DORES SUPERLATIVAS…



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— Original Message —–

From: DORES SUPERLATIVAS…

To: Caio Fábio

Sent: Saturday, December 17, 2005 10:56 AM

Subject: Suicide sex…

Caro Caio!

A questão é a seguinte:

Tenho 23 anos e perdi a virgindade com 22, com uma prostituta. Recentemente tive uma curta relação com uma doce menina, mas logo houve uma separação, pois ela mesma tinha acabado de terminar um namoro de dois anos e meio.

Nenhum porre de cerveja, cigarro e maconha mexeram tanto comigo quanto o que sucedeu. Estou ainda sob impacto.

A cada dia que se passa, recebo pequenos pacotes de ânimos e respostas, e também mais socos e impactos de uma solidão que hoje se faz presente.

Hoje conversei com um amigo que é da IURD (sem qualquer preconceito), e resumindo a opinião dele, “lugar de mulher é na coleira”, com todo devido respeito, mas sem deixar ela dominar a situação. Sinto como se tivesse levado um míssil de emoção no peito, e está explodindo; e bagunçou todas as células de meu ser.

Fico pensando como fica Deus nisso tudo. Em ironia, Ele nunca falou muito de amor. Acho isso lindo. Até porque não tenho experiência no amor, mas quando eu sintonizo a relação com o coração, consigo sentir o que minha parceira sente, e conceber prazer na relação sem embananações.

Fico feliz porque não preciso ler algum livro sobre estímulo sexual, mas expressar minha afetividade, a qual escolhi para me aprofundar. Caem por terra as teorias, e vem o prazer, o ser, em relação.

Ah sim, a pergunta…

Deus não falou como amar, se é por trás, ou se pega lá ou ali primeiro? Por que se cuida do coração, e o resto acontece!?

Mas fico pensando nessa coisa de salvação, vida, perdição, morte…

Me masturbo em prazer, ignorando a solidão, o calor humano que não está comigo; e, quando termino, penso em Roma, (a Roma Antiga), e em lemas como “Born to Kill”. Ou “destrua ou seja destruído”. Ainda: “Hope to hurt then, more than they hurt us”.

Fico pensando que todo o sistema de relacionamentos presente é um sistema de morte.

Meu irmão que está distante me disse que essa coisa de relacionamento, como aconteceu comigo, acontece com muitos, parecendo um ciclo maldito que nunca se acaba. Entende?

De um lado temos a alternativa tipo”mulher na coleira”, com o devido respeito; onde devemos nos fazer de chiques e influentes, e dizer: “Vou sair com os amigos”. E, do outro lado, estou eu, o ardoroso e carente, hábil no sexo, na comunicação, mas que não esconde desígnios quanto ao relacionamento e sua importância na vida.

Desminto que não pudesse ser o escarrador que dispensasse alguém.

Não é um mundo de morte?

Cara, o negócio é tão bom que se você não tem, não tem por que viver. Talvez por ser tão bom seja feito “base” para sustentação de teorias idiotas.

Caio, fico por aqui, espero que você leia este email, mas, bem, não vou esperar nada; assim como tentarei não esperar mais nada de minha ex.

Um abraço, amigo.

A gente se vê!

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Resposta:

 

Meu irmão: Graça e Paz!

 

Você escreveu com excessiva subjetividade, daí ter sido difícil entender tudo o que você quis dizer. Portanto, espero ter compreendido o suficiente para lhe ser útil.

Você perdeu a virgindade com uma garota de programa, o que, em geral, não é nada arrebatador, pois, como você parece saber, “sem coração” não dá para sentir o outro; e, sem isso, tem-se apenas uma “transada”, que é mais um “exercício de sexo” do que uma transa que leve ao prazer psicológico.

Depois disso, um ano depois, você teve algo leve e rápido com uma “doce menina”.

No entanto, ela terminou com você, pois, provavelmente, não tenha ainda esquecido o “outro”.

Então a declaração do seu amigo da IURD mexeu seu eixo como uma “bomba”, e, sem muita explicação, você declarou que a vida é, de fato, “um mundo de morte”.

Entretanto, em meio a tudo isto, você se abraça, ignora a solidão, e curte o prazer narcisístico de sua própria masturbação…

Então, fica pensando nessa coisa de salvação, vida, morte, etc…

Aí, mergulha em pensamentos sobre a “Roma Antiga”… e em frases de morte.

Também diz não saber muito sobre o amor, ao mesmo tempo em que se declara um adoce amante.

Volta-se sobre si mesmo, e, então, apresenta duas alternativas: ou tratar as mulheres “na coleira”; ou, ser aquele homem que você julga que pode ser para uma mulher… Salta no meio da carta uma pergunta-declaração: “Deus não fala de amor”… está é sua certeza e sua grande dúvida.

Ao final, você se declara como sendo capaz de se tornar um tipo “escarrador” em mulheres. E, sem muita clareza, deixa isto como seu dilema: se usa a “coleira” ou o “açucareiro”.

É isto?

Inicialmente, quero dizer que você sofre de “excesso de subjetividade”.

Seu mundo está acontecendo mais do lado de dentro do que do lado de fora.

Ora, a saúde do ser está diretamente relacionada ao senso de realidade interior e exterior, que é o que equilibra nosso ser.

Você, entretanto, se trata como um experiente amante que sempre tratou bem as mulheres, e, delas, apenas recebeu agravos.

Ora, isto é tão “verdadeiro”… quanto sua satisfação “profunda” em sua própria masturbação.

Ou seja: seu conflito é mais fundado numa “viagem subjetiva” do que na realidade.

Portanto, pare de viajar e dedique-se ao que é real.

Até ano passado você era um rapaz virgem e que foi desvirginado por uma garota de programa. Depois disso é que veio a “doce menina”… e que nem bem chegou… e já se foi…

De onde, pois, vem tamanha desgraça em sua vida?

Quanto a Deus não falar de amor, saiba: é o oposto. Ele não fala de algo que seja um Kama Sutra, embora o livro de Cantares seja uma poesia de amor físico entre um homem e uma mulher.

Todavia, o Kama Sutra não fala de amor, mas de sexo e de muitas “posições”.

Deus, entretanto, fala de amor. E, segundo Ele, amor é se dar; não importando o nível de amor do qual se esteja falando.

Assim, no amor, não há “coleira”.

“Coleira” é o instrumento dos inseguros e burros, e que pensam que é possível prender uma mulher com qualquer laço que não seja feito do amor fiel e que se entrega, ao mesmo tempo em que dá liberdade.

Uma mulher que ama será tão mais “presa” ao seu homem quanto mais seja por ele amada e objeto de sua confiança!

Assim, deixe toda essa “dor fantasiosa” fora de sua alma, e, sem estimulo à fantasia — e você e dado a ela; prova disso é essa masturbação tão contente e narcisista —, busque o que é real, sem medo, sem traumas inexistentes, sem fabricar um você que ainda não é verdade.

Sua cura é viver!

No entanto, se você trocar a vida pela fantasia, saiba: sua tendência será sempre esta: inventar dores e torná-las superlativas; visto que, lá no fundo, você está rachado entre dois pólos: de um lado está seu narcisismo (que faz você se contentar em “fazer amor com as mãos”); e, de outro lado, está sua tendência a se por no “buraco”.

Isto porque, na realidade, você se esconde nesse buraco criado por você mesmo, e isto apenas porque seu problema é medo de “testar” esse seu “eu”; o qual, até aqui, existe “pleno” apenas para você, na subjetividade; porém, de fato, ainda não teve nem tempo de ser verdade objetiva e histórica, daí não ser real tratar tudo como se você tivesse razões reais para ver a vida do modo como você disse que a vê.

Ame sem medo!

Quanto às coisas do tipo “Kama Sutra”, Paulo diz que esse negócio de dizer “não toques isto… não proves isto… nem pegue naquilo outro…”, tem cara de piedade, mas não tem valor contra a sensualidade.

Entretanto, saiba: entre um homem e sua mulher (e vice-versa), tudo o que é consentido e que não degrade o outro ou o violente, é livre.

Afinal, todas as coisas são licitas, restando-nos discernir o que convém e o que edifica o ser.

A leitura deste site poderá tirar muitas dúvidas suas.

Por esta razão, paro por aqui…

Espero ter sido útil!

Um beijão para você!

Nele, em Quem tudo tem que ter seu próprio peso e tamanho,

 

Caio

Academia de Tênis

Brasília

DF

December 17, 2005