HOMENS E TILÁPIAS, UM MESMO DESTINO!
—–Original Message—–
From: Givaldo Matos
Sent: domingo, 5 de outubro de 2003
To: [email protected]
Subject: Juan Luis Segundo, o que você acha?
Mensagem:
Prezado Caio,
Que prazer enorme saber de seu site… e que saudades imensas de ti…
Descobri hoje…
Mas imediatamente me acendeu uma esperança de lhe pedir uma partilha… Conhece o teólogo jesuíta uruguaio Juan Luis Segundo (1925-1996)?
Por favor, responda minha curiosidade…é que quando a gente conhece dois gigantes, logo quer saber da correspondência…
Estive a pouco lendo um texto dele, chamado “ A Concepção Cristã do Homem”.
O livro todo é uma delicia de ser lido. Mas lhe pediria sua partilha, a partir destas palavras do texto (Pg. 17).
Um fortíssimo abraço, para matar a saudade que nunca se vai.
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De Juan Luis Segundo:
No Rio de Janeiro, numa reunião mundial da Juventude Operária Católica, um delegado africano disse o seguinte: “Há mais de 4 séculos que o cristianismo existe aqui, não é certo?” Responderam-lhe que sim. “E nesses 4 séculos jamais baixou de 95% da população, não é assim?” Assim é. “Neste continente praticamente cristão durante 4 séculos, os cristãos deixaram surgir essas favelas e podem conviver tranqüilamente dias, meses e anos com essa miséria. Que significado tem, então, para vocês a palavra cristianismo?”. O teólogo Juan Luis continua a exposição do texto, traduzindo a pergunta da seguinte maneira: “Qual a imagem do homem que tiraram do cristianismo para conviver sem angústia esta miséria?”.
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Este é o texto.
O que você acha?
Givaldo Matos – Dourados – Mato Grosso do Sul
Pr. e Prof. Faculdade de Teologia Batista Ana Wollerman
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Resposta:
Givaldo: Paz!
Conheço o Segundo. Já li algumas coisas dele, especialmente no fim da década de 70 e início da de 80. Acho que ele tem coisas ótimas. Especialmente no que concerne a humanidade da leitura da Bíblia. Coisa que falta demais na leitura Protestante da Bíblia.
Sobre “qual a imagem do homem que tiraram do cristianismo para conviver sem angústia esta miséria”, eu creio que o cristianismo não tem uma imagem real do homem.
Aliás, essa desconstrução maligna pré-existe ao homem no equivoco cristão e protestante. O cristianismo não tem uma imagem da criação. Daí não ter uma imagem digna do homem.
No cristianismo o homem é apenas uma alma a ser salva, não um ser que pode crescer ainda no convívio com a criação.
Isto acontece porque a visão da redenção no cristianismo histórico é infinitamente menor que a realidade da criação.
Ou seja: um pedaço da criação cabe na redenção cristã, mas a maior parte dela é considerada como lixo. E a parte que cabe é “apenas representativa”, mas não é plena.
Da mesma forma com o homem. Além de que apenas algumas partes do homem cabem na redenção “cristã”, o resto da humanidade está fadada ao carma do inferno, ou, na melhor das hipóteses, a um ato de misericórdia que deletará o restante.
Portanto, não há porque, na prática, o cristianismo se importar nem com a criação e nem com a humanidade.
Estou com um livro “pronto” sobre isto, chamado “E as Tilápias serão glorificadas”.
Um beijão,
Caio
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—–Original Message—–
From: Givaldo Matos
Sent: segunda-feira, 6 de outubro de 2003
To: [email protected]
Subject: Acerca de Tilápias e Homens
Caro Pr. Caio,
Obrigado pela resposta que deu ao meu e-mail.. fiquei surpreso pela sua disposição, até porque imagino como deve ser sua agenda.. não a esperava tão cedo, e para mim, é representativo trocar dois e-mails contigo.. muito obrigado, e sua resposta foi mais que significativa para mim.. a teologia da criação é para mim objeto de estudo especial.. e gostaria de lhe perguntar quando é que sairá seu livro sobre o assunto.. tenho lido alguma coisa nesta área, e recentemente apresentei uma dissertação de mestrado na UMESP, convergente.. falei sobre a necessidade de se repensar o papel humano, sob uma perspectiva teológica, frente à revolução e paradigmas operados pela engenharia genética.. a princípio, usei um texto de um teólogo norte americano chamado Ronald Cole-Turner (The New Gênesis – Theology and The Genetic Revolution).. a perspectiva apresentada pelo autor é convergente aos últimos postulados dos estudos da teologia da criação, pelo menos como a concebe o teólogo galego Andrés Torres Queiruga (Recuperar a Criação), também Juan Luis Segundo (Que Mundo? Que Homem? Que Deus?), Luis Carlos Susin (Teologia da Criação) e Juan L. Ruiz de La Peña (Teologia da Criação). Achei interessante ainda o pensamento do teólogo protestante Philip Hefner (The Factor Human – Evolution, Culture and Religion). As vezes, me sinto como se expressa Rubens Alves, em seu “Protestantismo e Repressão”.. essa tremenda vontade de que se reconfigure nosso modelo de ser igreja no Brasil, à luz de algumas críticas que já há muito deveríamos ter ultrapassado.. obrigado pela intuição que senti na tua resposta, de uma concepção de redenção que abarque toda a criação, sobre aquela concepção subjulgada pelo discurso grego de alma. Espero ansioso pelo seu texto (E as Tilápias Serão Glorificadas).. minha esposa é estudante de biologia, e amou o título.. mas minha nota neste e-mail é agradecer por escrever algo nesta questão.. sinto a carência de referências protestantes nesta área, e seu pensamento será, com certeza, embasamento para tantos pastores no Brasil que gostariam de desabafar uma concepção mais abrangente, não reducionista, mas não tem em quem se espelhar, senão no pensamento católico (fato este que, pelo menos em nossa região, sofre pelo preconceito).. a propósito.. li seu artigo sobre ‘a voz de Deus que se pronuncia sobre toda a terra’.. com certeza, sua intuição se fez percebida.. e fica na gente um desejo que termines o artigo.. um abraço, Pr. Caio.. de um irmão que sempre agradeceu a Deus pela tua vida..
Givaldo.
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Resposta:
Amigo querido:
Estou com um texto pronto—Sem Barganha com Deus—e esse outro de que falei, em processo. Creio que no próximo ano o das Tilápias “emergirá”.
Minha convicção é que a Teologia comete um crime quando “pensa Deus”. O papel dela deveria ser “pensar o homem em Deus”. É o máximo que a teologia pode pretender fazer.
Meu beijão,
Caio