se condena a si mesmo naquilo que aprova. Mas aquele que tem dúvidas, se come (ou faz qualquer outra coisa) está condenado, porque não come com fé; e tudo que não é de fé é pecado.
Obs. O parêntese é meu.
Te amo NELE que é o dono da vida, e espero um dia poder te falar isso pessoalmente.
Edson Gonçalves- São Paulo
Segue a matéria de que falei.
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Na China, 280 mil pessoas se matam por ano
Para governo, o tema deve ser tratado como problema nacional
Uma pesquisa divulgada nesta quarta-feira na China resgistra que, a cada dois minutos, ocorre um suicídio no país. De acordo com o estudo, realizado pela agência de notícias do governo, o suicídio é a principal causa de morte na China entre pessoas com idades que vão de 15 a 34 anos. O censo mais recente registra cerca de 1,3 bilhão de habitantes na China, que é o país mais populoso do planeta. Todos os anos, 280 mil chineses cometem suicídio – ato que é mais normal em regiões rurais, ao contrário de outros países, onde os centros urbanos registram maior número de suicidas. Para o governo chinês, o tema deve ser tratado como um problema de saúde mental e, por isso, está criando um programa nacional de prevenção ao suicídio. O programa inclui profissionais da área de saúde, segurança pública e especialistas em assuntos agrícolas, além de representantes da Organização Mundial de Saúde (OMS).
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Resposta:
Meu amado amigo Edson: Graça e Vida!
Os chineses, em geral, crêem que o suicídio os mergulhará no mar da dissolvência de todas as dores. Daí o suicídio ser tão comum entre eles. Portanto, esse dado apenas revela como a “cosmo visão religiosa” de qualquer povo tem o poder de determinar certos comportamentos. Assim, o que se constata é o poder extraordinário das idéias. Idéias são coisas muito séria, e quem compra pacotes religiosos deve saber que ninguém é maior do que a fé que professa. Só isto.
Também não encontro base bíblia para o suicídio, simplesmente pelo fato de que a Bíblia não julga a questão, não oferecendo, desse modo, nenhuma base de qualquer natureza. Portanto, não há nem proposição e nem condenação do ato em si, no que diz respeito a que ele carregue as condenações que a Igreja Católica criou para os suicidas, e os Protestante e Evangélicos adotaram como dogma de irredimibilidade.
Assim, sou contra o suicídio, apenas não caio na imprudência frívola de dizer que o destino do suicida é a perdição eterna.
Ora, acerca de punições eternas, a própria Escritura tem inúmeras variáveis quanto trata da questão, fazendo uso de diferentes palavras nos textos originais.
Por exemplo, as palavras que nos são traduzidas por eternidade, nem todas carregam, em si, o conceito de eternidade conforme entendido por nós hoje.
A palavras gregas aioon e ioonios, aparecem em Aristóteles (384-322 A.C.), em Platão (428-348 A.C.), e de acordo com o Etymologicum Magnum (1000 D.C.) trata-se de uma palavra conectada com aeemi, que significa respirar, soprar, e denota aquilo que causa a vida, força vital, conforme, por exemplo, Efésios 2:2. No entanto, aioon ( = aiFoon) é geralmente conectada com aiei ou aei, que no Sanscrito é evas (aivas), no Latim é aevum, no Gothic é aivs, no Alemão é ewig, e no Inglês é aye ou ever…Sempre. Mas é um “sempre” que tem o homem como referencia.
Ora, os autores gregos ligaram a palavra ao tempo da vida humana, conforme Homero, Heródoto e Pindar. Na Ilíada Homero associa a palavra à própria vida: “kai lipoi aioon”.
Outro significado que aparece se relaciona a uma era sem fim ou à perpetuidade do tempo, conforme aparece em Platão (428-348 A.C.)
A Septuaginta traduziu a palavra hebraica `owlaam por aioon no grego. Ora, a palavra hebraica `owlaam é usada no Velho Testamento a fim de designar desconhecimento da duração de um tempo, seja o tempo passado, seja o presente, seja o futuro.
Ou seja: trata-se de um conceito de “tempo ignorado”, visto que é dito que Jonas passou um `owlaam no ventre do peixe, embora tenham sido apenas três dias e três noites.
O Novo Testamento usa muito a palavra, e seu significado tem muitas variáveis, indo desde o tempo que é pertinente ao homem ao tempo consumado após a volta de Cristo.
Portanto, mesmo que a Bíblia falasse no assunto—e ela não o julga como conceito, apenas, por duas vezes, o menciona como “modo de morrer”—, ela não estaria nos dizendo praticamente nada acerca do destino do suicida.
Em português nossas Bíblia supre-abundam de palavras traduzidas por eternidade ou eterno, sendo que a maioria delas significa um tempo acerca do qual não se tem conhecimento da duração, ou um tempo correspondente à presente ordem de coisas, ou ainda relacionado à impossibilidade de fixar o tempo como tempo, nesse caso sendo sinônimo da palavra hebraica `owlaam, usada no caso de Jonas a fim de designar a ignorância do profeta acerca da “eternidade de tempo” que ele passou no ventre do peixe.
Assim, ninguém que ama a vida e o próximo jamais lhe oferecerá o suicídio como solução para nada. Ao mesmo tempo em que também não julga ninguém que em desespero tenha tirado a própria vida.
Desse modo, nem se deve julgar e nem tampouco inferir o que acontece a um suicida é condenação ao inferno, assim como também não se deve fazer nenhuma das duas coisas em relação ao destino de qualquer ser humano, apenas julgando o modo como ele morreu, ou, até mesmo viveu.
O ladrão que morria ao lado de Jesus que o diga!
Quanto ao corpo ser santuário do Espírito Santo, isto é verdade. Todavia, quando a Bíblia fala do assunto, ela não está recomendando a prática da “política do corpo”, como se em alguém cuidando obcecadamente do corpo físico estivesse preservando o “santuário”, ou, negativamente, como se se ingerindo coisas ou se agredindo de alguma forma o corpo, deliberada ou involuntariamente, se ultrajasse o Espírito de Deus.
De fato, o que vale para o “santuário do Espírito”, que é o nosso corpo, é o que Jesus disse em Marcos 7, quando afirmou que não é “o que entra pela boca o que contamina o homem, mas o que sai de seu coração”. Assim, os maus tratos com o santuário do Espírito não se vinculam à nenhuma forma de descuido com o corpo—por razões diversas. Nem tampouco recomenda a maquiagem ou de neurose com o cuidado físico apenas.
O que conserva o santuário do Espírito é a piedade, não os cuidados exteriores com a busca de uma saúde perfeita ou com a preservação da integridade do corpo como matéria.
Se fosse assim, os seres humanos que melhor trataram os seus próprios corpos como “santuário” não são seres da Bíblia. Os monges orientais e quase todo e qualquer discípulo da chamada Nova Era são muito mais conscientes de uma boa relação com seus próprios corpos que os melhores cristãos que eu conheço, incluindo Paulo, que disse que o “nosso homem exterior se corrompe”, e que é o “homem interior que se renova de dia em dia”.
Desse modo, meu amado, entenda que quando digo que não se pode julgar o destino de um suicida é apenas isto que estou propondo, e não fazer disso um modo de morrer a ser buscado.
Quando um ser humano tira a própria vida é sempre por não suportar mais o desespero, e não porque achou que aquela era uma saída boa e aceitável. Desse modo, saiba, diante de todo o suicida meu coração se aproxima com reverencia e muita misericórdia.
É apenas isto que tenho a dizer sobre o assunto!
Receba meu carinho e minhas orações.
Nele, que deu Sua vida por nós,
Caio