—– Original Message —–
From: CASADA ENTRE O SEM IMPORTANCIA E O ESSENCIAL
To: [email protected]
Sent: Sunday, August 20, 2006 10:25 PM
Subject: Me ajude amado!
Meu amado Caio Fábio: Paz!
Imploro que você responda esta carta, pois, faz mais ou menos dois meses que eu não durmo de tanta ansiedade.
Vou tentar resumir ao máximo!
Sou uma universitária, tenho 28 anos, e me casei aos 18. Tenho dois filhos; um de oito anos e uma de quatro anos. São meus tesouros. Porém, em todo esse tempo de casamento, como todos os casais, tivemos nossas diferenças, e muitas brigas, mas sempre procurei me dedicar a minha família como uma mulher de verdade. Porém meu marido é extremamente ciumento e possessivo, e já me machucou demais com palavras que eu não teria coragem de repetir pra ninguém. Ele foi o 1º homem da minha vida sexual, e logo me casei. As pessoas me elogiam sempre pela minha beleza, que pra mim não tem tanto valor; mas isso mexe com ele. Sexualmente ele deixava a desejar, às vezes; mas fui falando pra ele o que eu gostava, e com um tempo o sexo ficou muito bom entre nós.
Mas a falta de respeito comigo, às vezes na frente dos meus filhos, me causava muito mal; e eu comecei a perceber que um casal é muito mais do que sexo e cama; e comecei a perder o interesse por ele aos poucos.
Nós freqüentamos uma igreja evangélica; e eu me sentia muito só, porque ele sempre foi uma pessoa muito ausente dentro de casa, e eu sempre assumia tudo: faculdade, filhos, casa…; e comecei a me cansar.
Enfim…, hoje eu estou me sentindo sufocada, porque eu não posso nem ao menos cumprimentar um amigo de escola que ele começa a me pressionar; e senti que de uns seis meses pra cá meu sentimento foi acabando, acabando, e acabou… Acho que sim!
Mas eu não guardo raiva e nem rancor dele. Não estou ferida; já o perdoei de coração; mas não é a mesma coisa, porque acredito que quem ama sabe que ama e eu não sei o que sinto.
Ele não me dá força pros meus estudos e tenta jogar a culpa em cima da minha faculdade, o que, pra mim, só tem beneficiado.
E o pior de tudo: sexualmente estamos péssimos. Eu nunca mais consegui ter um orgasmo e não tenho vontade de fazer sexo com ele. Às vezes choro, porque não quero transar com ele. E ele descobriu que me perdeu; então tem feito de tudo pra me reconquistar, mas eu não quero mais… E já falei com ele que não quero, que pra mim não é a mesma coisa; porém, ele não aceita.
Ele é uma ótima pessoa e um bom pai, mas acho que acabou. Mas aí entra família no meio e diz que eu vou me arrepender, que vou fazer meus filhos sofrerem, e que eu vou ser usada, e que eu não posso fazer isso, porque mulher não pode pedir divórcio… E dizem que eu vou me arrepender por resto da vida. E me colocam medo e insegurança, mas o que eu quero é ser feliz; só isso.
Eu estou tão infeliz que não durmo, não me alimento, vivo chorando, não sei o que fazer.
Me dê uma força Caio, por favor!
E pra piorar tem ainda outra coisa. Nesse intervalo procurei um especialista pra conversar e acabamos nos tornando um pouco mais do que amigos. Temos um carinho a mais um pelo outro. Não rolou nada de sexo, somente um beijo, e a gente se fala às vezes. Mas não tenho sentimento por ele. Gosto de falar com ele porque ele me faz bem. Rimos e nos divertimos; mas não estou confundindo as coisas; quero deixar claro.
Jamais durante todo esse tempo de casamento, mesmo com todos os problemas, nunca o traí. Porque eu tinha medo de perdê-lo e eu o amava. Mas agora as pessoas da família falam pra mim que o diabo esta colocando coisas na minha mente e que eu o amo sim, mas eu não sinto; e dizem que quando ele me abraça, eu quero me afastar.
De fato, não tenho vontade de beijá-lo. E falei pra ele, mas ele não aceita. O que eu faço?
Tenho medo de tomar uma atitude sozinha. Tenho medo de ver meus filhos sofrerem. Tenho medo de muitas coisas, principalmente porque acho que se me envolver com outra pessoa eu vou estar adulterando; entende?
Caio, tudo que eu quero é amar alguém com minha alma, porque eu não tenho sido feliz; e eu já fui tão feliz, e hoje não sou mais!
Ajude-me, meu amado!
Responda-me o mais rápido possível, por favor. Espero sua resposta. Amo você. Paz no coração!
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Resposta:
Minha querida: Graça e Paz!
Você quase não falou nada, apenas disse que brigavam como todo mundo. Assim, preciso que você me diga como ele é; que me diga o que você amava nele que era maior que tudo; e também o que você sente hoje por ele; diga tudo sem medo de se enxergar também.
E mais: responda-me por que o amor foi acabando se, para você, sexo já não era tão importante – ou era? Ou será que é muito importante pra você, e, justamente por crer que qualquer novo casamento é pecado, é que você segurou a onda até agora? Pra não ficar sem sexo?!
E mais: seja honesta também quanto a responder se o convívio na Faculdade não foi fundamental pra você, quanto a criar e estabelecer comparações entre os meninos e seu marido.
Você é uma menina de 28 anos. Ter casado aos 18 anos apenas lhe garantiu a queima de pontes (queima de etapas), mas não lhe deu experiência. Entretanto, pela sua narrativa, vi que quase tudo que você diz não ter importância, acaba sendo algo essencial; assim como a beleza não é importante, mas, para ele, era algo essencial, e que gerava ciúmes; ou então é o sexo, que não é mais tão importante — embora você tenha descoberto que gosta de ser desejada por alguém (daí também querer ainda conhecer outra (s) pessoa (s) nesta vida).
Ora, assim também pode ser o caso do rapaz de “agora”, o qual você diz que não tem tanta importância, que é apenas uma amizade-mais-que-amiga, que é alguém que você não ama, mas a quem gosta de beijar a boca (embora isto seja sem importância) — ao mesmo tempo em que beijar a boca é tão importante pra você, que você não quer beijar a de seu marido, a fim de não dar a ele qualquer esperança. Beijar é dar esperança?
É direito de qualquer pessoa não ficar mais casada. Casamento não é algo mafioso. As pessoas podem entrar e sair — e sempre devem encontrar a pastagem do respeito, da dignidade e da paz.
Assim, além de tudo o que já lhe disseram sobre as possibilidades de auto-engano (o seu pessoal de casa lhe tem falado acerca disso) — digo-lhe que é seu direito, caso queira mesmo, separar-se dele. Mas veja quais são as suas “razões”. E veja se todos os recursos já foram buscados. Pois, saiba: quando a pessoa está nesse estado, quando fez a curva na esperança e olha em outra direção, em geral o senso de discernimento e bom senso ficam abalados; e toda isenção se esvai…
O que vejo é que 80% das pessoas que se separam arrependem-se quando não se separaram em razão do insuportável; coisas como agressões, desrespeito sistemático, traição, abuso, etc. Desse modo, logo, ou depois de algum tempo, olham para trás, para o que tinham, e sentem saudade.
E sabe por quê? Porque como você disse, todo casamento tem seus dias e suas crises. Mas, para a pessoa que casou novinha como você, com mil sonhos românticos, tal queda no buraco da realidade é, muitas vezes, algo devastador.
Uma menina urbana raramente está madura aos 18 anos. Daí a sua frase: “Ele foi o 1º homem da minha vida sexual, e logo me casei”. Não estou dizendo que maturidade e prática sexual sejam coisas sinônimas, pois, estão longe de ser; e também não estou sugerindo que se deva ter mais de um homem antes de casar, pois, de fato, tudo isto é mito.
Ora, no seu caso, a imaturidade foi ter pensado que seria diferente, e que casamento não demandasse muito esforço e disposição a fim de superar crises.
Entretanto, você não casou com você mesma, mas com ele. Daí ser muito importante saber dele, de como ele é, do que faz, e de como se comparta com você. Sim, porque por mais madura que você estivesse na sua disposição de casar, o mesmo não acontece com o homem, que na maioria das vezes, conjugalmente, é muito infantil e despreparado para a vida a dois.
Sugiro a você três coisas:
1. Calma. Não se apresse. Você pode ser mais moderada e calma na decisão. Agora que você já abriu o estado de seu casamento, dê uma chance à família; e, por um tempo, empenhe-se de todo o coração. Tanto você quanto eles virão a apreciar tal decisão feita em calma e paz.
2. Conversas. Converse com ele. Converse muito. Abra seu coração. Diga como você se sentiu todos esses anos. Aproveite a fase de sensibilidade dele, e vá fundo. Pode ser que ainda haja esperança.
3. Leitura. Além de ler a Palavra, leia também o site; e o leia fundo; e o leia todo, se possível. Pois, sei que lhe fará bem, muito bem mesmo. E ajudará você a tomar uma decisão mais lúcida, seja para ir ou para ficar.
Fico aguardando sua resposta às minhas indagações!
Nele, que nos manda avaliar o significado de cada uma das nossas decisões,
Caio