DEFICIÊNCIA FÍSICA E CARÊNCIA EMOCIONAL E AFETIVA- I e II



Querido Caio, É… minha alma te elegeu como meu pastor e sou levada a crer que foi o Espírito Santo quem a inspirou. Preciso encontrar algumas respostas para questões muito pessoais sobre as quais não tenho com quem me abrir de verdade. Por compaixão, Caio, permita-me ser abençoada mais uma vez através das respostas sábias que o Senhor puser em sua boca. Preciso contar um pouco da minha história para que você possa tentar entender. Nasci numa família onde já haviam nascido doze filhos, no interior do Nordeste. Quando tinha nove meses, tive um problema que os médicos nunca diagnosticaram direito, ficavam entre poliomielite e acidente vascular cerebral. O certo é que, quando comecei a andar, minha mãe percebeu que eu não punha todo o pé direito no chão, pisava com as pontas dos dedos e que, além disso, não tinha o movimento normal com o braço direito. Quando eu estava com cinco anos, minha mãe, inconformada com meu andar atrapalhado e com medo de que piorasse com o tempo e que prejudicasse meu crescimento, procurou o ortopedista, que, após alguns exames, me operou e passei a caminhar normalmente, apesar das pesadas botas ortopédicas que passei a usar. Alguns meses depois, após sofrer uma torção, o problema voltou, e, dessa vez, o médico aconselhou-nos a procurar um centro maior, onde houvesse mais recursos para um tratamento melhor. Com muito sacrifício, minha mãe deixou todos os outros filhos em casa com meu pai (a essa altura, a família já crescera mais um pouco: éramos onze filhos), e fomos para um grande centro, onde, depois de alguns meses à busca de tratamento gratuito, ela conseguiu tratamento para mim num ótimo hospital. Para encurtar a história, fiquei, dessa feita, quinze meses em tratamento longe de casa. Três meses após nossa chegada, minha mãe precisou voltar, e, depois que fui operada mais duas vezes, recebi alta, e minha tia cuidou de mim. Graças a Deus passei a andar normalmente, e, com treze anos, fui submetida a outra cirurgia para corrigir o problema do braço direito. Apesar de ter melhorado muitíssimo minha condição, sofri muito durante toda a minha adolescência, por ter ficado com uma mínima seqüela: a perna e o ombro direito um pouco atrofiados. Na minha cabecinha de adolescente, menino nenhum iria querer namorar uma garota como eu. Eu tentava disfarçar esse meu complexo, tentando sempre estar no meio da turminha da igreja, mas o fato é que me considerava, de algum modo, inferior. Para compensar estudava bastante e procurava estar entre os melhores da turma. Foi bom porque me deu mais auto-confiança. Porém, somava meu complexo ao sofrimento da repressão severa em casa, e fui crescendo assim. Sempre fui muito questionadora em relação às coisas que não entendia na vida. Por exemplo, perguntei a Deus, quando estava em tratamento da perna fora de casa, por que precisava passar pelo sofrimento da falta de minha família, ao ter que ser internada para uma terceira cirurgia, depois de ter passado um intervalo de uma semana ou pouco mais com minha tia, num período de quatro meses de internamento. Eu conhecia as histórias de milagres da Bíblia e não entendia por que Deus, simplesmente, não dizia uma palavra e me curava instantaneamente Por que eu tinha que voltar para aquele hospital enorme, onde não conhecia ninguém, nem podia receber visita todos os dias (minha tia não teria o dinheiro da condução para me ver com tanta regularidade)? Apesar disso, queria muito ficar curada e suportava a tristeza pensando no resultado. Caio, recebi uma educação rígida, com um pai que era uma fera, e, por algum motivo, não me rebelei abertamente contra ele. Procurava a todo custo evitar deixá-lo zangado. Os namoricos de adolescência eram bem escondidos e duravam muito pouco tempo. O suficiente, porém, para me deixar com aquela paixonite que custava a passar. Tinha sempre a esperança de que, com o próximo, eu me sairia melhor, e conseguiria segurar o namorado por mais tempo. Eram dois os meus fantasmas: meu pai e meu “problema” físico. Coloco entre aspas, porque com a minha mente não consigo ver essas seqüelas como problema, mas há algo errado com minhas emoções a respeito disso. Sempre procurei vencer isso, forçando um pouco a barra comigo mesma para usar saias, shorts, ir à praia, etc., mas secretamente, sempre tive certo receio de que algum rapaz se interessasse por mim, mas reparando em meu corpo, percebesse esses detalhes e me rejeitasse. Acho que veio também daí a minha auto-repressão, além da repressão exercida por meu pai da qual te falei na outra vez. Depois que meus pais se separaram, há cerca de doze anos, passei a me sentir mais livre para viver. Mas, quem disse que eu vivi? Logo de cara, passei por uma desilusão horrorosa com um namorado, meu primeiro homem, de quem eu fazia uma idéia totalmente errada. Terminamos e voltamos inúmeras vezes, até que resolvi enfrentar o fato de que ele estava me usando. Procurei ajuda psicológica e caí fora de uma vez. Fiquei muito mal nessa época, achando que não era digna de que Deus respondesse minhas orações, muito menos aquela que eu fazia há tanto tempo pedindo um companheiro. Era uma sensação terrível de culpa por ter ido para a cama algumas vezes com aquele namorado. Passei a não confiar nadinha no meu auto-controle e, para não pecar mais nessa área, evitei namoros. A verdade também é que não me interessei realmente por ninguém durante uns quatro anos. Porém continuei pedindo a Deus que fizesse alguém legal aparecer na minha vida. Há uns três anos, conheci um cara que pareceu ser a pessoa que eu esperava. Aliás, na ocasião, resolvi descobrir por todos os meios disponíveis se era ele a pessoa que Deus estava mandando. Orei como nunca, madrugava e vigiava em oração e comecei a achar que Deus estava naquele negócio. Perguntava a Deus a respeito de alguma coisa e obtinha resposta tão contundente (na minha cabeça), que não tinha dúvida: era ele! Não dei atenção a sinais bem mais objetivos e me deixei envolver. Passei a viver em função dele, queria resolver todos os seus problemas, e olha que eram muitos, e estar ao seu lado em qualquer situação. Claro que para ele era ótimo, pelo menos eu achava. Ele sugou toda a minha energia com o meu expresso consentimento, através de minha atitude de tentar ser resposta a todos os seus anseios. Namoramos por mais ou menos oito meses e resolvemos nos casar. Quando estávamos para marcar a data, comecei a percebê-lo muito tenso, inquieto, deprimido, e forcei um papo para que ele me dissesse o que estava acontecendo. Morria de medo de que ele quisesse romper, mas resolvi enfrentar assim mesmo. Não tinha nem idéia do sofrimento que me esperava. Ele me disse que talvez não fosse o caso de terminar, mas que estava apaixonado por minha irmã. O susto foi tão grande! Ela nunca demonstrou nenhum interesse, e ele disse saber disso perfeitamente. Bem, terminamos naquela mesma hora e eu sofri o diabo, mas não pensei de maneira nenhuma em levar aquilo adiante. Mais uma vez me senti usada, passada para trás, uma perfeita idiota. Para completar, quatro dias depois, minha família e eu sofremos a perda de minha sobrinha de apenas vinte e um anos, num acidente de automóvel—voltando de um passeio, o carro em que estava ela com o noivo e amigos bateu num muro de proteção, e caiu num rio, morrendo todos. O sofrimento foi tão grande que hoje só posso agradecer a Deus por ter protegido minha mente para eu não enlouquecer. Sabe, minha relação com Deus ficou muito esquisita nessa época. Não deixei de crer n’Ele, mas passei a não acreditar em minha capacidade de discernir Sua vontade, Sua voz. Aquele questionamento da infância voltou com força total. Por que Deus não impediu que meu namorado se apaixonasse por minha irmã? por que essa perda tinha que se somar à perda de minha sobrinha, a quem eu queria como uma filha? Mergulhando no seu site, descobri que muitas de nossas orações são alimentadas por nossa ansiedade, são orações a nós mesmos e não produzem paz e descanso, mas geram uma neurose tão nociva quanto qualquer outra. Estou achando que foi exatamente isso que me aconteceu na época. Claro que depois de dois anos, superei um monte de coisas, e agradeço sinceramente a Deus por ter interferido a tempo de evitar que eu me unisse a um cara boa gente, mas tão problemático. Porém, apesar disso, me restam algumas seqüelas na alma que precisam de cura. Seqüelas que parecem ser de ocorrências bem mais antigas e que tiram minha paz, muitas vezes. Sou confiante em mim mesma, tenho uma auto-estima mais ou menos equilibrada, mas, por outro lado, me sinto insegura quando se trata de amor. Sempre que encontro um namorado que me agrada, passo a viver num tal estado de ansiedade com medo de perdê-lo, e, assim, fico com a sensação de ter o tempo todo uma espada sobre minha cabeça, e que despencará a qualquer descuido meu. É como se eu não merecesse, como se fosse uma bênção supérflua, como se Deus não estivesse de fato interessado nesse aspecto da minha vida. De onde vem essa sensação? Já me acusei de falta de fé, mas não me convenci. Não sei o que há comigo. Não sei se me fiz entender, não sei se falei demais, se omiti alguma informação útil, mas estou esperançosa de que você me ajude de alguma forma. Tenho uma fita com uma mensagem sua que me abençoou muito, baseada em Isaías 53, na qual você fala sobre seu pai. Taí um homem que eu gostaria imensamente de conhecer. Me identifiquei com ele quando ouvi sobre as situações de rejeição que sofreu quando jovem, devido a sua deficiência, que teria derrubado um gigante, mas que não o derrubou, pelo contrário, o fortaleceu em sua auto-estima. Gostaria que houvesse em mim um pouco desse traço da personalidade dele. Caio, sinto-me meio culpada por estar ocupando seu tempo com esse meu problema, mas espero que você possa brevemente me responder. Pode acreditar que será uma ajuda e tanto. Com carinho e esperança, ________________________________________________________________________________

Resposta:

Minha querida amiga: Graça e Paz!

Uma deficiência física e um pai severo quanto à sexualidade e o amor na existência de uma filha, pode gerar com sobra tudo o que você sente. As duas coisas, em si mesmas, já são suficientes para explicar o que você sente. Meu pai é um bem-aventurado, especialmente por ter tido o pai que teve (meu avô João Fábio), e que o preparou a vida toda, com uma pedagogia diária de muita sabedoria, e, ao mesmo tempo, um estimulo permanente para que ele vivesse com total normalidade psicológica. No entanto, sem um suporte desse tipo, é “normal” que alguma “anormalidade” gere os sentimentos que em você se instalaram. Assim, a primeira coisa é aceitar a normalidade de seu sentir, posto que apenas entendendo e aceitando tal construção psicológica, é que você poderá passar desse estágio para um outro. O segundo estágio é de aceitação da realidade. Ora, tal aceitação é parte da sobrevivência de todos nós. Digo isto porque você tem essa história de deficiência física, mas outros têm coisas imutáveis em outras áreas da vida, muitas delas nem mesmo visíveis “para fora”, mas tão fortes “dentro” quanto o que você sente como isto que você experimenta como limitação ou trama. Aceitar o que não se pode mudar é pura sabedoria, e trás grande libertação. O terceiro estágio é de gratidão. E isto talvez seja a marca mais distintiva da saúde emocional de meu pai. Ele aprendeu a ser grato mesmo antes de se converter ao Evangelho. No caso dele a gratidão não era a Deus, mas ao seu pai, que, de forma extremamente humana e sábia, foi instrumento de Deus na vida dele. E papai sempre foi muito grato ao sentido de vida, aos valores, e aos significados que seu pai infundiu em sua alma. Ora, isto mudou o eixo da percepção dele do estético para o ético, e deu a ele uma certeza de beleza quase incomparável. A gratidão fez dele um homem forte, e, também, um sedutor natural—digo sedutor no melhor sentido da palavra. De fato, ele acabou por se sentir tão bem consigo mesmo que se tornou um homem naturalmente charmoso. O quarto estágio é ação natural. Ora, quando alguém chega nesse ponto tudo é feito com a segurança da natureza. Isto porque a gente gasta muito tempo e energia tentando ser alguém que exista ao ponto de cobrir o defeito que se tem. E, estranhamente, essa tentativa des-constrói o que há de melhor em nós. Esse é o paradoxo negativo: tentando ser melhor acaba-se por piorar quem somos, pois, a única melhora que realmente melhora o ser vem das três coisas que lhe disse anteriormente. O quinto estágio é alegria. Sim, a alegria encobre todas as deficiências que possam existir. Ora, tal alegria não será alegria se for estereotipada. Portanto, não busque parecer alegre, mas sim busque ser alegre mesmo. O sexto estágio será o da confiança. Ora, auto-confiança ainda é um estado psicológico muito facilmente desmantelável. Somente a confiança que se projeta para Deus é o que nos faz fortes e seguros para todos os embates e contradições desta existência. O sétimo estágio é serenidade. A serenidade expressa a confiança, a gratidão, a alegria e o contentamento. Ora, quando se chega aí, não há mais deficiências que possam nos prejudicar, posto que elas mesmas estarão em franco processo de dissolvência em suas importâncias dentro de nós. Portanto, apenas cuide de seu coração e todas as demais coisas serão acrescentadas! Se você carregar esse fardo de deficiência dentro de você o resultado será sempre esse que você obteve até aqui. Você precisa descobrir a mulher bela, alegre e generosa que há em você, e, sabendo disso, não se entregar mais como “brinde” aos que você julga que fazem o “favor” de namorar você ou ter algum interesse em sua vida como mulher. O segredo das relações humanas no que tange ao encontro afetivo e até sexual é a pessoa se ver conforme a sua própria beleza interior, e, ao mesmo tempo, descobrir e expressar com o olhar e os brilhos da alegria, a beleza que também enxerga nos outros. Tal pessoa se torna bela de qualquer forma, e desperta interesse onde quer que chegue. Trate-se como uma deficiente e você só atrairá homens querendo usar você. Trate-se como a mulher bela que você é, e apenas os bens intencionados terão coragem de se aproximar de você. A alma humana “fareja” o sentir do outro. Sim, os humanos podem ter perdido o olfato animal mais profundo, mas não perderam o “faro psicológico”. Digo isto porque como você está, a maioria dos homens fareja carência, e, os oportunistas se aproveitam. E mais: eles não se aproveitam de você como “quebra-galho-sexual” porque você tem uma deficiência física, mas sim em razão de sua deficiência psicológica. Ora, tendo as carências e inseguranças que você tem, mesmo que você fosse a mulher mais bela do Brasil, ainda assim seria tratada do mesmo modo. Portanto, o resultado nada tem a ver com a estética, mas sim com o modo como você se vê. Com relação a Deus, lhe digo que uma visão errada de Deus pode fazer muito mal a uma pessoa como você. Isto porque ao invés de lhe ajudar a viver, tal “Deus” passa a ser o responsável pelo seu “não-viver”. Saiba apenas uma coisa: Deus não existe para dar explicações. Deus é. E quem o conhece pela fé e experimenta a Sua paz, esse tal tanto mais crescerá em fé quanto mais, pela confiança no amor de Deus, silenciar em suas questões, e mergulhar na certeza de que em Deus tudo é melhor; e mais: tudo é para o melhor. A vontade de Deus está sendo feita em sua vida, quer você saiba ou não. Portanto, essa coisa da “vontade de Deus” é algo “de Deus”, não nosso. Nós não somos chamados para saber a vontade de Deus, e sim para faze-la real em nós. No entanto, só se fica sabendo a vontade de Deus na vida, enquanto se vai… e sem medo de não saber para onde se está indo, conforme o pai da fé, Abraão, que foi sem saber para onde estava indo. O segredo é abraçar os sacramentos de amor que nos aparecem na existência como oportunidades de alegria. E fazer isto com dignidade. Você tem tudo para virar esse jogo e partir pro abraço! Pense no que lhe disse, e comece a colocar em prática. O resultado será vida e paz. Jesus nos ensinou que mãos, pés e olhos podem até precisar ser cortados por nós mesmos para o nosso próprio bem. Ora, um dia você vai saber tudo sobre o bem desse “mal”, e, nesse dia, seu coração se alegrará e entenderá o amor que se ocultou naquilo que você chamou de sofrimento. Receba meu carinho verdadeiro!

Nele,

Caio

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DEFICIÊNCIA FÍSICA E BELEZA INTERIOR

Querido Caio, Graça, paz e misericórdia! Quando me lembro de você, e do amor que o levou a esse ministério, só posso cair de joelhos e agradecer a Deus por sua vida, e pedir a Ele que lhe conceda graça, paz e saúde para prosseguir abençoando e sendo abençoado. Muito obrigada pelo seu cuidado em ler minhas cartas e, pacientemente, responder, como tem feito. Tenho sido grandemente abençoada e tenho crescido com suas respostas. Deus o abençoe! As respostas vão fundo em minhas emoções. Há material ali para um aprendizado de uma vida inteira, e só peço a Deus que me ajude a aprender e a mudar meus padrões de pensamento, a fim de ver transformações efetivas em minha forma de encarar a vida e a mim mesma. Ajudou-me muito entender que o que sinto é “normal”, pois, de certa forma, experimentava certa culpa e desconforto com minha “construção psicológica”. Isso está me fazendo aceitar certas emoções, e vejo que essa é uma importante condição para mudar. O terceiro estado, citado por você, a gratidão, sempre esteve presente, apesar de nos momentos mais críticos, ficar questionando. Primeiro pela bravura de minha mãe, em deixar os outros filhos e buscar tratamento tão difícil para mim. Mais tarde, gratidão a Deus, por ter orientado os médicos e criado todas as condições para que hoje eu seja quem sou. Quando penso nisso, realmente me sinto profundamente grata pelo cuidado d’Ele. O quarto estado, a ação natural, é algo mais difícil, mas que estou disposta a buscar. O quinto, a alegria, sei que tem que acontecer de dentro para fora, como fruto da gratidão, da ação natural, da aceitação plena do que não pode ser mudado. O sexto, o da confiança, confesso que a minha é muito frágil, e fica, erradamente, muito mais ao sabor das minhas emoções; por isso preciso descobrir Deus, saber de fato, Quem Ele é, vê-Lo como meu Pai, diferente do meu pai terreno. Acho que só assim, posso alcançar a serenidade. Caio, essa não é uma tarefa simples. Sei que é um processo, requer tempo e paciência. Mas vou aprender. Deus já o tem usado para isso. De coração, quero agradecer por suas palavras. Elas fizeram uma diferença enorme em minha vida e sei que vão render frutos eternos. Quando encontrar seu pai, dê-lhe um beijo meu e diga-lhe que aprendi com ele, mesmo sem conhecê-lo. Fique na paz. Com todo meu carinho e gratidão. ____________________________________________________________________________________ Resposta: Minha querida amiga, Viver a condição de portar uma deficiência física é certamente muito difícil para qualquer pessoa, mas, para aquelas que não tiveram um forte suporte de amor familiar, torna-se, sem dúvida, muito mais difícil. Uma questão: Você sente pena de pessoas “burras” ou com muita dificuldade de compreender as coisas, da mesma forma como você sente pena das pessoas com deficiência física? Para mim, sinceramente, e em razão de tanto ter ouvido meu pai falar no assunto, sempre considerei as limitações mentais, intelectuais e emocionais as mais sérias deficiências desta vida. Ter dificuldade para correr… atravessar uma rua… jogar bola… brincar certas brincadeiras… etc… na realidade significa grande limitação. No entanto, para mim, nada se compara a não entender o que os outros dizem, ou não conseguir aprender, ou não ter memória para reter, ou não possuir a capacidade de “concluir” um pensamento. Compare a sua deficiência física com sua eficiência intelectual e afetiva… e você verá que você é uma bem-aventurada! Quanto à sua limitação física gerar impedimentos relacionais ou dificultar a relação com os homens, digo-lhe que pode ser verdade apenas se você se entregar à deficiência em sua atitude humana. No entanto, se você mantiver a mulher interior firme, confiante, serena, grata, alegre, e sólida… você verá que os homens não deixarão de percebe-la e nem deixarão de deseja-la como mulher. Você não tem idéia do que um espírito forte e confiante suscita de atração nas demais pessoas! Mulheres apenas belas, mas destituídas de inteligência, atraem na chegada, mas saem pela porta dos fundos. Como diz um amigo do interior: “Dá pra correr uma légua, mas não dá pra tirar um cria com uma mulher dessas!” Burrice, espírito tapado, entupido, bloqueado emocionalmente, incapaz de somar as coisas na vida, e falta de cabeça para pensar, são deficiências incomparavelmente mais profundas… e são incuráveis. Um grande político tinha uma grande rival política, uma mulher muito feia. O político de vez em quando bebia e perdia a noção. Um dia a rival mulher lhe disse: “O senhor é um bêbedo!” Ele respondeu: “É, minha senhora, mas amanhã estarei sóbrio. E a senhora? Amanhã, estará inteligente e bonita?” Ora, se se diz isso da feiúra, que não dizer da burrice? E a feiúra ainda tem “remédios”, mas a burrice não tem cura. Você pergunta: Por que você está me dizendo isso? Ora, é que vejo como a gente de fato não enxerga a nossa própria beleza, riqueza e tesouros. Por exemplo, li sua carta… aliás, todas elas… e vi e vejo sua lucidez, sua capacidade de escrever, de se comunicar com limpidez, e, sobretudo, sua capacidade de auto-percepção… todas coisas raras e lindas… e, ao mesmo tempo, vejo você se amarrar a uma deficiência que não tem importância alguma quando comparada às maravilhas de seu ser. Prossiga firme, pois, o que você não tem não é para comparar com o que você tem! Nele, em Quem as fontes da vida não procedem do corpo, mas do interior, Caio