Normalmente casamento é associado à prisão e limite. “O cara está se amarrando”—é o que se diz do moço que está para casar.
Há, inclusive, a tal “despedida de solteiro”, quando o jovem reúne os amigos e com eles sai a fim de “dar adeus à liberdade”.
Conheci minha mulher, Adriana, depois de vir de um relacionamento intenso e conturbado, por meio do qual meu primeiro casamento havia acabado. Todos conhecem a história, de um modo ou de outro, posto que os fatos se tornaram públicos. Todavia, nem de longe é disso que desejo falar aqui.
Como eu dizia, vim a conhecer a Adriana e a imediatamente me apaixonar por ela. Depois amei-a. Depois não podia mais imaginar a vida sem ela.
Assim que falei em casamento com Adriana, ainda em setembro de 2000—três meses após havê-la conhecido—, ela me sugeriu que tivéssemos, sobretudo, uma aliança de liberdade, porque “onde há o Espírito do Senhor, aí há liberdade”.
Ou seja: que nossa Certidão de Casamento carregasse como anexo uma Carta de Separação Consensual.
Assim, dizia ela, ficaria sempre certo e claro para nós dois que não estávamos numa prisão, mas numa relação que se fizesse justificar em existência apenas pela presença do amor, do desejo, do carinho, do respeito, e da amizade.
Estamos juntos há quase cinco anos. Nesse período, de tempos em tempos, ela me diz que “estou livre para deixá-la quando desejar”. E, normalmente, ela diz isso quando as coisas estão lindas, belas e ótimas: nos auges de nosso amor e alegria conjugal e familiar, como foi o caso do último Reveillon, quando estávamos todos da família, de ambos os lados, num encontro feliz e inesquecível para todos nós.
A única vez em que ela me repetiu essa frase de modo não associado à alegria foi quando da morte de meu filho Lukas.
“Meu amor! Você perdeu um filho. Se você desejar buscar alguma coisa que ficou para trás, e que tenha sido suscitada em você por essa perda, pode ir; e saiba: eu vou entender, embora eu vá sofrer de dor de morte. Mas você está livre”, disse ela na frente de meu filho Ciro.
Sim, eu sou um marido livre, e estou com ela porque a amo e a quero!
Alguém poderia considerar que a vida de um pastor tem sempre no ministério um ponto de referência para consideração quando se trata de divórcio e separação. Ou seja: muitos pastores, se fossem médicos ou advogados, separar-se-iam urgentemente de suas esposas. Todo mundo sabe que é assim.
Com a minha mulher, todavia, é diferente. Adriana, lá atrás… bem no início… inclusive me ofereceu “cobertura ministerial para me proteger das bocas malignas” no caso de um dia eu querer usar a Carta Consensual de Separação.
Ou seja: nem nesse quesito eu teria problemas, até porque, sinceramente, não desejaria estar ao lado de ninguém apenas por causa do ministério.
Deus me livre. Jamais!
Estou dizendo isto porque há pouco Adriana olhou para mim e disse as mesmas palavras.
O estranho é que quanto mais ela diz isso, mais o poder que em mim se fixa é o oposto: uma vontade danada de ficar, ficar, ficar… ficar para sempre… e até de rasgar a tal Carta Consensual de Separação… que só não pode ser rasgada também porque eu nunca tive coragem de escrevê-la.
Estou onde estou, com quem estou, do jeito que estou, porque quero, porque desejo, porque amo, porque estou feliz, porque me faz bem, e porque é tudo de bom e prazeroso.
Sim, amo Adriana, e ela me faz muito bem em todos os sentidos. Ela enche a minha vida de alegria e prazer.
Alias, faz bem a todos, até mesmo à mãe de meus filhos, que aprendeu a amá-la, e com quem ela tem hoje uma relação de carinho e amizade. Sem falar que nossos filhos hoje se amam como irmãos.
Desse modo, fica aqui o meu estímulo para que as pessoas se casem de modo livre e leve. Quanto mais livre e leve, mais profundo e mais definitivo será, na Graça de Deus.
Nele, que nos chamou à liberdade e à paz,
Caio