Você está magoado com a IPB?

Nomes e bastante do conteúdo dessa carta foram suprimidos, pedido do autor, cujo nome foi absolutamente alterado. Mas achei que fazendo todas as amputações que fiz, era meu direito usar sua carta, ainda que ele mesmo venha a ter dificuldade de saber que trata-se de Carta. —–Original Message—– From: O Inquiridor Anonimo Sent: terça-feira, 29 de julho de 2003 To: [email protected] Subject: você está magoado com a IPB? Mensagem: Caro Caio Fábio, Não o chamo de pastor, por não saber se ainda se sente pastor, embora acredite que “pastor” não é um título, mas função e ministério. Nas leituras do site, percebi um profundo ressentimento em relação à instituição chamada igreja-denominação. Gostaria que me respondesse: 1. Qual a sua visão atual em relação a isso? 2. A sua denominação lhe deixou magoado? 3. Você ficou magoado com dureza de alguns? 4. Sofreu com um legalismo religioso, nalguns lugares? Um abraço fraternal, Silentius Leocádius *************************************************** Resposta: Meu querido Silentius: Obrigado pela carta carinhosa e direta! Vá no Glorio-ossário do Site, e você verá o que penso de cada coisa. Aliás, vou transcrever para você, só para você não ter a desculpa de não ler. Vamos a ele: Isto é para quem deseja saber o que quero dizer com cada palavra que digo! *************************************************** • Igreja com I maiúsculo corresponde ao que Jesus e o Novo Testamento definem como Igreja; ou seja: o encontro com Deus e uns com os outros em torno do Nome de Jesus e em acordo de fé com o Evangelho—o que faz de todo Encontro Humano, em fé, um encontro-igreja, onde Jesus promete estar presente, mesmo que sejam apenas dois ou três re-unidos em Seu Nome! E só se re-unem em Seu Nome por se saberem à Ele unidos! • Igreja “entre aspas” são as representações histórico-institucionais do fenômeno histórico, social, econômico, político e culturalmente auto-definido como “igreja”—e que tem uma hierarquia (Clero), sigla (Denominação), geografia-fixa (Prédio) e membros-sócios! Ou seja: Igreja a gente encontra no caminho. “Igreja” a gente vai ao encontro dela ou a gente a identifica pela Placa ou pela Propaganda! • Cristianismo é a expressão histórica da Religião que confessa a Jesus como Filho de Deus, mas cujo processo de institucionalização trabalha com mais freqüência contra os Interesses do Reino de Deus que no sentido indicado pelo Evangelho. • Catolicismo é um derivado do Cristianismo que se vê como o “Reino Estatal de Deus na Terra”—tudo entre aspas. • Protestantismo é o movimento histórico-cristão que quase conseguiu…mas perdeu o pro-testo, que é sempre algo pró-teste! Assim, virou apenas uma Re-Forma! Só há pro-testo se o caminho for sempre pró-teste, em fé e tangido pelo Vento do Espírito, conforme a Palavra! • Evangélico é o ente que crê no Evangelho e que crê na salvação em Jesus, conforme a Graça revelada em Cristo. Por exemplo: o apóstolo Paulo era um genuíno Evangélico! • Evangélico, “entre aspas”, é o ente indefinível, que se utiliza da fé em Jesus através da mediação da “Igreja Evangélica”, que é a auto-definição coletiva dos cristãos que nem sempre confiam ou gostam uns dos outros, mas que só se enxergam coletivamente sob esse Guarda Chuva, furado de baixo para cima pelas pontas afiadas dos guarda chuvas menores que cada um usa para garantir sua própria proteção enquanto aniquila o que confessa como devoção: o Evangelho! • Cristão, historicamente , é um ser no Limbo, vivendo entre a Lei e a Graça, sofrendo entre o medo de Deus e o amor irresistível que por Ele sente. • Discípulo de Jesus é o ser que apesar de se reconhecer relativo, se sabe—pela fé na Graça de Deus que gera o dom da fé—, como alguém que é irreversivelmente de Jesus e que aprendeu que o Caminho acontece na companhia de irmãos que sempre sujam os pés na jornada—por isto lavam os pés uns dos outros em nudez—mas que crêem que quem já está limpo pela Palavra de Cristo não necessita lavar senão somente os pés. • Liberdade é a capacitação na Graça e na Verdade de poder escolher-se-deixar-levar pelo Espírito, que realiza o Bem de Deus no ser humano, conduzindo-o no Caminho Estreito que acontece, em fé, entre a Lei e a Libertinagem. • Pecado é …sou. Cada um deveria saber o que é! Cada um sabe, especialmente se não for instruído moralmente à respeito! pois, assim, saberá o que o pecado é, e não se neurotizará com o que dizem pecado ser! • Graça é … toda-tudo-toda manifestação do amor criador-redentor de Deus— e que se expressou supremamente no Escândalo da Cruz—, que sempre é favor imerecido, incluindo a criação do ser, mesmo que seja um ser assim como sou! Pois, sou-serei-sendo-já-sou, Nele! • Voz… me habita e me possui, tanto quanto é possuída por mim, como se eu fosse a mãe Canguru e o canguruzinho, à um só tempo! • Deus… é amor! • Ele…é Aquele que vive em mim! *************************************************** Igreja para mim é santa, sem ruga, sem mácula e sem defeito, ou coisa semelhante. “Igreja”, para mim é o fenômeno humano que está aí. E mais: tem muito menos a ver com a IPB, e muito mais a ver com tudo o mais… Nunca fui “presbiteriano de carteirinha” e minha denominação nunca significou nada mais que uma boa denominação para mim. Meus vínculos com a IPB são de criação e amizades, muitas e sinceras. Minha vô era. Minha mãe também. Meu pai se tornou, mas foi ordenado depois dos 40 anos. Eu cresci na IPB. Fui pastor Presbiteriano por 11 anos. Depois fiquei só com a Vinde. Se você me acompanhou nos últimos 29 anos, saberá que sempre andei por aí, com todos, e que sempre vivi com bastante liberdade, e me expressei com franqueza, e a IPb não me incomodou, nem me incomoda. Ao contrário, excetuando os meninos do PNTR, que à exceção de meu amigo Evaldo Barenger e Carlos Cherene, a maioria quis brincar de disciplina comigo. Mas não se sustentam diante de mim nem por alguns minutos ante a verdade dos fatos, e aquilo que tenho documentado de como procedi corretamente com o Presbitério. Eles é que pura infantilidade de alguns, ressentimento e inveja de outros, doenças pessoais de alguns outros, e frouxidão de outros poucos, deixaram o processo se arrastar de modo contrário a minha solicitação inicial. Mas isto está esquecido. Não é isto que me incomoda. Incomoda-me é ver o que se faz em nome de Evangelho de Cristo, sob o nome de “igreja”. Apenas isto. E digo as coisas que digo, há muito tempo. Há mais de 100 livros para documentar a minha repetitividade! Não pense que o que “aconteceu” me deixou “amargurado”. Só me deu mais lucidez! Não! Não estou amargurado. É a Palavra que é doce como o mel, à boca; mas que é amarga como o fel, no interior, a força que expresso a todos e de consciência limpa quanto às minhas motivações. Se você puder me dizer que não estou falando a verdade, me curvarei diante da verdade. Mas não deixarei que a suposta falta se isenção—pelo que me aconteceu—, me tire o dever, em Cristo, de falar a verdade; especialmente quando é a mesma coisa que sempre falei, e, como já disse, sei ser a verdade! Pretensão? Não! Curvar-me-ei diante da Verdade onde ela me for apresentada. Mas não ficarei seqüestrado pela mentira em razão de nada. Seja Deus verdadeiro, e eu mentiroso, mas a Verdade de Deus não pode ser acomodada e nem adulterada. Assim, meu amado irmão, seu irmão aqui só está se repetindo com convicção, pelo simples fato de que as coisas só ficam piores… Só estou falando o que é. Ou, não é? Receba minha resposta com total falta de constrangimento. Não fiquei nem um pouco constrangido com as suas perguntas. Um abração muito carinhoso, Caio Ps: “Pastor” é não título, nem nome, nem posição, nem função, nem ministério. Pastor é coração, é atitude, é graça para si e para os outros. Se não houver “pastor”…nenhum ministério, título, função ou nomenclatura me aproveitará!