ADOÇÃO DOCE E AMARGA…
Oi pastor Caio. Como vai o senhor? Espero que esteja bem e completamente restaurado do mal-estar que o senhor teve no início do ano. Escrevo cheio de prazer, pois sei que quem vai ler essa mensagem possui um coração aberto e sincero, também muito sofrido e machucado, mas eu vejo que acima de tudo um coração em paz. Mas escrevo com tristeza, não por mim, mas por alguém que amo e sofre. Minha esposa. Criada em um lar evangélico desde o berço, ele passa por situações que independente do lar que ela tenha tido ou viesse a ter, eu acho que não deveria passar. Seus pais adotaram um filho, que jamais soube disso. Por terem uma mentalidade que eu chamo de infantil, seus pais sempre tiveram preferência pelo filho adotado, desde que minha esposa se conhece por gente. Poderiam ser idéias de uma criança, apenas simples ciúmes, mas minha esposa nunca soube dessa adoção até recentemente; ou seja, não foram idéias que surgiram na cabeça de uma criança. Também há o fato de que essa preferência (estou usando uma palavra suave para o que eu vejo), é vista por todos, incentivada pelos tios, exagerada, desagradável às vezes. Minha esposa sofre demais. Principalmente, porque não entende que adoção seja motivo para se tratar melhor ou pior um filho (concordo com ela). Eu sei pastor que meus sogros tentam compensar o “sofrimento” de ser adotado de meu cunhado. Sei também que como ainda não sou pai, talvez não consiga entender tudo que vai na cabeça de pais adotivos (acho o senhor um conselheiro ideal nesse caso), mas como diz minha esposa, seu irmão nem sabe a verdade. Por isso, qual o sofrimento que seus pais querem compensar? Seu pai gasta elogios e mais elogios com seu irmão, e raramente (acredite se quiser), lembra-se dela. Seu pai poupa seu irmão de saber de qualquer problema familiar ou parecido (negócios de família), a fim de que ele viva tranqüilo, mas “descarrega” em iras e raivas suas preocupações sobre minha amada. Seu pai gastou as economias com seu irmão, e depois não pôde ajudá-la quando ela precisou. Bens que deveriam ser partilhados entre os irmãos, foram desviados ao meu cunhado porque “ele merece, ele precisa”. Sabe pastor, não me entenda mal, o “material” nessa história pouco me importa e a minha esposa também. Ela é muito trabalhadora. É o afetivo que dói. Ao descobrir sobre a adoção, e pedir mais informações sobre isso, só ouviu a resposta: “cale-se” de seus pais, e morreu o assunto. Eu escrevo porque não sei como lidar sabiamente com tudo isso. Não sei o que fazer, nem sei como ajudar. Não sei se devo “berrar”, “aceitar”, “lutar”, “fugir”. Mas não suporto ver alguém sofrer desse tipo de carência, principalmente sem ter a esperança de que um dia isso vá mudar. Não queria ver minha esposa “mendigar” um amor que deveria ter. Eu sei como é a vida, e sei que ela não é justa. Nem sei porque então escrevi. Talvez só para dividir esse fardo. Me perdoe. Fique sempre, cada vez mais, nessa Graça que não faz acepção de pessoas. Um beijo, _______________________________________________________________________________ Resposta: Meu querido amigo: Graça e Adoção em Cristo! Certamente os pais dela ficaram tão apavorados com a idéia de que filhos adotivos são problemáticos que resolveram criar o menino sem essa informação, e, além disso, tratá-lo como se, pelo fato de um dia ter sido adotado, ele carregasse, em si mesmo, um softer diferente, e com grande potencial de explosão. Tudo bobagem! A gente só acha que filhos adotivos são problemáticos porque sempre atribui os problemas deles ao fato de serem adotados. No entanto, ninguém faz essa analise em relação aos problemas que os filhos naturais apresentam—e em quantidade infinitamente maior, proporcionalmente falando. Sim, as pessoas dizem: “Está dando problemas porque é adotivo”; e, em si tratando de filhos naturais, não têm coragem de dizer: “Está dando problemas porque é meu filho, e herdou muitos de meus males e vícios”. Assim, os “nossos” filhos “têm” problemas, mas os adotivos “são” o problema. Tudo bobagem! Filhos adotivos não dão mais trabalho do que filhos naturais. Filhos, em geral, trazem problemas, e é assim que a vida é. O que eles estão fazendo é duplamente mal. De um lado estão amargurando a sua mulher. De outro lado estão criando, na mentira, um fraco; e que um dia vai saber a verdade, e, quem sabe, então, pelo excesso de proteção e engano, venha a se revoltar. Tenho uma filha adotiva, e que cresceu sabendo que o era. Nunca houve acepção de qualquer natureza entre ela e os irmãos, e, pela Graça de Deus, ela nunca deu problemas que não sejam normais e próprios da idade e da maturidade em cada um das estações que ela viveu até aqui. A questão é que seus sogros adotaram um filho e se deixaram seqüestrar pela adoção. Sim, eles ficaram dependentes e doentes da expectativa de problemas fantasmagóricos acerca da adoção, conforme os mitos que eles compraram. Ou seja: eles adotaram com medo, não com certeza e confiança. E nada pode ser pior do que uma adoção amedrontada e neurótica, como eles fizeram. Para ajudar os seus sogros somente se sua esposa tivesse a coragem de confrontá-los, mas mesmo assim não há a garantia de que eles venham a aceitar o que ela tem a dizer. De fato eles estão co-dependentes de um fantasma, que é o suposto potencial problemático do filho que foi adotado. Portanto, os doentes são eles. Todavia, doentes só são ajudados quando querem ajuda. Espero que o “rapaz” não pire e venha a dar problemas, a fim de que a fixa deles caia, e, assim, eles possam desejar ser ajudados. O que fazer, então? 1. Sua esposa terá que “deixar pai e mãe, se unir ao seu marido, e ser com ele uma só carne”. Sim, ela tem que fazer essa ruptura, e fazê-la depressa, emocionalmente falando. Se for o caso, que ela procure um terapeuta e trabalhe essa questão, que é, sem dúvida, muito importante. 2. Sua esposa precisa saber que honrar pai e mãe é melhora-los em nós mesmos. Portanto, ela deve buscar viver sem as dependências relacionadas à doença dos pais; do contrário, ela também viverá uma seqüestrada. 3. Sua esposa precisa saber que a família dela agora é você, e, ao saber disso, ela deve se concentrar na vida que ela tem agora, ao invés de mendigar o amor e o cuidado dos pais. 4. Sua esposa precisa saber que ser discípulo de Jesus significa aprender a liberdade em relação a pai e mãe; liberdade que nos faz poder amá-los, mas jamais ficar dependente deles, muito menos de seus humores, caprichos ou doenças. 5. Sua esposa deve perdoar os pais, e, fazendo isso, não mais cobrar amor ou qualquer coisa deles. Do mesmo modo, ela deve se ver livre de toda amargura, pois, de fato, o privilégio de perdoá-los e até de entender a doença deles, é dela; e, por tal compreensão ela ficará livre. Mostre a minha carta a ela, e peça a ela que medite em cada coisa aqui dita, pois, se ela puser tudo isso em prática, logo o coração dela estará liberto, leve, tranqüilo e sem cobranças a fazer. O caminho é a oração que entrega e perdoa! Quanto a você, seja paciente, porém, seja incisivo quanto a afirmar a ela que entregar-se a tais “gemidos” é a receita para a infelicidade. Receba meu carinho e meu abraço! Nele, que a todos adotou sem acepção, Caio