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From: PAULO TEM UMAS COISAS EXTRANHAS, QUE NÃO PARECEM COM O EVANGELHO!
To: Caio Fábio
Sent: Monday, June 26, 2006 8:44 AM
Subject: Uma questão sobre os escritos de Paulo
Querido Caio,
Desejo sempre que em sua vida cada vez mais haja evolução, para ir sendo aquilo que você já é Nele.
Como tem sido bom para a minha alma ler todos os dias o site. Como tem sido bom a liberdade que o Evangelho me deu. Como tem sido bom, apesar das perseguições, injúrias e calúnias, continuar me reunindo com os irmãos do Caminho aqui na Estação de minha cidade. Estou fazendo o possível para logo transmitir a videoconferência.
Antes da pergunta só quero que saiba que possui um amigo-filho-discípulo aqui na terra do sol, das dunas e dos ventos bondosos!
O que me fez escrever foi uma dúvida, pois desde os tempos que estou a andar convosco que os evangelhos tem sido, como você pede, os principais livros que leio; e desta constante leitura e da leitura dos textos de Paulo, percebi algo que gostaria que você me esclarecesse se fosse possível.
Em Cristo vemos um chamado para o crescimento da consciência psicológica e para a coragem espiritual de enfrentar o problema da nossa natureza ambígua; já em algumas partes dos escritos de Paulo, parece que há uma pregação que estimula a repressão. Sei que em passagens como Romanos 7, Paulo parece estar consciente da ambigüidade de nossa personalidade; no entanto parece que ele recusa a aceitar que sua tendência oposta faça parte dele mesmo. Quando ele diz que “não sou eu quem faz, mas o pecado…”— não estaria ele negando ou recusando a aceitar a sua sombra como uma parte legítima e inevitável de sua própria natureza?
No site você sempre fala que toda espécie de repressão ou negação da sombra não resolve problemas, só o aprofunda. Não estaria então Paulo, em passagens como Gálatas 5, ao delinear os que herdarão o reino de Deus e os que não, levando os crentes a uma espécie de comportamento que nega sua sombra?
Em passagens como 1Co 7 não haveria ali uma chance de estar vendo o sexo de uma maneira má; confinando-o apenas ao casamento; e ainda assim como uma concessão à fraqueza humana? Quando ele em 1 Tm dita as características do bispo não estaria ele criando uma espécie de persona coletiva, anulando assim a autenticidade e gerando apenas um homem que representa uma postura? E o que dizer de textos como 1Tm 2,15?
Bom, sei que foram muitas perguntas, mas creio que estão todos falando de um mesmo tema, se puder me escrever algo, ficarei grato mais ainda.
Um grande abraço de quem te ama muito
Nele que nos chama a entrar pela porta estreita que é o caminho da consciência
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Resposta:
Meu amigo e companheiro de jornada: Graça e Paz!
Inicialmente quero dizer que se você ler o “Sem Barganhas com Deus” você entenderá essa coisa toda; inclusive a questão de Gálatas acerca dos que “não herdarão o reino de Deus”. Você já leu?
Paulo era um homem. O Cristianismo, especialmente o Protestante, é quem fez dele um ser-semi-encarnado. Sim, é como se Paulo fosse “um Jesus” da segunda geração. E, assim tratando a Paulo, eles fazem dele o que ele se assustaria se visse.
Entretanto, aqui no site, quando digo que “Jesus é a Chave Hermenêutica” para se entender a Escritura; nisto incluo tudo, inclusive os textos-cartas de Paulo.
Leia o seguinte texto:
SALVANDO PAULO DO “APÓSTOLO PAULO”…
Depois me escreva. Leia também os textos no link A Mente de Paulo. Mas se não se satisfizer, então me escreva outra vez.
Um beijão!
Nele, em Quem tudo se explica,
Caio
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From:
To: [email protected]
Sent: Monday, June 26, 2006 11:45 AM
Subject: Re: Uma questão sobre os escritos de Paulo
Obrigado Caio pela resposta.
Quando puderes vejas as perguntas específicas que fiz, pois elas possuem uma questão também de ordem acadêmica, posto que é nos ambientes da faculdades teológicas que Paulo é mais mal interpretado e portanto feito fundador do cristianismo.
Queria saber como harmonizar a “máxima psicológica” de reconhecermos a sombra, com os argumentos de Paulo de crucificarmos a carne.
Sei que na psicologia não há nenhuma espécie de liberalismo ou excessividades; mas para alguns é das palavras de Paulo que se sucede dentro da religião cristã toda espécie de repressão e doença da alma. Se puder me fale mais.
P.S – Minha associação ao Caminho da Graça tem me feito um herege para aqueles que não abrem mão da religião. Mas, a cada dia, estou mais convicto da fé. Quão bom é caminhar com pessoas como você.
Nele que chamou a Paulo e chamou a Caio, que chamou Timóteo e que chamou Ivo
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Resposta:
Amado amigo e companheiro de Caminho: Graça, Paz e muito carinho!
Responderei topicamente as suas questões por entender o que me disse acerca do seu “contexto” acadêmico. Afinal, não fosse o “contexto” eu poderia lhe dizer que tudo o que você precisa já está nos textos que lhe envie acima. Além disso, há aqui no site, eu creio que em Artigos ou Reflexões, um longo texto sobre Graça, no qual eu falo especificamente de Gálatas 5, acerca da Lei ou da Lista, mostrando como a Lista de Gálatas, se vista sem Cristo, é pior do que a Lei que em Cristo morreu. Está no “contexto” do site.
Usei tantas vezes a palavra “contexto” no contexto antecedente, a fim de afirmar agora que sem a visão dos “contextos” de Paulo, tanto existenciais, quanto psicológicos, históricos e civilizatórios — não se pode entender muitos dos textos por ele escritos. Digo, não se pode entender nos detalhes, pois, o mais historicamente deseducado ou inculto dos homens, se ler Paulo sem uma “guia humano” e sem seu “próprio contexto”, entenderá o espírito de Paulo até nas chamadas ambigüidades e ou contradições. Pedro disse que eram difíceis de entender, mas não disse que eram impossíveis de serem entendidas. Aliás, em minha opinião, em algumas coisas, Pedro intuiu Paulo muito mais que o compreendeu.
Vamos, então, às suas questões:
Colocarei número nos parágrafos e ou questões, pois facilitará a minha vida, certo?
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Você escreveu:
1. Em Cristo vemos um chamado para o crescimento da consciência psicológica e para a coragem espiritual de enfrentar o problema da nossa natureza ambígua; já em algumas partes dos escritos de Paulo, parece que há uma pregação que estimula a repressão.
2. Sei que em passagens como Romanos 7, Paulo parece estar consciente da ambigüidade de nossa personalidade; no entanto parece que ele recusa a aceitar que sua tendência oposta faça parte dele mesmo.
3. Quando ele diz que “não sou eu quem faz, mas o pecado…”— não estaria ele negando ou recusando a aceitar a sua sombra como uma parte legítima e inevitável de sua própria natureza?
4. No site você sempre fala que toda espécie de repressão ou negação da sombra não resolve problemas; só o aprofunda. Não estaria então Paulo, em passagens como Gálatas 5, ao delinear os que herdarão o reino de Deus e os que não, levando os crentes a uma espécie de comportamento que nega sua sombra?
5. Em passagens como 1ª Co 7 não haveria ali uma chance de Paulo estar vendo o sexo de uma maneira má; confinando-o apenas ao casamento; e ainda assim como uma concessão à fraqueza humana? Quando ele em 1ª Tm dita as características do bispo não estaria ele criando uma espécie de persona coletiva, anulando assim a autenticidade e gerando apenas um homem que representa uma postura? E o que dizer de textos como 1Tm 2:15?
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Resposta:
Meu querido filhão em Cristo,
Seu 1º parágrafo é “paulino” de cabo a rabo. Pois, foi em Paulo que, explicitamente, o que Jesus já havia afirmado, foi tornado uma afirmação comunicada de uma forma aplicada à questões de um contexto bem especifico. Em Jesus, poderíamos dizer que nós temos os universais do Evangelho, e seus aplicativos gestuais e práticos. Em Paulo, entretanto, nós temos conceitualizações de muitas coisas que Jesus fez e ensinou; e, sobretudo, temos os aplicativos de tais universais. Exemplo: Jesus diz que é a ressurreição e a vida, e ressuscita Lázaro. Paulo diz que podemos experimentar o poder existencial da ressurreição em nossos corpos mortais. Exemplo: Jesus disse que daria a vida por amor de muitos. Paulo disse que Deus estava em Cristo reconciliando consigo mesmo o mundo. Jesus disse para deixar os mortos sepultar os mortos. Paulo disse que estávamos mortos em delitos e pecados. E eu poderia ir para sempre. Você sabe disso. A Expressão “em Cristo” é o modo de Paulo dizer que “Está Consumado” de tal modo, e que Jesus fez “morada” em nós a tal ponto, que nossa vida agora é no ambiente de Cristo, assim como Cristo vive em nós. E mais: que nós que estamos em Cristo já somos como Cristo diante de Deus, ainda que nesta existência recebamos as disciplinas que nos levarão cada vez mais a Cristo. Assim, seu 1º parágrafo foi todo formulado em Paulo, e, também, conforme o Evangelho. E ponho isto como uma questão de “contexto”. Afinal, os contextos falam tanto quanto os textos; no mínimo.
Com relação ao 2º parágrafo devo dizer que Paulo falava de seu sentir presente, pois ele ainda tinha dores, fraquezas e espinhos na carne; e sabia que as teria até que seu corpo de morte fosse absorvido pela vida. Entretanto, por uma questão de “contexto”; e também porque não se deve ler um texto sem observar de onde a pessoa está vindo e para onde está indo; devo dizer que Paulo viajava da afirmação universal da pecaminosidade humana (Rm 1-3), para a afirmação de que a justiça de Deus é mediante a fé em Jesus (Rm 3-4); de onde ele segue afirmando que essa fé gera consciência de gloria, embora tenha que ser vivida num processo onde as tribulações e as dores são inevitáveis (Rm 5); e que, portanto, devemos nos gloriar nelas; até chegar ao ponto de afirmar que o que Jesus fizera na Cruz era maior do que o que Adão fizera de mal no Éden (Rm 5-6). Nesse ponto ele chama toda a questão arquetípica-universal do “Adão” original à cena; e, sem titubeio, após já ter falado na degradação de todos, e após afirmar que a justiça de Cristo era maior do que o pecado de Adão — ele chama tudo, agora, para as categorias mais pessoais possíveis: ele, homem, Paulo —; e, então, fala de si, da psicose básica que assola a todos os homens e a ele também, isto em razão de que todos sabem que existe neles a certeza do que é bom, embora, reprimindo o bem, criem em si mesmos a sombra, a pior sombra, que é a negação de que “o pecado habita em mim”.
Ora, aqui começo a responder seu 3º parágrafo. Sim, porque a negação de que existe a pulsão à revelia, o que, psicologicamente, é algo que está em mim e é meu, mas não tem que ser eu—é a pior sombra que se pode criar; pois, sem Eu, tal sombra não existe; embora eu, sem ela, continue a existir; e bem melhor. É por esta razão que o “Desgraçado homem que sou” de Romanos 7, dá lugar ao maravilhoso “Agora, pois, já não há nenhuma condenação para os que estão em Cristo Jesus” (Rm 8). Ora, para Paulo, tudo isto que em Cristo já é, precisa agora se uma realidade na jornada; sim, necessita se tornar realidade que nos beneficie no caminho. E quando ele diz que não queria fazer algo, pois a mente tinha outra consciência; mas que, apesar disso, algumas vezes fazia — ele afirmava a realidade da sombra como pulsão; ao mesmo tempo em que sabia que se saber perdoado em Cristo (sem condenação) é o que pode fazer com que a “guerra” entre o instinto tendente ao descontrole, e a consciência que busca o que é bom e faz bem, seja crescentemente pacificada; de modo que cada vez mais, sem culpas neuróticas decorrentes dos juízos da Lei, os instintos sejam benefíciados; sem “senhores” no existir. Reprimir desejos que sejam naturais e que se manifestem nas circunstancias próprias, faz grande mal; pois introjeta o sentir natural como culpa ou coisa proibida; surgindo, assim, a sombra. A vida na Graça, entretanto, não abençoa a sombra, mas a identifica, e a chama para a luz; pois, conforme Paulo (Ef 5), tudo o que se manifesta é luz. Sim, é luz porque veio à tona; e é luz porque tudo o que esteja posto sob Graça deixa de assombrar; posto que na Graça até as piores de todas as perturbações estão vivas apenas porque não as deixamos mortas; visto que em Cristo morreram. Digo isto porque para a Paulo a Graça não era um remendo divino para cobrir a doença humana; mas, ao contrário disso, a Graça é poder que estimula em nós tudo o que em nós está morto e que faz parte da vida; e, além disso, gera uma força de amor grato, que é o poder que nos levanta para o bem da vida. Afinal, se sabemos de Jesus apenas para deixar tudo como está, sem buscar crescer no melhor de Deus e da vida para nós, que vantagem há em conhecer o Evangelho? Pois, no que me concerne, se o Evangelho nada provoca de mudança e de transformação de consciência e de vida em mim, pergunto: não seria melhor jamais tê-lo conhecido? Ou ainda: para o quê ele serve? Ou seria ele, o Evangelho, uma invenção humanamente divina para apaziguar a história neurótica dos culpados hebreus? Não! Não fomos chamados para a sombra, mas para a luz. Assim, para Paulo, a sombra não era legítima, mas apenas uma sombra; ou seja: “o pecado que habita em mim”; pois, o pecado é alimentado e simbiotizado com ela. Portanto, não é legítimo chamar de “legítimo” algo tão ilegítimo como a sombra. A sombra quer apenas ser reconhecida pelo nome. E mais: ela quer ser trazida à luz; pois a sombra é angustia. A pergunta é: o que é uma sombra psicológica? Simplificando eu diria: é tudo aquilo que sendo bom e genuinamente natural, e, portanto, legitimo, é feito feio, proibido, maligno e perverso; sendo exilado para o inferno criado pela moral humana. É desse tipo de “repressão do bem” que nasce o mal. Mas é da consciência que reprime o que é mal por certeza do que é bom, é que se começa o caminho do auto-controle e da educação na justiça; que são ideais da Graça de Deus em nós.
No que tange ao seu 5º parágrafo sugiro a leitura de meu livro “Sem Barganhas com Deus”, onde o tema está mais que explanado. Entretanto, o que Paulo diz é fato. Ninguém que ame e viva para a pratica do uso humano, da mentira, das invejas, das cobiças, da perversidade, das impurezas verdadeiras, e das deliberações do mal — não herdará o reino de Deus mesmo. Entretanto, não esqueça o “contexto”. Afinal, Paulo está escrevendo para discípulos que viviam entre o legalismo judaico ou judaizante, e o apelo à libertinagem proposto pelos “cristãos gnósticos”. Assim, no capitulo 5 ele começa dizendo que ao voltar à Lei se está decaindo da Graça e deixando Cristo. E termina do verso 12 em diante, afirmando que a Liberdade não era apenas das culpas e neuroses da Lei, mas da escravidão do pecado e de seus poderes à revelia, algumas vezes; mas que, na maioria das vezes, têm nosso inteiro consentimento e adesão. A consciência da Graça gera essa educação na justiça. Porém, Paulo diz que não é algo farisaico, de fora parta dentro; ao contrário, ele diz que é de dentro para fora, visto que afirma: “Andai no Espírito e jamais satisfareis as concupiscências da carne”. Assim, ele não cria um comportamento que cria a sombra, mas propõe uma rendição confiante, sem culpa, justificada em Cristo, pela fé, em razão da Graça — a fim de que se fique livre da sombra; posto que Deus é Luz, e Nele não há sombra nenhuma. Então, por que haveríamos nós de “romancear” as nossas sombras? O lugar delas é na luz. Afinal, nenhum mal reprimido gera sombra, pois, em si já é treva. Porém, é o bem reprimido aquilo que gera a sombra; e se é assim, posto que se trata de algo que de si mesmo é bom, sua salvação é ser trazido à luz; mesmo que os homens chamem de pecado. Afinal, muitos de nossos pecados são desejos naturais que foram pervertidos e exacerbados pela culpa, pela Lei, ou pelas morais dos homens — sem que sejam maus em si mesmos. Afinal, é de Paulo que vem a máxima maior nesse quesito: “Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas edificam. Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas me convém”.
Sobre seu 5º parágrafo de perguntas, eis o que penso: Sobre o casamento: primeiro tem-se que ver o “contexto histórico”. Sim, porque nos dias de Paulo casamento não era o que hoje nós chamamos de casamento e com todas as regalias que o vinculo legal trás consigo. Além disso, você sente o casamento de um modo completamente diferente de como o sentiam os jovens dos dias de Paulo; ou mesmo as “virgens” e os pais delas. Era um outro mundo. Por exemplo: num mundo como o de Paulo, o que os namorados de hoje fazem um com o outro; ou mesmo simples namoro, com todas as suas decorrências sociais, não só é uma invenção humana nova, como também, nos dias de Paulo, seria algo que, em si, já equivaleria ao casamento; para ele e para todos os de sua época. Eram também outros costumes. Afinal, que menina, hoje, deixará que seu pai decida quando ela vai transar a 1ª vez? Ou que pai, por mais iludido que esteja, acredita que pode proibir sua filha virgem de transar com quem quiser? Sim! Quem? Entretanto, nos dias de Paulo, tanto os pais tinham essa certeza e prerrogativa, como também as filhas “virgens”, em geral, a elas se submetiam; como ainda hoje, em muitos lugares primitivos da Terra; ou onde os costumes ainda guardam seus próprios ritos culturais, em razão de que nosso estilo de vida ocidental, com nossos namoros ocidentais, e com nossas crises e compulsões ocidentais, ainda não chegaram lá. Assim, garanto a você que nem Paulo, com o bom sendo que demonstrou ter, proporia tal coisa hoje; pois saberia que não haveria resultado. No que me diz respeito, sinceramente, penso que se Paulo vivesse hoje, ele partiria do Principio Universal de Jesus, e faria os aplicativos próprios —; assim como, sem medo, e apesar de todas as minhas limitações de compreensão, porém com profunda convicção acerca do Evangelho, eu busco fazer em cada carta que respondo.
Com relação a 1ª Timóteo 2:15, é isto mesmo que se tem de dizer. Afinal, que mundo haveria se as mulheres não tivessem se mantido em sua missão de mãe? E que mundo haveria se Deus mesmo não tivesse colocado na mulher o foco do desejo pelo seu homem ou marido? Ou que afeto ainda haveria no mundo se já não houvesse mais nenhuma mulher-mãe, ou com alma de mãe, ou com vontade de ser mãe, ou com alegria na maternidade? Não se pode dizer que o mundo está desafeiçoado porque as mulheres estão perdendo as alegrias do amor materno. Embora a Síndrome Pós Parto não seja conhecida pelas índias primitivas do Amazonas! Entretanto, com certeza se pode afirmar que quando as mulheres deixarem de amar e desejar de vez a maternidade, a Terra se tornará numa caverna de morcegos e de vampiros; e, entre eles, elas, as mulheres, serão os vampiros piores. Sim, pois tudo o que é bom, é melhor nas mulheres. Porém, tudo o que é mal, nas mulheres fica pior. E por uma só razão: nossas desvirtudes são sempre proporcionais às nossas virtudes essenciais. É nesse “contexto” que aparece a expressão “será salva… na sua missão de mãe” — que é o que deve ter preocupado você; como se Paulo estivesse criando uma salvação por parto e com a perseverança do trabalho de parto. E mais: uma espécie de santificação pela maternidade. Paulo, entretanto, jamais disse que uma mulher sem filhos não pode ser salva (loucura!), mas sim que a salvação humana da mulher, como gênero, é a maternidade; pois, conquanto ninguém seja obrigado a ter filhos (e quem não deseja não deve tentar), todavia, foi e é a meternidade o elemento que mais preserva o ser da mulher como gênero na Terra; e, com ela, toda a humanidade. E não me refiro à maternidade como procriação, mas como afeto materno, e que pode ser dado até a quem não se gerou. Afinal, foi do alto da Cruz que Jesus não quis deixar Maria, que tinha seus próprios filhos, sem filho; e nem quis deixar João, o filho de Zebedeu e sua mulher, sem mãe. Sim, a Cruz emula a alma para a afetividade relacional de natureza parental; mesmo que não seja consangüínea; pois, é por tal realidade que o ser mais essencial à saúde humana na Terra, a mulher, seja preservada; e, com ela, toda a espécie humana. E, como disse, isto não transfere todas as responsabilidades do mundo e da vida para elas, dando “folga malandra” aos homens. Não! Jamais! Não é isso que se diz. Entretanto, o que se diz é que sem a maternidade viva como amor e afetividade, a Terra se tornará mais gélida que a Antártica. E, sem dúvida, a preservação dessa “missão humana da mulher” — falo de um modo geral — é o elemento de natureza psicológica mais essencial para a preservação da mulher, e, com ela, da raça humana.
Sobre seu ultimo parágrafo-questão eu digo que Paulo não está criando “personas”, mas, inevitavelmente, fazendo aquilo que tem que ser feito a cada nova geração: estabelecer figuras referenciais, maduras e saudáveis, e que ajudem a indicar, pela vida, vida verdadeira, em toda sinceridade, o significado de tudo aquilo sem o que a vida perde seu significado e o Evangelho a sua efetividade na prática; a saber: amor focado numa única companheira, domínio próprio, equilíbrio psicológico, generosidade, simplicidade, boa relação com a família, e capacidade de se fazer entender com palavras, já que a vida de tal pessoa é a mensagem em si mesma. Ora, outra vez tem-se que ver o “contexto”. Nos dias de Paulo não havia Bíblia para ser lida, nem e-mail para tirar dúvidas e nem muitas informações disponíveis de modo fixo e acessível. Tudo viajava de boca em boca; e a transmissão oral do Evangelho era o que acontecia. Além disso, havia uma quantidade grande de pregadores oportunistas, de mercadores da Palavra, de falso messias e profetas, e de uma horda de judaizantes pitbulls perseguindo a Palavra do Evangelho. Ora, num contexto tão volátil, o mínimo que se poderia ter de organicidade, foi o que Paulo propôs. O que ignoramos é o “contexto”; e, assim, quando pensamos em bispos, pensamos nessas figuras estereotipadas e fakes que aí estão — verdadeiros artistas do estelionato. Assim, meu irmão, cada geração terá que ter seus bispos simples e sinceros; e, quando não forem assim, simplesmente não se deve dar a eles ouvidos. No Evangelho, quem é, é; quem não é, mesmo que tente ser, não será; ou seu próprio engano ou auto-engano se manifestará.
Vou ficar aqui porque minha mulher já deve estar pensando que estou escrevendo um livro. Pedi licença a ela para escrever durante uma programação na televisão, e já estamos na terceira. Passou da hora. Esse é o meu “contexto”. Mas alguém diria: “Ele não disse um monte de coisas”. Eu digo: “É o meu contexto”.
Por último, quero apenas lembrar que Paulo era somente um homem, e que disse coisas maravilhosas e verdadeiras; mas ele mesmo era um pecador, capaz do equivoco, e, sobretudo, por mais livre que fosse, tinha um condicionante inescapável: era filho de seu tempo e de sua geração; e, além disso, cuidava de ser gentil com as consciências mais fracas — e que não eram os cascas grossas religiosos —; pois, guardava as coisas mais profundas para falar “entre os experimentados”; conforme ele mesmo diz em 1ª aos Coríntios.
Receba meu abraço e expectativa de lhe estar sendo útil. Mas leia o site; pois nele há muito mais do que tudo o que aqui lhe disse.
Nele, que disse a Paulo: “Te mostrarei o quanto importa sofrer por amor ao meu nome”,
Caio