SEM BETINHO, A ÉTICA VAI DE JÉFERSON PEREZ: cuidado!



—– Original Message —– From: SEM BETINHO, A ÉTICA VAI DE JÉFERSON PEREZ: cuidado! To: Lesimar Sent: Saturday, July 23, 2005 9:42 PM Subject: A ÉTICA COMO TENTAÇÃO: Betinho, Lula e eu… Caro Pastor Caio, Li com muita atenção o seu artigo intitulado “A Ética Como Tentação”. Você foi objetivo e oportuníssimo. Concordo literalmente com tudo, com todo o relato dos fatos cronologicamente perfeitos e que permite aos mais céticos e lentos tirarem todas as dúvidas a respeito dos fatos que ocorreram com você. Não concordo quando você diz que o Betinho foi a única pessoa que de público saiu em sua defesa. Sidney Cinti, na época dos fatos Deputdo Estadual, foi o único a escrever uma carta ao então governador Marcelo Alencar protestando por sua inocência e em sua defesa. Caio você não tem idéia da quantidade de pessoas que oram e continuam crendo em você como homem de Deus. Continue sua luta, por você mesmo, por Cristo e não se importe com os que lhe acusam.O Senhor seja contigo,sempre. Em Cristo, Conceicao Cinti __________________________________________ Querida amiga Conceição: Graça e Paz! Quando disse que o Betinho foi o único que saiu logo, publicamente, em defesa, me referia ao fato de que entre os que tinham acesso à grande mídia, ele foi o sujeito que botou a cara para apanhar na mesma hora; mesmo antes de mim, que estava dentro de um avião indo para o Recife. Quanto ao mais, além do Sidney Cinti, muitos escreveram, mandaram faxes, e se manifestaram em todas os Fóruns possíveis. Mas, no dia, na minha ausência, sem nem saber ainda, foi ele quem “me assumiu” com coragem, e desafiou o Governador. Foi a isto que fiz referencia, e levando em consideração que, na mesma época, eu tinha muitos amigos da mídia que podiam ajudar. Sem falar nos que tinham como falar e ser ouvidos pela nação toda. Depois que o Betinho falou, todavia, chegaram apoios de todos os lados. Sei, porém, que os irmãos de verdade (e, naquele tempo até os “irmãos de mentirinha” falaram …), se manifestaram; mas não tinham os meios para faze-lo “na hora”, em público, como o Betinho dispunha, e fez. Mas, mesmo naquele tempo, quando eu ainda era “unanimidade”, muitos torceram para eu me arrebentar. Infelizmente onde está o cadáver, aí ajuntam-se os abutres. Quanto ao que você disse sobre a multidão dos que oraram e oram, sei que é assim. E mais: sei que dessas orações me tem vindo Graça e Socorro para toda ocasião própria. Quanto ao tema da “Ética como Tentação”, quero ainda acrescentar que a “ética” tem, em si, um germe da síndrome de Lúcifer. O cara quer ficar mais santo que Deus, mais justo que a justiça, e mais certo que Jesus. Em outras palavras, a ética diz: “Eu subirei; e serei semelhante ao Altíssimo”. Agora, por exemplo, quando o Governo está em desgraça, vejo, em nome da ética, um monte de ladrões antigos, e malandros o suficiente para esconder bem o roubo, posando de justicistas e puros. Ali no Congresso deve haver uns 50 que não usam de tais expedientes. Os demais o fazem. Eles sabem que eles fazem. Eles sabem como é. Não creio na perplexidade de quase nenhum deles. São todos uns mascarados, usando a ética como disfarce circunstancial. As CPIs estão cheias de ladrões, corruptos, corruptores, e “éticos” de “oportunidade”. Às vezes peço a Deus que abra essa panela! O que não gosto, agora, é de ver a mídia querer criar mais um Betinho, mais um ser-ético, mais um messias republicano, mais um ser que não pecou, e que não carece da glória de Deus, e que é o Senador Jéferson Perez, do Amazonas. Tudo que sei e ouço dele é bom. Mas sinto que ele está começando a crer que é reserva moral do país. Se for assim, pobre dele. Em algum tempo se achará alguma coisa… qualquer coisa… até aquelas que ele não soube que fizeram por ele…; e, nesse dia, essa mesma mídia católica-ateia, o derrubará sem nenhum respeito; sendo que são eles mesmos os que inventam esses santos circunstanciais a fim de esmigalhar na hora em que o “santo virar notícia antitética”. Receba meu carinho e minha gratidão por seu amor e orações! Um beijo sincero! Nele, que não aceitou ser o Messias da Moral e da Ética, mas apenas da Graça, da Verdade e da Misericórdia, Caio __________________________________________ Para quem não leu o texto em questão, aí vai sua reprodução: Era o ano de 1992, e, não apenas os evangélicos, mas boa parte do Brasil, haviam me eleito um dos heróis da Ética, um dos monges da Moral, uma das Reservas da Dignidade Nacional — conforme inúmeras vezes eu ouvi, li, e assisti as pessoas e todas as formas de mídia dizerem. Naquele tempo Betinho (hoje já esquecido, apenas uma década após a sua morte) era o Grande Papa da Ética Nacional. Virou Santo Ateu, Teólogo do Incrédulos, o Portador de HIV que Esbanjava Esperança, o Fininho que pela sua própria fraqueza e despretensão, tanto era aceito, quanto era muito ouvido, pois, não parecia ameaçar ninguém, e, muito menos, desejar o lugar de ninguém; afinal, todos pensavam: “Vamos ajudar! O cara tá morrendo!” Lembro de quando Rubem César me convidou para encontrar Betinho. Acabou sendo o contrário: eles foram a um jantar na seda da Vinde. Era o inicio da década de 90. Ora, eu já estava envolvido num monte de ações de natureza social, e de iniciativa leiga, apolítica (do ponto de vista partidário), e civil. Agora o Betinho vinha de São Paulo, depois de uma longa conversa com o Lula, com a missão de lançar a Campanha Contra a Fome e a Miséria. Lula teve a idéia, mas achou que se ele próprio encabeçasse o projeto, logo a ação seria vista como de inspiração partidária; e Lula não queria isso. Itamar Franco havia acabado de assumir a Presidência no lugar do “impichiado” Collor de Melo, e, estranhamente, logo se mostrou aberto ao diálogo com todos; especialmente com a chamada “sociedade civil” e com as ONGs. Rubem César (Iser e Viva Rio) julgava que a Campanha teria uma grande chance de emplacar se os evangélicos comprassem a idéia. Naqueles dias tudo o que era “popular” era evangélico, posto que o fenômeno do crescimento daquele seguimento era o grande “fato fenomenológico” da década, no Brasil, até então. Esta, portanto, foi a razão de Betinho e eu termos nos encontrado a primeira vez: por recomendação de Lula, do Rubem César, e do Zuenir Ventura, com quem eu já feito amizade, em razão de seu livro “Cidade Partida”, o qual fazia viagens por dentro de alguns episódios que me envolviam como pastor de presos de Bangu I, evangelizador e batizador do Governador Nilo Batista, e líder “religioso” sem cheiro de religião; sobretudo, em razão de que eu, ao contrário da maioria dos pastores, segundo o Zuenir, estava sempre comprando causas aparentemente perdidas, numa época em que os pastores já eram bem conhecidos pelo seu interesse em dinheiro: já, então, um legado da IURD. Dali para frente, sempre tive ótima relação com Betinho; e, com ele, tive muitas conversas de natureza espiritual; e dele ouvi muitas confissões, as quais, me fizeram crer que seu ateísmo era uma grande defesa psicológica que um menino, mineiro, havia construído, a fim de se livrar dos traumas ligados a tentativas e assédios de padres abusivos em sua infância. Por essa razão, declarei a ele que seu ateísmo era psicológico, e que, portanto, eu não o levaria a sério, dando-me, por essa razão, o direito de tratá-lo como “um crente secreto e traumatizado”. Ele riu muito; e, daí pra frente, aceitou que eu o tratasse como quem lida com um irmão na fé. Esta foi a razão pela qual ele deixou solicitado à sua esposa, que eu participasse do ofício de seu funeral, conforme veio a acontecer. Frei Beto e eu fizemos o funeral na Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro, quando, alguns anos depois, ele veio a falecer. Betinho nunca negou fogo em relação a mim. Esteve presente em tudo o que pôde. Participou e endossou muitas coisas que eu fazia: Fábrica de Esperança, Casa da Paz, Atitude & Solidariedade, etc… E quando não pude ficar para receber o Presidente Fernando Henrique Cardoso (janeiro de 1994), na sua primeira viagem como presidente eleito, a qual privilegiou o Rio, e, na cidade, a Fábrica de Esperança como primeiro lugar a ser visitado —, pedi ao Betinho que fizesse as honras da casa, deixando eu um vídeo gravado e um grande Telão; enquanto fui com 500 pessoas cumprir o compromisso de leva-las a Terra Santa, o qual já estava agendado bem antes da marcação da visita presidencial. Quando o Governador Marcello Alencar “aprontou” contra a Fábrica de Esperança (95), foi de Betinho o primeiro grito publico a se fazer ouvir: “Ponho a mão no fogo pelo pastor. Isto foi armação…” E me mandou flores e uma cartinha amiga; e foi brigar na mídia. E há muitas outras coisas e situações nas quais ele deixou clara sua confiança em mim como homem. No meio disso tudo eu me vi na maior “saia justa” quando Betinho e Nilo Batista se indispuseram em razão do episódio envolvendo o recebimento da doação que Dona Terezinha, esposa do bicheiro Turcão, havia feito à ONG que Betinho fundara visando dar apoio a aidéticos. Ora, a tal doação teria acontecido na casa de Nilo, antes dele ser Vice-Governador de Brizola, e, depois, Governador em seu lugar. Até aquele ponto Nilo e Betinho eram amigos. Mas as intrigas da mídia são diabólicas, e, de repente, por falta de coragem de Betinho em admitir de cara que havia recebido o dinheiro, e pronto —; o que houve da parte dele foi hesitação; a qual, segundo Nilo, agravou o problema, e acabou por deixar Nilo, agora Governador, em situação dificílima. Em todas essas coisas, posteriormente, Nilo provou sua isenção; porém, as arranhaduras que aconteceram entre ele e Betinho não mais cicatrizaram (e eu estava entre os dois). Além disso, houve também o agravante relacionado ao fato de que tanto Zuenir escreveu um crônica que ofendeu os sentimentos do Nilo (especialmente porque ambos também eram amigos), como também Rubem César postulou coisas de natureza considerada por Nilo “intervencionistas” (Operação Rio), o que rompeu a amizade que até então houvera entre eles. Assim, de súbito, eu era a única conexão entre Betinho, Rubem, Zuenir, o Viva Rio, os Marinho, e o ofendido e magoado amigo, ovelha e Governador. Vale dizer que João Roberto Marinho era membro do Viva Rio; e Nilo se tornara inimigo da Globo. Minha vida ficou complicada no meio daquele fogo cruzado. Tudo em nome da Ética de cada um. Pois bem, muito antes disso tudo, esse mesmo Betinho estava ali, em 92, me convidando para ajudá-lo na Campanha Contra a Fome. Aceitei. Fomos a Brasília. O Itamar “comprou” a idéia, mesmo sabendo que Lula era o idealizador; e, assim, criou o Consea — Conselho de Segurança Alimentar da Presidência da Republica. O conselho era um grupo de celebridades. Tinha gente de todos os grupos e tipos de representação. Logo comecei a receber um monte de missões de visitação para falar em todo tipo de eventos. Minha agenda já era um “inferno” de cheia; e, agora, eu ainda tinha que ficar naquela outra correria também. Na realidade, depois de umas vinte viagens, eu não agüentava mais falar no assunto “Fome e Miséria”; e, assim, organizei muitos grupos em todos os estados e capitais, e dei a cada um deles a missão de criarem tantos grupos quantos conseguissem. O fato é que a Campanha “pegou”; e pegou como nunca nada antes havia “pegado” naquele nível de mobilização solidária no Brasil. E Betinho virou o santo daquele avivamento de boa vontade Ética. Betinho estava em todas. Era capa de tudo. Era o santo de todos. Tinha gente que dizia que o mundo precisava de um Papa como o Betinho. Até para o Nobel da paz ele foi indicado. Tudo em nome da Ética. Assim, já feito santo, surgiu a idéia de que ele encabeçasse cada vez mais profundamente a bandeira da Ética na Política, da qual ele já era a própria simbolização natural desde que Collor fora deposto. Ora, naquele mesmo período, juntamente com ele, e por razões diversas, eu também era louvado dentro e fora da igreja por aquelas mesmas virtudes éticas. Foi aí pelo meio disso tudo, quando eu estava todos os dias em jornais, revistas, rádios e televisões pelo Brasil afora, sendo consultado todos os dias pela mídia e por políticos, e a propósito de quase tudo —, que uma amiga e irmã na fé, conhecida desde a minha adolescência, e que tinha toda liberdade comigo, veio ao meu escritório, e, do nada, me perguntou: “Você não tem medo da Ética? Puxa, Caio! Ética é uma das mais fortes tentações! Você fica aí sendo a representação de uma coisa monstruosa. Eu sei que você não pediu e nem buscou. Mas é um perigo. Cuidado com a Ética. É muita sedução!” E foi embora… Mas me deixou pensando… Logicamente que só cheguei a conclusões definitivas acerca do tema depois do ano de 1998. Ora, foi 1 ano depois disso que Betinho e Nilo foram vitimas da tal confusão da doação, e, ambos, foram terrivelmente afetados como figuras “éticas”, sendo que Betinho foi “repreendido” pela mídia, mas continuou tendo razoável espaço e respeito; mas já não era a mesma coisa. Nilo, porém, como era o Governador, sofreu “o diabo”. Como disse, foi somente depois do Dilúvio de 98, que eu pude melhor compreender o significado de ser “reserva moral” do que quer que seja, e, também, acerca do significado da Ética como tentação. Ora, sucintamente, é acerca dessas conclusões que quero aqui falar. A Ética é a virtude dos santos seculares. É sua justiça-própria, é seu poder, é seu recurso supremo, é sua autoridade, é seu trono de Glória. Assim, a Ética é também um outro nome que o “Querubim das Virtudes” pode usar a fim de esconder suas dissimulações. Isto porque a Ética, praticada como “virtude”, gera um dos mais monstruosos e dissimulados tipos de narcisismo. Ora, todo narcisismo é hipócrita, pois, vive da imagem, da mascara, e, conseqüentemente, depende dela; pois, se ela for tirada por alguma razão, o que aparece é a face desvanecente de todo representante da Ética, como Paulo diz que aconteceu com Moisés, em II Coríntios 3. Desse modo, a Ética também vira véu e ídolo pessoal, na mesma medida em que cria Totens, como foi o caso do Betinho; e, por que não dizer, meu caso também. Ora, essa realidade é tão forte, que assim que as coisas que “arranharam” o Betinho aconteceram, alguns donos de mídia me propuseram que eu “tomasse” o lugar dele, pois, segundo eles, o Brasil precisava ter essa “figura”. Eu, todavia, disse que não tinha vocação para ser ninguém que não fosse eu mesmo, e que o Betinho não deveria ser feito, agora, Tabu, apenas em razão do acontecido, o que, para mim, não fora o surto moralista da mídia e dos estímulos dos politicamente adversários de Nilo Batista, nada teria produzido; posto que a coisa em si nada era. Por essa razão, a Ética também carrega juízo. Sim, o juízo dos membros da tribo que cultuou a encarnação da Ética e da bondade. Ora, isto acontece porque todos querem que haja na sociedade alguns seres que “existam por eles”; e que por eles realizem tudo o que eles não têm nem disposição e nem coragem de realizar. Assim, aceitar o papel de Reserva Ética, equivale a aceitar o papel de Pagé, Cacique, ou de mera Coluna Totêmica da sociedade, a qual, por mais evoluída que se pense, é ainda mais que primitiva em seus ritos inconscientes. A Ética, portanto, a ser mantida pela via de “encarnações carismáticas”, acaba por induzir os seus representantes à hipocrisia. Isto porque ninguém é ético o tempo todo. Mas quando a tal pratica ética se torna coisa de outdoor e campanha publicitária, a hipocrisia imediatamente toma seu lugar de honra e privilégio, escondendo-se sob o manto da Ética. Nesse caso, logo a Ética vira uma etiqueta burguesa e farisaica. Foi por essa razão que os amigos do Betinho o foram “encostando” bem devagar; e, embora lhe tenham feito um belo e simbólico funeral, logo fizeram tudo para apagar a sua imagem da memória do povo. De tal modo, que até mesmo a “Campanha Natal Sem Fome”, também do Betinho, raramente faz qualquer alusão a ele. Há uns vampiros de ex-produtos-éticos que são especialistas em ficar com a idéia e deletar a pessoa. Eu também vi em 1999, no auge de um problema político relacionado aos evangélicos nas eleições no Rio, um repórter me ligar apenas para saber minha opinião sobre o tema, para, então, depois dizer: “Que pena que o senhor não existe mais para os jornalistas, porque, para a mídia, o senhor perdeu a autoridade em razão do Dossiê Cayman”. Ora, meses antes, durante o tal Dossiê, o mesmo repórter queria que eu desse a ele a “história” com exclusividade, a fim de que ele e seu jornal trabalhassem em meu favor. O mesmo me disse o secretário da redação de uma grande Revista, antes meu amigo: “Porque o senhor não deu a exclusiva pra nós, a ordem agora é bater no senhor”. A ambos perguntei: “Por quê?” A resposta: “Em razão de quem o senhor era.” Assim, em todo processo de fabricação de figuras éticas, há, no inconsciente, a necessidade de se possuir o Totem; mas, se algo errado acontecer, o Totem vira Tabu na hora. A Ética só é salva pelo amor! Somente a ética que é feita na simplicidade do amor é que não faz mal a alma. No entanto, se há jogos, se há grupos, se há divisões, se há a referencia superior, se há a classe “grega” dos “elevados”, se há a projeção de todas as expectativas sociais e psico-sociais sobre o Objeto Ético —; então, nesse mesmo instante, os “frutos da verdadeira ética” dão lugar às “produções das ações éticas”, as quais, são feitas como elemento de natureza “pedagógica”, porém, vêm sempre carregadas de justiça-própria, de narcisismo, de idolatria, e, com muita freqüência, depois de um tempo, de artificialidade e de hipocrisia. No dia em que a Ética deixa de ser ato simples e natural e vira bandeira de movimento, nesse mesmo dia ela se converte em Estética, perdendo sua essência Ética. Hoje em dia, todas as vezes que vejo os novos barões da ética se apresentando para organizar o inferno, tenho pena deles. Primeiro porque sei que quando tais ações viram programas públicos encarnados numa figura humana, o caminho, mais cedo o mais tarde, será de ruína; e se não for publica a ruína, pelo menos subjetiva ela será; e acontecerá na alma do “Justo Por Todos”. Desse modo, a única Ética que não faz mal, é aquela que apenas “é”. Posto que no dia em que ela se deixar formular como movimento moralizador, ela mesma apenas construirá santos a fim de matá-los no primeiro dia em que eles violarem a menor legislação da moral estabelecida por padrões de natureza fiscal, legal, contábil, relacional, e financeiro, ainda que seja receber 40 mil dólares da mulher de um bicheiro a fim de ajudar a prolongar a vida de alguns aidéticos. Betinho morreu conhecendo o poder católico-ateu-moralista da hipócrita mídia brasileira; e morreu vendo como a memória do povo é feita de nevoa. Quanto a mim, hoje, entendo muito bem as palavras de minha amiga naqueles idos dos anos 90. E as repito sempre que vejo alguém querendo ser o Vingador Ético do Sangue. Pois o que aprendi é que Satanás não é diabo apenas quando se faz maligno, mas, sobretudo, que ele se faz mais forte e dissimulado quando acusa, justicistamente, em nome da Ética. Sim, porque mesmo a acusação Ética pode se transformar em assertiva diabólica e condenatória. Quando Lhe ofereceram tal papel social e política, Jesus respondeu, indagando: “Quem me constituiu Juiz e Partidor entre vós?” Se Ele não quis tal tarefa, por que haverei eu de chamá-la para mim de modo público? A Ética que influencia, conforme Jesus, é como o sal, que altera e dá gosto, mas se dissolve em absoluta discrição na massa beneficiada. Hoje, assisto a mesma coisa acontecer ao PT, que já foi o Totem da Ética Nacional. E vejo figuras que antes eram intoleravelmente agressivas em nome da Ética, provarem o seu próprio remédio, só que agora como cura para as suas almas adoecidas pelo surto narcisista da Ética na Política. Ora, assim como somente o amor pode manter a ética individual pura, assim também, na política, somente um “sistema justo” — e que independa de “encarnações religiosas ou carismáticas da ética” — é o que pode nos ajudar a prevenir tais coisas, sem que se precise de uma catarse de natureza tribal-primitiva, a fim de que, de tempos em tempos, lancemos nossos pecados sobre os “bodes expiatórios” da vez; os quais são muito mais úteis ao desestímulo que busca álibis em escândalos de figuras impolutas a fim de que os omissos, embora “éticos”, justifiquem-se “lavando as mãos”. Sim, nesse caso, a coisa fica pior do que quando o juiz Lalau vai para a cadeia. Pois o juiz Lalau é lalau. Mas o Lula nunca foi lalau; assim como o Betinho nunca foi. Lula hoje está conhecendo o significado tentador e atormentador de ser “encarnação da ética na política”. Bom será quando as pessoas forem apenas éticas, e nada falem a respeito do tema. Hoje eu sei quando a cara do Diabo é também “Ética”. E, sobretudo, sei que Ética e Tentação são duas faces da mesma moeda. Caio