CENTRAURO X RENATO – e não é no “Pride” do Minotauro

 

 

 

 

—– Original Message —–
From: A BRIGA ENTRE O CENTRAURO E RENATO –  e não é no “Pride” do Minotauro – MMA
To: [email protected]
Sent: Sunday, September 10, 2006 6:2oito PM
Subject: Se puder me ajudar, não se detenha!

 

Rev. Caio,


Encontrei com Jesus em 1998 (um ano difícil para o senhor), e tive minha encruzilhada em 2003, (um ano de soerguimento para o amado). Hoje, com este que é o 4º e-mail que lhe envio sem resposta, busco respostas/encontros com minha condição de mortal. Venho sentindo durante a caminhada uma angustia como “querendo viver toda a vida num instante antes que o mundo acabe”; buscando lucidez em meio a tantas insanidades, lendo Kierkegaard e Jacques Ellul de forma diferente; olhando para Caio Fabio, não mais como “O GIGANTE QUE CAIU” —- sim, esta foi a definição psico-orgiástica de um seminarista quando “eu era um deles” — mas como o Homem-Humano-Demasiadamente-Humano-Homem.

Não sei explicar Amado Pastor, mas parece que sempre o conheci, embora ainda não o conheça. É possível ter saudade e amar quem não se conhece!

No seu livro “Confissões…” mostraste que sim. Amado Caio, sinto um desejo imenso de morrer (não suicidar) embora deseje ardentemente viver cada dia que Meu Senhor puder me conceder.

Lendo o site é como se eu pudesse conhecer uma gama incomensurável de mundos, mas sendo sincero há uma barreira invisível que não me permite viver conforme sei que devo, e isto me entristece, embora não me destrua ou impeça de querer sempre mais um round… mais um round… Não estou com dificuldade de entender-crer nada do site, conhecer a Deus é verdadeiramente o orgasmo infinito do meu ser-âmago mais profundo; mas estou enfastiado, empanzinado, premido por uma dor que não sei equacionar, contabilizar… Não sei explicar ou dizer o que é (minha psicóloga insiste que não é depressão!). Será o conflito Centauraniano de Romanos sete impedindo-me de chegar aos oito? Não sei… Sei o que é um desejo intenso de querer ser outra pessoa, menos eu… Mas quem sou eu?… Caído é a resposta dentro de mim…

Pr. Caio, não quero ser Livresco, mas em algumas centenas de livros lidos por mim, nenhum me ajudou como este site. Há algo de belo sendo construído mediante o que nele está posto.

Pr. Caio, sei que talvez não tenha dito nada com nada, como se diz em minha terra, mas tenho uma pergunta a fazer: Como posso vencer, transcender, superar, sobrepujar sem derrotar ninguém? Como posso ser o melhor que eu possa sem me tornar um nerd? Sem uma lucidez livresca? Como desenvolver aquele charme, fruto de um senso de propriedade em tudo?

Se puder me ajudar, por favor, não se detenha… rsrsrsrsrs

Beijo no coração!


Nele, que É quem É,


Renato
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Resposta:

Amado Renato: Graça e Paz!


Renato é um nome que vem do LATIM RENATUS, e que significa “nascido novamente”, ou “renascido” — ou seja: propõe o nascer de novo, conforme a expressão de Jesus.

Agora, sabendo o significado de seu nome, releia o que você escreveu acima:

“Não sei explicar ou dizer o que é (minha psicóloga insiste que não é depressão!). Será o conflito Centauraniano de Romanos sete impedindo-me de chegar a Romanos oito? Não sei… Sei que é um desejo intenso de querer ser outra pessoa, menos eu… Mas quem sou eu?… Caído é a resposta dentro de mim…”

Ora, o que sua alma quer é você renascido. Então você pergunta: E não nasci de novo, already? Entretanto, esta não é a questão, pois, ela não deve ser ligada às pueris definições da “teo-logia”.

Ser um “renato” — conforme o Latim — é ser a mesma pessoa, só que tendo a chance de surgir outra vez para a vida depois de uma experiência de morte, ou quase morte. Ora, ninguém que tenha morrido volta à vida por si mesmo e de si mesmo. Todo “renato” é trazido à vida por um Outro.

Entretanto, para que haja a experiência “renata” na existência de alguém, é preciso que haja morte.

Ora, você disse que quer morrer, embora não queira se suicidar. Aí está a questão. Sim, pois aquele que quer morrer, mas não quer se matar, é alguém que deseja fazer morrer sua natureza terrena, a fim de abraçar uma outra, bem mais elevada.

Concordo com sua psicóloga quanto ao fato que você está deprimido, embora não seja “depressão”.

Você não está em depressão, mas sim em “trabalho de parto”; até ser Cristo, pela fé, formado em você.

A questão é que esse tipo de dor de parto só acontece com quem deseja a experiência de Deus mesmo; e a deseja aqui, nesta vida.

O que você sente é como se desejasse viver para sempre, porém, não conforme a presente forma de existência — “existencialmente” falando.

Desse modo, somos remetidos para o que eu já disse antes: “ …ninguém que tenha morrido volta à vida por si mesmo e de si mesmo. Todo “renato” é trazido à vida por um Outro.” E mais: “… para que haja a experiência “renata” na existência de alguém, é preciso que haja morte”.

Ora, você mesmo evocou a idéia do Centauraniano de Romanos sete impedindo você de chegar a Romanos oito, conforme você leu aqui no site. Eu pessoalmente creio que você está certo no diagnóstico.

Entretanto, a fim de se fazer a viagem de Romanos sete para o capítulo oito — e isto não tem a ver com a leitura, mas sim com a experiência — a pessoa tem que desejar ser renata por completo. Todavia, como disse acima, para que tal aconteça, tem-se que ter a coragem da morte, não do suicídio.

Sim, porque desejar morrer é uma das maiores expressões da vontade de viver quando tal desejo não se vincula ao suicídio.

A questão é que para viajar de Romanos sete até oito, a pessoa tem que se entregar à morte. Sim, tem que morrer.

Ora, desse ponto de vista, o que é a morte?

No Evangelho esse morrer equivale a se entregar, a abrir mão de toda justiça-própria, e de toda presunção de poder ser por si mesmo e de si mesmo. E nada há mais difícil para um ser supostamente vivo do que deitar em tal altar de entrega, e, paradoxalmente, do descanso.

Quando você se perguntou: “… e quem sou eu?” — tendo a seguir respondido: “Caído é a resposta dentro de mim…” — você mostrou que sua alma ainda habita o ambiente existencial de Romanos sete. Afinal, constatar tal realidade é essencial; porém, viver nela é insuportável.

Melhor é nada saber de Romanos sete se não se tem a coragem da morte, e a disposição da entrega em fé ao que Jesus já fez, e que está irreversivelmente Consumado. Pois Romanos sete sem Romanos oito — é a receita mais prática para a neurose mais radical que pode habitar uma alma. Afinal, o grito desse estagio existencial é um só — “Desgraçado homem que sou! Quem me livrará do corpo dessa morte?”

Este foi o grito que ouvi em sua carta!

Romanos sete é o caminho da morte mais consciente acerca da própria miséria da alma!

Entretanto, parar a viagem aí faz de você um Nato, mas jamais um Re-nato. Sim, Nato em seu pecado. Nato em seu desespero. Nato em sua morte. Nato em seu nada. Pois tal percepção é ainda pior do que o que você disse, posto que não leva de Nada para Nada, mas sim de Nato para Nada. Ou seja: a alma, nesse caso, sofre em razão do Nato (nascido) para o Nada. Pois, quem suporta existir para o Nada?

Assim, seu nome é seu chamado para ser: Renato – Renascido.

Você pergunta uma série de coisas, embora diga que se trata de uma só pergunta. Então, dispara: “Como posso vencer, transcender, superar, sobrepujar sem derrotar ninguém? Como posso ser o melhor que eu possa sem me tornar um nerd? Sem uma lucidez livresca? Como desenvolver aquele charme, fruto de um senso de propriedade em tudo?” — e isto tudo antecipado pelas suas afirmações acerca de ótimos autores e bons livros, com direito a dizer que não quer ser um homem que só sabe através dos livros; ou seja: livresco. Entretanto, o que me chamou a atenção foi a quantidade de “como posso”. Ora, VOCÊ não pode. Não de si mesmo. E nem tampouco com a ajuda de Elull e Kierkegaard.

Ora, ler Elull e Kierkegaard é ótimo. Desde muito cedo que se tornaram meus irmãos de leite. Todavia, nenhum deles me levou de Romanos sete para oito. Eles são autores versados no fenômeno humano, mas não são seres do descanso. Meu mano Kierkegaard viveu em angustias. Por isto ele me é tão rico, pois desde cedo vi nele a mim mesmo, mas prossegui para algo além dele: o descanso na morte. Já Elull me foi muito enriquecedor em razão de que nele encontrei o mesmo sentir sobre o mundo, mas não algo que me levasse de Romanos sete para oito.

A sua crise é sem dúvida Centauriana, e também Centrauriana, conforme expus tempos atrás aqui no site. Você lembra? (Puxei o texto no site de 2003 para hoje – assim será mais fácil para você e outros lerem acerca do que estamos falando).

O problema é do Centrauro — desse que sabe que a crise vem do “ser-âmago”; do centro do ser. Sim, vem da falta de coragem para morrer, pois o centro do bicho, seu âmago, não quer a morte. E se o Centrauro não quer entregar o seu “ser-âmago”, então, o que sobrevivi é o espírito de Romanos sete, que é o lar de Creta onde esse monstro mora.

O que você tem que fazer?

Ora, a única coisa: morrer!

Sim, somente quando se morre para toda justiça-própria, para toda teologia, para toda moral, para toda psicologia, para toda presunção ética, para toda vontade de supremacia, para toda vaidade de ser, e para toda arrogância de auto-ajuda — é que surge Renato: o homem que viajou de Romanos sete para oito; e que diz: “Agora, pois, já não há nenhuma condenação para os que estão em Cristo Jesus; pois a Lei do Espírito e da vida em Cristo me livrou da Lei do pecado e da morte”.

A solução, portanto, não é o suicídio, mas sim a morte!

Nas tumbas, muito propriamente se diz — Descanse em paz!

Sim, somente na morte se tem descanso. E esta é uma verdade não para a cessação da vida física, mas, antes disso, para a viabilização da existência em toda e qualquer dimensão — especialmente nesta, e que se chama Hoje.

Afinal, em Cristo só há vida depois da morte; e não da morte física, mas da morte do Centrauro: esse ser-âmago; ego; e que não quer descansar na morte a fim de viver em paz.

O que você tem que fazer é deixar Kierkegaard e Elull na estante por um instante, e, mergulhar na fé, na entrega, na morte, no descanso, e na cessação de todo esforço auto-solucionador.

Quando você fizer isto em confiança, então, saiba: você encontrará você; e tudo o mais será certeza de vida em Cristo; posto que é mediante a aceitação de nossa morte na morte de Cristo, que se encontra a vida de Deus em nós. E isto não é suicídio, mas um ato de entrega à morte de Jesus como sendo a nossa própria morte, a fim de que tenhamos também comunhão com Sua ressurreição; e que para nós é um poder, um fator existencial poderoso.

Assim, estando “tudo feito e consumado” na morte de Jesus, eu posso viajar de Romanos sete para a gloria dos filhos de Deus em Romanos oito. E você também pode. Mas tudo é pela fé; e em profunda confiança — que é o que gera descanso, e, consequentemente, transformação.

Ouça a radio do site (além de ler os textos do site), pois, eu sei que ouvindo a Palavra, em fé, você encontrará quem você nasceu para ser: Re-nato!

Receba meu beijo, meu carinho e minhas orações!

Ah! Eu creio e sei que é possível amar a quem nunca se encontrou. Prova disso é nosso amor comum por Kierkegaard e Elull.

 

Nele, que disse — Se o grão de trigo caindo na terra não morrer, fica ele só; se, porém, morrer, produz muito fruto,

 

Caio