POR QUE A IGREJA ODEIA O MUNDO?

Olá Pastor Caio, Que privilégio poder chamá-lo assim!!!! Quero parabenizá-lo por sua ousadia, que tenho acompanhado no Caminho aqui em Brasília… A mesma ousadia tão fortemente descrita nas Escrituras quando Jesus fez sua Caminhada por entre os homens, nos trazendo vida EM ABUNDÂNCIA. Me sinto realizada, feliz, regozijante por não ter mais somente “companheiros de jugo”, com os quais dividia meus dissabores institucionais (advindos, é claro, do nosso clero evangélico). Não critico tudo que é feito, mas questiono o sistema, a forma, e a falta de compromisso com o dever primeiro da igreja: ACOLHER – “vinde a Mim os pobres e oprimidos e Eu vos aliviarei”… Acolhimento! Pastor, não vejo isso nas nossas igrejas (será que eu já vi algum dia???). Sempre fui muito questionada e criticada pelos meus questionamentos, pois sou cristã do “fardo leve e jugo suave”… minha fé me alivia e tenho me exercitado dioturnamente para “lançar sobre Deus toda a minha ansiedade”, e isso me basta. Gosto dos meus irmãos, gosto das igrejas também, mas elas não me atendem completamente, e a solidão que isso traz é tremenda. Acredite, o “Caminho” foi feito pra mim! Sou ousada, gosto de me sentir instigada, desafiada em tudo, sobretudo no conhecer a Jesus. Nunca me adaptei ao modelo de cristã penitente. Detesto esse ranço católico que nossas igrejas têm. E também esse modelo positivista de fé: causa – efeito, essa institucionalização da fé como mecânica. Não me interesso em saber se minha fé é “verdadeira” ou não. Ela é genuína. Muito menos se tudo que acredito é verdade. O que me interessa é o impacto maravilhoso de crer em Jesus, caminhar com Ele, sentir Sua presença me invadindo e descobrir como isso me faz uma pessoa melhor! Isso faz sentido. Isso é vida em abundância. Me preocupa a inversão que presencio nas igrejas, pois Cristo nos diz que “no mundo tereis aflições, mas tendes bom ânimo, porque Eu venci o mundo”—mas Ele disse “no mundo”, e não “na tua fé tereis aflições, na igreja tereis aflições”. O que percebo é que o primeiro desafio do cristão é vencer as aflições da igreja!!! Essa é a lógica do absurdo! Bem, esse é apenas um desabafo..seis que entendes exatamente do que falo. Como dizia no início, que bom me auto-intitular uma ovelha sua. Espero que qualquer dia desses possa te dar um abraço bem sincero. Estarei orando por você e pelo “Caminho”. A propósito, sou uma grande apreciadora dos cafés…Quando teremos o nosso café aqui em Brasília? Será MA-RA-VI-LHO-SO!!! Um grande abraço ___________________________________________________________________________________ Resposta: Minha querida irmã e amiga Nele: Graça e Paz! Mundo! O que é isto? Para os “evangélicos” o mundo é o espaço físico fora do templo. Sim, para “evangélicos”, tudo o que existe fora do templo e da igreja (ajuntamento humano), é mundo. Assim, vivem juntos, longe do “mundo”, em “comunhão” de amargura, inveja, ódio, facção, julgamento, e maldade… enquanto dizem que o mundo está perdido. De fato, essa “igreja” é “mundo”. Não há diferença. É o mesmo espírito de julgamento, ódio e guerra. O mundo, no N.T., só é uma categoria física no bom sentido, como criação. Já o mundo que se deve odiar, pois, do contrário, o amor do Pai não está na pessoa (I João), não é físico, nem geográfico, mas sim uma categoria de valores. Ora, nesse sentido, a “igreja” é absolutamente mundo, no pior sentido da palavra, visto que nela há o que de pior existe no mundo, só que disfarçado de “direito”. Sim, a “igreja” pensa que por ela se auto-intitular de “igreja”, ela não é mundo; e, assim, ela se entrega ao “mundo” julgando que “não-é-ele”, pois, para a “igreja”, mundo é a coisa que existe “fora dela”. No entanto, ela ainda não percebeu, que “mundo” é um espírito. Aliás, tudo o que é bom ou mal é sempre apenas espírito; pois é o que procede do coração (Mc 7). Assim, mundo é exatamente aquilo que nos move quando não somos movidos por amor e fé. Tudo o que não é amor e fé, saiba, é mundo! Desse modo, alienada da Terra e dos homens, a “igreja” é cada vez mais solitariamente “mundo”, enquanto foge da humanidade. Em meu livro “Mais que um sonho” (1986) faço uma alusão bem mais ampla sobre o conceito de mundo no N.T., mostrando que “mundo” é uma categoria existencial, e que cabe em todo lugar—e que fica mais horripilante ainda quando se auto-intitula de anti-mundo, como acontece na “igreja”. “Onde há inveja amargurada e espírito faccioso, aí há toda sorte de coisas ruins”. E o que é que você vê como marca mais característica da “igreja”? Ora, se inveja amargurada e espírito faccioso são inegáveis como realidades na “igreja”, que não dizer da “promessa”? Sim, o que está malignamente prometido como conseqüência disso é que nesse “lugar-ambiente” haverá toda “sorte de coisas ruins”. Ora, esse é o espírito do mundo! Esse é o mal acerca do qual Jesus falou que orava para que dele estivéssemos livres! Um beijo grande, e minha alegria por ter você na caminhada. Nele, que disse: “Não peço que os tires do mundo, mas sim que os livres do mal”, Caio Ps: Em breve teremos nosso Café no Caminho…