UMA TEOLOGIA OU UMA CONCEPÇÃO?

 

 

 


—– Original Message —–
From: Alessandro Daring
To: Caio Fabio
Sent: Wednesday, August 30, 2006 7:19 AM
Subject:  Nova teologia ou apenas uma concepção??

 

Amado Pastor Caio,


Eu conheço pouco a seu respeito, apesar de sempre ter ouvido falar muito bem de você.

Tenho aprendido muito com suas ministrações; e desaprendido, Graças a Deus, muita coisa que alguns Doutores da Lei tinham me ensinado ao longo da vida; ensinos esses que me escravizaram, me jogaram para baixo, fazendo parte da vida perder o sentido.

Achei que “respirar outros ares”, saindo da minha primeira igreja “assembleiana” e procurando outro lugar — talvez me desse liberdade de seguir a Cristo como achava que era certo. Achei que talvez fosse a solução.

Nessa nova igreja (do “logotipo do sol”), que prefiro não mencionar o nome, mas que segue a “escadinha da unção apostólica” —, encontrei pessoas que buscavam a mesma coisa em Cristo… liberdade e paz de espírito.

Mas, percebi que todos ali estavam se frustrando ao longo do curso; pois, ali tinham infindáveis barganhas a fazer com Deus; e isso desgasta e mata o cara aos poucos. Eram tantos desafios de marketing em “pró do reino” que muitos “profissionais do ramo” ficavam envergonhados.

Sofri por quase quatro anos e pulei fora daquela barca, fiquei na minha por um tempo, como eles afirmam na “igreja do céu aberto”… — eu estava desviado.

Para ir direto ao ponto, saí dali decidido, mas melindroso por correr o risco de perder a minha salvação; POIS ERA ISSO QUE DIZIAM A MIM…

Não aceito essa história de “perder a salvação”, e, apesar de ver por diversos ângulos esse assunto, questiono como seria possível existir uma “borracha e caneta eternos”; digo… lápis, pois com “caneta” ficaria muito difícil de apagar meu nome do livro da vida, imagina com sangue eterno e real…. — pra apagar meu nome!

Mas a grande maioria desses “pregadores” de dedos em nossas caras, afirmam que isso é possível e real: “Hoje no céu … amanhã… se não vigiar … no inferno !!!”

Muitos acham essa Graça de Deus que você ministra pura heresia, pura carne, pura vontade de sair por aí pecando numa boa, batendo no peito e dizendo posso pecar porque sou salvo!

Eu não vejo assim; pois, hoje conheci um pouco dessa verdadeira Graça e sigo em paz, com a consciência tranqüila, sabendo que hoje tenho um dono na minha vida, que me ama tanto que um dia entregou seu único Filho para morrer por mim.

Hoje, busco a cada dia, enxergar quem sou e ser melhor para mim e para o meu próximo em amor a Deus.

Terminei a minha primeira leitura do “Sem barganhas com Deus”. Digo “primeira”, porque creio que precise de várias, pois o conteúdo ali é extenso e precioso; e creio que não seja possível absorve-lo de uma vez como fazia em antigas leituras.

É nesse ponto vem finalmente minha pergunta:

O que lemos ali não poderíamos dizer que seria uma espécie de teologia vinda da sua parte? Teologia sua? Ou coisa parecida?

Amei o livro, mas só queria entender isso, pois bem sei que o amado pastor assim como eu, não gosta de teologia (tese revelada na Palavra de Deus). Porém alguns leitores dos seus livros afirmam isso nas entre-linhas. Eu prefiro acreditar que a teologia não passa de meras interpretações de alguns sabichões da Moral e só serve para eles e seus latifundiários… só isso !!!
  
Já li também o “Confissões de um Pastor”. Foi a minha primeira leitura de suas obras. Para quem lia o “coreano”, “Malafaia”, “Rebecca Brown” e “Watchman Nee”… — a diferença é grande!!!

Obrigado por me ajudar nessa caminhada com Cristo.


Alessandro.
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Resposta:


Querido Alessandro: Graça e Paz!


“Nova teologia ou apenas uma concepção?”

Ora, teologia é mera concepção. Mas falaremos disto mais adiante.

Sei qual é a “igreja” do “sol nascente”, e que vive de campanhas como marketing e de marketing como campanha.

Que bom que você saiu dessa fria!

Atendo pessoas que não se recuperaram deles até hoje, carregando grandes seqüelas psicológicas e espirituais. Não há mente que fique ali e continue minimamente sã.

Salvação?

Ora, a salvação é eterna. Portanto, ela é. Apenas pra mim, que sou mortal e finito, e filho do tempo e do espaço — é que a salvação tem passado, presente e futuro. Mas como o que salva não é o meu pensamento sobre a salvação, mas a salvação mesmo; e como a salvação é de Deus, e não do homem; e como a salvação é para o homem e não para Deus; e como o homem finito só entende códigos finitos, não entendendo o que é eterno — então, a salvação é descrita no Novo Testamento com uma linguagem tencionada entre o temporal e o eterno — aliás, como tudo o mais.

Assim, a palavra “salvação” aparece associada por vezes ao temporal e por vezes ao eterno. Quando o termo vem associado ao tempo, em geral se faz também vincular a algum tipo de advertência. Daí ela (a palavra “salvação”) ser objeto de uma linguagem que a relativiza, que a condiciona, e que a faz ser vinculada a uma resposta do homem a fim de que ela seja validada.

Ora, é assim porque é assim que é. Afinal, não apenas há níveis diferentes de significado de “salvação” no Novo Testamento, como também há a limitação psicológica e espiritual do homem quanto a entender que o que se diz é apenas o seguinte: “A salvação é para você. Usufrua-a; pois, do contrario, você estará salvo sem salvação. Ou que salvação é essa que não nos salva de coisa alguma? Não pise sobre o beneficio que lhe foi feito gratuitamente; o qual, quando se realiza, é paz; e também é alegria no Espírito Santo. Pois aquele que confessa a salvação e não a usufrui, a tem apenas como uma palavra em sua boca, e não como beneficio em sua vida”.

Portanto, quando a salvação se faz associar a uma admoestação temporal, ela afirma que é “perdição real” confessar-se salvo pela fé enquanto se vive perdidamente salvo e salvamente perdido.

Desse modo, vivendo sem usufruir o Evangelho, que é Boa Nova de Deus para o homem.     

O Cordeiro, entretanto, foi imolado desde antes da fundação do mundo.

Ora, encontre alguém que desfaça o que está feito antes de ser feito, e, então, eu direi que o seu nome, quem sabe, poderia ser apagado do Livro da Vida.

Dizer qualquer coisa a mais, não só é desperdício de tempo (afinal, o site está cheio de tudo o que falta nesta resposta acerca deste assunto), mas é também desnecessário, pois, basta que se diga isto: Encontre alguém que desfaça o que está feito antes de ser feito, e, então, eu direi que o seu nome, quem sabe, poderia ser apagado do Livro da Vida!

Quanto ao “Sem Barganhas” (ou qualquer outro texto meu) ser “teologia”, digo-lhe apenas duas coisas. A primeira é que é “teologia” sim, pois, tudo o que o homem faz nesse aspecto, é “teologia”. Porque só não é “teologia” o que é revelação. E o que digo não é revelação de Deus, mas sim iluminação de Deus acerca da revelação de Sua Palavra, conforme me foi dado discerni-la pelo Espírito Santo. Sim, porque sei que o que discerni é do Espírito Santo. E só discerni porque Ele iluminou os meus sentidos com o discernimento da revelação. Portanto, meus livros, falas, e pregações — são parte do fenômeno humano de reflexão sobre o que está revelado na Palavra da Vida. E, como tenho dito, tudo o que o homem produz como pensamento acerca de Deus é “teologia”. E como também tenho dito, o termo teologia não é etimologicamente correto quando confrontado com o que é possível “teologicamente” ser produzido acerca de Deus. Sim, porque teo-logia é o estudo de Teo, de Deus. E mesmo que se diga que é estudo da revelação de Deus, ainda assim o que se acaba definindo é “quem Deus é”; ou “quem é Deus” — conforme os manuais de teologia sistemática. Ora, embora meu livro não seja assim e lute contra isto, entretanto, no sentido da fenomenologia do conteúdo do livro, pode-se dizer que ele é classificável como sendo “teológico”.     

A segunda coisa que tenho a dizer-lhe é que se, de um lado, o livro é “teológico” (porque é produção humana sobre a revelação, por mais iluminada que seja tal reflexão) — de outro lado o livro não é teológico; posto que nele não se define Deus (como faz a teologia), mas apenas se entende o que está revelado com toda clareza; e sobre tal fundamento se pratica uma psicologia do Evangelho; posto que o Evangelho é para o homem, e não para Deus. Portanto, qualquer coisa que se diga acerca da Palavra de Deus, tem que ser algo de natureza antropo-psicológico. Homens são chamados a pregar a Boa Nova porque ela é para os homens. Por isto, homens pregam a homens. Ora, isto posto, digo a você que nesse sentido o meu livro não é teológico, posto que teologia somente Deus pode fazer; ninguém mais. Afinal, somente Deus pode revelar Deus. E mais: tal revelação, por mais que esteja escrita nos livros inspirados, não se torna revelação apenas porque está escrita, pois, a verdadeira revelação só acontece como discernimento no coração iluminado pela Graça.

Além disso, uma “teologia” tem uma base hermenêutica. Os meus livros têm apenas uma: Jesus. Leio a Bíblia a partir de Jesus e não Jesus a partir da Bíblia. Assim, meus livros não são considerados “teológicos” para e pelos teólogos, posto que neles (nos livros) não há uma designação hermenêutica teologicamente aceitável; e nem tampouco há neles sistematizações que busquem o fechamento lógico de qualquer pacote de pensamento.

Assim, o que meus textos dizem é que não há teologia, e nem sistematizações teológicas a serem feitas; pois, quando Jesus é a Chave Hermenêutica, então, tudo o mais é um caminho de observação e discernimento do espírito do Evangelho, para então aplicar tal discernimento à própria vida, posto que o Evangelho só se torna verdade em mim quando é experimentado como tal — por e para mim.

Isto tudo, entretanto, não é importante. O que realmente importa é que você pegue o Novo Testamento e o leia todo, de novo, de cabo a rabo…— and then… again… and again… Pois, assim fazendo, você logo saberá que o que eu digo é apenas uma Nova Repetição do que não muda nunca, pois quando se tenta muda-lo, nunca é para o bem, pois, trata-se daquilo que é eterno: o Evangelho.

Quanto a pensarem que prego uma vida livre pra pecar, saiba: prego que o homem é livre para ficar livre do pecado, se caminhar na liberdade do Evangelho da Graça, o qual sempre nos põe no caminho sobremodo excelente, que é o amor, ante o qual não há Lei, posto que o amor projeta a si mesmo para além da Lei de Moisés, pois ele carrega a via da Lei da Liberdade e da Lei da Vida. Assim, quem o segue porque nele crê, esse sabe que em tal caminho (do amor de Deus) o pecado mata a alma e tira dela a alegria de ser de Deus. Portanto, Graça que não converta, é vã em nossa vida; e, assim, jamais se fez Graça para nós.     

Portanto, amigo, quem falar tal coisa estará falando contra o Evangelho. Pois, não tenho nenhuma nova revelação, porém, prego o que é Evangelho; e quem não reconhece o Evangelho quando a ele é exposto, esse tal está cego e surdo — infelizmente, todavia, não está mudo para deixar de falar loucuras.


Um beijão em você!

Procure aqui no site o endereço de uma Estação do Caminho que se reúna em sua cidade. Vá que lhe será muito bom!

 

Nele, em Quem estamos salvos porque somos salvos,

 

Caio