A CRIAÇÃO OU A REDENÇÃO? – você me confundiu todo! (I e II)



 

 

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From: O QUE VEM PRIMEIRO: A CRIAÇÃO OU A REDENÇÃO?-você me confundiu…
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Sent: Tuesday, March 21, 2006 3:20 PM
Subject: O QUE VEM PRIMEIRO: A CRIAÇÃO OU A REDENÇÃO?


Caio,
 
Você agora me confudiu todo! 
 
Creio em um Deus criador dos céus e terra, em cujo projeto criacionista constava um ser livre, à sua imagem e semelhança, que o amaria e o obedeceria de livre arbítrio. Para que esse projeto desse certo, o erro, por consequência, o pecado, era previsível, e para contorná-lo a redenção por meio do seu Filho foi pré-concebida antes da fundação do mundo, como meio de levar aqueles que, por revelação, se achegassem a Ele por intermédio da fé à salvação.

Logo a graça de Deus é manifesta pelo fato de ser impossível ao homem, senão mediante a revelação do próprio Deus por intermédio da sua palavra no coração daquele que crê, chegar-se a Ele como filho. Nisto basea-se a conversão, no reconhecimento de Cristo como Senhor e Salvador, primogênito de uma novo tipo de homem que anda segundo o Espirito de Deus e não segundo a carne e seus próprios desejos. 

O problema do inferno pode ser contornado com uma hermeneutica adventista, por exemplo, onde a idéia de lugar de sofrimento eterno é expurgada para um lago de fogo onde a existência da morte é a certeza de um fim definitivo para a iniquidade. É implícito nessa mensagem também a independência da mesma do seu veículo transmissor, que pode ser a igreja tal como a conhecemos ou qualquer coisa na qual Deus se manifeste, e em que a sua Palavra possa ser transmitida ao coração gerando nele fé.
 
Por isso fiquei confuso com as suas afirmações na reflexão título desse e-mail postada no site. O que você quer dizer com a mesma? Que todos os homens estão salvos independentemente do que fizerem, pois Deus já os reconciliou consigo antes mesmo de existirem? E quanto a porta estreita? Não são muitos os chamados e poucos os escolhidos?
 
Fica aqui registrada a minha dúvida para esclarecimento pessoal e caso deseje também público.
 
Com todo carinho e respeito.
 
Ido.
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Resposta:


Meu querido Ido: Graça e Paz desde a Eternidade sejam sobre sua existência Hoje!

 

Você certamente sabe que há dois modos de ver a Deus conforme a Bíblia. Um é do homem para Deus: de onde vem a narrativa inteira que você fez; e que vem da Escritura; e que é a pregação a ser feita a todo homem; posto que não é possível aos homens, sem a revelação, verem a vida se não da janela linear da História. Assim, é com essa linguagem linear que se conta na História aquilo para o que, entre os humanos, ou em todo o Universo (s), não há linguagem ou meio de expressar; visto ser totalmente irreferível aos nossos sentidos “sem revelação”.

O outro modo de olhar a mesma coisa é aquele que acontece conforme a visão não linear, e, por esta razão, é tanto meta-histórica quanto também é trans-histórica; tentativa esta que somente Paulo ousa empreender (os demais afirmam a fé…, mas não tentam “viajar” na reflexão).

Ora, é por essa tentativa explicita de Paulo de falar do que ainda não era, embora já fosse e já seja, é que surgiram expressões como “de antemão conheceu”; ou: “… de antemão predestinou…”; ou ainda: “… reconciliou consigo mesmo todas as coisas, quer nos céus, quer sobre a terra…”; ou mesmo: “… Salvador de todos os homens, mas especialmente dos fiéis…”; “…pois dele são todas as coisas…”; ou ainda: “Ele é a verdadeira Luz, que vinda ao mundo, ilumina todo homem”; etc…

O Apocalipse também alterna essas visões, ora falando de baixo para cima, ora de cima para baixo. Há o que o mundo deve saber como mensagem; e há o que os que creram precisam saber, como revelação do que já é e será. Daí a ambigüidade da Nova Jerusalém, da qual há os que ficam fora e são por fim lançados no lago de fogo, na segunda morte; e, também, há os povos que são curados pelas folhas da Árvore da Vida. E o texto em questão ainda insinua uma processualidade impensável para mente condicionada a ver a salvação sempre de baixo para cima.

Você lembra como termina a viagem de Paulo começada em Romanos 9 e concluída no capítulo 11?

Em absoluta perplexidade e falta de termos ou de explicações!

“Quem primeiro deu a Ele? Quem foi Seu conselheiro? Quem o instruiu? A quem Ele consultou? A quem Ele deve alguma coisa ou explicação?” 

Dito isto, quero dizer a você o seguinte:


1. O Cordeiro Imolado antes da fundação do mundo não era um “pensamento divino” acerca do futuro do homem ou da criação, mas sim o ato primal originador de todas as coisas, o próprio Princípio-em-Si.

2. A Criação e todas as coisas já estão tão reconcliadas em Plenitude com o Criador, quanto você e eu, que já estando assentados nos lugares celetiais em Cristo, ainda vivemos as angustia de nossos corpos de morte.


3. O Inferno existe. E assim como a vida eterna já nos habita, do mesmo modo aquele que não crê vive já habitado pelo inferno. Ora, nesse caso, todo homem sem paz é um homem no inferno, mesmo que seja crente. O Inferno em sua eternidade pode ser tão eternamente longo como um frame de segundo cronológico. O que é eterno, é. A mensurabilidade não é linear, mas existencial. O Lago de Fogo onde a morte e o inferno são lançados, é lago de fogo existencial mesmo; e cumpre o mesmo papél de tudo que queima: consumir ou extinguir. A natureza da Vida Eterna é Ser. A natureza da morte eterna é não-ser. O Inferno, portanto, implica em uma decisão de não ser em Deus. E ninguém na Terra pode dizer quando a Voz de Deus fala ou não nos corações humanos, e, muito menos, até que “hora”… 

4. Prego a Boa Nova porque é um inferno viver sem ela, e eu sei disso; e também porque amo a Jesus, e Ele mandou que assim seja. O mais, não me diz respeito. Fui chamado apenas para chamar. Os escolhidos, quem os conhece? E mais: todos os escolhidos são apenas os que se fizeram conhecidos? Se assim é, por que então não separamos também logo o joio do trigo do mundo?

 
5. Há coisas que se diz aos que nada sabem, e há coisas que se diz aos que já sabem. O que aqui disse, é o que não prego numa praça pública; assim como Jesus tinha coisas que somente dizia em particular, ou para os mais intimos. Entretanto, saiba: é o que creio de todo o coração; ainda que eu saiba que a maioria das pessoas só venham a saber disso no dia em que Deus revelar os segredos dos corações dos homens, segundo o Evangelho.


Assim, posso apenas dizer que você leu um texto a-histórico, não linear, e que olha do que é para o que será; sabendo que tudo o que será, exatamente tudo e todos, são Nele e já eram Nele; mesmo quando, na linearidade do tempo, usam o que chamam de livre arbítrio para escolher contra a vontade Dele. Entretanto, não tenho como não enxergar o que penso ser revelação de Deus: Que o Cordeiro foi imolado antes da fundação do mundo, sendo esse ato de Graça Redentora e Sacrificial o Princípio-em-Si. E, por esta razão, não tenho como não levar as implicações dessa afirmação, tão parecida com o amor que Jesus manifestou entre os humanos, até o fim. E, como disse, sei que o fim dela em suas implicações, desconstrói o Edifício da Teologia e do Cristianismo como religião; pois, eu creio que se deve pregar de modo linear aos homens, para que entendam; porém, uma vez que crêem, deve-se ajudá-los a crescer na única compreensão que nos põe à serviço da humanidade; e não no papel de salvadores dela.

Na História se diz: “Há um só Deus, e um só mediador entre Deus e os homens: Jesus Cristo, Homem”. Porém, na eternidade se diz: “Olhei e vi um Cordeiro como havia sido morto”. No mesmo lugar em que se diz que Ele, o Cordeiro eterno, o Jesus da História, foi imolado antes da fundação do mundo. É por esta razão que Ele é, no Apocalípse, Aquele que é, que era, e que há de vir.

Ora, quando se diz que Ele reconciliou consigo mesmo todas as coisas, se diz também o seguinte: “… e vós outros também, que outrora éreis inimigos no entendimento…”. Ou seja: Ele está reconciliado com Tudo e Todos, embora nem Todos estejam reconcliados com Ele; assim como o Irmão Mais Velho do Pródigo, com quem o Pai já estava reconciliado, embora ele não estivesse com o Pai; e tudo porque ele não aceitava a extenção da Graça Eterna do Pai que não tem prazer na morte, mas sim em dizer: “Este meu filho estava morto e reviveu; estava perdido e foi achado”. O problema é que em geral os “irmãos” não vêem com os mesmos olhos do Pai.

Receba meu carinho e minha alegria pela sua sinceridade!

Me procure na reunião “dos do Caminho”.

 

Nele, Que só se tornou o que sempre foi,


Caio
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—– Original Message —–
From: A CRIAÇÃO OU A REDENÇÃO? – você me confundiu todo!
To: [email protected]
Sent: Wednesday, March 22, 2006 6:51 AM
Subject: [Caminho] A CRIAÇÃO OU A REDENÇÃO? – você me confundiu todo!

 
Oi gente!


Não sei quantos viram a resposta do Caio ao Ido sobre a questão da Redenção e a Criação. Pois bem, apesar da resposta ter sido muito esclarecedora e sintetizar muitas das idéias que já vêm sendo pregadas pelo Caio há um bom tempo, ainda fiquei com uma dúvida.


Tendo em vista os conceitos de “eternidade existencial” (que o Caio tem explorado para explicar o inferno) e a “existência de Deus sobre o espaço-tempo” (onde se mostra a superioridade de Deus em enxergar a realidade fora da linearidade do tempo), qual seria o entendimento da palavra “escolhidos” ?


Estou perguntando isso porque o Caio diz duas coisas muito interessantes que eu transcrevo abaixo:

“Ora, é por essa tentativa explicita de Paulo de falar do que ainda não era, embora já fosse e já seja, é que surgiram expressões como “de antemão conheceu”; ou: “… de antemão predestinou…”; ou ainda: “… reconciliou consigo mesmo todas as coisas, quer nos céus, quer sobre a terra…”; ou mesmo: “… Salvador de todos os homens, mas especialmente dos fiéis…”; “…pois dele são todas as coisas…”; ou ainda: “Ele é a verdadeira Luz, que vinda ao mundo, ilumina todo homem”; etc…”


Acima ele está fazendo uma reflexão fora da linearidade do tempo.


“Prego a Boa Nova porque é um inferno viver sem ela, e eu sei disso; e também porque amo a Jesus, e Ele mandou que assim seja. O mais, não me diz respeito. Fui chamado apenas para chamar. Os escolhidos, quem os conhece? E mais: todo s os escolhidos são apenas os que se fizeram conhecidos? Se assim é, por que então não separamos também logo o joio do trigo do mundo?”

Aqui, falando como gente, sujeito ao tempo.


Então: A palavra “escolhidos” se trata daqueles que na vida receberam (ou receberão) a graça de Deus, posto que em todos ela foi derramada?

Seria então um apelido para aqueles que confessaram (ou confessarão) que Jesus é Senhor?

Ou realmente existe uma seleção segundo a soberania divina (isso me soa a calvinismo…)?

Não quero ser sistemático em nenhuma definição, mas talvez essa dúvida tenha surgido exatamente pelo excesso de sistematização que a palavra “escolhido” traz em si na nossa herança cristã-reformada.

Abração.

Vinícius
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Resposta:


Querido amigo Vinícius: Graça e Paz; Hoje e Eternamente: pois É!

 

Já imaginou se eu escrevesse na alternância permanente que se detecta no modo das Escrituas e do Evangelho falarem acerca de Deus no mundo dos homens?

A comunicação se tornaria impossível!

Seria assim:


Tudo o que foi criado, já existia em Deus; pois até o Nada é em Deus. Assim, o que Deus predestina é o que já é; posto que o que será, já o é desde de antes de ser.

Afinal, o que haveria fora de Deus se nada há fora de Deus? Pois até o que é “fora de Deus” o é em Deus?

Portanto, o final é o inicio do princípio!

Sendo assim, seria possível pensar numa criação fora de Deus mesmo quando está “fora de Deus”?

O que permaneceria criado e existênte “fora de Deus”?

E se tal possibilidade existesse, não seria também verdade que tudo o que, em tendo sido criado, ganhasse vida-de-si-mesmo a fim de continuar como auto-existente, não deveria ser também Deus?

Posto que no que concerne a Deus o que importa é Ser e não desde quando?

Não seria o Lago de Fogo o ser lançado no não-ser? Afinal, que vida pode haver, consciente de si mesma, fora Daquele que diz: Eu Sou?

Assim, o tempo é feito da eternidade e não a eternidade do tempo.

Assim a redenção prescede a criação do mesmo modo que o tempo procede da eternidade.

No Princípio era o Verbo apenas porque o Verbo pré-existe o Princípio.

Desse modo, tudo o que começa, só começa no que já é. E se assim é, então, é do Verbo que procede o Princípio.

E se o Princípio-em-Si é o ato-sacrificial do Cordeiro imolado antes da fundação do mundo (imagem de um ente do tempo: os cordeiros e ovelhas; portanto, linguagem horizontal sendo usada na simbolização do insimbolizável) —, então é o Verbo que é imolado pela Vida.

Por isto o Universo(s) é tirado pelo Verbo (Palavra), do Nada em Deus, para existir na existência em Deus.

Entretanto, a palavra “existir” pertence ao tempo; portanto, sendo inadequada para expressar o não-tempo absoluto de onde o “existir” foi sacado para o tempo.

Por esta razão, pode-se perguntar: a não ser para aquele que tem consciência de si mesmo como existente, o que mais existe como tal?

Se é a consciência que faz um ser apreender o que possa existir ou ser, então, pode-se dizer que sem consciência-de-si só existe o que não existe para ninguém.

Ou Deus vive e fica cansado e velho no tempo, e fatigado na jornada histórica, ou aprende e cresce no processo?

Se tudo e nada são a mesma coisa, desde quando passaram a existir, senão na consciência-de-si que é, todavia, finita e mortal? Pois para o que é infinito não existe tudo e nada, mas só que é; ainda que seja tudo e nada; pois assim como é com as trevas e a luz, para Deus tudo e nada são a mesma coisa.

Assim, tudo o que a Escritura diz, o diz com linguagem humana e quase sempre horizontal; pois, é da linha do horizonte que enxerga o homem, mesmo quando tenta falar das coisas do alto.

“Se não compreendeis as coisas terrenas, como entendereis as celestiais?” — indagou o eterno-temporal-Cordeiro-Jesus-histórico-Cristo-eterno.   

Ora, se a percepção acima expressa em palavras mortais (que apenas pela intuição do espírito no Espírito podem se tornar uma “revelação”), se fizer algo instalado no espírito da pessoa, então, tudo começa a ficar claro e simples.

Todavia, para que isto aconteça a pessoa tem que entender a Contradição Tudo-Nada. Sim, ela precisa discernir que a única possibilidade do eterno se comunicar com o tempo é mediante a linguagem da contradição, não em razão de Deus, mas pela impossibilidade humana do seu discernimento da “contradição” como “impossibilidade” do que é finito e mortal.

Assim, se Deus não falar de cima, Ele nunca fala; e se nunca falar de baixo, jamais se faz entender. Por isto Ele fala o que pode ser discernido; assim como fala do que tem que ser discernido. Desse modo, quem não alcança “o que se pode”, pelo menos fica com “o que se deve” entender.


Foi aqui que Calvino e Armínio se perderam; como de resto quase toda a teologia.

Entretanto, é na Encarnação que Deus fala de modo Absoluto aos homens. Desse modo, ao se Encarnar, Deus também revela a impossibilidade de se comunicar de modo pleno com o homem a menos que se faça homem; pois, para Ele, nada há a ser dito quando se É.

A ênfase na Encarnação é: “… se fez carne e habitou entre nós.” Assim, Deus não fica falando de Deus. Deus se torna homem.

Se os homens pudessem entender o Eterno apenas em palavras, por que o Verbo haveria de se Encarnar?

Mas para que o eterno, que faz o tempo, se comunique com o que é temporal, ele se faz tempo.

“O que é a Verdade?” — indagou Pilatos a Jesus. Jesus apenas olhou para ele. Se explicasse o que era a verdade, negaria a Si mesmo. Seria como ter que provar para alguém que vê você com os olhos, que você existe mesmo!

Ora, se levasse esse assunto adiante, seria maravilhoso, porém, sem proveito algum para a maioria.

Assim, para que as pessoas não se atolem no horizonte apenas, fala-se com linguagem celestial; e para que não se esqueçam de que é “assim na terra como no céu”, tem-se que falar com elas acerca dos céus com linguagem terrena.

Este é o paradoxo permanente de comunicação que encontramos em toda comunicaçãp de Deus com os homens; sendo que em Jesus o paradoxo virou “contradição”, para muitos; mas para os que crêem, não é contradição, mas apenas o mais Logos-gico Mistério.

Não é para entender. É apenas um exercício do pensar, e, sobretudo, do intuir!

Ah! A expressão “os escolhidos” é ambas as coisas acima mencionadas. Mas também foi e é objeto de muita sistematização temporal, conforme a teologia em geral.

Por isto, o melhor a fazer com os “escolhidos” é tirar as sandálias dos pés e andar em gratidão, não com questão!

Um beijão e até domingo na reunião “dos do Caminho”.


Nele, que é quem sempre foi,

 

Caio