MEU DESEJO É SER DOMINADA! POR QUE? I e II

—– Original Message —– From: MEU DESEJO É SER DOMINADA! POR QUE? To: Sent: Tuesday, December 28, 2004 7:05 PM Subject: Diluindo o ser… Pastor Caio, Escrevo essas linhas para relatar algo que me atormenta há anos. Primeiro deixe-me dizer que sempre leio os artigos em seu site e as cartas de pessoas que, como eu, buscam a cura. Acabo de ler uma carta de uma jovem que praticava swing e sexo com casais, e me identifiquei muito com ela. Não! Eu não pratico e nunca pratiquei isso. Mas o vazio que ela descreveu sentir com essas práticas é o mesmo vazio que sinto quando me masturbo. Há 1 hora atrás me masturbei; e pra ser bem sincera, nem levantar da cama eu quis, porque fui tomada de uma insatisfação imensa, e a frieza tomou meu coração. Me incomodou a frieza. O peso não senti… Aliás, não sinto este peso, mas sinto a vida se esvaindo. Vontade de não existir mesmo… E tudo começa sempre com as mesmas fantasias. Fantasias de ser prisioneira, de ter um dono, algo quase que relacionado a sado-masoquismo. Não com as práticas violentas do sado, mas a idéia da dominação. Tudo isso está em minha cabeça, desde muito novinha. Tenho 28 anos. Comecei a ter esses pensamentos com uns 10 anos; mas a masturbação começou já tarde, creio que com 19 anos. Namorei um rapaz que participava das minhas fantasias, mas depois ficava o vazio enorme, porque essa “coisa” me marcava a alma, dando a impressão que eu era uma vadia mesmo. Nosso namoro acabou porque ele não agüentou minhas neuroses… de eu querer fantasiar… e depois culpá-lo de fazer isso comigo. Totalmente doentio! Para as pessoas, sou “normal”, o que me incomoda, porque me vejo enganando-as. Não sei como parar isso! Quero parar! Quero para tanto na masturbação, como no meu relacionamento sexual; não quero mais fantasiar e nem fazer a fantasia. O meu atual namorado já sabe parte desses meus gostos. No começo eu não quis misturar as estações, então fazia sexo com ele curtindo seu carinho, me entregando com respeito e respeitando as vontades dele. Falamos sempre claramente sobre sexo e posso dizer: jamais fiz sexo gostoso com alguém como fiz com ele. Me sentia viva, amada, “gostosa”, mulher. Mas da última vez, após contar à ele que esses pensamentos estavam voltando à minha cabeça, e que com isso estava me masturbando de novo pensando nas fantasias, ele quis me “ajudar” tentando satisfazer minhas “vontades”, assumindo um papel de dominador. Na hora fiquei constrangida, mas resolvi entrar na brincadeira. Mas foi péssimo. Senti que estava sendo desrespeitada como mulher. Não havia troca. Eu me via obrigada a ceder, a obedecer, e a realizar suas vontades… Que maluco isso! O que me excitava muito, me deixava constrangida e mal-humorada depois. Não quero que ele faça isso de novo. Foi horrível! Mas por que será que isso me persegue? O que há de errado? Por que eu não consigo desenvolver uma sexualidade sadia? Isso está me deixando tão mal… ! … que estou sem pique para viver; acredite pastor! Já li alguns textos no site sobre masturbação… e é aquela coisa… a gente entende, aquilo entra na cabeça, mas não controla. Também não tenho orado pedindo para suportar isso. Na verdade nem sei o que pedir. Só sei o que quero… quero ser livre disso! Espero poder receber uma resposta do senhor. Deus o abençoe muito. ___________________________________________________________________________________ Resposta: Minha querida amiga: Graça e Paz! Li sua carta, mas não a quis responder logo. Deixei umas horas passarem antes de sentar para responder. Desejei orar por você, e, também, refletir sobre as coisas que você narrou. Vazio de si e dominação de outros sobre si, foram os sentimentos prevalentes narrados por você. A mim parece que ambas as coisas se fazem acompanhar sempre. Uma pessoa sólida em si mesma não gosta de dominação, mas apenas de respeito e alegria digna em qualquer relação. Portanto, o vazio experimentado como saque, demanda dominação como explicação para o saque, assim como o gadareno enlouquecido e vazio de si mesmo, habitado por uma legião de outros, era também o único que falava em dominação: “Legião é meu nome, porque somos muitos”—disse o homem que explicava seu vazio com a idéia da dominação. Uma pessoa que ama ser dominada é uma pessoa que não tem coragem de fazer o que deseja, por isso pensa no prazer como uma imposição de terceiros. Ora, em geral, tal sentir é fruto de medo da sexualidade. Uma sexualidade muito reprimida poderia gerar um sentir perverso, no qual o desejo é tão forte, e enfrenta uma resistência moral também tão intensa de pai, mãe, família, igreja, sociedade, etc…, que acaba por se fazer valer da fantasia de ser atacada a fim de poder admitir o desejo que a visita, e que, nesse caso, precisa ser “desautorizado”—daí ter que ser um “dominador”—, a fim de poder ter a devida “autorização psicológica” para entrar. Ora, este é um exemplo extraordinariamente fabuloso de como o coração é enganoso. O engano do coração é esse: contar para si mesmo uma história que o faça sofrer menos com a realidade, ou com o enfrentamento das noções do certo e do errado. Às vezes, mais mal que a coisa em si, faz mal o esquema desenvolvido para justificar a coisa, em nós mesmos. Aliás, na maioria esmagadora das vezes, as coisas que mais tarde haverão de nos massacrar a alma, são sempre aquelas que em nós, um dia, eram normais e simples, mas que foram tratadas em nós (por outros), ou por nós (por nós próprios), como coisa ruim… e como em geral são “ruins” muito “bons e gostosos”, a proibição que vem de fora, e que nega o prazer, acaba por criar um mecanismo de auto-justificação perverso. Um exemplo: A pessoa gosta de sexo tanto mais quanto mais a proíbam, então, não podendo admitir isto para si própria, pois se sentiria uma vadia e uma depravada (tal é o juízo que existe à sua volta!), inconscientemente conta a si mesma outra história, e que não é contada de modo direto (ou seja: não é consciente), mas sim de modo indireto, podendo virar, inclusive, uma fantasia infantil de ser dominada, agarrada, jogada, possuída inapelavelmente, estuprada de prazer, rasgada de alegria, violentada por êxtases sucessivos… Fatos objetivos poderiam também ter suscitado a tipologia das fantasias, mas não a necessidade de expressar a sexualidade, que, em você, deve ter existido com intensidade anterior ao eventual ato agressivo sexualmente, que, porventura, pudesse lhe haver acontecido. Ou seja: estou dizendo que alguém mais velho poderia até ter usado você na infância, mas que isto teria sido, provavelmente, algo posterior à sua pulsão sexual que já existia em você, e que devia ser forte, não anormal, mas que teria sido canalizada para o veio da “violência sexual”, apenas por ser um “ato de um outro sobre você”, e não “seu mesmo”. Assim, psicologicamente, tem-se o que se quer… mas não a responsabilidade acerca do “acontecido” e nem de “como” aconteceu. Em outras palavras: creio que você teve uma família (com os demais acessórios sociais, incluindo a “igreja”) muito séria e pesada na questão do sexo, e que você pode ter tido alguma marca exterior com relação a esse padrão-de-dominação, o qual, em você, gerou tesão isento pela dominação, no início; mas que, depois, a medida em que você se confrontava com a normalidade da prática sexual conforme vista por você, isso tornou-se não um peso, pois, se é vazio, não pesa; mas sim, tornou-se, uma insuportável leveza. No caso, nada moral, mas apenas existencialmente uma falsificação insistente e viciante, posto que você já não precisa dela como álibi sexual conscientemente, porém, inconscientemente, essa falsificação insiste em se fazer presente; inclusive sob pena de não lhe permitir sentir todo o prazer que você deseja. Vícios, quase sempre, são atos que se associaram ao prazer, e que se tornam maus apenas porque insistem em continuar, não reconhecendo seu lugar na infância de nossa estrutura psíquica. Portanto, todo vício é infantilismo persistente. Aconselho a você que busque um bom terapeuta. Tudo pode ser bem rápido. Pode até acabar agora, hoje, já… enquanto você lê esta carta. Mas, também, pode levar algum tempo. Portanto, seria irresponsabilidade minha não sugerir a você que entre numa terapia. O melhor remédio para qualquer vício é o bom prazer. Portanto, ataque a compulsão com prazer bom e gostoso. E relaxe quanto a isto. Levar isto para a cama acaba com qualquer poesia. Portanto, deixe isso nas mãos de Deus, tente discernir seus processos interiores, e viva sem preocupação. E quando alguma coisa “pintar”, uma fantasia que não seja natural ou própria, não gaste tempo lutando com ela; apenas siga seu caminho no bom prazer. “Queres ser curado?”—perguntou Jesus ao homem do Tanque de Betesda. Você já confessou que deseja ficar livre desse padrão de sentir tesão apenas quando é escrava e dominada e ou atacada. Agora, ouça o que Jesus disse: “Levanta-te, toma teu leito, e anda”—significando dizer: Já que tu queres ser curado, vê a ti mesmo curado. Veja-se curada, e você ficará curada! No entanto, devo lembrar, que não há alma humana que não fantasie; e, também, que o problema não está em “alguma fantasia”, mas sim na padronização das fantasias que se tornam indissoluvelmente associadas a alguma função da alma. Aí sim, é onde mora a doença! Receba meu carinho e minhas orações! Nele, em Quem o prazer é bom, Caio ________________________________________________________________________________ —– Original Message —– From: Por que gusto de ser dominada? To: Sent: Monday, January 03, 2005 1:30 PM Subject: Diluindo o ser Querido Pastor Caio, Que alívio receber sua resposta e ler palavras de espírito e vida. Passei um reveillon muito contente, curtindo momentos de alegria e bons prazeres com amigos e família. Quando cheguei e reli meu e-mail para você, e logo abaixo sua resposta, pensei: “Engraçado, hoje me sinto tão leve, de bem, “cheia por dentro”, com novas esperanças, e nem pareço a mesma do dia 28/12 que teve aquele “surto”.” Mais uma vez obrigada pela compreensão e pela clareza em suas palavras. Palavras profundas, que tocam a ferida, mas que são verdadeiras com a intenção de curar as feridas. Há tempos venho pedindo para Deus me curar. Antes eu nem sabia do quê exatamente, mas quanto mais peço isso, mais enxergo a doença em mim; e antes me desesperava, achando que ficaria louca por não conseguir a cura. Pela Graça de Deus tenho lido suas mensagens e tenho saído um pouco da neura religiosa que se instalou em mim logo que me converti. Bom, o senhor citou na sua resposta a “possibilidade de um fato”… e que, de fato, aconteceu comigo na infância. Eu sofri abuso sexual com um rapaz, numa casa onde morei quando pequena. Na época eu tinha 7 anos, mas lembro-me bem. Não foi violento, mas teve ameaças psicológicas. Nunca falei à ninguém o ocorrido. Já me senti a tempos atrás uma vadia por gostar de sexo, e por achar isso errado, principalmente depois que me converti. Meu atual namorado tem-me ajudado a enxergar de uma maneira diferente que o sexo é maravilhoso e normal. Ele tem-me ajudado a me soltar mais, e como lhe falei, nunca senti algo como sinto com ele. Por isso que quando joguei as minhas fantasias no nosso relacionamento, não me senti bem, porque me senti usada, apenas um corpo… sem alma… sem vontade própria. Sobre a minha família… bem sou filha adotiva. Minha mãe biológica sempre foi muito sensual e despertava os homens. Pelo pouco que me lembro dela, não gostava do seu jeito “dado”, e sempre condenei pessoas assim. Mas sou muito parecida com ela, pois, no fundo, eu sempre gostei de conquistar, mas não assumia claramente por medo de me chamarem de “piranha”. Já minha família adotiva… eles são bem tradicionais. Minha mãe é idosa e até hoje ela acredita que sou virgem. Já tentei até conversar sobre esse assunto com ela, mas não tive abertura. Preferi me calar. Estou fazendo terapia há 3 semanas. Estamos numa etapa bem inicial e nem relatei esses problemas à ele ainda. Tudo isso que relatei ao senhor sobre a minha sexualidade abrange outras áreas da minha vida, das quais não tenho controle, porque sempre me deixei dominar pela opinião alheia; e por falta de coragem mesmo… de me assumir. Mas quero (e agradeço muito pelas suas orações) me assumir, me conhecer; enfim, ser inteira em tudo. Pastor Caio, que o BOM PASTOR lhe revista de todo amor para que esse amor seja derramado em outras vidas através da sua vida preciosa. Meu coração está mais calmo e esperançoso. Obrigada, Um beijo, ______________________________________________________________________________ Resposta: Minha querida amiga: Graça e Paz! Você nada havia dito acerca do “abuso sexual na infância”, porém, os padrões de dominação que você descreveu pareciam com aqueles que são encontrados com freqüência em pessoas que passaram o que você passou, e, também, coincidem com as pulsões que você disse sentir. No entanto, como eu disse, independentemente dos “fatos reais e objetivos”, tais realidades também podem ser produzidas em plena subjetividade, sem que necessariamente tenha que ter havido um fato-fator justificador da pulsão. Quando o prazer erótico se condiciona—na infância principalmente—ao abuso gentil, como foi o seu caso, pode fixar o prazer e necessidade de ser dominado. A questão é que como esse sentir erótico se instalou como algo proibido, e, assim, a pulsão do desejo se tornou imensa. E, além disso, como tudo ficou em segredo, o próprio segredo se torna o tesão daquele sentir. De tal modo que você criou uma sombra, uma zona não revelada, um monstro amigo, um algoz desejável, um bicho de delícias, um inimigo totalmente degustável no ser… “Abuso gentil”. Essa é a palavra. Foi assim que você descreveu o espírito do que lhe aconteceu aos 7 anos. Daí, então, procede que você não quer violência sendo feita gravemente contra você no ato sexual, mas apenas aquela sensação proibida e excitante de estar sendo “usada e dominada”, conforme a primeira fixação erótica que lhe ocorreu. A verdade liberta! Saber o que foi e como é que o processo se estabeleceu em você já vai significar uma grande libertação! Eu sei o significado de ser iniciado sexualmente muito antes da hora. Aos cinco anos, uma babá bem mais velha do que eu me “introduziu” nela própria; e, ainda que criança, gostei e desejei a continuação de tudo aquilo. E mais: passei a só gostar de sexo com mulheres adultas, pouco me interessando pelas meninas ingênuas e inocentes… somente o fazendo quando era para introduzi-las no sexo de um modo direto. A sexualidade humana é algo inerente ao próprio ato de existir como humano; e isso desde a vida intra-uterina. Aos três anos, em geral, a criança vive um certo despertamento “violento” com relação às partes sexuais do corpo humano. É nessa época que a gente vê os meninos gostando de apertar os peitos das tias e das meninas mais velhas; ou dar beliscões em bundas; ou mesmo expressar a vontade de ver e pegar nas “zonas proibidas”. Se nada acontecer como estimulo direto durante esse período, em geral também, quando a criança atinge os seis anos, e até aos dez ou onze anos de idade, ela experimenta um certo “adormecimento” do desejo sexual, o qual, voltará a se expressar ardentemente na puberdade… É aí que começa o desejo natural da masturbação. Quando, todavia, alguma coisa se “fixa” no período no qual deveria estar havendo o “adormecimento”—entre os 5 e 10 anos—, então, quase sempre, essa experiência passa a fazer parte do psiquismo da sexualidade da pessoa. Podendo ser algo de natureza negativa (como negação do desejo), ou como algo positivo, ainda que exacerbado (como afirmação da pulsão como preferência de prazer). Com você aconteceu a segunda alternativa, a da “afirmação” daquele tipo de prazer. Sua conversão, por mais castrante que tenha sido, associada ao repúdio de sua alma à imagem “dada” de sua mãe biológica, e, também, em relação direta com a criação pouco sexuada de sua família adotiva, conteve, provavelmente, muitas dessas pulsões; o que impediu você, provavelmente, de ter experimentado coisas muito mais pesadas. Todavia, nem por causa disso, deixou de marcar você, e, ao mesmo tempo, de vazar como algo prazeroso e amaldiçoado. Agora, sem condenação em Cristo, chegou a hora de você trazer tudo para as medidas dos bons prazeres. Continue a terapia e também continue lendo o site. Sei que logo, logo… você vai olhar para isto como uma vaga lembrança; e isto porque os bons prazeres haverão de curar a sua alma. Receba meu carinho sempre! Nele, Caio