ELE DEIXOU MEU FILHO MORRER QUEIMADO. EU VI!
——— [Mensagem origina] ——–
De: “Izis Maysa”
Para: [email protected]
Assunto: ELE DEIXOU MEU FILHO MORRER QUEIMADO. EU VI.
Data: 23/09/04 14:19
Caro Pastor,
Tomei conhecimento do seu site através de outro pastor, quando este conversava comigo a propósito de me falar da Palavra de Deus, pois perdi meu amado filho Thiago (18 anos), no dia 08 de abril de 2004, num acidente de trânsito.
Como você perdeu seu amado Lukas, caro Pastor, eu também perdi o meu, que era o único. Ele era meu tesouro, meu troféu, uma pessoa adorável, um filho muito carinhoso e companheiro. Conhecia a Palavra de Deus e reconhecia a Jesus como seu Senhor e Salvador. Era sensível à espiritualidade e obediente. Viajávamos em família, meu marido, Geraldo, Thiago (pela altura que tinha estava sentado no banco do passageiro, na frente), eu e minha filha, Deborah(22), que íamos atrás. Subitamente um rapaz de 29 anos, transitando em uma velocidade absurda, bateu num trevo e veio por cima de nós, incendiando…
Os “airbags”abriram, mas pelo combustível que recebemos do outro carro, tudo começou a pegar fogo. Eu e minha filha saímos do carro, e fui tentar tirar meu filho, que estava inconsciente (depois vim a saber que teve uma fratura de crânio terrível), sem conseguir tirá-lo, porque ele era um grande homem grande, em todos os sentidos. Tirei meu marido do carro, já com muitas queimaduras e fratura. Meu marido tentou ainda tirar nosso filho, sem êxito.
Foi horrível ver tudo incendiando e meu filho lá dentro, no meio das chamas.
Nunca buscamos tanto a Deus como nos últimos anos e naquele dia. Íamos fazer uma programação em família. Sempre gostamos mutuamente de nossa companhia. Tínhamos acabado de fazer nossa oração e o primeiro a dizer “Amém” foi ele.
Confiante foi meu filho.
Isso é loucura para mim. Não consigo compreender com meus olhos carnais que tenhamos sido abandonados por Deus. Eu clamei a Ele naquele instante, até porque meu filho estava plenamente entregue a Ele, desde pequeno. Eu o entreguei ao Senhor, para que Ele cuidasse dele. Mas como posso entender tudo isso? Será que, mesmo sem saber o porquê, estou sendo punida por um Deus que não conheço? Por que levar meu filho dessa forma?
Estranhamente eu havia assistido, na semana anterior, ao filme “A Paixão de Cristo” e saí do cinema afirmando que jamais conseguiria ser Maria, a mãe de Jesus. Não tenho tal resignação.
Estamos como mortos vivos. Eu tentando voltar a atividade de advogada, e meu marido, ainda com seqüelas de queimaduras nas mãos, voltando também a trabalhar na profissão(dentista).
Minha vida nunca mais será a mesma, eu sei.
Não consigo ficar contemplativa e resignada diante de tanta dor. Sei que não há outro caminho, senão aquele que nos leva ao Senhor, mas não tenho entendimento para coisas desta natureza.
Não cheguei a blasfemar, mas estou distante do Pai, como se tivesse sido abandonada. Estou desapontada. Será que o maligno tem poder para interceder e vencer diante dos filhos de Deus? O Senhor permitiu ou se omitiu diante do episódio terrível que levou meu amado Thiago.
Receba meu abraço carinhoso, minha solidariedade pelo que você está passando.
Sei que você é um homem de Deus e deve ter algo a me dizer.
Obrigada
Izis
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Resposta:
Querida Izis,
“Eu sou a ressurreição e a vida. Aquele que cê em mim, ainda que morra, viverá; e todo aquele que vive, e crê em mim, não morrerá eternamente”—Nosso Senhor Jesus.
Sei o que passei e passo, por isso, imagino o que você está passando. Não digo que sei o que você esteja passando, embora conheça a espada que acompanha essa dor, apenas porque cada dor é como cada um. Além disso, tive a benção de não ver meu filho ser atropelado. E também não quis ir ao lugar, onde o corpinho dele ficou por mais de 4 horas, esperando as formalidades. Meu filho, Davi, foi quem segurou essa onda, que nem onda é; é, de fato, um Tsunami de agonia. Meu filho mais velho, Ciro, cuidou dos papéis legais para o sepultamento imediato.
Eu havia sido introduzido às intimidades da morte, pela primeira vez, quando um amigo se suicidou, aos 16 anos. Que choque!
Depois, quando eu estava com 22 anos, meu mano, Luiz Fábio, morreu num acidente de carro. Naquele tempo eu poupei meu pai de ver e cuidar do corpo. Eu fui para o meu pai como meus filhos, Ciro e Davi, foram para mim. Cuidei do corpo, lavei-o, vesti-o, e o transportei para o tempo onde ocorreu o velório. Eles fizeram o mesmo por mim.
A morte de meu irmão me catapultou para a eternidade!
Sim, a morte dele foi o primeiro agente de imersão minha no eterno. Os céus se abriram, e me choquei com os primeiros lampejos do significado do que é a plenitude eterna.
Senti saudades dele durante anos. Depois foi virando lembrança. Hoje é suave doçura.
Muitas vezes chorei só, e centenas de vezes eu acordei assustado porque havia sonhado com ele vivo e bem perto, fazendo os gestos de mãos e face que o caracterizavam como rapagão quieto, discreto e sempre pronto para ajudar e servir.
Durante a vida, como pastor, enterrei centenas de pessoas, e sempre lidei com o fato da morte com muita proximidade.
Além disso, já me vi morrendo muitas vezes, pois não foram poucas as ocasiões em que não morri por um triz. Muitas e muitas vezes. Deus sabe.
Há uns dois anos eu quase morri outra vez. Por pouco não parti. O acidente, muito parecido com o seu, não gerou as conseqüências que tinha que ter gerado dada a gravidade do ocorrido. Milagre!
Isso sem falar nas mortes existenciais e psicológicas que já vivi, ou das dores dos funerais-vivo que já conheci. E também é horrível.
Há cinco meses o meu filhote, o Lukas, se foi…e agora é.
Aqui no site eu expressei de modo muito claro a minha dor. E muitos textos estão aí, para serem lidos, no link “Lukas, meu filho”.
Gostaria que você os lesse, pois, quem sabe, podem vir a lhe fazer bem.
O que eu sinto todos os dias, e acerca das dores súbitas e lancinantes que me sobrem ao coração, e, em alguns dias, de modo indiscritivelmente doído, não preciso lhe explicar. Você, hoje, sabe quase tudo sobre dor.
Graças a Deus ninguém sabe tudo. Somente o Servo Sofredor sabe tudo sobre toda dor.
Perguntei-me muitas vezes o que escreveria a você. E, sabe, de fato, não tenho nada a lhe dizer. O que poderia eu dizer a você? Qualquer palavra, nesta hora, pesa mais que todo peso, e toda tentativa de diminuir a dor do absurdo, soa como blasfêmia contra o sentir da alma.
A única coisa que desejo expressar é minha oração por você. Faço-a por escrito no mesmo instante em que a elevo, Nele, diante de Deus, bem dentro de mim, pois é em mim, onde encontro essas elevações divinas. Cristo vive em mim.
Oração:
Tu que és, e em Quem eu sou e existo, eu e todos os que vivem e existem, pois em Ti todos vivem, ouve minha oração.
Peço-te por essa mãe, por esse pai e por essa filha—órfãos de filho e irmão.
Rogo-Te que lhes dês o balsamo da paz que excede a todo entendimento, e que também lhes dês de beber das fontes das consolações.
Toma-os em Teus braços, e esconde-os das setas das lógicas, e das buscas de compreensão. Salva-os da busca pela lógica, para que não sofram o colapso da esperança.
Salva-os da lógica da amargura, que é quem primeiro se candidata a responder a todas as perguntas feitas pelo Absurdo.
Transforma todos os gemidos em poesia, e todas as angustias em preces. Toma a dor e santifica-a como louvor dos que amam com saudade e agonia.
Recebe a dor deles como canto de amor a vida, e que para cada suspiro aflito haja o ar da misericórdia sendo inspirado como oxigênio para o coração.
Salva-os de prenderem-se ao que poderia ter sido diferente, e ajuda-os a aceitarem o que não entendem como bem misterioso.
Apaga de suas mentes as chamas da aflição, e remove de suas almas as cenas congeladas e eternas dos infindáveis instantes de luta contra o carro feito cadeia de fogo.
Dá-lhes sossego à mente, descanso à alma, e conexão permanente entre seus espíritos e as profundezas dos gemidos de Teu Espírito.
Traze-lhes a paz que excede o entendimento, posto que assim aquilo que hoje não lhes é possível compreender não terá o poder de se fazer algoz de suas esperanças.
Envia Teus anjos, para que lhes consolem!
Derrama sobre eles gratidão pela vida que nele, o Thiago, eles encontraram. E apaga de suas mentes o modo como eles se separaram.
Capacita-os a verem o invisível, e projeta seus espíritos na eternidade. Assim seus corações terão o consolo do bem que o Thiago já experimenta em plenitude, em Tua Presença.
Concede-lhes amarem tanto a ele, que a alegria que ele Desfruta em Ti, faça-se em seus corações maior que a dor de sua ausência aqui; e que a percepção das alegrias que ele tem em Ti, sejam mais fortes que as lembranças daquilo que neles é hoje sentido como perda.
Dá a eles paz para até mesmo não terem paz!
Concede-lhes vislumbres do Lar Eterno, e diminui neles a importância da presente tenda.
Faze com que em seus espíritos o carro em chamas se transforme, miraculosamente, em uma carruagem de fogo, e que levou um tesouro a Ti, e que Teu é, ainda que a visão terrena tenha sido catastrófica de abandono.
Mostra-lhes a eternidade como se fosse a visão do domingo da ressurreição, assim a mãe-maria poderá se alegrar com a ressurreição do filho, e não viver traumatizada com sua paixão no fogo da dor.
Converte-lhes a fé que dá forças para se viver no tempo, numa fé que traga a eternidade para dentro do tempo.
Dá a eles sonhos da Glória, e abre-lhes os Portais Eternos!
No Nome que está acima de todo nome, e no Amor que é maior que qualquer Absurdo,
Caio
Ps: mande-me seu endereço que tentarei lhe enviar meu livro “O Enigma da Graça”, sobre Jó, e que muito poderá lhes ser útil.