—– Original Message —–
From: CAIO, NÃO SEI O QUE FAÇO COM A IPB! – me ajude!
To: [email protected]
Sent: Thursday, March 23, 2006 5:57 AM
Subject: Com peso no coração!
Pr. Caio, graça e paz!!
Sou pastor da Igreja Presbiteriana do Brasil. Tenho acompanhado o seu trabalho há muitos anos…; desde os congressos da VINDE, livros, e tudo mais. Apesar do que muitos falaram de você (principalmente entre as crias presbiterianas) guardo até hoje livros e fitas com mensagens suas (ainda leio, ouço e sou edificado).
Realmente não acho que você perdeu a fé; pelo contrário, nós é que perdemos a nossa com o passar do tempo!
O fato é que tenho lido o seu site há algum tempo e tenho sido extremamente edificado e desafiado. Pra ser sincero os únicos pastores que tenho lido e que me edificam não são presbiterianos.
Já tem um tempo, Caio, que estou tentando ler a Bíblia com olhos diferentes, não com o óculos míupe de doutrinas fechadas, mas com o coração aberto. Estou sendo edificado com isso, e “minhas ovelhas” também não têm reclamado (só as que estão fazendo bodas de prata com a IPB!)
Certo pastor, muito amigo meu, deixou a presbiteriana e disse que a IPB é um sistema falido! No momento recusei aceitar, mas sei que é a verdade. Estou em um impasse: Amo a IPB, porém, amo mais ainda o Senhor Jesus Cristo e a Igreja (com I maiúsculo). Tenho medo de um dia minhas idéias não serem aceitas (se já não estão). Tenho medo de ser mal compreendido. Tenho lutado e orado pra que nossa igreja saia desse buraco, onde vidas não são mais importantes. No momento tenho agido da seguinte forma: Estou me importando não com a instituição, mas com as pessoas. Pastoreio uma igreja de porte médio-pequena de uma cidade do interior e me concentro no ensinar a Bíblia e pastorear com amor. Algumas pessoas às vezes não me compreendem, principalmente os tais “presbíteros” que só existem pra achar que são os donos da igreja e que são os patrões do pastor. Deles eu já me cansei!!!!!
Pastor Caio, respeito muito e admiro você. Sei que é um verdadeiro servo de Deus e que vive e ensina uma espiritualidade sadia, sem esquizitices e maluquices tradicionalistas. Peço que me ajude. Hoje não quero deixar a IPB, mas também não vou deixar de pregar o que eu creio. Vou ser bem sincero, sei que é Deus quem nos sustenta, mas tenho medo de sair da IPB e não ter igreja pra pastorear.
Tenho convicção do meu chamado e sei que não preciso de igreja pra ser pastor; mas e minha família? Qual o seu conselho, Caio, pra este jovem pastor e de poucos anos de ministério?
Gostaria de verdade, de todo coração, de conversar com você pessoalmente, não sei como, mas gostaria muito. Sinto falta de amigos sinceros que podem ajudar sem jogar pedras.
Tentei resumir tudo o que queria dizer. Sei que o seu tempo é corrido. Gostaria de falar mais. Se puder, me responda. Ficarei muito feliz!
No Cordeiro,
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Resposta:
Meu querido amigo e irmão no Cordeiro Imolado antes da fundação do mundo: Graça e Paz!
Fui ministro da IPB durante uns 25 anos. Não pedi para ser. Ao contrário, sendo solicitado a me tornar ministro exatamente porque já o era, fui convidado a ir ao seminário. Porém, agradeci a deferência, e não aceitei; pois, nunca me vi dentro de um seminário, fechado, durante quatro anos.
Mas como “o pastor segundo a graça e conforme o dom do Espírito” se manifestava diante de todos em Manaus, e como meu pai era e é ministro presbiteriano (hoje “jubilado”); e, além disso, como fui eu mesmo batizado na IPB na infância (minha mãe e avó sempre foram reformadas); uma vez convertido, aos 18 anos e meio, tornei-me membro da Igreja Presbiteriana Central de Manaus, em cujo pastoreio meu pai estava há apenas alguns meses.
Como fruto direto de meu ministério pessoal na televisão, desde os 19 anos, muita gente ia até a “Central”, como chamávamos a “igreja”. E como conseqüência disso, todos os que eu levava, e eram muitas centenas, acabavam por me ver como pastor deles; posto que era isto que eu era mesmo: um divulgador do Evangelho (por todos os meios disponíveis) e cuidador das alminhas dos que criam.
Desse modo, pela imposição “dos dons segundo a Graça”, acabei por ser convidado a escrever uma tese e apresentar-me ao presbitério para ser examinado pelos pastores e presbíteros. A tese era sobre a salvação fora dos limites da geografia da revelação escrita. Ou seja: fora de Israel. Era uma viagem baseada na Ordem de Melquizedeque, e sustentada e amparada tanto em casos do VT, como também em inúmeras afirmações do NT.
Por pouco não me ordenaram. Discutiram quase três dias inteiros. Depois, enfim, ordenaram-me numa ordenação que eu mesmo não havia pedido e nem dela sentia qualquer falta.
Fui ministro presbiteriano em igreja local por 11 anos: em Manaus e em Niterói. Entretanto, desde o início que entendi que a base da “igreja local” era muito pequena, e, por mais aberta que fosse, ainda fechava a Palavra ao proselitismo. Por isto, em tudo quanto eu fazia naquele tempo, minha recomendação, dos Estádios à televisão, era que as pessoas procurassem a “igreja evangélica mais próxima de sua casa”. Veja só. Ainda era possível ter tal confiança. Hoje eu jamais faria isto!
Foi por ter entendido que “a cama era curta e o cobertor muito estreito” que criei a Vinde ainda em Manaus, na década de 70, a fim de ter uma plataforma de apóio independente dos possíveis humores religiosos da IPB.
Aos presbitérios eu só ia na reunião ordinária do fim do ano e lá batia uns papos, fugia de todas as comissões de trabalho, lia meu relatório, tomava uns cafezinhos, e, quando dava, pedia licensa; quando não dava, a saída era à francesa.
Em Manaus, afora o problema da tese, o qual foi logo esquecido pela evidência dos fatos, eu nunca tive qualquer problema; e na “igreja local” menos ainda; apesar da comunidade haver crescido em sete anos algo que a levou de 30 pessoas para a casa dos dois mil congregados comprometidos e engajados.
Em Niterói tive alguns problemas no presbitério. E sempre em razão de um certo Cleômenes que andava rosnando por lá, cheio de verdades fajutas e de argumentos idiotados, e que sofria de uma neurose anti-pentecostal; o qual, não satisfeito, me elegeu como “pentecostal”, e apenas porque eu pregava e dizia que Deus é soberano para fazer o que bem entender, e realizar todos os dons que desejar manifestar entre os homens. Então, esse irmão de fúria canina tentou me enfrentar umas duas ou três vezes, visto que sendo eu tutor de seminaristas da Betânia — entre eles Teófanes Elias (filho do rev. Antonio Elias), Josué Rodrigues (que era meu auxiliar da área musical), Angelo Gagliard (que cuidava do ensino seqüenciado); e outros mais jovens, como o Augusto, o Edson Alfradique, entre outros. Lá tive que enfrentar o tal Cléo mais de uma vez. Ele cismava doentiamente com aquele tema. E como eu era o tutor da moçada, era eu quem tinha que peitá-lo a fim de que os moços fossem ordenados. Todos foram ordenados.
Os demais problemas só vieram a se manifestar em 98. Quando me divorciei enviei carta ao presbitério, à igreja Betânia, e a vários outros orgãos ou entidades às quais eu estava ligado, no Brasil e no esterior, pedindo desligamento.
A Betânia, pelo seu pastor, não aceitou minha renuncia ao pastorado “honorário” que eles me haviam concedido, dizendo que estaria comigo em qualquer situação; para, então, ignorar completamente a minha carta de desligamento e, poucos meses depois, ir adiante de todo o povo me “afastar” como decisão dele e do Conselho. Mentira! Feia! Mas ficou assim! Deus sabe como foi!
O presbitério foi bom e mau. Bom porque lá, à época, havia gente boa de Deus, como os reverendos Carlos Cherene e Evaldo Beringer. E mau porque havia uns em cima do muro, e uns cinco muito hostis, os quais acabaram por conturbar tudo em razão de que nada fazem às claras. Eles, entretanto, não aceitaram cerca de cinco pedidos de desligamento unilateral que fiz ao concílio, sempre dizendo por escrito e por telefone que não queriam me perder, e que eu regularizasse minha situação civil, e pedisse o religamento, o qual seria feito com tranqüilidade.
Entretanto, eu sabia quem era quem lá, e o que diziam e faziam; pois, para cada ouvido que os ouvia, sempre havia um par de orelhas que me reportava as coisas.
Então, começaram a haver episódios com a grande mídia, como a Revista Veja, por exemplo. Os reporteres me ligavam e perguntavam qual era ainda a minha relação com a IPB, entre outros interesses bem maiores para eles. Eu contava a verdade dos fatos. Eles, então, iam “checar” a informação, e dois membros do presbitério, cujos nomes eu mais que conheço, sempre davam outra vesão, falsa e mentirosa. Diziam que eu pedia para ficar, mas que eles estavam vendo se me admitiriam.
Perdi a paciência geral. Fiquei uns dois ou três anos sem tratar do assunto. Esqueci. Deixei pra lá. Isto enquanto várias denominações me convidavam para “passar para elas”; ou outros presbitérios da IPB, os quais faziam e falavam a mesma coisa no que tange a convites. Eu, porém, não queria de jeito algum jamais voltar a ser “ministro da IPB”, e nem mesmo de qualquer outra denominação.
Ao final de 2003 fui a presbitério. Falei por mais de uma hora e disse tudo o que sentia e pensava a respeito do processo inteiro, e chamei pelo nome algumas das pessoas que eu sabia que se relacionavam às fontes de fofoca. Ao final, com gente emocionada, eles me “restauraram”.
Assisti tudo. Depois, entretanto, disse que não queria. Que nada ali ali tinha sido feito conforme o Evangelho, desde o início; posto que eles haviam feito tudo do modo mais frouxo, evasivo, mascarado e amorfo possível, sem qualquer verdade no que concernia ao meu relacionamento com eles desde o princípio do processo que iniciou em 98.
Assim, não quis ficar na IPB por julgar que não me faria bem; não como ministro dela. Então, em amizade a meu amigo Guilhermino Cunha, que comigo sempre foi amigo e leal, e eu a ele, conforme é entre amigos; e também em consideraçãos aos pedidos de meus pais e de minha mulher, Adriana; decidi que manteria com a IPB o vínculo mais leve possível: o de membro da Catedral do Rio; a qual, com todas as limitações de tudo o que é humano, e apesar de ser a Instituição Presbiteriana por excelência, não sucumbiu às loucuras puritanas, nem ao pentecostalismo, nem ao liberalismo, e, muito menos, ao legalismo; e é um lugar de graça e misericórdia.
Assim, como membro, prego lá de vez em quando. Até ano passado todas as terças-feiras e um domingo por mês. Este ano ainda não fizemos nossa agenda.
Entretanto, com o início do movimento “dos do Caminho”, em Brasília (tudo tendo acontecido em razão do meu site), senti que deveria manter meu vínculo com a IPB enquanto ela desejar e não me incomodar. Todavia, se incomodado, não tenho a menor razão para tal “vínculo”; pois, à semelhança do que eu sentia aos 19 anos, continuo a sentir a mesma coisa: tal vínculo não habita a essencialidade de nada que fiz ou faço. Além disso, minhas amizades com presbiterianos não estão sob a tutela de nenhum concílio. Portanto, do ponto de vista afetivo, nada mudaria; pois quem é amigo, é.
Pessoalmente eu sempre achei que das “Igrejas Históricas” a IPB era a que mais me agradava. Era dela que vinham as melhores cabeças e corações esclarecidos que eu conheci durante anos. Era ela também a maior fornecedora de recurso humano para as para-eclesiásticas brasileiras. Era também ela que se mostrava mais aberta aos diferentes. E se o cara fosse sério, pregasse a Palavra, e fosse equilibrado emocionalmente, em geral, só era perturbado por um maluco. Do contrário, você tinha sossego. Até o reverendo Bonerges Ribeiro, ainda presidente do Supremo Concílio, elogiou o que o presbitério de Manaus tinha feito ao me ordenar. Ou seja: nem quem perseguia a outros, me perseguiu a mim.
Todavia, nos últimos anos, a IPB, como instituição, andou para certas práticas do século XVI. E como se não bastasse, ainda se integraram a um grupo puritano-imundo-de-raiva-e-juízo, os quais vivem para perseguir ou fomentar a criação de seres heréticos.
Exemplo do retrocesso, entre muitos:
Quando eu ainda menino a IPB já tinha uma clausula na qual se dizia que um casal que tivesse um relação estável por mais de cinco anos e que tivesse filhos, deveria ser admitido ao batismo e à membresia da comunidade local: a “igreja”. Hoje, quase quarenta anos depois, estou vendo pastores serem mandados embora até quando a mulher trai ou não quer mais ficar casada. Sim, não precisa nem mesmo que o cara tenha se divorciado por culpa assumida. Não! Tem que ser um sujeito indivorciável. Do contrário, a decisão que procede de quase todos os presbitérios é que um pastor divorciado ou volta para a primeira esposa, ou vive cilibatariamente.
Ou seja: a IPB está cada vez mais católica em certas coisas, cada vez mais fundamentalista em outras, e cada vez mais puritana em outras tantas; sem falar que o clima de jogo político é feio e pesado.
Sinto pena da IPB, pois, se nada acontecer, haverá uma “igreja” aqui e outra ali que ainda escapem, mas a mioria vai murchar, secar e morrer…, se o presente espírito continuar a prevalecer. Quando digo “morrer”, não falo de “acabar”, mas sim de não ter qualquer relevância no mundo dos vivos.
O que você deve fazer ou quando e se for o caso, saiba: Deus vai guiar você se você for sincero!
É tudo o que posso lhe dizer sendo completamente imparcial em minha alma!
Receba meu beijo carinhoso e minhas orações por sua vida.
Nele, para Quem o que vale é feito apenas de amor,
Caio