POSSO TER MAIS DE UMA MULHER, COMO ABRAÃO?

 

 

 

—– Original Message —–
From: POSSO TER MAIS DE UMA MULHER, COMO ABRAÃO?
To: [email protected]
Sent: Friday, August 25, 2006 6:22 PM
Subject: Bigamia e Poligamia

 


Estimado Caio!

Embora não tenha o talento da objetividade, vou pelo menos tentar não ser prolixo em minha explanação.

Tenho 65 anos, conservado, com plena saúde, graças a Deus. Casado há 39 anos, quatro filhos, obviamente já adultos. Tive minha experiência com Jesus aos 26 anos, quando ainda solteiro. Casei-me por amor, e como “o amor jamais acaba…”, amo  minha esposa hoje e sempre…

Mas tenho convivido, ao longo  de todo esse tempo, com sentimentos antagônicos, pois sexo  sempre teve um significado muito acentuado para mim. E por mais de 39 anos, consegui, a duras penas, manter-me fiel, pelo menos “fisicamente”… Pois sublimava minha compulsão com  filmes “apimentados”. Mas depois foi se agravando, com massagens a duas e a quatro mãos… Mas sempre procurei “segurar”, com um esforço hercúleo, minha vontade de transar com outras mulheres.

Preciso esclarecer que minha esposa  nem sempre priorizou o “debitum conjugale”, o que me irritava muito e me conduzia a uma postura de muita cobrança e conseqüentes atritos. Mas persistia em “segurar a barra”, pois o medo do pecado de adultério e de comprometer a unidade familiar era muito intenso em mim…

Mas em certa ocasião, chegou-me às mãos, um livro que “revolucionou” meus conceitos e preconceitos; implodiu tabus; e a “barra”, que neuroticamente teimava em segurar, rompeu-se fragorosamente.

“Libertação e Sexualidade” de Robinson Cavalcanti, editora TEMÁTICA, segunda edição, em seu quarto e quinto capítulos, tratam do tema “Poligamia” (páginas 81 a 110) — cujas partes mais significativa gostaria de enviar-lhe, (se não possuir esse livro em sua biblioteca), para que pudesse  me orientar.

Por favor,  responda se é o caso de enviar-lhe cópias do referido livro.

Após se inteirar de seu conteúdo, gostaria de detalhar o que sua mensagem gerou em meu interior e a nova visão da vida que assumi e passei a viver.

No segundo capítulo (rsrsrs) minha “novela terá seu epílogo”… (rsrsrs)

Com carinho,


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—– Original Message —–
From:
To: [email protected]
Sent: Monday, August 28, 2006 6:59 AM
Subject: Bigamia e Poligamia

 

Caro Caio…

Dias atrás, enviei a primeira parte de minha carta, e não sei se você recebeu. Sei que você é muito ocupado, pois imagino quantas pessoas você atende, e não quero ser  um “mala”, “alugando” você. Mas preciso completar a exposição para saber qual sua opinião a respeito, para que eu possa me nortear, pois,  a “dúvida” nunca foi uma boa companhia…

Parto da premissa que você recebeu o e-mail anterior; e passo a completá-lo agora. O referido livro de Robson Cavalcanti, conclui, no capítulo referente à poligamia, que o “eixo” do adultério, é  a mulher casada, e não o homem casado… E  argumenta com convincentes argumentos bíblicos sua tese.

Para  procurar ser mais explícito, transcrevo uma parte do livro:

“O que caberia às lideranças cristãs esclarecidas, maduras e não  preconceituosa seria uma tarefa pastoral de apoio aos que a vivenciam. Apoio humano e teológico, que os faça ver que não são anormais, que não são os únicos, que não estão sozinhos, que não devem ser discriminados, nem são pecadores, encarando de outro modo a sua situação, livres dos fardos culturais indevidos, para melhor perceberem o amor de Cristo e melhor poderem servir o Deus de Abraão e de Davi” (sic). pág. 114

Querido amigo aguardo sua resposta, “mais que os guardas pelo romper da aurora”… (rsrsrs)

Beijos em sua honrada face,

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Resposta:


Meu querido amigo: Graça e Paz!

 


Ninguém pode servir a dois senhores, e nem tampouco a duas senhoras! (rsrsrs)

Não sei se você gostará de minha resposta, e, possivelmente a deteste como “os guardas” odeiam a demora “do nascer da aurora”. (rsrsrs)

Sim! Conheço o livro mencionado desde antes de ser lançado (1989) — pois, àquela altura, como eu já havia lançado quatro ou cinco outros livros do Robinson pela Editora Vinde, ele me trouxe o manuscrito desse livro. O li com toda atenção e decidi não publicá-lo.

Eis as razões de então, e que não mudaram em mim:

1. Apanhar o contexto do VT a fim de justificar a bigamia hoje, é algo que viola o espírito do Evangelho; pois, Jesus disse que não foi assim desde o princípio. Afinal, o caminho do Evangelho não é para trás, mas para frente, para as coisas melhores e excelentes, e não para as concessões à Queda, as quais nos são “remédios”, embora jamais devam ser propostas como projeto de existência.
 
2. Restringir a bigamia e a poligamia apenas a algo inadequado para mulheres, e fazer isto em nome da história dos personagens bíblicos, é machismo incompatível com o espírito do Evangelho.

3. Dizer que homens podem ser bígamos ou polígamos porque os patriarcas o foram, e Davi também (entre outros) — é ser seletivo em relação ao VT, pois, em tal contexto havia muitas coisas que tanto o Evangelho, como o bom senso, extinguiram como projeto de existência. Afinal, Jesus não fez acepção de pessoas, nem de sexos.


4. Tratar da questão no Brasil, onde não há bigamia ou poligamia oficial e nem cultural, é algo que não resolve a questão dos que vivem em tal estado, e sem a devida coerência cultural e psico-social.

5. Já nos países onde a bigamia e a poligamia são normais e são um fenômeno cultural, não há necessidade do livro, posto que em tais lugares já há uma aceitação tácita ou oficial de tais status. E não há conflito em tais contextos, posto que há aceitação natural, e que advém de séculos de internalização de tal possibilidade.

 
6. Propor esse tema num país como o nosso, no qual o que existe é a galinhagem promiscua, é como ir a Bangu I com uma teologia da violência baseada em Sansão. Ou seja: gera apenas o estimulo para que se faça a mesma coisa, só que com “as bênçãos de Deus” — conforme o teólogo ou a concessão que se busca nele encontrar.

7. Afirmar que o adultério em tal caso é apenas algo que se relaciona à mulher casada, é bobagem total; pois, é fato que o VT tratava as coisas assim (bem como quase todas as culturas antigas) — porem, não foi assim que Jesus tratou a questão; não fazendo dela nada grave, mas também jamais criando um precedente para que se instituísse aquilo que, se acontecer, precisa ser objeto de um trato misericordioso, embora jamais com estímulo antes de acontecer. Afinal, aqui não é o oriente, nem a África, e nem nós somos mulçumanos ou mórmons em nossas percepções da vida.     


E por que digo o que disse acima?


1. Porque Jesus acabou com o que antes era fato e direito: a supremacia dos homens; e a liberdade a eles dada de terem quantas mulheres conseguissem; pois, para Jesus, “não foi assim desde o principio”.
 
2. Porque Paulo diz que em Cristo não há nem homem e nem mulher. Ou seja: o que vale para um, vale para o outro — entre outras implicações.


3. Porque se não faz parte da cultura tácita e (ou) oficial, não há porque buscar regulamentação do que não existe, exceto como transgressão — posto que não é aceito pelas esposas.

4. Porque o princípio do Evangelho é um só: o que quereis que os homens [e mulheres] vos façam, fazei isto também a eles. Ou seja: quem desejar ter mais de uma mulher, deve se preparar para fazer as mesmas concessões à sua própria mulher — pois, em Cristo, não há nem homem e nem mulher. Assim, o que vale para um, isso mesmo vale para o outro.

 
5. Porque assim como o Evangelho trata misericordiosamente toda dor e ambigüidade humanos, do mesmo modo não estimula aquilo que não é o ideal. O não-ideal é fruto da Queda e do pecado, e deve ser tratado com Graça. Já o ideal é o que se deve buscar, apesar de nossas próprias ambigüidades.
 
6. Porque o ensino do N.T. trata a questão do seguinte modo: quem tem já uma situação caracterizada pela bigamia, pode e deve ser totalmente acolhido, com o pacote que tem. Porém, Paulo diz que tal pessoa não deve ser escolhida para ser “bispo” (referencial comunitário); pois, o líder deve ser marido de uma só mulher. Portanto, se aceita o que já existe como fato e realidade da vida; mas, nem por isto, deixa-se de apontar o ideal de Deus para quem ainda não está vivendo em tal situação.

7. Porque no N.T. a bigamia recebe uma concessão em face da ignorância, mas não é uma possibilidade estimulada pela revelação conforme Jesus. Exemplificando, eu diria que é como a homossexualidade ou mesmo como o divórcio: ambos devem ser tratados com Graça e muito carinho (pois são dramas e condições humanas), mas não devem ser jamais estimulados, posto que não “carregam” o ideal de Deus, sendo apenas objeto de uma concessão da misericórdia — e isto para quem não tem ou teve como evitar a situação. 


Assim, se o livro tratasse apenas de como um “missionário” deveria tratar as coisas num país de cultura de bigamia ou poligamia, para mim seria muito bom. Posto que falta sabedoria no trato da questão por quase todos aqueles que pretendem levar o Evangelho para países nos quais existe tal prática e cultura.

Porém, no Brasil, me pareceu que o livro apenas geraria o que gerou em você: uma justificativa para trair em nome de Abraão e Davi.

Do ponto de vista da Fé, conforme afirmei em meu livro “Sem Barganhas com Deus”, está demonstrado que Deus não deixa de ser o Deus de ninguém apenas porque a pessoa nasceu em tal contesto e cultura, ou porque viva em tal situação desde sempre. Entretanto, uma coisa é acolher e incluir quem vive em tal status. Outra bem diferente é criar uma justificativa para que quem não nasceu em tal contexto, passe a crer que trair não faz mal, apenas porque os Patriarcas antigos tinham mais de uma mulher e isto não era traição.

Ora, para quem deseja viver tal projeto de existência, há apenas uma coisa a fazer: procurar as esposa (ou o marido, no caso de mulheres) e propor um casamento aberto e com a inclusão de mais de um cônjuge. Se o companheiro (a) aceitar, trata-se de um arranjo dos dois, e ninguém deve se meter em tal coisa. Exceto quanto a não fazer de tal pessoa referencia da comunidade da fé, como um “bispo”, por exemplo.

Portanto, se você deseja ter outra mulher, e sem culpa no coração, procure sua mulher e faça a ela essa proposta. Se ela aceitar, aceitou. Mas, com esse pacote, deve também ficar claro que o que vale para você, vale também pra ela. Afinal, no VT os maridos diziam às mulheres que tomariam outras. E tudo era às claras. Mas como hoje não há mais homem e nem mulher do ponto de vista dos direitos humanos, como também em relação ao princípio bíblico, você deve saber que o mesmo direito será também de sua mulher.

Sim! E se ela topar mesmo! E se disser: “Tá bom! Pode trazer. Mas eu vou querer também. Tudo bem pra você?” Você vai quer?

Por último, devo dizer que ninguém viola um estrato psico-cultural produzido em anos e anos de construção — e fica psicologicamente impune. Afinal, ninguém pode servir a dois senhores, e nem tampouco a duas senhoras! (rsrsrs) Isto porque a alma — uma vez tendo nascido num contexto onde tais coisas não sejam intrínsecas, culturalmente falando — não resiste o conflito gerado pela tentativa de se dividir entre dois relacionamentos profundos como a conjugalidade.

Ora, nem sempre se consegue isto entre dois patrões, como pensar que seja simples entre duas senhoras?  


Sim, porque aqueles que vivem em sociedades onde a bigamia e a poligamia são normais, naturais e aceitos, carregam em sua memória celular, cultural, psicologia e espiritual — um “programa” de natureza intrínseca e que dá a eles a naturalidade para a prática.

Porém, conforme Jung advertiu depois de numerosos estudos, fazer esse tipo de absorção (no seu caso, a bigamia) — sempre desconstrói a arquitetura do aparelho psíquico, gerando grandes distúrbios; tanto psicológicos, como também psico-sociais.   

Estas foram as minhas razões para não ter publicado o livro em 1989, e estas ainda são as minhas razões hoje, e, pelas quais, penso a vida no que tange a bigamia e à poligamia.

Assim, meu querido amigo, caso você espere minha resposta a fim de “partir pra dentro”, saiba: não dou nenhuma força para coisas premeditadas.

Se, porém, você tivesse me escrito dizendo que tem duas mulheres, duas casas, dois grupos de filhos (de mães diferentes), dizendo que tem sido assim a vida toda, e que ambas as esposas vivem bem com isto — eu apenas diria a você para servir a Deus cuidando bem de suas esposas e filhos (como diria e já disse a índios no Brasil, e que vieram a conhecer a Palavra). Porém, também diria a você para não buscar posições de liderança na comunidade da fé, pois, de acordo com o Evangelho, o que se deve buscar e apresentar como paradigma conjugal é uma relação de monogamia baseada no amor.

É isto o que superficialmente creio. E lamento que não tenha tempo nem para expandir o que disse, como também para incluir muitos outros aspectos que dizem respeito ao tema.


Você está conservado, mas já não é menino. Portanto, não corra esses riscos de meninos a essa altura da vida. Pois, meu irmão, você pode descobrir que duas mulheres não enchem a vida de ninguém, assim como um harém também não plenifica a vida de seu “possuidor”.

Pense bem; e não se faça mal!`

Sobre o “eixo” do adultério, saiba: não é a mulher casada, mas sim a tesão de um coração insatisfeito e cobiçoso. Como disse a minha mulher, ao ler minha resposta à sua carta (obviamente que já sem seu nome ou identificação), o “eixo” do adultério só sabe realmente quem já foi traído pelo cônjuge que amava; pois, quem não foi, apenas faz teologia sobre o assunto, e, muitas vezes, a fim de justificar seus próprios desejos.

Você é livre para ir e fazer o que quiser…

Porém, saiba:

“Lembra-te de teu Criador antes que venham os dias maus…” — e você sabe que tanto para mim quanto para você, eles não estão tão longe assim. Afinal, nenhum de nós é mais criança.

O bem maior de um homem na Terra é paz. Portanto, cuide para que suas últimas décadas de vida não lhe sejam pura tristeza e aflição.

Até Davi, em tempos de total naturalidade quanto à poligamia, quando estava velho, tendo recebido uma virgem linda como mulher, não a possuiu. Afinal, deve-se também levar em consideração a possibilidade de que a virgem não perca a beleza da vida com um avô. Meu respeito pelo modo como Davi tratou a Abizague é imenso. Pois, saiba: eu também jamais conseguiria me relacionar com alguém que eu pudesse ter gerado como pai. 

Quanto às suas pulsões sexuais, sugiro que você procure a sua esposa e diga a ela que vocês não são mais brotinhos, mas que ainda produzem um bom caldo de prazer. Ou seja: exponha a ela sua vontade de se esbaldar sexualmente falando; porém com ela. A leve a um bom motel; e divirta-se. Sim, porque o que você deseja, não é uma outra mulher, mas sexo picante. E é nessa que você pode se arrebentar; exceto com sua mulher.

No que depender de mim, enquanto estiver por aqui, desejo saúde para fazer amor com minha mulher até a mais ditosa velhice. E que seja, assim, muito viçosa a idade de partir.

Não estrague a sua vida inteira em razão de sua frustrações recalcadas desde a juventude. Agora é tempo pra se divertir com sua mulher, e muito; e também para curtir os filhos e netos.

Portanto, pare as massagens a duas e a quatro mãos. E receba massagem de sua mulher, em todo o seu corpo (e em todo o dela faça o mesmo) — pois, por que massagearias o corpo de outra, ou o teu próprio, se as mãos de tua mulher podem ficar subitamente encantadas sobre ti?

O que lhe passa pelo coração, num reclamo da alma enganada, é o seguinte: Será que vou passar a vida sem conhecer outra mulher além da minha?

Sim, porque você vê a moçada “mandando ver”, tendo com muita facilidade outras mulheres — e elas estão cada vez mais agressivas na auto-oferta: só não “pega” quem não quer, não gosta, ou não crê que será bom — e pensa que você está deixando de ter o que poderia.

E é claro que você poderia. É fácil. A questão é que você não apenas arruinará a sua família e os seus dias por vir (que podem ser muito bons), como também, logo e tragicamente descobrirá que as perdas terão sido incomparavelmente maiores do que quaisquer possíveis ganhos em “experiências” — as quais são rasas, vazias, incompletas, insatisfatórias, e ilusórias; pois são apenas o fruto da cobiça que nasce na alma insegura, e que ainda não provou a alegria de ser quem é, e de amar a quem a ele se entrega em amor; e a quem ele, em Graça, possui como mulher.

Receba meu beijo carinhoso!

 


Nele, que criou um homem e uma mulher, e fez deles uma só carne (pois com mais de dois a obra é de Frankstein),

 

Caio