MEU MARIDO E EU NOS AMAMOS, MAS QUEREMOS VIVER EM CASAS SEPA

——— Mensagem Original ——– De: MEU MARIDO E EU NOS AMAMOS,MAS QUEREMOS VIVER EM CASAS SEPARADAS Para: [email protected] Assunto: ME DÊ SUA OPINIÃO! Data: 26/09/04 04:09 Mensagem: Olá, Reverendo Gostaria, em primeiro lugar, deixar registrado aqui a minha admiração por você. Sua coragem e a maneira com que você encara a vida de uma maneira realista torna a vida mais simples!!! Bom, vamos direto ao assunto… Sou casada desde 1999. Conheci meu esposo em nossa Igreja, era tudo o que sempre quis. Nasci num lar evangélico também e sonhava em encontrar um “homem de Deus ” para me casar. Conheci o “Antônio”. Namoramos por 4 anos e resolvemos nos casar, tentando fazer a vontade de Deus. Éramos bastante envolvidos com a Igreja, com o grupo de jovens, com grupo de teatro, música, ensino, enfim, estávamos sempre pronto para servir. Chegou um dia, no meu segundo para terceiro ano de casada, o “Antonio” resolveu abandonar a Igreja, disse que estava a procura de seu verdadeiro “eu”, e que a Igreja só o reprimia. A princípio, aquilo foi um choque para mim. Fiquei me questionando: Onde está Deus nisso tudo! Entrei em choque! Procurei terapia (o que me ajudou bastante). Na verdade, mesmo antes do casamento (é claro que na época eu não via dessa forma) o “Antonio” tinha seus altos e baixos em relação à sua fé. Por ser intelectual freava algumas “regras da fé” e não se deixava levar pelo Espírito Santo. Eu o entendo, pois, também sou, ou tento ser, um pouco intelectual, e sei que fé e razão às vezes se chocam. Mas eu achava que Deus quem iria fazer algo, que Ele (como é Todo Poderoso) iria revelar-se ao “Antonio” de alguma maneira… Bom, quase 5 anos se passaram, e nós dois estamos chegando a conclusão de que a vida a dois é muito difícil (não temos filhos). É estranho admitir, mas o “Antônio” pós-igreja é bem melhor que o “Antônio” evangélico. E também é difícil admitir que às vezes dá vontade de separar. Ontem, “Antonio” me fez a proposta de cada um morar em um apartamento e nos vermos como namorados-amantes. Isto é: continuarmos casados só que livres, não para sair a procura de outras pessoas para namorar, mas pela questão da liberdade. É interessante porque muitas vezes eu cheguei a pensar nessa hipótese, mas para mim, nascida numa Igreja, com tantos conceitos formados, é difícil admitir; e, com certeza a própria Igreja iria me rejeitar se eu tomasse essa atitude, não é verdade? A família também… Só que eu fico me questionando: qual o sentido da vida? É sair cedo de casa e ficar trancado o dia inteiro dentro de uma empresa, cumprindo 8 horas de trabalho sob pressão, competição, mesquinharia??? Tento crer que a vida vai além disso! O interessante observar que eu e o “Antônio” nos damos muitíssimo bem. Ele fala que eu sou “o sonho de consumo” de qualquer homem. Não só pelo físico, mas pela pessoa que sou. Ele também me conta que todos os amigos dele estão em pé de guerra com as suas respectivas esposas, pois elas são insuportavelmente chatas e que o nosso caso é único. Ele não tem uma esposa chata, nem ciumenta, nem mandona, pelo contrário, carinhosa atenciosa. Mas nem por isso eu estou conseguindo manter meu casamento de pé. Ele também diz que o problema não é comigo, e sim com ele. O que está me incomodando são os pensamentos que me vem à mente, do tipo, penso no diabo dando pulos de alegria e dizendo: consegui mais uma vitória!!! E pior, eu estou permitindo, pois, hoje, não me incomodaria tanto se a saída fosse a separação (de casas). Mas não quero mistificar, quero ser prática. Me sinto como se estivesse vivendo no tempo do barroco: os dogmas da Igreja me sufocam e meu “eu” quer aflorar, mas não pode… Espero ter sido clara com minha carta e aguardo, ansiosamente uma resposta. Um abraço ___________________________________________________________ Resposta: Minha querida amiga: Encontre seu próprio conforto! Viver é também encontrar seu próprio conforto; ou seja: encontrar o meio que viabiliza a existência. Ética é encontrar o lugar no qual a vida é possível, e o conforto no qual a existência encontre sua própria possibilidade de ser. De fato, ética é como um telhado para a vida! A moral religiosa propõe ao ser humano que não construa sua própria casa e seu próprio telhado. A moral religiosa vende casas prontas e cada um tem que aceitar o modelo industrial no qual tais “casas” são feitas em série. Quem casa, quer casa. E cada casamento tem que encontrar sua própria casa-ética. O que é uma casa-ética? Ora, é o meio pelo qual o vínculo se protege e encontra seu próprio conforto. Na realidade, muitos casamentos acabam porque não suportam a vida na casa-ética-pré-fabricada pelas convenções. Cada casal deveria ter a liberdade de ver como vive melhor. E, em relação a isto, ninguém tem que se meter. Decidir como um casal tem que viver casado, é algo de uma arrogância inominável. Portanto, se para você e para ele essa é uma possibilidade de maior conveniência, e se tanto você quanto ele gostam da idéia, por mais heterodoxa que ela seja para os padrões religiosos, não esquente a cabeça. É infinitamente melhor ter um casamento no qual ambos estão felizes no acordo, do que um casamento no qual ambos mantenham a convenção, mas em profundo desacordo. Um casamento sem filhos propicia grande liberdade! Assim, não há nem o conflito acerca dos filhos. Portanto, enquanto as coisas foram assim, melhor será, também, que vocês não tenham filhos; pelo menos até verem se essa casa-ética lhes dará segurança e conforto emocional. Esta é minha opinião! A alternativa, saiba, será profundamente infelicitante, visto que seu marido, mais que você, é quem deseja morar num outro lugar. Ou seja: você topa, mas ele quer. Forçar para manter o padrão convencional, apenas lhes garantirá a impossibilidade do casamento. Conheço casais que vivem muito bem desse modo, e há anos. Se no caso de vocês dará certo, somente o tempo revelará. Um abraço, Caio