PÁSSAROS LIVRES NA PRISÃO DO AMOR!

 

 

 

Aqui em casa, onde moro, em Brasília, há um belo jardim nos fundos; como no fundo são praticamente todos os jardins residenciais no Distrito Federal. Quando minha família e eu mudamos para esta casa, aqui não havia nada além de duas corujas no telhado e pássaros que passavam de leve, bem rapidamente, a fim de beberem água ou se molharem na piscina. Então, pensei que se houvesse mais água, e boa comida, eles viriam pra cá. Passei a molhar sempre. E também a jogar sementes de gira-sol e alpiste. Hoje, alguns meses depois de ter começado, é impossível se chegar ao jardim e não ver dezenas de pássaros, dos tipos mais diversos do serrado; todos comendo e se molhando no sprinkler que coloquei espirrando água o dia todo.

Vieram e ficaram. Mas ficarão apenas enquanto eu os tratar bem. Pois se não mantiver a qualidade de nossa relação, eles se irão daqui.

Assim é criar pássaros livres: Só ficam se a liberdade for equivalente àquela que o Pai que está nos céus deu a eles. Além disso, também só ficam se com a água e com as sementes também vierem amor e carinho; visto que mesmo que pusesse coisas para eles comerem, mas se não os amasse, eles daqui se iriam também.

Ora, se pássaros sentem assim, que não dizer de cônjuges, filhos e outros que vivem à nossa volta? Sim, caso tivessem a liberdade dos passarinhos ficariam conosco? Se tivessem asas, nos visitariam? Recebem de nós aquilo que os faz ficar, ou ficam apenas por que não sabem voar?

Não basta alimentar, nem pagar os estudos, nem dar o que eles aparentemente precisam se, junto com tudo, não houver amor!

Até passarinhos sentem a diferença. Como esperar que os que vivem conosco não sintam?

Ou supomos que eles sentem menos que pássaros? Ou julgamos que por que não têm asas, ficarão? Ou nos iludimos com a idéia de que se ainda estão fisicamente conosco é por que gostam? Ou será que não vemos como viajam longe de nós em suas mentes, nas asas da imaginação?

Esposas engaioladas, filhos no viveiro, maridos presos pela insegurança? É assim a vida? É esse o sentido de se estar junto, em família? Sim, com água e pão, mas sem afeto? 

Ora, até pássaros sabem fazer a diferença. E é por esta razão que meu cuidado por eles se renova dia a dia, pois, caso assim não seja, eles haverão de sair voando, e amanhã já não estarem mais aqui. Aliás, talvez nunca mais voltassem enquanto eu aqui estivesse. Como pássaros passariam voando por sobre minha cabeça, mas aqui não mais pousariam em tranqüilidade e prazer. Afinal, até pássaros sabem quando com a semente vem amor, e quando vem apenas semente. Pássaros gostam de semente, mas não se a eles se mente!

Pássaros comem semente (na maior parte das vezes). Plantas comem luz. E homens comem amor! Entretanto, até pássaros e plantas comem melhor com amor. Que não dizer então de você? Sim, de nós?! O que comemos? O que alimenta a nossa vida?! Temos nos alimentado de quê? Ou ainda comemos onde e com quem comemos apenas por que ainda não tivemos forças ou alternativas? Sim, apenas por que não sabemos voar?

Assim, aqui, falo com dois tipos de pessoas: a que serve e a que é servida. Aquela que serve, que sirva com amor. E quem recebe, receba o que for amor. Pois, dar sem querer, faz mal; assim como receber sem desejar faz mal também.

O importante sempre é perguntar: Se ela ou ele soubessem voar ou quando souberem, ainda estariam ou estarão aqui?

Pense e responda para você mesmo! A resposta pode criar um jardim ou um deserto; ou, quem sabe, salvar o seu disfarçado deserto da condição de deserto, para uma existência de vida e paz.


Nele,


Caio