—–Original Message—–
From: DEUS ME DEU LIBERDADE PARA SER PASTOR
Sent: quarta-feira, 26 de novembro de 2003 15:27
To: [email protected] Subject: LIVRE NA GRAÇA
Mensagem:
Graça e Paz ao amado pastor Caio, que não ministra da parte dos homens, nem por intermédio de homem algum, mas sim por Jesus Cristo, e por Deus Pai, que ressuscitou a Jesus dentre os mortos, e que foi Quem o chamou para pregar a doce Graça de Cristo.
Não como tolo, nem por tietagem, mas em amor, como um menino, agradeço a Deus, que chamou Paulo aos gentios, excluídos pelo farisaísmo, machucados pelo paganismo (ignorância quanto a Graça do Único); e também agradeço a Deus, que chamou Caio ‘a cyber-terra-gentílica’, refúgio dos também excluídos e machucados pelas mesmas razões.
Na maioria dos sites evangélicos o que pude encontrar foi propaganda e autopromoção, mas aqui neste cantinho gostoso pela Graça, encontrei a Graça; fluindo através de quem nunca deixei de admirar, por causa da Graça que ouvia. E agora, depois do “Confissões” e das confissões, admiro mais ainda por causa da Graça aplicada, vivida, e que vejo em sua essência derramada neste site.
Prefiro não dizer meu nome, embora minha história possa ser identificada. Devido ao tamanho da paz, carinho e sigilo que aqui encontrei, mais do que qualquer outra literatura sua, tive o desejo de abrir o meu coração e fazer minhas confissões.
Tenho 30 anos, sou casado, sinceramente feliz com minha esposa e filhinha de 10 aninhos. Sou pastor, segundo o chamado, há onze anos; segundo a “igreja” desde 98; mas isso tanto faz pra mim hoje; pois já tive tantos conflitos por não distinguir uma coisa da outra. Nesses anos todos, quanto mais forte sentia o chamado, mais me envolvia com a “igreja”, que sempre me decepcionava; então me afastava da “igreja”, mas infelizmente me afastava também da Igreja do Senhor, a qual fui chamado para servir. Bem, surgia o vazio, a tristeza de não responder ao chamado…aí eu voltava, me envolvia de novo com ela: a “bendita igreja”, que de novo me machucava.
Pastor, eu nunca gostei “dela”, sempre desconfiei de sua falsidade e hipocrisia; mas, enfim, tentei encarar, reter o que fosse bom, ser sal fora do saleiro (fora do saleiro e dentro da “igreja”), dar frutos onde fui plantado!
Em 98 me “ungiram”, que presunção! Não teve muita badalação; afinal quem sou eu? Acho que foi por caridade que me deixaram entrar; eu quis um pouco de badalação; talvez para sufocar a voz da minha consciência, ou das minhas dúvidas… Tudo bem, consegui um título… Nunca deixaram de mencionar a palavra “auxiliar” quando mencionavam o meu “titulo”…comecei a não gostar, crendo estava me tornando um deles. Veio também o desgaste da relação com o pastor titular, por motivos que eu não conseguia definir; ora eu achava que era por não ver nele a santidade do evangelho que eu cria; o que talvez, de minha parte, fosse legalismo também; ora era expectativa e carência de pai projetada nele, que não tinha nada de ver com minhas tragédias familiares (essa é outra história, sem um dia você tiver paciência de ler eu te escrevo). Enfim, eu não sabia e nem sei se sei ainda.
Mas o que fazer? Sem emprego, apenas salário pastoral… Bom, melhor do que eu ganhava fora, com minha pouquíssima formação de rapaz pobre da periferia (o que fazia sentir-me ainda mais vendido); e a esposa e a filhinha para sustentar. Pobre esposa, sofrendo com a distância do maridão, amigo, pastor no lar, que resolveu ser pastor auxiliar na “igreja” e estranho no lar. Criei coragem ou rebeldia, nem sei, pedi demissão, sem saber o que fazer, apenas contando com o carinho e a coragem da linda esposa que aceitou pagar o preço para ter o marido de volta.
Imagine, nessa mesma época, por ordem da justiça passei a receber de uma empresa na qual havia trabalhado há anos, em 12 parcelas, uma rescisão de contrato, que não me pagaram quando me demitiram. As parcelas mensais eram menos da metade do salário recebido na ‘igreja’, mas nos deixava tão felizes apesar de apertados.
Sempre ouvi histórias de homens que deixaram carreira e bons salários para servirem no ministério ganhando bem menos; eu fiz o contrário e glorifiquei a Deus tanto quanto eles. Dois anos se passaram desde que pedi demissão, recebi meu primeiro salário em meu novo emprego exatamente trinta dias após receber a última parcela daquela rescisão; agora já um pouquinho melhor do que recebia antes, e que ainda pagam na “igreja”. E neste mês de novembro/2003, um ano após começar trabalhar nesse meu emprego, sem eu saber de nada, sem passar pelos treinamentos requeridos e sem nenhuma explicação, fui promovido, com boa alteração no salário; fiquei muito feliz, porque não fui um funcionário excepcional, e recebi essa promoção ou por erro de alguém ou por pura Graça; creio que foi Graça!
E meu ministério? Em fevereiro de 2003, eu, acompanhado e estimulado por um amigo, sem consultarmos carne ou sangue, começamos a fazer visitas evangelísticas num bairro bem pobre daqui da cidade; “chão” dominado pelos usos e costumes e preconceitos com os sem “doutrina”…imagine conosco que éramos sem “igreja” (incrível, como eles são sempre os primeiros a chegar). A influência sobre o bairro já era grande, e havia muita gente excluída por não suportar a tal “sã doutrina”, andando desgarrada pelo bairro, marcadas e estereotipadas, mesmo não freqüentando as igrejas, elas não abandonam o estereótipo, que é menos agradável em comunidades com poucos recursos.
A mensagem da Graça mais do nunca era necessária ali; achei que iríamos ser bem aceitos, afinal o jugo iria se quebrar. Que nada! A idéia de ir pro céu só pela fé mesmo lhes pareceu esquisita! Dizer que Deus se importava e queria curar o coração fazia-os recuar dizendo que Deus não era açougueiro.
Chorei, busquei, sofri, mas alguns voltaram a ser o que eram antes: sem igreja, por acharem que Igreja era somente “aquela” da qual haviam sido tragicamente expulsos. Outros, no entanto, permaneceram, sendo que a maioria nunca teve, graças a Deus, nenhuma história evangélica.
A idéia de criar um ministério próprio me amedrontava. Um dia querendo enfrentar meus fantasmas, visitei a igreja onde havia sido pastor auxiliar. Nem conto o misto de sentimentos que borbulhavam dentro de mim, sem falar na surpresa que surgiu em todos, embora minha partida tenha sido dentro do possível numa boa. Bom, depois de uma conversa meio periférica e tal, com meu (sei lá) ex-pastor, surgiu o assunto desse grupo no bairro pobre. Outras conversas vieram, e sob o acordo de não negociar valores fundamentais, compreender o secundário, e em tudo o mais manter o amor, o pequeno grupo (30 pessoas que eu amo), no mês de agosto, veio oficialmente a ser uma congregação de minha antiga igreja. Até aqui o acordo, que é também lema da denominação, tem sido mantido…
Continuo com emprego secular e não abro mão disso, embora ninguém tenha me proposto o contrário. Os queridos irmãos lá na congregação do bairro carente estão indo bem, já estão testemunhando o encontro sem culpas que tiveram com Cristo; o grupo só não é maior porque não quero, e acho que também não sei fazer um oba-oba legal no bairro. Bom!!
Se o amado pastor abriu essa carta e chegou a ler até aqui, eis aqui minhas dúvidas. De acordo com o que leu se puder, me responda: Estarei eu fazendo a vontade de Deus, pregando o Evangelho sem barganhas a fazer, recebendo Dele condições e liberdade (até da denominação) para continuar esse ministério? E se assim for, por que sinto que me “aproximei da antiga igreja” para provar algo? Exemplo: mostrar como posso viver sem o salário “deles” e ainda posso desenvolver um ministério frutífero dentro do que é saudável. Já cheguei, de relance ler Paulo e até o amado pastor (me perdoem) por essa ótica. Por que não consigo definir isso dentro de mim e ser resoluto como te vejo em tuas convicções?
Por favor, me ajude! Quero ser o mais honesto possível com o povo a quem sirvo lá no bairro. Agora no final da carta com o coração ansioso, dolorido me despeço com gratidão e amor em Cristo!
Resposta:
Meu amado: Paz!
A gente só não tem barganhas a fazer com Deus, pois Ele determinou que está Consumado!
Davi, no entanto, dizia: “Caia eu nas mãos do Senhor; e não caia nas mãos dos homens; pois muitas são as misericórdias do Senhor!”
Com os homens a gente aqui ou ali faz algum negócio. Pode até ter que babar e se fazer de louco — como fez Davi com os filisteus. Mas sempre há alguma troca: “Permite-me beber de tua fonte e tomarei conta de teu rebanho” — propôs Davi mais de uma vez.
Com Deus não há barganhas a fazer, pois, que darei ao Senhor por todos os Seus benefícios para comigo? O que tenho para dar, se todas as minhas justiças são trapo de imundícia? Mas com os homens a gente tem que ser prudente como as serpentes e simples como as pombas. E não se pode jogar pérolas aos porcos.
Além disso, com os homens, às vezes, tem-se que fazer como Paulo e dizer: “De modo algum! Vocês me espancaram em público e agora querem me soltar no escurinho! De jeito nenhum!” Com Deus está tudo resolvido, mas com os homens, às vezes, a gente tem que ir até Jerusalém a fim de fazer uma santa média —como Paulo fez em Jerusalém— apenas para pacificar situações. Ou seja: com Deus o que prevalece é a Graça, mas com os homens, a Sabedoria.
O segredo é fazer isso tudo sem se deixar tornar “escravo de homens”. Esta é a sabedoria!
Além disso, vemos Paulo de “gloriando” de que nunca havia tido que se fazer “pesado” aos crentes da Acaia, pois trabalhara de graça, fosse provendo para si mesmo com seu trabalho de fazedor de tendas, ou fosse recebendo doações que vinham de outras igrejas mais amigas, maduras e abertas. Ele diz: “Esta glória ninguém vai tirar de mim nas regiões da Acaia!”
No mais, meu amado, fiquei superfeliz com sua Carta e com seu discernimento. Espero no Senhor que você continue firme, e que amadureça doce e belo. E folgo em saber que você pode fazer o ministério sem depender do dinheiro de ninguém.
Que Deus o guarde e o faça prosperar, e que aumente a sua riqueza e a alegria de seu casamento.
Nele, que nos chama,
Caio