QUERO ME SEPARAR, MAS NÃO ESTOU PREPARADA!
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From: QUERO ME SEPARAR, MAS NÃO ESTOU PREPARADA!
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Sent: Wednesday, October 13, 2004 7:57 PM
Subject: Batalha p/ a separação
Prezado Pastor Caio Fábio,
Boa Noite!
Vejo que as inúmeras literaturas evangélicas, quando o assunto é divórcio, tratam apenas da parte que fora “repudiada” (como se levantar, como aumentar a auto-estima, etc).
Diria que, a outra metade que se dissocia também precisa ser tratada, acolhida, para que os passos a serem tomados sejam firmes, principalmente quando se tem filhos.
Quando se é evangélico, ao se separar, a pessoa tem que enfrentar os seguintes gigantes:
– a sociedade que discrimina a ação, principalmente quando a mulher pede o divórcio;
– a família (principalmente a do marido), quando a mulher toma a atitude da separação;
– a igreja, quando recrimina e não trata as feridas de quem decide pela separação; torna-se parcial.
Talvez pense que se ajudar a outra parte a se soerguer, estaria ratificando uma atitude contrária aos
“padrões bíblicos”.
Enquadro-me numa situação onde não amo meu cônjuge, contudo não vejo o momento, ainda, de me separar. Sinto-me fragilizada e ainda não preparada. Mas preciso tomar esta atitude (médio/longo prazo), pois
do jeito que estou, sinto-me hipócrita e sem ousadia ( sem vida e exemplo de vida) para pregar o evangelho do Senhor Jesus.
Não me sinto à vontade quando vejo mulheres que compartilham comigo problemas no casamento, por conta do marido que não mais quer a união. A situação minha é contrária.
E ao me ver separada ou divorciada, (tempo futuro) de que forma, eu, uma SERVA, poderá dar um testemunho de mulher cristã, salva pelo sangue de Jesus, uma vez que não se submeteu a um casamento que para ela era um fardo e não existia amor da sua parte?
A batalha para a sobrevivência não será fácil! Penso em desenvolver uma atividade para-eclesiástica, pois a inserção na IGREJA LOCAL será muito dolorosa.
Os olhares tortos e de reprovação serão inevitáveis.
Tenho uma outra pessoa que habita meu coração. Ele diz que me ama e eu confio no que ele diz. Como tem família, precisará prover, primeiramente, com casa e alimentos, antes de pedir o divórcio. Não o pressiono com essa atitude, pois sei que difícil é para ele, como será para mim.
Vejo minha mãe já idosa e penso, será que minha atitude de separação não iria trazer mais desgosto à querida madre… às vezes são tantas justificativas para o não enfrentamento ! (…)
Tenho um esposo que grande parte das mulheres da igreja gostaria de ter como marido… crente, não tem vícios, bem aparentado, com boa profissão.
Ele sente que não o amo, pelas minhas próprias atitudes. Não há interação corpo/alma. Tenho afeição por ele; carinho, tão-somente. Tenho filhos. Sei que no início sofrerão, mas sou “mãe”, e como tal, nunca os deixarei, e sei que irão me perdoar, com o tempo.
Casei-me muito jovem, imatura. Tinha dúvidas do meu amor desde o início (longo namoro e noivado; acabei casando-me).
Acomodei-me à situação, pois uma vez no barco “casamento”, somos acomodados pelos padrões da igreja/família/sociedade a não deixarmos a embarcação, mesmo que tenha sido um barco “furado”. Não há para onde correr.
Meu cônjuge diz que me ama. Mas suas atitudes são, muitas das vezes, parecidas com obsessão. Será que me ama mesmo ou será um amor doentio?
Quem ama, quer ver o outro feliz e deixará partir, sem traumas. (os homens não aceitam isso com facilidade, pelo fato de serem HOMENS).
Ele não aceitaria facilmente a separação pelos motivos ( a + b + c), de acordo com os dogmas da igreja e certamente eu seria tida como não cristã. Não será, certamente, uma fase tranqüila, pois todos saberão e dirão: não existe motivo para a separação (o motivo de não mais o amar) será tido como vão.
Se eu me separar, estou certa que será por mim, porque não suporto que me acaricie, que me toque.
Quero resguardar o meu corpo para a pessoa a quem realmente amo. Mesmo que demore a chegar este dia (novo casamento) ou que a morte me leve antes ou a ele.
Agora não me sinto preparada, mas estou disposta a me separar a médio/longo prazo. Estou me preparando, inclusive, para ver meu atual cônjuge se casar novamente; enquanto eu continuarei esperando o meu dia… que poderá demorar muito a chegar ou a não chegar.
Não posso tomar decisão por conta do outro, mas por mim. Se preciso for ficar sozinha, ficarei até a morte (imagine: considero-me de boa aparência, com trabalho bom, estudada, com muitas qualidades). Uma pessoa que se separa e que não se casa novamente (e não quer ter namorados) ou tem problemas ou poderá até ser tida como homossexual.
O que tem acima são desabafos de uma alma que busca continuamente a luz de Deus, a fim de me dar discernimento e sabedoria. Clamo dia-a-dia, na oração, jejum e leitura da Palavra pelas misericórdias de Deus na minha vida e na vida dele (outro) e na tomada de decisão na hora certa.
Peço também pelo atual cônjuge, que seja feliz e que não tenha ódio de mim no futuro. Desejo tudo de bom p/ ele, pois muitas coisas aprendi com ele. Sofro por não amá-lo como merece ser amado.
Gostaria de ouvir sua opinião sobre o acima revelado, ou que apenas ore a meu favor, colocando a oração no papel (ou e-mail) e, se possível, enviando-a p/ mim.
Um abraço,
Em Cristo Jesus.
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Resposta:
Minha querida amiga: Graça, Paz e Sabedoria!
Ninguém jamais está preparado para se separar num casamento onde há filhos!
O que tenho a lhe dizer? Realmente não sei. Já disse tudo o que penso sobre o assunto aqui no site!
Posso apenas lhe dizer que não havendo “hora certa” para se separar, melhor será que você pense, ore, reflita, e, então, sem desespero, tome a sua decisão.
Não é justo ficar segurando seu marido sabendo que você vai deixá-lo mais cedo ou mais tarde. Além disso, também não é justo com ele que você fique com ele apenas por causa do dinheiro, ou da segurança, ou da igreja, ou qualquer outra coisa.
Você disse que não suporta nem que ele toque em você. Como pode um casamento continuar nesse estado celibatário?
Quanto à razão para se separar, é a mesma para casar. Havendo amor, é sábio casar. Não havendo amor, como ficar casado?
Pelo estilo de sua narrativa, e também em razão das “perspectivas” de tempo que você apresentou, calculo que você esteja aí pelos 30 e poucos anos de idade. Portanto, tanto você quanto o seu marido ainda são jovens, e podem superar isto; e, com Graça, encontrar um caminho melhor para vocês dois.
Sobre os homens não quererem ser “deixados” pela mulher, de fato, vejo o fenômeno acontecendo. No entanto, ele é muito mais freqüente em relação às mulheres, que aos homens.
Mulheres sim, muito mais que os homens, se sujeitam a ficar em casamentos sem amor em razão da insegurança da sobrevivência. Portanto, não é uma questão masculina, mas de baixa auto-estima e insegurança pessoal.
Na realidade, não consigo entender para mim tal possibilidade. Nunca vivi tal situação. Mas, se me conheço, no dia em que eu sentisse que a pessoa que vivesse comigo não me quisesse mais, nesse mesmo dia, eu creio, eu deixaria de querê-la para mim; e isto sem orgulho, mas apenas por um mecanismo de desvinculação psicológica imediata.
Há algo muito errado com o cônjuge que força o outro a ficar mesmo sabendo que ele(a) não quer ficar; e está infeliz!
Seu marido deve ser muito inseguro, e teme não se botar mais de pé se você partir. Ora, tais pessoas, quando da separação, em geral são extremamente problemáticas. Criam caso. Armam o barraco. Fazem chantagem. Tentam manipular e seqüestrar com transferência de culpa e responsabilidade.
Por esta razão, se você for se separar, faça isto sem “ninguém” na sua vida. Tudo o que você não precisa é se separar “por causa de alguém”. Isto tornaria a sua vida num inferno!
Coisas ruins devem ser feitas com certa rapidez. O prolongamento de certos estados, seja por pena, compaixão ou qualquer outra razão de “permanência”, acaba por se tornar cruel, pois a vida de ambos os cônjuges se torna horrível; e a tendência é fazer crescer amarguras e ressentimentos.
Quanto ao modo como a igreja trata a questão, e como não dá atenção à parte “culpada”, nada há de novo nisto. De fato, na maioria das vezes, não se dá atenção nem mesmo a quem foi “deixado”. Na realidade, a igreja se mete muito durante o processo, e participa muito das fofocas posteriores. No entanto, depois de um tempo, nada faz de bom nem mesmo pela pessoa “deixada”, que logo é esquecida, ou que passa a viver sob o estigma de ter sido rejeitada.
Sinceramente, estou cansado de todas essas coisas…
Minha esperança é que eu ainda viva para ver outro modo de ser povo de Deus e igreja na Terra!
Se seu marido diz que quer que você fique, mesmo sem amá-lo; saiba, ele está precisando de tratamento urgente!
Só mais uma coisa: não planeje a sua separação como se fosse algo que merecesse ser tratado com a frieza com a qual a gente planeja a morte de alguém. Se você vai se separar, separe-se; mas não viva ao lado dele planejando o dia da “libertação”. Não é legal!
Também notei que você dá uma importância muito grande ao que as pessoas pensam. Sua afirmação sobre ser interpretada como homossexual se se separar e ficar só, bem revela esse seu grilo com a opinião dos outros.
Também fiquei pensando na sua questão sobre a dignidade de servir a Deus sendo divorciada.
“E ao me ver separada ou divorciada, (tempo futuro) de que forma, eu, uma SERVA, poderá dar um testemunho de mulher cristã, salva pelo sangue de Jesus, uma vez que não se submeteu a um casamento que para ela era um fardo e não existia amor da sua parte?”
Bem, minha querida amiga, você está escrevendo para um homem que já se divorciou e está aqui, sob o sangue de Jesus, e pregando a Palavra!
Sua questão revela que você ainda não entendeu o significado da Graça e de ser de Deus neste mundo!
Procurando agradar a todos, o melhor que você pode fazer é não fazer nada; e deixar tudo como está. Quem pensa em enfrentar o que você diz que precisa encarar, não pode viver emprestando aos outros e suas opiniões importância tão grande.
Ore. Pense. Busque a Deus. E tome sua decisão sem afronta. Mas se é isto que você quer, não prenda seu marido por muito tempo, por mais que ele diga que quer que você fique de qualquer jeito. Você e ele não gostarão do resultado caso empurrem isto com a barriga.
Cuidado para que o “planejamento” não vire “maquinação”.
Que o Senhor a ilumine!
Um abraço carinhoso!
Nele, que é o Único que pode nos entender o coração,
Caio