A VERDADEIRA FELICIDADE— Roberta Fontes

—-Original Message—– From: Roberta Fontes Sent: terça-feira, 30 de março de 2004 13:18 To: [email protected] Cc: [email protected] Subject: A VERDADEIRA FELICIDADE— Roberta Fontes Querido Pastor Caio: Ontem escrevi-lhe pela primeira vez, afinal também somente ontem fiquei sabendo que o Lukas havia partido. Confesso que desde então penso constantemente em você, a quem aprendi a admirar e amar de tal forma que, ousadamente, convidei-o certo dia em Brasília, junto com o Pastor Carlos Alberto (o Betão), a vir aqui em Recife me casar. Imagina? Desse casamento, surgiram dois filhos lindos, o João e o Pedro. É verdade que o casamento não existe mais; contudo, depois de percalços, o sentimento de família está preservado. Na cerimônia, recordo-me com vividez que fomos, eu e Joaquim, incitados a sempre convidar Jesus a fazer parte de nossas vidas; e deu-nos exemplo de sua própria vida com seus filhos, com sua família. Aquelas palavras nunca saíram de minha cabeça! Querido Pastor, confesso que motivos para chorar, não faltam. Quem sabe um dia possamos conversar sobre isto! Mas o fundamental, a verdade inabalável, inescusável, para mim, para você, para todos, é que são bem aventurados os que choram porque serão consolados. Não importam, nesse contexto, os motivos que nos fazem chorar. Na verdade, bem aventurado (makarios) significa feliz, não por causa das circunstâncias externas, mas por causa da fé mediante a qual nós recebemos diante mão tudo que Ele prometeu. Posso sentir e perceber com acuidade o consolo do Senhor permeando suas palavras tão singelas e sinceras, nos escritos sobre o LUK (posso assim chamá-lo?), desde o sábado compartilhadas em seu site. É o consolo de quem deposita aos pés de Jesus os seus pesares. São palavras que retratam o cotidiano, o dia a dia, as preocupações, as vitórias, as conquistas, as alegrias de um filho amado. Creio que Lukas realizou os sonhos que Jesus sonhou um dia para ele. Concretizou em vida, pois viveu e renasceu Nele e para Ele. Encheu a você, Alda, Ciro, Davi, e Juliana do mais significante privilégio de compartilhar o dom da vida. Sem dúvida a pequena Hellena tem absoluta razão. O Lukas está morando com Jesus. Lukas experimenta a verdadeira felicidade. Lukas é agora mais bem aventurado do que nós! Pois vê o que não vemos, sente o que não sentimos, goza do amor completo, que não gozamos ainda. Querido Pastor, o seu Lukas agora encontrou a verdadeira felicidade. Um beijo na sua alma. Roberta Fontes Recife/PE _________________________ Resposta: Querida Roberta: Graça e Amor se derramem sobre a sua vida! Você disse: “..a quem aprendi a admirar e amar de tal forma que ousadamente convidei certo dia em Brasília, junto com o Pastor Carlos Alberto (o Betão), a vir aqui em Recife me casar. Imagina?” Claro que não imagino. Eu lembro. E lembro que o Paulo Garcia e eu oficiamos a cerimônia, num belo lugar de festas, com toques de belos requintes. Lembro o que preguei também. Na penúltima vez que estive aí no Recife perguntei ao Bispo Paulo por você, e manifestei o desejo de encontrá-la. Que bom que você escreveu, e que está sentindo a vida em Deus com esse sentir. O casamento acabou, mas não o milagre de transformar água em vinho. Ele só não realiza propostas indecentes, como “transformar pedras em pães”. Certos milagres não combinam nem na mente de Deus. Deus é estranho em Seus gostos, e faz seres e coisas impensáveis, mas cada um segundo a sua espécie. Bem, como na espécie humana cada um na espécie é uma espécie particular, em-si, então, não basta ser homem e mulher, ou macho e fêmea—se as naturezas forem como pedra e pão, não casa!—, tem que ser da mesma natureza essencial: água e vinho. Essas coisas, entretanto, assim como o dia da morte, a gente graças a Deus só sabe depois que acontece. Assim, a liberdade é possível, e a vida se expande como consciência: lugar onde Deus quer nos encontrar. O Lukas…sinceramente…era um garoto que carregava humor e dor…havia uma dor…uma dor essencial…e que teve manifestações diferentes em distintas fases da vidinha dele. Se eu tivesse que resumir, diria metaforicamente o seguinte: Friedrich Nietzshe viu o pai, pastor, morrer, e disse: “Deus está morto!” Lukas viu o pai, pastor, morrer, e, de súbito, o viu ressuscitar. Então disse: “Deus está vivo!” Com isto faço apenas uma metáfora a fim de dizer que a “morte de deus”, em Nietzsche; é o sepultamento do deus da religião. Lukas, que tinha uma alma tão inquieta como a de Nietzshe, não viu o “deus da religião no pai” que morria, mas apenas o Deus da ressurreição, que a seu pai vivificava. Daí, recentemente, ele ter até se divertido muito lendo “Assim Falava Zaratustra”, enquanto fazia alguns comentários comigo. Porém, terminou, me dizendo: “Esse cara pirou! Confundiu Deus com a Religião!” Assim, eu celebro o filho alegre e divertido que ele foi; ao mesmo tempo em que celebro a profundidade existencial de sua passagem pela vida terrena. Sobretudo celebro a alegria dele por ter divisado muitas moradas na casa do Pai. Nós, os pais e irmãos, bem como todos os demais a ele ligados pelo afeto e pelo convívio, estamos muito gratos a Deus pela vida dele, e por tudo o que ele nos ensinou; até quando, contra a própria consciência, muitas vezes ele fez o que não deveria ter feito; isto tudo para depois, com a própria boca, devolver aquele ato como uma parábola. E eu aprendi muitas coisas com as “parábolas” dele. O fato é que chagamos num ponto onde a cada dia eu “sacava” mais a ele, e ele a mim. Estávamos virando amigos adultos, como sou dos filhos mais velhos; digo, exclusivamente naquele sentido mais adulto de olhar um homem no filho; e o filho ver o homem que é o seu pai. Bem-aventurado ele é! Bendito é Aquele que o tem! Estarei pregando na Catedral Episcopal do Recife no próximo domingo, nos três cultos. Apareça num deles. Será um prazer revê-la, minha querida, Roberta. Nele, que nos faz crescer nas tribulações, Caio