UM GAY É ALGUÉM PARA DEUS?



—– Original Message —–
From: UM GAY É ALGUÉM PARA DEUS?
To: [email protected]
Sent: Saturday, September 25, 2004 1:41 PM
Subject: Contato do Site : Confidencial



Mensagem:


Olá Reverendo!

Tenho 31 anos, sou membro de uma igreja tradicional há muitos anos. É uma igreja em “estado de crescimento numérico”. Vem aumentando… e muitas teologias da prosperidade e cia. vêm junto. Você sabe!

Não tenho vontade de ir à igreja; não tenho ânimo algum; não sinto a presença de Deus. Mas anseio por senti-la. Só não consigo…

Tenho um problema desde que me entendo por gente. Sinto atração por homens. Já tentei me libertar desse desejo de várias formas… buscando incessantemente ajuda de Deus; e nunca consegui sentir que Deus quisesse me “curar”.

Não pense que estou revoltado com Ele. Não estou. O amo muito. Quero permanecer Nele. Só não sei se consigo… Sinto desejos…

Poucos amigos sabem. Meu Pastor sabe… e há muito sequer pergunta como estou. Também não o culpo. Só não sei o que fazer.

Preciso de ajuda e honestamente estou cansado de pedir e não encontrar…

Namorei uma garota há cerca de quatro anos. Não deu certo. Não consigo fazer o papel de namorado, mas gosto dela. Me sinto muito bem com ela. Somos muito amigos até hoje. Acho que ela gosta de mim, mas tenho medo de magoá-la, de fazê-la sofrer. No entanto, não quero viver só o resto de minha vida.

Não sei o que fazer… Por favor, me ajude.


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Resposta:


On Tue, 1 Mar 2005 16:01:46 -0300, [email protected]
wrote:


Amigo,

Apenas me fale de você!



Caio


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—– Original Message —–


De mim, na verdade, hoje não sei dizer muita coisa, na verdade não sei nem se sei quem sou.

Fui criado na igreja, mas nunca me senti dentro de tudo aquilo que eles pregavam…

Também nunca tive a menor intimidade com meu pai. Com minha mãe, penso que temos um bom relacionamento (pelo menos com minha mãe eu tenho), mas não intimidade de conversar sobre “problemas”.

E eu cresci só… Entendendo as coisas da vida por mim mesmo, sem amigos, sem alguém com quem possa conversar abertamente; e vou sofrendo calado…

Nunca entendi isso… Por que eu tenho que viver assim? Se Deus condena meu desejo homossexual, então, por que Ele não me cura? Por que permite que eu seja assim…? Porque eu não escolhi ser assim ou sentir o que eu sinto…

Passei toda minha vida pedindo, buscando, tentando alcançar uma cura… ou, como Paulo, viver pela graça… Mas acho que cheguei a um momento em que não consigo mais fingir que sou uma pessoa que na verdade não sou… e que não sinto o que sinto cada dia mais forte em mim.

Não posso lutar contra isso… Não consigo mais… Tenho medo de tudo, de mim mesmo… Mas meu desejo maior hoje é viver… ser feliz. Penso que não posso ser feliz longe de Deus, e aí a luta começa novamente dentro de mim… e sofro mais, porque já não consigo mais…

Não sei o que fazer… não sei como agir… só sei que sou assim, e preciso de ajuda, de alguém pra conversar.

Desculpe, não sei se ajudei muito, mas é que, honestamente,  não sei muito bem o que dizer ou como dizer… Mas, no mais, acho que é isso…

Uma vez mais, obrigado e desculpe.
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Resposta:


Meu amigo querido: Graça e Paz!


Certamente você já leu aqui no site muitas das minhas respostas a homens que vivem uma condição gay ou que lutam contra vícios homossexuais.

Portanto, a fim de não ser repetitivo, peço a você que escreva as palavras ‘gay’ ou ‘homossexual’, ou mesmo ‘homossexualidade’, em ‘Busca”; e leia os textos todos que há sobre os temas na área de Cartas.

Leia por favor. E saiba: é o que penso honestamente sobre o assunto.

Creio que de tais leituras você tirará a compreensão da situação, e poderá se enxergar numa das muitas descrições de quadros e cenários homossexuais tratados no site; e, assim, encontrar sua própria resolução em fé.

O que desejo dizer a você é de natureza totalmente existencial.

Você disse: “De mim, na verdade, hoje não sei dizer muita coisa; na verdade não sei nem se sei quem sou…”

E mais: “… acho que cheguei em um momento em que não consigo mais fingir que sou uma pessoa que na verdade não sou…”


Se juntarmos a dúvida da primeira frase— “…na verdade não sei nem se sei quem sou…”—, com a certeza de uma outra frase—“… não consigo mais fingir que sou uma pessoa que na verdade não sou…”—, teremos que você sabe quem é para você mesmo, mas não tem coragem de expressar… e é de tal ‘confusão’ que vem a sua incerteza de se sabe ou não quem é.

Ou seja: você se sente de um certo modo desde a infância, mas sabe que no seu ‘meio’ e à luz dos ensinos religiosos que recebeu, o seu modo de ser e sentir é considerado perversão, pecado e doença.

Então você fica na dúvida se você é quem sente ser… ou se é apenas um doente entregue ao pecado como perversão.

E como em si mesmo você não encontra essa ‘maldade pervertida’, e, ao mesmo tempo, não pode negar que sente o que dizem ser ‘perversão’…; então, você fica sem saber se sabe quem é (… pois é proibido), ao mesmo tempo em que não consegui mais fingir que é quem de fato não é (… pois é pecado).


Portanto, me encontro mais preocupado com sua incapacidade de se pacificar sendo quem você é, do que com sua questão gay.

E por quê?

Ora, é que a ‘questão gay’ é menor do que você. Você pode até ser gay, mas ser gay não é você. Ou seja: você é maior do que a questão que existe em você, visto que ela é infinitamente menor do que você é… como proposta.

A questão gay é uma questão. Você, todavia, não só é a solução, como também é a proposta à questão.

Minha alma repudia com todas as forças e meu espírito com todas as suas energias, a idéia de que um ser humano é do tamanho de uma questão pessoal, seja ela gay… ou de qualquer outra natureza… ou em qualquer outra área da vida.

Nesse caso, coar mosquito e engolir camelo equivale a hipervalorizar a ‘questão gay’ e minimizar a ‘você mesmo’ como proposta maior que a questão.

No meio cristão, conforme inúmeras vezes tenho dito, a questão gay acaba por ficar maior que a pessoa, a qual, sendo gay, assume (com grande estimulo da “igreja”) que ela própria só seria ‘alguém’ para Deus se conseguisse deixar de se sentir gay… Essa seria a ‘cura”.

Ora, sendo assim, o mosquito se torna o senhor da vida, enquanto o camelo da real importância do ser é esquecido e negligenciado… engolido pelo nada.

Com relação à questão gay, sugiro que você procure um terapeuta que não seja “careta” e, sem medo, abra seu coração todo com ele. Enquanto isto, leia o site nas coisas que já lhe indiquei.


No entanto, no que se refere a você, de fato, o que percebo é que você precisa entender o seguinte:

1º — Há coisas que podem ser mudadas em nós. Outras não. As que são mutáveis, em geral, são de natureza fundamental ou importante, mas ainda estão na base ‘estrutural’ do fundamento do indivíduo. As coisas que são imutáveis podem, no máximo, ser sublimadas, reprimidas ou supressas… por mecanismos de natureza psicológica, e, também, ocupacional; especialmente se houver algum tipo de ameaça moral como punição. Todavia, como são de natureza ‘essencial’ (portanto, mais profundas que as questões fundamentais ou importantes…), elas não são alteráveis, visto que fazem parte da constituição do ser; podendo apenas, por essa razão, ser objeto de ‘contenções”… ou até mesmo de ‘castrações’… embora Jesus mesmo tenha dito que ‘nem todos estão aptos para essa noção’.

2º — As coisas de natureza essencial que há em nós, quando vistas como malignas, colocam a pessoa num ‘ligar psicológico’ que é a própria ‘morada do diabo’, visto que trata-se de um ambiente de culpa e auto-flagelação, como você mesmo sabe, posto que experimenta tais sentimentos desgraçados em sua alma.

3º — O que se tem que fazer quando o que nos habita tem ‘natureza essencial’ é buscar viver o princípio da escolha ‘de um mal menor”. Ou seja: tem-se que viver tentando minimizar as conseqüências de tais realidades, não permitindo que em nós elas cresçam contra nós. Aí é que entra a sabedoria para discernir o princípio de Paulo, quando disse: “… se és escravo… procura tornar-te livre… se és livre… não te ponhas sob escravidão… cada um ande conforme foi chamado…” Ora, o princípio que também prevalece é aquele de Pedro na casa de Cornélio: “Podemos nós negar a água do batismo àqueles a quem, como nós, Deus batizou com o Espírito Santo?” Assim, para mim, se Deus chamou você para Ele ( e chamou…), ninguém tem que se interpor entre você e Deus… e nem tampouco as suas pulsões de natureza homossexual devem receber de você tal poder de ‘separarem’ você de Deus, visto que elas, em Cristo, já não possuem tal poder.


O profeta Isaías pergunta: “Quem creu em nossa pregação?”

E a questão dele é mais verdadeira hoje do que nunca!

Por quê?

É que Isaías diz que Jesus levou sobre Si todas as nossas dores, transgressões, iniqüidades, perversões, doenças, chagas, e males da mente e do entendimento.

Ora, quem creu… esse sabe que mesmo que ainda seja cheio de dores e outras aflições, todavia, ele já não tem que somar a elas o juízo de Deus tornando o problema maior e insuportável. Sim, quem creu sabe que ‘o castigo que nos traz a paz estava sobre Ele”; e sabe também que ‘pelas Suas pisaduras nós fomos e somos sarados…’

Na realidade, crer na pregação da Graça de Cristo é o que nos liberta do juízo e nos dá paz para podermos encontrar resoluções simples e limpas em nós… não mais afligidas por um peso maior que o problema… que seria a ‘mão esmagadora’ de Deus contra o indivíduo.

Eu não sei qual será o seu caminho, meu irmão. Mas sei que pode ser de vida e paz; ao invés de ser de medo, angústia e sentimento de estar sendo sempre ‘rejeitado’ por Deus por ter desde criança se sentido gay.

Quero apenas que você saiba que seja qual for o seu caminho, é possível que ele seja de paz, e não de angústias.

Sempre há um bom modo e um modo ruim para todas as coisas. Para você a sabedoria será aprender o modo bom de ser você mesmo.

Ora, eu creio no amor de Deus para com todos os homens, e, por isso, também creio que não haja um único ser humano, não importando as limitações e os condicionamentos que carregue, que não possa encontrar o seu próprio caminho com Deus; e, é lógico, em paz!

Encha-se do amor de Deus e não das doutrinas da religião do medo e da culpa, e, assim, logo você sentirá os benefícios de conhecer a Graça como poder pacificador de seu ser; e que também diz ‘Basta’ à nossa aflição de ‘cura’, conforme aconteceu com Paulo em II Coríntios 12.

“A minha graça te basta; pois o poder se aperfeiçoa na fraqueza”.

Receba meu abraço e orações!



Nele, que é Pastor de todos,



Caio