MEU FILHO SOFRE DE HIPERATIVIDADE: o que faço?

Meu filho sofre de Hiperatividade. O que faço? Uma mãe, __________________________________________________________ Minha querida amiga e irmã: Graça e Paz! Normalmente a criança que tem Hiperatividade, desde pequena já é inquieta. Em casa, corre daqui para lá o dia todo, sem que nada o detenha, nem sequer o perigo. Tira brinquedos de seu lugar, esparrama todos eles pelo chão e, quase sem usá-los, pega outros e outros, sem deter-se em nenhum. Interrompe permanentemente os adultos e as outras crianças, respondendo impulsivamente e de forma exagerada àqueles que o molestam. Seus companheiros de escola o evitam, mesmo assim ele sempre termina chamando-os para pedir-lhes ajuda nas lições que não consegue copiar a tempo. Essa criança sempre perde os objetos, é desordenado, tendo que cobrá-lo o tempo todo, não só para que complete as tarefas, mas também porque, distraído, se esquece de que é hora de almoçar, de jantar ou de banhar-se. Quando começa fazer alguma coisa, se esquece de terminar, para na metade. Quando vai a algum lugar para no caminho, se detém para falar com alguém, para entreter-se numa brincadeira, com algum animal ou passarinho que passa voando. Tal criança pode ser portadora de Transtorno de Déficit de Atenção por Hiperatividade (TDAH). Trata-se de um dos transtornos mentais mais freqüentes nas crianças em idade escolar, atingindo 3 a 5% delas. O desconhecimento desse quadro freqüentemente acaba levando à demora no diagnóstico e no tratamento dos portadores do TDAH, os quais acabam sofrendo por vários anos sem saber que a sua situação pode ser (facilmente) tratada. Na realidade, determinar qual o nível de atividade normal de uma criança é um assunto polêmico. A maioria dos pais tem uma certa expectativa em relação ao comportamento de seus filhos e, normalmente, esta expectativa inclui um certo grau agitação, bagunça e desobediência, características que são aceitas como indicativos de saúde e vivacidade infantil. Graça Razera, especialista no assunto, diz que o primeiro passo é o conhecimento sobre a síndrome através de livros populares e técnicos. Depois disso, procurar diferentes especialistas com uma lista de perguntas na mão a respeito de suas particularidades e semelhanças com outros casos estudados. O diagnóstico técnico, psiquiátrico e/ou psicológico, se dá por exclusão, ou seja, após um longo processo de investigação clínica ou orgânica, cultural e psicológica. Não existe um diagnóstico padrão, embora existam muitas pesquisas no mundo inteiro. O maior desafio dos pesquisadores é separar o joio do trigo, pois o TDAH apresenta sintomas semelhantes a outros tipos de doenças orgânicas e psiquiátricas que não devem ser confundidas com hiperatividade infantil. A “escuta” do psicoterapeuta precisa ser eficaz, para que a pessoa tenha um diagnóstico preciso. Após o diagnóstico a pessoa pode se tratar. Isto porque descobrir a doença é a etapa mais difícil e de maior alívio à maioria das consciências que, de fato, são portadoras de TDAH. O segundo passo é mais fácil a quem gosta de desafios: traçar um plano de ação para usufruir dos sintomas de maneira proativa, produtiva a todos a sua volta. O ideal é começar melhorando a auto-organização semanal. Por exemplo: manter arrumado desde as gavetas do guarda-roupas até a mesa de trabalho, de modo a aproveitar, pelo menos, 51% do tempo útil, ao final do dia. No caso do portador, a auto-compreensão é fundamental; mas quando se trata de uma criança, os pais pode ajudar bastante através de conhecimentos auto-didáticos, através da leitura de muitos livros hoje disponíveis. Além disso, o autodidatismo é a bússola de qualquer pesquisa. Ninguém escolhe um tema aleatoriamente. A Grande maioria dos cientistas não justifica o interesse pessoal por um determinado tema, achando este detalhe irrelevante. A Grande vantagem do autodidatismo teático (teórico e prático), é discernir o “bom pesquisador-escritor” do “pesquisador de fachada”. O mais teoricão, apresenta toda a complexa problemática como se vendesse um milagre divino, desde que se siga infindáveis microtarefas sobre-humanas. O bom pesquisador não se oculta em seus achados, ele se envolve e acaba sempre achando algo original mesmo diante do óbvio, facilitando a vida do leitor (a), evitando omissões deficitárias. Com isso, depois de ler livros sobre um mesmo tema, é mais fácil se entender sem se iludir com divagações ou exageros de consumo, inclusive na área psicofarmacêutica, um comércio de jóias como qualquer outro. Na escola, o Transtorno da Desordem de Atenção e Hiperatividade aparece com mais força porque há elementos de comparação, ou seja, muitas crianças de mesma faixa etária e social. Os educadores não devem tratar nenhuma criança hiperativa, porque a função é informar, ensinar a estudar, disciplinar a intelectualidade e sociabilidade da criança. Para tratar, há psicólogos e psiquiatras treinados e especializados no assunto. A função dos educadores é orientar os pais, através da informação, seja pelo acesso e livros sobre o tema, seja pela organização de palestras sobre hiperatividade nas escolas, reunindo pais e professores, numa parceria em prol do desenvolvimento integral da criança. Desta forma, a criança tem assistência mais especializada em casa, na escola e dependendo da gravidade do caso, com um acompanhamento psicoterápico. A postura dos educadores em tornar acessível a informação técnica do tema, sem simplesmente julgar e classificar, faz com que a criança não se torne uma “batata quente” entre pais ausentes e escola assoberbada de tarefas. Há pesquisas que falam do surgimento da TDAH a partir de fatores ambientais e psicológicos que funcionam como gatilhos nas pessoas que têm uma genética predisposta. Portanto, para os pais, a questão é: a pessoa já nasce com a TDAH ou com alguma predisposição? A resposta equilibrada é simples: Seja qual for o caso, há sem dúvida uma predisposição paragenética. Porém, há consciências que são hiperativas e eficazes, no sentido de ‘dinamismo’, sem desenvolver a doença propriamente dita. Outras, embora raras, convivem bem com a síndrome. A predisposição maior se dá quando a consciência não tem um objetivo claro em sua vida. O dia-a-dia é um punhado de tarefas repetitivas de um cotidiano escravizante, banal e fútil. Com o tempo, as tarefas aumentam e o vazio interno também. Se instala um vácuo existencial e a depressão, após os 30 anos, é apenas um reflexo disso. Todo esforço se perde no nada. E isto se pode designar como predisposição. Existem propostas de ajuda terapêutica mediante a auto-organização, ou, mediante a intervenção dos pais ajudando a criança a se organizar. A questão dos pais, no entanto, é: como é possível fazer isso? Em resposta a esta questão diríamos que a auto-organização é o principal fator para a consciência que já descobriu o que almeja na vida, no caso do adulto. De nada adianta ser superorganizada sem um motivo evidente. Se auto-organização bastasse, todas deveriam passar um estágio no quartel militar, com horário para tudo, lugar certo para cada item, e a vida funcionaria como um relógio suíço. Pessoas não são máquinas. A máquina não tem autocrítica, nem perguntaria: tudo isso para quê? Além disso, uma vida organizada – aos moldes do militarismo – pode não significar uma vida existencialmente produtiva. O tipo de auto-organização dependerá muito do tipo de objetivo escolhido para sua vida. Não há fórmulas gerais. Para cada pessoa é um caminho. É preciso verbação (verbo mais ação). Não adianta, sonhar no vazio, ou seja, falar muito e fazer pouco. Neste caso, o resultado é a frustração crescente, assim como a ansiedade. A hiperatividade é eficaz quando a pessoa se sente coerente com seus objetivos existenciais, de modo que os resultados diários obedeçam ao investimento desejado. Por isso, no caso dos pais terem que ser os agentes a “organização”, o que é primordial é estabelecer alvos alcançáveis para a criança a partir de coisas simples do dia a dia, e, nas quais, os sintomas de Hiperatividade mais se manifestem. A fim de “pular” um monte de informações técnicas, deve-se dizer que as livrarias são o maior atalho. Há revistas técnicas e populares, jornais, livros que podem orientar, endereços na internet, pesquisadores, universidades, instituições e profissionais especializados. Hoje uma das possibilidades é usar a hiperatividade em benefício próprio. Ou seja: se propõe a hiperatividade, que é eficaz à medida que se aproximar da inteligência evolutiva (impulsividade, atenção e agitação motora produtivas); e ineficaz à medida que se fixar no porão consciencial (impulsividade, atenção desordenada e agitação motora improdutivos). Para tanto, é preciso aprofundar a autopesquisa a fim de expandir as potencialidades pessoais e assim desenvolver maior senso de prioridade. Não há milagre, há autodidatismo. Assim, minha querida amiga, lidar com a Hiperatividade de um filho é um desafio. Implicará em muitas leituras a fim de que você, como mãe, aprenda as muitas variáveis da doença, e, além disso, também demandará dois tipos de ajuda médica: um de natureza psiquiátrica, com ajuda medicamentosa; e, também, ajuda de natureza psico-terapêutica, especialmente encontrando uma boa terapeuta, especialmente mulher, e que se dedique, junto com você, a mapear o quadro especifico de seu filho. Todavia, para além de tudo isto, o grande desafio é ajudar o filho a tomar ciência de que a energia dele não é tão “natural” assim. E mais desafiante ainda será ajuda-lo a usar a Hiperatividade em seu próprio favor; e isto só acontece mediante auto-consciência (educação sobre o assunto), disciplina explicativa e pedagógica no nível da percepção da criança, e, além disso, a geração permanente do estimulo para usar tal “energia” como uma força e uma pulsão pró-ativa; fazendo com que o hiperatividade funcione, no curso da vida, como benefício, e não como desordem. O quanto antes a intervenção médica e paterna acontecerem, mais chances há de que a criança, como é o seu caso, fique logo muito mais preparada para lidar com sua hiperatividade. Portanto, há medições, há acompanhamento terapêutico a ser realizado, há muitos estudos auto-didáticos a serem feitos por parte dos pais, e há necessidade de se pode contar com a compreensão dos professores, no ambiente escolar. Eu tenho um filho hiperativo, e que, pela graça de Deus, canalizou sua hiperatividade mental para o lugar certo: a leitura e o conhecimento. Graças a Deus, também, apesar de muito desorganizado em algumas áreas da vida, e, também além de ter tendência a dispersividade do foco de certos objetivos, no que tange ao foco essencial de sua vida e vocação, ele se concentrou de modo pró-ativo e saudável. Tais crianças, quando também são muito inteligentes, têm, normalmente, muita dificuldade quanto a escolher a área de atividade escolar, de estudo, e profissional; visto que, para elas, sobra interesse e sobram opções, posto que se interessam por tudo. Conhecendo sua família como eu conheço, eu ousaria dizer que um de seus irmãos, meu amigo, sofreu de Hiperatividade a vida toda, especialmente quando era mais jovem, e não conseguia terminar a seqüência de um único tema de conversa, visto que sua mente pulava de um assunto para o outro com extrema freqüência. Portanto, nós estamos falando não de um monstro, mas de uma energia excessiva, e que pode ser usada em favor da pessoa, e não necessariamente sempre contra ela. Receba meu abraço e todo o meu carinho! Nele, em Quem todos têm o seu lugarzinho especial, Caio