OBESIDADE MENTAL
—– Original Message —– From: OBESIDADE MENTAL To: [email protected] Sent: Wednesday, December 29, 2004 1:22 AM Subject: Tenho medo das pessoas ou de mim? Tentarei ser direta, até por achar que estou atrapalhando com meus problemas. Sou de uma família grande, onde quem manda é a mãe de meu pai; moramos todos vizinhos e sempre convivemos juntos; somos mais ou menos doze netos, e eu era a única menina alta, gorda, com cabelos ruins… Por essa descrição já da pra perceber como foi minha infância… Cresci totalmente complexada. Sou muito inteligente, e foi aí que me escondi: nos estudos; mas agora não aquento mais… Pra ‘ajudar’ tive dois namorados. O primeiro me tratava como ninguém, mas me traiu; o segundo também me traiu… Ambos eram cheios de problemas e com caráter duvidoso (talvez por culpa minha, por não acreditar que uma pessoa com bom caráter ou “normal” se interessasse por mim)… Eu já tinha uma visão terrível de homem por causa do meu pai, que traiu minha mãe…; e foi toda aquela história que acontece em muitas famílias. Antes eu era complexada, mas acreditava (ou achava que acreditava) que poderia existir alguém que fosse ver em mim as coisas boas que eu tenho (coisas que nem eu vejo)… Hoje eu apenas choro ou durmo… Tento não pensar, estou muito gorda e penso em continuar assim para ninguém querer me conhecer e me trair… Não consigo ficar a vontade em lugar nenhum. Se estou num lugar… fico achando que estão olhando pra mim e reparando nos meus defeitos. Se estou falando…, fico pensando que a pessoa está me achando uma idiota ou coisa assim… Na igreja, Deus sabe como era difícil ficar lá na frente pra cantar, por eu ficar nervosa por achar que as pessoas vêem apenas os meus defeitos… Acabava desafinando, gaguejando, além de ficar toda vermelha, o que me deixa mais feia ainda. Tenho 21 anos, me formei este ano, sou professora de educação infantil (essa é a única hora em que me sinto a vontade e sou eu mesma, quando estou com meus doces alunos)… Mas me sinto um peso na minha casa. Quero ter o caráter de Cristo; quero ser eu mesma em Cristo; e estas coisas não me ajudam a ser melhor, só me causam uma tristeza profunda e inoportuna. Nunca me abri desta maneira com ninguém… Sei que Deus quer que nos relacionemos com as pessoas, mas eu tenho tanto medo do que elas podem fazer a mim…, que nunca deixo elas chegarem muito perto… Estou com uma idéia muito legal pra trabalhar na igreja. É algo que sei que fará a diferença, mas só em pensar que pessoas vão ler… ou que vou ter que falar com os líderes sobre a idéia, já me dá vontade de desistir, pois penso que acharão inútil ou burra a minha idéia. Sei que ela não é, mas esse sentimento me perturba e me enche de muita insegurança. O que eu faço? Estou cansada de ouvir que a culpada de tudo isso sou apenas eu, eu quero saber o que devo fazer. Me ajuda POR FAVOR!!! Muito obrigado. Deus te abençoe! ________________________________________________________________________ Resposta: Minha querida amiga: Graça, Paz e Coragem! Não é culpa sua o ser gorda desde a infância, mas é sua responsabilidade o modo como você trata a si mesma hoje. Ser obesa desde a infância pode ser algo de natureza genética ou uma disfunção hormonal. Você não me reportou nenhuma ‘gula especial’, do tipo que faz a pessoa ser gorda apenas porque não se controla… e come… come… e come. Mas, ainda assim, não seria ‘culpa’ sua, mas tão somente um descontrole seu, o qual, para o seu bem, necessitaria ser tratado. Portanto, nada de se fazer—além de gorda e descontente com a sua aparência—uma pessoa culpada. Culpa pesa mais que gordura, eu garanto a você! Sei como é desagradável ficar gordo. Já estive com 120 quilos (talvez pra você isso nem seja gordura), e me sentia mal, não em razão das pessoas (nunca tive essa dificuldade na vida), mas sim em razão do desconforto e das limitações que produzia em algumas áreas do meu dia a dia. Ora, eu me sentia mal especialmente porque não sou gordo, mas fiquei gordo; e tudo por negligencia minha, em razão da total entrega ao frenesi ministerial durante muitos anos. Provavelmente você esteja rindo ao comparar meus 120 quilos de antes com sua gordura ou peso. Aliás, você não disse quanto está pesando. Na realidade, mesmo não sendo sua culpa, é, todavia, sua responsabilidade aprender a lidar com a situação. No enfrentamento dessa limitação, tem-se que avaliar vários aspectos de sua vida. Primeiro, se é de natureza genética ou hormonal. Segundo, se tem a ver com excesso de comida. Terceiro, se é fruto de uma existência sedentária. Quarto, se é de natureza psicológica. Quinto, se é tudo isso junto, o que é mais provável. Uma vez avaliando-se a situação, tem-se que tomar medidas objetivas a respeito. Um médico endocrinologista precisa ser procurado. A comida tem que ser controlada. O corpo precisa ser exercitado. A alma precisa ser ajudada. E o estado e a atitude existencial precisam ser combatidos. Hoje há operações de redução de estomago, e tenho alguns amigos que fizeram, e estão se sentindo muito bem. Provavelmente você devesse procurar um médico e ver se no seu caso é aconselhável. No caso de ser, por favor, faça a cirurgia. Outro dia Adriana e eu estávamos na casa de uns amigos quando chegou um homem gordo e simpático. Eles disseram que era o professor de educação física deles. Por dentro eu pensei: “Puxa, não sei se com esse peso eu teria coragem de ser professor de educação física!” Eles perguntaram se queríamos experimentar a aula dele. Dissemos que sim. Então ficamos sabendo que ele desenvolvera umas seqüências de exercício sem muito movimento, mas que ‘trabalhava’ o corpo todo. Fiquei meio incrédulo. A aula começou. Uma hora de movimentos lentos e repetitivos. Acabamos todos cansados e suados. Ao final meu amigo disse: “O fulano já teve mais de 200 quilos. Hoje ele está magro!” E disse: “Conta pra eles…” Então o rapaz disse que tinha tido um peso enorme, mas que se decidira a perder tudo aquilo. Então, entrou numa dieta, e, depois, fez a cirurgia de redução de estomago. Perdeu quase 90 quilos. Está com 130 ou 140, mais ou menos. Foi depois disso que ele desenvolveu o método dele, o qual é ótimo para quem está fora de forma, ou não está podendo correr e malhar normalmente. Mas lá estava ele… com seus 130 quilos ou mais… e dando aula de educação física. Depois que soube da história gostei ainda mais da atitude dele, que já me parecia muito simpática e livre. O meu desconforto pessoal com a minha gordura nada tinha a ver com a estética (Aliás, eu não estava nem aí pra isso). O que me perturbava era não poder amarrar o sapato direito, não poder fazer certos movimentos antes simples para mim, e a perda das roupas, algumas das quais eu gostava de vestir… sem falar que era uma dificuldade arranjar roupas que caíssem bem. Mas ficava aí meu desconforto. Quando chegou o ano de 1998 (ano de muitas angustias e muitas perdas), no meio de tantas aflições, perdi peso como se fosse água. Ao final de três meses eu havia perdido 30 quilos. Depois, adoeci e perdi mais 10 quilos. Em um ano eu estava com os 80 quilos que tinha no tempo em que treinava Jiu Jitsu todos os dias. Me senti muito bem…, apesar de estar vivendo sob tantas dores de alma. Recuperei boa parte de meu senso de juventude e me senti animado a fazer um monte de coisas que antes nem mais faziam parte de meus pensamentos ou desejos. No entanto, minha experiência de perda de peso em nada pode ajudar você. Tudo foi diferente de você, pois, foi fruto de circunstancialidades, tanto no engordar quanto no emagrecer. Todavia, estou narrando a você esse fato apenas para que você saiba que pelo menos por um pouco…, eu sei o que você sente quanto ao peso. O que você deve fazer? Primeiro, é obvio, procure um médico e trate a questão com seriedade. Ser-lhe-á bom e útil perder peso. Se não for por nenhuma razão, faça isto por sua saúde. Segundo, faça exercícios de natureza psicológica. Ora, esse ‘lugar psicológico’ no qual você se colocou é o próprio ambiente da obesidade. Afinal, você diz que não quer emagrecer porque não quer ser gostada, pois, não quer ser traída. Então, se sente mal por não ser gostada, e engorda ainda mais… Esse ciclo precisa ser quebrado urgentemente! O que fazer então? 1o Saiba que provavelmente todos os seus argumentos são tapeações e auto-engano. Ou seja: você diz que não quer ficar gorda para não ser gostada; embora, de fato, você use isso como desculpa para dizer a si mesma que não emagrece porque não quer… e por razões de outra natureza. Mas você sabe que não é verdade; e sabe que é apenas a sua desculpa. 2o Não espere emagrecer para passar a viver normalmente. Ou seja: você terá que sair de casa, andar, encontrar pessoas, rir, sentar num barzinho com amigos, ir ao cinema, e namorar… quando rolar… Sua gordura está na alma. Sim, antes de ser uma gordura de banha, é gordura de complexos. Na realidade, nada engorda mais do que complexo. Complexo é altamente engordativo, pois, de algum modo, deflagra processos de natureza psicológica, os quais alteram a própria produção hormonal da pessoa. Isso sem falar que o tal complexo deixa a pessoa assim como você está; ou seja: se sentindo incapacitada para viver. Portanto, faça um ‘regime de complexos’. Deixe os complexos passarem fome, não alimentando-os. E a única maneira de fazer isso é fazendo o que lhe sugeri antes: vivendo com normalidade… com ou sem perda de gordura. Nenhum complexo desaparece se não for enfrentado justamente com aquilo que ele se nega a realizar. Complexos são vícios mentais profundamente negativos, e existem como produção da própria alma, a qual, atribui aos outros…, coisas que só existem com aquela gravidade na cabeça da gente. 3o Você, todavia, tem que ‘querer’. Se você não quiser, nem mesmo a operação de redução de estomago a ajudará. Aliás, se você não quiser…, nada lhe acontecerá em área alguma da vida. Isso porque a ‘vontade’ do milagre já é mais que o milagre. Sim, a ‘vontade’ é a chave que abre todas as portas… conforme Jesus ensinou, quando mandou buscar, pedir e bater… até que se encontre, se alcance e se veja a porta abrir. Todavia, se você não quiser…, também ‘não se queixe nunca mais’…, e, assuma que você gosta de ser gorda; e pronto. É seu direito. Mas se não gosta…, então, use toda a sua vontade (e você tem muita vontade, ainda que não saiba), e parta para perder peso, usando todos os meios disponíveis hoje em dia. O mais, saiba, é desculpa e covardia de ir à luta. Digo isto especialmente em relação aos homens. Sim, essa coisa de dizer que não emagrece para não ter que namorar e não correr o risco de ser traída é pura besteira e auto-engano. Além disso, todos os dias vejo gordas e gordinhas acompanhadas…; até porque também há muitos homens que sentem uma atração especial por gordinhas e gordas. Portanto, o problema não é a gordura física, mas sim a gordura mental. Vá a igreja, apresente suas idéias, cante lá na frente, saia com os amigos, abra a janela de seu quarto, e deixe a porta aberta… Você é apenas uma menina de 21 anos, e a vida inteira está adiante de você, e gordura nenhuma deve ser um pretexto para não viver e ser você mesma em plenitude. E saiba mais: os outros não têm esse tempo todo para ficarem olhando você…, nem esse interesse todo em sua gordura. Você é que atribui essa importância toda à sua gordura, e projeta as suas próprias interpretações e sentimentos sobre os outros… passando então a viver como se você fosse o centro de todas as atenções, como de fato você gostaria de ser. Na realidade, eu diria que você sofre de um mal pior do que a gordura, que é a falta de coragem para lutar e vencer. Pra você, melhor que a luta é a entrega… Assim, você culpa a Deus, a natureza, a você mesma, e ao mundo por você ser gorda… e não faz nada a respeito da situação. A escolha é sua. Ou você vive como está agora, e se acomoda à situação; ou, então, você vai à luta, procura ajuda, se ajuda…; e, com coragem, vira o jogo em seu favor. Todavia, como disse, você não é obrigada a emagrecer. Porém, nesse caso, viva com normalidade e pare de falar no assunto. Complexo, queixa, reclamação, amargura, lamuria e desconfiança, não emagrecem ninguém! Quanto aos homens, saiba: Homens podem trair… Traem feias e bonitas… gordas e também as magrinhas. Faz parte da vida ser traído. Jesus o foi. Quem não foi? Mas já pensou se a Cicarelli traísse o Ronaldinho, e ele, traumatizado, decidisse que ficaria gordo, desafamado e pobre a fim de não mais correr esse risco? O que você acha? Sua desculpa equivale a dizer: “Não bebo mais água pois temo giárdias!” E, assim, vir a morrer de sede… Minha querida, tudo nesta vida é apenas uma questão de atitude. E atitude começa com o exercício da vontade. E a vontade se fortalece mediante uma decisão da consciência; e, no seu caso, uma consciência em favor da vida. O grande problema, todavia, ainda não foi mencionado, que é a sua falta de amor próprio. Então, você diz: “Mas com este peso, como posso gostar de mim?” Ora, eu digo: essa continua a ser a desculpa. Isto porque por amor a você mesma, você tem que buscar fazer aquilo que lhe faria bem, não mal. E, de fato, gordura não é algo ‘do mau’… mas apenas algo ‘a mais’… embora faça mal ao corpo, e, no seu caso, faz mal também à sua mente. Gratidão a Deus por sua existência e por sua alma é o que começará todo esse processo! Sei que você não gosta de ouvir que você tem que se ajudar. Mas, se você não se ajudar, quem poderá perder peso por você? Portanto, pare com as desculpas e enfrente a situação de frente. Mas se não decidir fazer nada, também nunca mais fale no assunto, e assuma que você não quer e não quis. Problemas, minha querida, todos têm. E saiba: tem gente triste por ser bonita demais. É! Sabia? Sim, tem gente para quem o seu sonho é um problema. Todo mundo carrega alguma coisa. Você carrega gordura e uma atitude defensiva, acovardada, e lamurienta… enquanto não faz nada por você mesma. Outros… carregam outras coisas. Problemas? Bem, quando era gordinho eu praticamente não os tinha. Mas tive muitos nos últimos 8 anos… embora tenha emagrecido. E alguns deles foram quase insuportáveis. Mas a gente anda… caminha… enfrenta… e não se dá desculpa para ficar parado. O que você vai fazer? Vai se ajudar? Ou vai ficar reclamando da vida? De fato, sinto informar a você, mas a responsabilidade é somente sua. Quem tem fé muda montanhas de endereço, quanto mais gordura de lugar… Mande essa gordura para o mar, para o fogo, para o suor, para o sol, para o campo verde, para a risada, para a alegria… Sim, o grande peso que você tem que perder está dentro de sua alma, não no seu corpo! Faça o que lhe disse, se você quiser, é claro; e veremos se tudo isso não muda para o seu bem. Receba meu carinho e meu amor! Nele, para Quem o único peso que faz mal é aquele que nos impede de caminhar na leveza da Graça, Caio