—– Original Message —–
From: FIQUEI ESCRAVA DE MEUS DONS…
To: [email protected]
Sent: Wednesday, October 06, 2004 3:11 PM
Subject: ME AJUDE…
Mensagem:
Me identifiquei muito com o artigo que escreveu, Intitulado: VOCÊ SE TORNA ETERNAMENTE RESPONSÁVEL POR AQUILO QUE CATIVA?
Já sofri muito porque as pessoas me confundiram com o Deus que me usou. Tudo vem dele! E só Dele todos devem depender. Só Ele é capaz de ser o que precisamos e estar presente em todos os momentos que necessitamos.
Uma irmã já me disse que preferia que eu nunca tivesse existido. Porque agora ela sabe o que poderia receber de mim e não recebe mais.
Infelizmente, foram tantos os ataques que me sinto morta!
Me apavora voltar a sentir tudo aquilo. A incapacidade de administrar minha vida pessoal e a vida daqueles que me procuravam em busca de aconselhamento e “amizade”.
Sei que Deus me deu o dom de aconselhamento, e a vida nos ensina muitas coisas que faz bem compartilhar.
Ajudar quem está vivendo o que já vivi. Ver alguém sorrir quando chegou com tanta amargura na alma. Ver a esperança e a fé brotar nos olhos de uma pessoa que estava desesperada. Mas quem faz isso é o Senhor! NADA vem de mim. Sou somente uma pessoa normal sendo usada por Deus. Não posso levar todos nas costas ano após ano em nome do “amor”!!
Foram anos de cobrança que me levaram a me afastar de todos. Não me aproximo de ninguém e nem permito que ninguém se aproxime. Sei que criei uma muralha entre mim e as pessoas da igreja. Isso me entristece muito, mas não consigo chegar a um equilíbrio.
Há alguns meses fui chamada para conversar com uma antiga “amiga” e ela desabafou dizendo que eu era assunto da sua terapia, porque ela havia me perdido para outros amigos meus. Falou que eu preciso retomar meu ministério, me aproximar mais dela e de muitos outros que precisam de mim, etc…
Chorei muito, me envolvi na situação, pedi perdão e prometi que ia tentar mudar. Depois disso não consigo ir à igreja, pois sei que ela está me observando e julgando meu comportamento. E não consigo mudar.
Como você disse, mal consigo dar conta dos meus problemas e do meu dia-a-dia.
Desculpe-me, pois sei que está tudo confuso. Mas eu também estou, e este texto só reflete os meus sentimentos.
Obrigada pelo desabafo.
Abraços
Resposta:
Minha querida amiga: Paz e Serenidade!
Faz um ano e meio que escrevi aqui no site o seguinte texto, e que pode ser encontrado em Artigos. Leia:
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Nunca tive a coragem de dizer como era, de fato, a minha vida. Apenas para se ter uma idéia, o atual presidente Lula, quando me conheceu, há treze anos, me disse: “Eu passo por uma campanha presidencial e fico quebrado. Tenho que descansar. Você vive numa campanha presidencial o tempo todo!”
Além dos compromissos assumidos, havia ainda as responsabilidades incompartilháveis. E eram em quantidade inumana. Acho que acabei ficando saturado com tantas responsabilidades e demandas. Para piorar as coisas havia o elemento místico. Muita gente cria que se eu as tocasse ou lhes dissesse uma palavra, suas vidas mudariam. E não adiantava eu dizer e escrever o contrário!
Quando dizia “não tenho esse poder, pois sou apenas um homem”—a resposta era invariavelmente a seguinte: “Vejam como ele é humilde!”
E a neurose aumentando…
Tinha que tentar atender a tudo e todos. E não atendia 2% do que me vinha de demanda e não aceitava quase nada do que me vinha como “oportunidade”.
Chegou o momento da vida em que não apenas no meio cristão eu não podia comer ou andar em público—à menos que aceitasse levantar dezenas de vezes para abraçar e ser abraçado enquanto os que comigo comiam cansavam de esperar e de ser interrompidos!
Não podia botar o pé fora do quarto em congressos, conferências, encontros e outros lugares de convenção. Ao chegar num hotel tinha que pedir que não passassem ligações para o meu quarto, do contrário, às 3 da manhã ou qualquer outra hora seria acordado!
“Pastor, sei que o senhor está cansado. Mas a Palavra diz que os que esperam no Senhor não se cansam nem se fatigam” — era o refrão que eu ouvia sempre, enquanto estava para desmaiar de fraqueza!
“A quem tem, se lhe dará”, disse Jesus!
Inclusive muita dor de cabeça!
O volume de “sucessos” atraía cada vez mais interessados!
Depois veio o momento em que não podia mais ir à praia. Nem no fim do mundo, no quintal mais distante do Brasil.
Uma olhada, duas, três… Meia hora depois todos os pastores do lugar estavam sob minha barraca. E os crentes e descrentes pedindo alguma coisa!
Tornou-se desagradável para a minha família sair comigo. Nem com eles eu podia ter tempo para ser apenas eu!
E eu não podia nem “perder a cabeça” e dizer “agora não”, ou quem sabe, um solene “não encha minha paciência” — especialmente porque a maioria das questões não eram questões, era apenas a questão de um dia ter me trazido uma questão e, de mim, pessoalmente, ter obtido uma resposta, mesmo que fosse sobre “meteorologia”.
Passei a tirar férias em outros países!
Mas de 1990 para frente, invariavelmente, onde eu estivesse, era uma questão de tempo e o sossego seria interrompido!
Isso sem falar nas urgências:
“Reverendo, o senador….”; ou ainda: “Reverendo, o governador…”; ou pior ainda: “Reverendo, estamos com problemas…”
Não importava o lugar. Nem no deserto do Neguebe eu tinha descanso!
Tenho inúmeras testemunhas executivas desse modo de viver. Eram as pessoas que diminuíam meu desconforto um pouco mais, fazendo o filtro e só deixando chegar a mim o que era inevitável.
Então vinham os amigos psicologicamente preocupados comigo. Os mais sensíveis. Os mais intelectualizados. Os mais “humanos”.
“Caio, vem passar uns dias aqui, meu irmão. Não sei como você agüenta. Fica aqui uns dias. Aproveita e prega só no sábado e no domingo à noite. No resto a gente bate papo e descansa” — como se descansar com eles fosse um privilégio tão grande que pregar dois dias não me cansasse. Para eles era um advento. Para mim, mais um de milhares de eventos!
E muitos nem eram um evento, mas somente é-vento!
Para piorar ainda havia a impossibilidade de ser gente com as pessoas. Toda e qualquer aproximação de mim virava um capital.
Quase tudo era tráfico de influência ou capital de intimidade!
Se eu tentava ser mais próximo, aberto, livre, afável — virava “íntimo”!
Se alguém perguntava se eu queria que orassem por mim, logo, na semana seguinte, começava a receber telefonemas de pessoas de todos os lugares perguntando se eu estava bem. Afinal, o meu “intercessor” havia ligado para muitos dizendo que eu estava “precisando de oração”.
Uma carona ao aeroporto virava um vínculo profundo. Não reconhecer aquela face anos depois no meio de milhares de outros rostos era uma “ofensa”.
O consolo vinha-me da seguinte forma:
“Não ligue não, reverendo. É que o Senhor é muito amado!”
Mas eu não estava num concurso de amor. Só queria que Jesus fosse totalmente amado e Sua Palavra crida!
Sem falar ainda naqueles que do nada ficavam grossos, sem eu saber o por quê. Depois ficava sabendo que era reação à esposa ou filhos que me amavam.
Havia também a inveja de muitos adoecidos, que quanto mais pediam ajuda e eu os ajudava, mais me odiavam. E entre esses há figuras de “respeito” andando e pregando por aí. Tenho testemunhas de suas confissões de inveja amargurada!
Muitos dos meus piores detratores foram justamente as pessoas a quem mais dei ajuda prática, no ministério. Se contasse as histórias deles comigo não haveria muito capital de respeito que lhes sobrasse a fim de continuarem animando o circo!
Hoje, cinco anos depois de eu haver dito “basta” para aquela sugação, ouço o seguinte:
1. “Ele pifou porque não ouviu ninguém”.
2. “Ele se esgotou porque assumiu mais do que devia”.
3. “Ele explodiu porque não respeitou os limites do corpo”.
4. “Ele quis ser sobre-humano”.
5. “Ele foi mordido pelo monstro que criou”.
6. “Ele se tornou inacessível, por isso ficou só”.
Creio que ninguém consegue entender melhor os mecanismos e dinâmicas psicológicas e espirituais do que me aconteceu do eu mesmo!
Sem soberba e sem vaidade! É só porque não tenho medo de me encarar!
Posso me ver na Graça. Na Graça não há medo. O perfeito amor lança fora o medo!
Comentando minha história e também sobre a tentativa presente de pessoas entrarem no mesmo jogo —ao qual não me permitirei nem por um momento—, ouvi o seguinte.: “Diz para eles que você só não pôde ser você mesmo e ser acessível porque eles não deixaram!”
É isso aí!
Imagine só. Sou amigo do Lula há mais de uma década. Já segurei ondas brabas por ele. Será que isso me dá o direito de ir importuná-lo? Ou quem sabe, baseado na perspectiva da intimidade, quem sabe eu poderia me sentir no direito de fazer intervenções no governo dele?! Ou será que ficarei amargurado se ele não puder me chamar para um almoço?
Se gosto dele, entendo o que é estar na pele dele!
Quem já viveu, já sabe. Quem nunca viveu, apenas julga!
Nesse sentido a Internet é perfeita: dá a todos a chance de falar e ao indivíduo a chance de responder em paz!
Amizade nunca acontece no atacado. Pode-se amar no atacado. Pode-se reverenciar no atacado. Pode-se aproveitar no atacado!
Mas o varejo da amizade não é de muitos. Mesmo num grupo de doze, havia três!
Hoje tenho meus três amigos. E são tão de fora do circuito que ninguém sabe nem quem são. E só por isso temos podido ser tão amigos!
Deus salve os amigos!
Deus abençoe os que me amam!
Deus perdoe os que me odeiam!
Deus traga o de coração limpo!
Deus me ajude a ser apenas um homem para os demais homens!
Deus nos ajude a levarmos as cargas uns dos outros e, assim, cumpriremos a lei de Cristo!
Caio
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Continuando:
Faça o seguinte:
1. Volte para onde você quiser voltar, e quando o desejar.
2. Faça o que você gosta e com quem gosta. Sem culpa. Até Jesus gostava de estar mais com certas pessoas do que com outras.
3. Aprenda a dizer “não posso”, e a não ceder quando de fato você não puder ceder.
4. Respeite seus limites, e não aceite que ninguém os estabeleça por você.
5. Fuja dos amigos para quem sua presença é uma necessidade, para eles.
6. Não aceite missões messiânicas, do tipo: só você pode dar jeito nisto!
7. Faça isso sabendo que você não tem poder nenhum, e que não tem porque viver culpada.
Se você puder manter essa serenidade, saiba, como hoje eu sei, você poderá ir onde quiser, e sair de onde quiser, e ninguém irá seqüestrar você!
Um beijo!
Nele, que nos ensina a descansar e a respeitar nossos limites,
Caio